É fácil, para MARTA MUCCZNIK, atacar o Ocidente,
na sua amargura que explode em raiva contida ainda, na expectativa de mudança. Mas
talvez não tenha totalmente razão. Floria
Os ideais democráticos ocidentais não
esperavam ser confrontados com uma tal situação provocatória. Quando os
generais das anteriores guerras invadiam as outras nações, eles próprios
acompanhavam os seus homens, e destruíam com todo o seu encarniçamento, até
ver, embora por vezes os invadidos fossem ajudados pelos amigos - como
aconteceu connosco, que tivemos os ingleses a amparar-nos contra os espanhóis e
os franceses em várias frentes, devido a uma previdente Aliança anterior estabelecida
pelo mestre de Avis, que teve um papel fundamental na dilatação do nosso
espaço, casando com uma Lencastre geradora de uma valorosa Ínclita Geração,
além da tal Aliança. Mas, apesar de ajudas pontuais, os povos conquistadores
costumam amanhar-se sozinhos, caso do Napoleão e do Hitler, não falando já
nesses Alexandres Magnos ou mesmo o “Carles, li reis, nostre emperere Magnes”,
autores das grandes proezas sem serem as da ficção grega ou latina, sempre é
certo, com as tropas de apoio, que não importava que fossem esmagadas, estavam
ali para isso.
Putin não é dos que vai a campo, já não
se usa, como fez Napoleão e os restantes. Encolhido no seu espaço, manda, cobarde,
criminoso, poderoso com os meios que tem ao seu alcance, com que não se importa
de ameaçar o mundo, reconquistar o que a URSS perdera, acumulador de um império
de obsceno domínio. Manda os seus homens e as suas armas, enquanto ele se
esconde e se protege. Insensível à destruição, insensível ao seu povo, que não
entende o porquê do genocídio dos seus próprios. E recomeça na Ucrânia a acção
da reconquista, num desafio que joga com armas de destruição fatais. Por isso o
mundo recua, na ajuda à Ucrânia, que sabe desse perigo também.
Talvez por isso, MARTA MUCCZNIK não tenha
totalmente razão. Sim, a Ucrânia é que dá a cara, sendo o motivo inicial do
monstruoso crime putiniano. Mas se os europeus fossem defendê-la, quem sabe se
já não haveria Europa nem mundo, que esse criminoso, que devia ser julgado e
condenado pelos seus próprios concidadãos, não se importa de mandar estilhaçar.
Estamos todos com a Ucrânia, mas é a Ucrânia que luta
por todos nós
A Rússia não irá parar na Ucrânia tal
como nada impedirá a China de continuar a exercer a sua influência económica e
tecno-autoritária para além das suas fronteiras.
MARTA MUCZNIK
OBSERVADOR, 04 mar 2022
“#IstandwithUkraine” tornou-se, e bem,
o hashtag da ordem do dia juntamente com a exibição das cores da
bandeira ucraniana, o azul e o amarelo, e as manifestações em massa de
solidariedade com o povo ucraniano.
Mas por cada ‘#IstandwithUkraine’, devemos estar conscientes de que neste
momento, quem luta por todos nós e em nosso nome é a Ucrânia,
liderada pelo Presidente Zelensky, que está na linha da frente de um combate
que extravasa em larga escala a fronteira Russo-Ucraniana e que nos diz
respeito a todos, no conforto das nossas casas, no Ocidente.
Não
se trata apenas da Ucrânia, como tem alertado, vezes sem conta, o corajoso
presidente nos seus sucessivos apelos aos líderes europeus e ocidentais. Esta invasão
é também uma declaração de guerra às democracias liberais. Putin tudo fará para impedir uma Ucrânia soberana,
independente e democrática junto das suas fronteiras, que o líder Russo vê como
ameaça directa ao seu regime. Como já tem
sido amplamente discutido e analisado, Putin quer marcar a sua posição face ao
Ocidente e manter a sua esfera de influência nos países vizinhos e fá-lo num
contexto geopolítico mais vasto, marcado pela rivalidade das grandes potências,
que opõe regimes autocratas e ditadores, por um lado, e democracias liberais
ocidentais, por outro: onde se esgrimam ideias, valores, modos de vida,
liberdades e modelos distintos de governança global.
Muito
se tem falado sobre o declínio do Ocidente e a impotência da Europa em lidar
com este mundo novo dominado pela rivalidade das grandes potências. Para
este mundo, a ordem multilateral que nasceu das cinzas da WWII, o
multilateralismo da unanimidade, não pode, nem consegue, dissuadir esta ameaça
nem dar resposta à bipolarização que parece vir a definir o contexto
geopolítico do século XXI. Talvez
sejam necessárias novas formas de organização multilateral, novas alianças e
uma nova arquitectura de segurança. Ou talvez
um novo sentido de missão e um investimento redobrado nas instituições e
formatos que já existem que unam países com os mesmos valores em torno de objectivos
comuns. Este tem sido o grande objetivo da administração
Biden, que elegeu a defesa das democracias e o combate aos
regimes autoritários como o grande desafio ideológico e global dos nossos
tempos, o sucessor da guerra fria e da guerra contra o fundamentalismo islâmico
como principio inspirador da política externa norte-americana. Tem sido, de resto, a abordagem preferencial das
sucessivas administrações americanas que, em diferentes momentos da história
recente, não hesitam em avançar para formatos de coligações de países like-minded quando
confrontados com a iminência do dia e para
prosseguir os seus objetivos estratégicos, seja no Indo-Pacífico, na Europa ou
no Médio Oriente.
