Por cá. Era fora de portas. Mas a Rússia
ganhou poder e Putin ganhou garbo a matar, ou seja, a pôr os seus homens a
matar e a morrer, que lá nisso, ele provavelmente não se mete, pois tem muitos
a fazê-lo por ele, sabemo-lo. Nós por cá, desde a 2ª guerra que vivemos mais em
paz, desabituámo-nos das armas, excepto aqueles que tinham guerras em África,
mas eram mais harmoniosas, para todos os efeitos, e livrámo-nos delas, também para
os russos e americanos fazerem os seus negócios sem tanta bagunça para eles. E Putin, vá de se rir dos Ocidentais, ameaçando-os com o seu poder nuclear, que
aqueles também possuem, mas não se atrevem a usar, é claro, sensatos que são,
ou cobardes, na opinião de Putin. Rui
Ramos mostra bem que o pretexto de não entrada na guerra,
válido para a Ucrânia, que não pertence à Nato, deixará de ser válido no caso
das outras repúblicas que ladeiam a Rússia e que Putin vai destruir a seguir. O
Ocidente terá que entrar mesmo na guerra, deitando tudo a perder, mesmo para Putin.
A
liberdade não se compra, defende-se
Não vale a pena correr o risco de uma
guerra mundial por causa da Ucrânia? E pela Estónia, vale? Ou pela Lituânia? Ou
pela Polónia? Até onde pode ir Putin?
RUI RAMOS Colunista do Observador
OBSERVADOR, 25 mar 2022, 00:4211
A Guerra Fria entre a União Soviética
e o Ocidente não decorreu sem algumas regras. Uma delas era evitar confrontos directos. Guerras por
procurador, em que um
dos lados armava um adversário local do outro, eram aceitáveis. Mas não mais. A
cautela tinha uma razão óbvia: o
armamento nuclear, e o risco da sua utilização numa guerra aberta entre o
Ocidente e a União Soviética. Tudo isso
fazia sentido, e ainda faz sentido, agora que já não há União Soviética, mas
há a ditadura de Putin.
É
por isso que nada há a dizer acerca do cuidado da NATO em furtar-se a situações
de combate com a Rússia de Putin. Mas já há, no entanto, algo a dizer acerca
da aparente falta de um cuidado similar do lado de Putin. A invasão da Ucrânia revelou assim uma estranha
assimetria entre a Rússia de Putin e a NATO, e é óbvio que essa assimetria é
uma grande vantagem para Putin. Para
já, permitiu-lhe invadir mais um país, e, segundo a táctica refinada na Chechénia, começar a cercar e a destruir as suas cidades. Está para se saber até onde é que Putin aproveitará a
relutância ocidental em fazer-lhe frente no terreno. Não vale a pena correr o risco de uma guerra mundial
por causa da Ucrânia? E pela Estónia, vale? Ou pela Lituânia? Ou pela Polónia?
Como
é que se chegou a esta assimetria? Se perguntássemos a Putin, o ditador
falar-nos-ia talvez da “decadência” do Ocidente, e da ansiedade com que os
ocidentais fogem de todos os riscos. Nos anos
80, a esquerda pró-soviética marchava nas capitais europeias aos gritos de
“better red than dead”, que poderíamos traduzir muito exactamente por “mais
vale viver ajoelhado do que morrer de pé”. Teremos chegado a esse ponto?
Estamos medrosos? Não, é pior do que isso: estamos iludidos sobre o nosso poder.
Na
Guerra Fria, a União Soviética quebrou primeiro. Dessa vitória sem combate, tirou muita gente no
Ocidente a lição de que, contra sistemas políticos menos eficazes em gerar
inovação e conforto, não precisava de lutar para vencer. A história estava do
seu lado. Bastaria aos ocidentais ficarem sentados no sofá, para verem o mundo
render-se às suas ideias e modo de vida. A globalização, só por si,
resolveria tudo. Sim, a China ainda teria uns anos de ditadura
comunista e a Rússia de caos pós-comunista. Mas
encaixadas no comércio mundial, acabariam por democratizar-se ou, no mínimo,
por ter interesse na manutenção da ordem global. Daí, a Ocidente, a redução dos
gastos com a defesa, a retirada militar do resto do mundo (que só Bin Laden perturbou brevemente), e a dependência energética
e industrial da Rússia e da China. Os
ocidentais acreditaram mesmo que podiam comprar a liberdade, como compram gás
russo ou telemóveis chineses. Mas as compras de gás e de telemóveis não
democratizaram a Rússia e a China, nem sequer as colocaram do lado do Ocidente.
