segunda-feira, 21 de março de 2022

Percurso folhetinesco


Detectivesco. Por Helena Matos. Aterrador, para todos os efeitos, quer se trate da Merkel, quer do presidente português, quer da taxa social da nossa sobrevivência económica. Impecável crónica, como sempre, de clareza e espírito sardónico, pese embora a insignificância dos casos nacionais, face ao caso mundial, quem sabe se arrasador, apagando definitivamente a importância dos restantes, sem nos salvar do ridículo universal.

O primeiro, pois, partindo de um paralelo sinistro com Chamberlain, o tal que disse, a respeito do Tratado de Munique (transcrevo da Internet) : "I believe it is peace in our time", que definitivamente impunha Hitler como semeador da guerra, revela as andanças de Angela Merkel como semeadora de nova guerra, pela sua coligação com Putin, de dependência energética, apesar dos avisos dos Ucranianos. O segundo, trata-se das inépcias presidenciais, cada vez mais patetas e patéticas. O terceiro do taxismo socialista, dos novos impostos propostos pelo bloco de esquerda, insaciável na caridade popular da sua justificação política.

 Qual o maior assassino? Será que a vergonha supera o medo?

 

Perguntar antes que seja tarde demais

Angela Merkel é o novo Chamberlain? Marcelo em modo fungagá da bicharada anuncia isolamento político do PR? Bloco quer nova taxa? Claro que sim. O BE trocou o comunismo pelo taxismo.

HELENA MATOS, Colunista do Observador

OBSERVADOR, 20 mar 2022

Angela Merkel é o novo Chamberlain? Quando em Junho de 2019 reuniu com Zelenski, Angela Merkel teve um dos ataques de tremores que então lançavam algumas dúvidas sobre o seu estado de saúde. À luz da presente invasão da Ucrânia quase apetece pensar que as más decisões tomadas pela então chanceler alemã se devem à doença que a afectava nesse ano de 2019. Infelizmente não é assim: quando se analisam as decisões tomadas por Merkel somos obrigados a constatar que existe uma linha constante de desvalorização do risco representado pela crescente dependência alemã e europeia do gás russo logo de Putin, dependência essa para mais acentuada pela decisão de Merkel de encerrar as centrais nucleares alemãs.

Levámos anos a ouvir os considerandos dos nossos vizinhos do norte sobre a forma como no sul nos governamos mal. A mais expressiva dessas apreciações foi proferida pelo ministro holandês Jeroen Dijsselbloemnão se pode gastar todo o dinheiro em copos e mulheres e depois pedir ajuda.” Infelizmente o nosso desgoverno financeiro não se deve aos festivos “copos e mulheres” mas muito mais tristemente à mediocridade da nossa governação. Mas face ao que estamos a viver, cabe perguntar em que pensavam os dirigentes da tão bem governada Alemanha quando não só ignoraram os riscos da crescente dependência energética da Rússia como a promoveram? Ou mais concretamente, em que pensava Angela Merkel quando ignorou e subestimou todas os avisos sobre o risco inerente à cada vez maior dependência energética da Rússia?

O mais constrangedor no caso de Merkel é que o engano se arrastou por anos e anos. Pior, o passar dos anos tornou a chanceler mais imprevidente: Merkel chega ao poder em 2005, o ano em que a Rússia de Putin usa o fornecimento de gás à Ucrânia como forma de castigar este país pela sua aproximação à Europa. Os factos ocorridos durante aquela que ficou conhecida como “guerra do gás” (designação que à luz dos acontecimentos de 2022 tem algo de humor negro!) não foram suficientes para colocar os alemães de sobreaviso, fossem eles o derrotado Schröder que escassas semanas depois de deixar o poder integra o projecto do pipeline Nord Stream (que liga por mar a Rússia à Alemanha) que promovera enquanto chanceler, ou a vitoriosa Angela Merkel que mantém a aposta neste pipelineOra a opção por um pipeline que ligasse directamente por mar a Rússia à Alemanha não era politicamente neutra como bem explicavam a Ucrânia e os estados do Báltico: o Nord Stream era especialmente vantajoso para a Rússia que assim se desembaraçava de ter de negociar com os países até ai atravessados pelos pipelines que traziam o gás russo até ao centro da Europa. E a Alemanha o que ganhou com o Nord Stream? Uma dependência crescente da Rússia, dependência que Merkel agravou quando, em 2011, influenciada pelo desastre de Fukushima e quiçá por uma popularidade a baixar, decidiu anunciar o abandono do nuclear pela Alemanha. Das 17 centrais nucleares então existentes na Alemanha responsáveis pela produção de um quarto da energia do país, oito fecharam. Para as restantes foi anunciado um calendário de encerramento até ao final de 2022.