É
neste contexto que surgem também, com cada vez mais frequência, promessas
de Bruxelas e de líderes europeus de afirmar a “Comissão Geopolítica” e de
aprender a falar também a “linguagem do poder” e não apenas a da “paz” ou do “soft
power” europeu. Muita tinta
tem corrido sobre o sonho da
autonomia estratégica da UE e o assumir de mais responsabilidades pela
segurança europeia na vizinhança a leste. E apesar da coordenada e quase heroica demonstração de
unidade europeia e transatlântica na resposta à invasão da Ucrânia, esta guerra
veio reforçar a urgência e a necessidade de a UE se dotar de um verdadeiro
exército europeu e de uma verdadeira autonomia estratégica, investindo mais na
defesa e delegando mais poderes nesse domínio na UE. Só assim poderá a UE afirmar-se como actor global e
credível, capaz de agir em tempo real e de intervir em crises. Mas para
isso é preciso confrontar o “elefante na sala”, ou seja, equacionar uma
maior integração europeia no domínio da política externa e de segurança e
defesa, recorrendo, por exemplo, ao voto por maioria qualificada em
determinadas áreas da política externa, como aliás já defendi aqui.
Esta
é uma discussão complexa e com repercussões a múltiplos níveis, defendida por
alguns e rejeitada por outros, para além de controversa junto de muitos Estados
membros. Mas é uma discussão que merece maior atenção no espaço europeu e que,
atendendo aos desenvolvimentos recentes, poderá vir a estar na ordem do dia
daqui em diante. Poder-se-ia por exemplo ponderar o voto por maioria
qualificada dentro de determinados limites e apenas em poucos domínios ou mesmo
num registo ad-hoc, sem pôr em causa o princípio da unidade e coesão europeias
e sem que os Estados membros abdiquem dos respetivos interesses nacionais. De
resto uma ideia já defendida pela actual Presidente da Comissão Europeia,
Úrsula Von der Leyen. Mas não tenhamos ilusões: a
autonomia estratégica só se tornará uma realidade quando existir de facto uma
cultura estratégica comum a 27, o que implica necessariamente que os
Estados-membros estejam dispostos, não só a aumentar os gastos na defesa, como
a abdicar de determinadas prerrogativas em prol do papel e acção da UE nos
assuntos globais.
A
Rússia não irá parar na Ucrânia tal como nada impedirá a China de continuar a
exercer a sua influência económica e tecno-autoritária para além das suas
fronteiras. As provocações russas a leste continuarão, tal como as ameaças
híbridas, a guerra da desinformação e a interferência nos processos
democráticos dos nossos países.
Cabe aos Estados membros e a todos nós, cidadãos europeus, reflectir sobre o
papel que queremos que a UE desempenhe no mundo. A impotência de que muitos
falam não é só dessa figura vaga a que chamamos “o Ocidente”. Também não é só da UE. É de todos nós, porque todos
nós somos o Ocidente e todos nós somos a UE. E no final do dia, a UE mais
não é do que a soma das suas partes.
GUERRA NA
UCRÂNIA UCRÂNIA EUROPA MUNDO
COMENTÁRIOS:
bento guerra: Estamos com a
Ucrânia, mas a Ucrânia está com120 mil soldados e milhares de tanques e aviões
russos a ocupá-la e a destruir pontos essenciais e a deixar marcas tremendas na
vida de toda a gente. Essa a realidade, embora o romantismo bélico seja
apelativo. E depois, invasores e invadidos, entendem-se na língua
João Marco: There is nothing more grotesque than a media pushing
for war.7:46 PM · 11 de fev de 2022
Edward Snowden: Não escondam
tanto a felicidade que isto traz a muitos “moderados” da praça. A pandemia e as
regras deixaram sabor a pouco a muitos.
João Floriano: IstandwithUkraine é um slogan que vem no seguimento
de Je suis Charlie. A Europa
solidariza-se com medicamentos, roupas, vistos de permanência, armamento,
sanções, mas o que a Ucrânia mesmo necessita é de forças militares
no terreno. Não se sabe durante quanto tempo ainda resistirão os combatentes
regulares e não regulares na Ucrânia. Para fornecer a ajuda que na realidade
forçaria os russos a recuar, a Europa ou a NATO iriam provocar a generalização
do conflito e Tshirts empapadas em sangue não agradarão de modo algum à opinião
pública europeia por muito solidária que esteja. A Ucrânia vai sangrar
sozinha.
Sioux Boumerang: E luta muito
bem, e deve de continuar a lutar até que nada reste das ruas com o nome de
colaboradores de nazis, até que não haja nem um dedo para levantar novamente
bandeiras nazis e até que não haja nem um ukraniano que se atreva sequer a
pensar a cantar hinos nazis e a calçar umas botas. A ukrania, essa sua ukrania
que vá para o inferno que a carregue!
josé maria: Estamos todos
com a Ucrânia, mas é a Ucrânia que luta por todos nós. Para já, estão com a Ucrânia os 16.000 valentes
estrangeiros que se juntaram à luta heróica dos ucranianos... No Ocidente, nós somos muito bons a mostrar
solidariedade palavrosa...
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