Esta
visão deriva de uma ideia errada da Guerra Fria. O Ocidente não prevaleceu simplesmente por ser mais
rico, mas porque nunca houve dúvidas da sua determinação em defender-se. Em 1948, os EUA
e os seus aliados não deixaram cair Berlim Ocidental; em 1950,
combateram pela Coreia do Sul e arriscaram mesmo um choque com a China
comunista; em 1962, os EUA enfrentaram a União Soviética em Cuba. Nem tudo correu bem. A ajuda ao Vietname do Sul contra a agressão do Norte
comunista, a partir de 1965, correu mesmo mal. Mas a disponibilidade das nações ocidentais para
combater foi sempre clara e ajudou a União Soviética a perceber que não podia
passar certos limites. Em 1962, Khrushchev recuou em Cuba. Durante a
Guerra Fria, a União Soviética teve tanto receio de uma guerra com o Ocidente
como o Ocidente de uma guerra com a União Soviética. Foi essa reciprocidade no medo que garantiu a paz na
Europa até 1989. É essa reciprocidade que tem de ser claramente restabelecida
agora com a Rússia e com a China, como única maneira de evitar guerras maiores.
Não,
não estou a recomendar um confronto directo da NATO com a Rússia na Ucrânia. Os
ucranianos, depois de um mês de invasão, já provaram que não precisam de quem
combata por eles. Mas
precisam certamente de armamento, de informações e de outros apoios. O Ocidente
deve fazer o que aparentemente já está a fazer: submeter a ditadura de Putin a
todas as sanções e dar aos ucranianos os meios necessários para resistirem à invasão
e ocupação estrangeira. Mas deve fazer mais: esclarecer “linhas vermelhas” (por exemplo, sobre a violação de fronteiras da NATO ou o uso de armas
nucleares na Ucrânia) e não deixar
a Putin qualquer dúvida de que sofrerá consequências se as pisar; e declarar, como a ONU já declarou em 2014 no caso da Crimeia,
que nunca reconhecerá qualquer alteração de fronteiras imposta pela violência.
Irrealismo?
Irrealismo é pensar que Putin passará a ser um bom rapaz se lhe derem Odessa
para juntar à Crimeia. Ganhando,
não ficará por ali, porque é o ditador de um Estado falhado, que só pode
manter-se pela expansão imperial. Por isso, o Ocidente não tem outra opção senão fazê-lo
perder a face na Ucrânia, como explicou ontem a primeira-ministra da Estónia. É arriscado? Mais arriscado é deixá-lo convencido
de que tem toda a licença para mais aventuras violentas. Só uma derrota fará a
ditadura russa recuperar a sua parte do medo. Trata-se da
Ucrânia, o que já seria muito, mas não se trata só da Ucrânia. Trata-se da segurança das nações ocidentais e da
sua liberdade: porque se alguma coisa esta guerra já provou, é que a liberdade não se compra, defende-se.
GUERRA NA
UCRÂNIA UCRÂNIA EUROPA MUNDO
COMENTÁRIOS:
PortugueseMan: ...É por isso que nada há a dizer acerca
do cuidado da NATO em furtar-se a situações de combate com a Rússia de Putin...Não há...? Esta está mesmo muito boa.
Não há nada a dizer sobre as
declarações diárias de que Putin não se atreva a atacar países membros da
NATO...? Mas é preciso andarmos com declarações destas todos os dias? Pensava que
não havia dúvidas... Há...? É claro que se queremos atrasar a Rússia, antes que esta venha falar com a
NATO, deveríamos estar muito mais empenhados na Ucrânia. A NATO não se pode envolver?
Bem, os países europeus podem
por sua livre iniciativa e fora do âmbito da NATO, ou seja, declarando que os
EUA estão fora nesta iniciativa ir ajudar a Ucrânia por todos os meios.