Ambientalmente o resultado desta decisão foi um disparate pois enquanto apregoava metas ambiciosos para a descarbonização, a Alemanha tinha de recorrer mais ao carvão para produzir energia. Já politicamente as consequências foram um desastre que é o mesmo que dizer que foram um brinde para Putin: após o anúncio do abandono do nuclear por parte da Alemanha, o projecto de um novo pipeline — o Nord Stream 2 — a ligar a Rússia à Alemanha tornou-se incontornávelA persistência neste logro manteve-se mesmo quando já não existiam dúvidas sobre as intenções de Moscovo: em 2021, já com tropas russas concentradas na fronteira com a Ucrânia, a Alemanha fechou três das seis centrais nucleares que ainda mantinha em funcionamento: Brockdorf, Emsland e Gröhnde. (Será que fecharão as três que ainda estão em funcionamento  e que está previsto fecharem este ano?)

A política de Merkel entre 2005 e 2021 conduziu, em 2022, a Alemanha, e através dela a UE, para uma armadilha quase perfeita: a de ter de sancionar um país, a Rússia, do qual não pode deixar de depender. O paradoxo é tal que a UE  financia os dois lados da guerra  pois n é verdade que apoia militar e financeiramente a Ucrânia também é verdade que não pode deixar de comprar gás russo, logo continua-se a dar dinheiro a Putin e no caso a dar mais porque os preços sobem. Por fim, as economias e as empresas europeias são as mais afectadas pelas sanções e boicotes contra a Rússia. Pior era quase impossível.

 Chamberlain acreditou ter conseguido a paz ao fazer um acordo com Hitler, Merkel acreditou ter neutralizado Putin ao fazer dele um parceiro de negócios. Moral da História: as democracias nunca devem confiar naqueles seus líderes que acham que os outros governantes — particularmente se forem ditadores — estão a dizer aquilo que eles gostavam de ouvir.

O fungagá da bicharada presidencial. A coisa, entendendo-se por coisa o discurso presidencial, ia no jeito hiperbólico do costume “Moçambique tem futuro. Tem futuro em tudo. Moçambique é sempre melhor do que era da última vez. É sempre melhor do que aquilo que se esperava. É sempre melhor do que aquilo em que se confiava. E por isso confia-se sempre em Moçambique…” A ditirâmbica verborreia do presidente português não é propriamente desconhecida em Moçambique mas nada preparara os presentes na cerimónia de inauguração de um empreendimento turístico em Moçambique nem a nós, portugueses, aqui à distância, para o que veio a seguir: Devemos dar uma escapada até este empreendimento não para a inauguração mas sim um mergulho nas águas. Para o diálogo com elefante. Para uma troca de impressões com a girafa. Para um ou outro momento mais romântico com os pássaros. E para aqueles que são muito marítimos também com os peixes do mar.” Com o novo governo sentando numa maioria absoluta e a presidência da República transformada no fungagá da bicharada é provável que a girafa do zoo lisboeta se torne no interlocutor que resta a Marcelo.