Os europeus, mais de 400
milhões e a zona mais rica do mundo, podem dar assistência aos ucranianos.
Com as tropas europeias, aviões
europeus, mísseis europeus, navios europeus... Podem deixar de comprar energia
russa, agora até é uma óptima oportunidade, a Rússia quer pagamentos em rublos
a partir do mês que vem, coincidência, costuma ser o mês em que a Europa começa
a encher os seus reservatórios com gás russo para o próximo inverno...
E deixamos os americanos livres
para fazer outras coisas. Como por exemplo terem tempo de apanhar Assad quando este resolve ir fazer
uma viagenzita aos Emiratos. É que os americanos devem andar mesmo distraídos,
porque Assad teve que passar por espaço aéreo controlado pelos americanos, DUAS
vezes. Se calhar ainda escoltado por algum F-15. Portanto os europeus que tratem
das coisas sem se preocuparmos com o nuclear e sigam os sábios concelhos de
alguém que tem experiência em martelar com força, teclas de um teclado. FME: O poder na Rússia também mudou,
creio. Na URSS, nunca nenhum líder comunista, à exceção de Stalin, mas não
existia o risco nuclear, teve tanto poder como Putin. Na era soviética o poder
emanava do politburo, e se um membro defendesse a utilização do nuclear os
restantes podiam acalmá-lo. Com Putin, como se viu nas reuniões televisionadas no Kremlin que
antecederam a guerra na Ucrânia, não existe politburo. A Rússia e o mundo depende do
estado de alma de um sanguinário. Putin reúne em si os três
poderes; executivo, legislativo e judiciário. Putin é absolutista na Rússia. Mas acredito que Putin também
terá medo do nuclear. Está a esticar a corda para sentir a têmpera do Ocidente. Já podia ter
entrado pela Moldávia ou pela Geórgia mas não o fez. Todavia, ninguém consegue
calcular o que vai na cabeça de Putin. Já sabemos que não tem medo de invadir
países e já disse que sonha em recuperar o imperialismo russo da era soviética.
Putin está neste momento ao
ataque. A Ucrânia parece ser um capítulo no plano de Putin para recuperar o
imperialismo russo. Depois da Ucrânia pode haver um tempo de acalmia, mas depois voltará ao
ataque. Na minha opinião, mais cedo ou mais tarde, o Ocidente vai ter que o
enfrentar. Os apoiantes de Putin manifestam-se na Rússia pela anexação dos países
Bálticos. Reclamam Riga, Vilnius e Talin. O corredor de Suwalki poderá ser o
próximo objetivo de Putin. Os polacos estão com medo do agressor. O corredor de
Suwalki corresponde à fronteira da Polónia com a Lituânia, países pertencentes
à NATO e à UE, mas corresponde também à ligação por terra entre Kaliningrado e
a Bielorrússia, além de poder isolar os países Bálticos de terem ligação
terrestre com a UE.
Carlos Silva: Caro RR, Daqui a 15 dias falamos. Até lá, caso a coisa não se
resolva, pode crer que a "brincadeira" não ficará só com a Ucrânia. Carlos Quartel: Rui Ramos tem razão. Por este
modo de ver, então Putin pode invadir quem quiser, em todo o mundo, com
excepção dos países da Nato. O que há que assumir é que esta guerra só aconteceu
porque americanos e europeus antecipadamente declararam que não iam intervir.
Quanto Biden, muito sério,
declarou que se Putin atacasse, viriam aí grandes sanções, estava a dar
autorização a Putin para avançar. Sanções?? Mesmo um idiota às vezes tem razão e neste
caso Trump esteve 100% certo. Se lhe tivessem dito que a Ucrânia é território
independente, reconhecido por centenas de países, com forte espírito de nação
(como se está a ver, no terreno) e que o mundo civilizado não podia tolerar
invasões bárbaras em 2022, então talvez Putin pensasse duas vezes antes de
lançar as suas hordas na destruição e aniquilamento de um estado, com todas as
misérias que isso arrasta. Não se aprendeu nada com Hitler e repetiu-se o erro. Com doidos facínoras,
bandidos, tocados por projectos megalómanos não há que ter contemplações
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