O taxismo. Bloco quer nova taxa”. Desta vez a nova taxa proposta sobre o BE incide sobre as empresas que lucram com a crise – as eléctricas – e destinar-se-ia a dar “um apoio directo às famílias mais vulneráveis. Em Portugal o socialismo evoluiu para um estado superior: o taxismo. Um estudo da CIP identificou mais de 4.300 taxas. A imaginação do legislador em matéria de taxas, contribuições, adicionais… é tal que frequentemente as próprias entidades desconhecem as taxas cobradas por si próprias. Inicialmente o taxismo criou taxas sobre todas as actividades e serviços. Agora já vamos nas taxas de nova geração ou seja as taxas sector a sector: criou-se uma taxa para as celuloses com o objectivo não de obter mais receita fiscal mas sim de “defender a floresta”. Outra para os fornecedores de dispositivos médicos que visa subsidiar o SNS. E como esquecer o adicional ao IMI que veio para salvar Segurança Social?. Esta legitimação das taxas através da apresentação do fim a que se destina é uma das tácticas do taxismo pois naturalmente ninguém quer estar contra as famílias vulneráveis ou a favor da falência da Segurança Social. Logo paga-se a taxa.  E depois a outra e mais outra… O resultado é invariavelmente o mesmo: o dinheiro nunca chega. Logo outra taxa tem de ser criada. O taxismo é o socialismo. Dos pobres, claro.

ANGELA MERKEL   ALEMANHA   EUROPA   MUNDO   MARCELO REBELO DE SOUSA 

PRESIDENTE DA REPÚBLICA   POLÍTICA

COMENTÁRIOS:

Luis Ferreira: Oh Helena.... Que tal estudar um pouco de história para além do que vem  da taberna!? Chamberlain não acreditava que o acordo que fez com hitler o parasse na realidade. Mas foi o suficiente para abrandar hitler e dar tempo à Inglaterra e França para se rearmar e ganhar força para o combate. Se tivesse ido logo para a guerra seriam dizimados e provavelmente estarias a falar alemão agora.  Liberales Semper Erexitque > Luis Ferreira: Inconcebível tolice. Em 1938 era a Alemanha que não estava preparada para a guerra, e Chamberlain acreditava piamente no papeleco assinado por Hitler com que desembarcou e que exibiu em Inglaterra. Poucas vozes o contrariaram. Tendo em conta o que se seguiu, houve uma que ficou para a História: foi a de Winston Spencer-Churchill. Logo em Março de 1939 se soube o que valia o papeleco e a assinatura de Hitler, quando a Checoslováquia foi despedaçada e deixou de existir.

josé maria: Bloco quer nova taxa? Claro que sim. O BE trocou o comunismo pelo taxismo. O BE propõe a criação de uma sobretaxa sobre empresas  que têm lucrado com o aumento dos preços da energia devido à guerra na Ucrânia e que sirva para apoiar as famílias mais vulneráveis, segundo consta na edição do Dinheiro Vivo, de 19/3/2022, que a colunista cita. Mas, ó Helena Matos, o que há de errado numa medida com esse conteúdo? Fica incomodada que essas empresas serem um pouco mais oneradas, apesar do seu aumento de lucros? A situação precária das pessoas mais vulneráveis já não a incomoda ? Pelos vistos, não.         Liberales Semper Erexitque > josé maria As empresas e os colectivos nunca são onerados, são sempre os indivíduos a serem onerados. São os clientes, os trabalhadores, os accionistas, os credores...        Luís Marques: Por esta altura, na Alemanha, já devem estar a cancelar as encomendas de estátuas da Merkel. Aparentemente, já há mulheres incompetentes, porreiro, já atingimos a igualdade dos géneros...           josé maria:  O taxismo é o socialismo. Dos pobres, claro. Deve ser por isso que a Dinamarca, com uma carga fiscal de 46,5%, e um dos países mais evoluídos do mundo, obteve o seu desenvolvimento à custa de contrariar a tese política e fiscal da Helena Matos.... Na mesma linha, devem estar a Áustria, a Suécia, a Noruega e a Finlândia, com taxas superiores a 42%, deve ser o taxismos dos pobres... Imaginem só se fosse o socialismo dos ricos... Exemplares, para a HM, devem ser o Afeganistão, com um carga fiscal de apenas 0,6%, a Albânia com 22,9%,o Butão, com 10,7%,o Bangladesh com apenas 0,8%, o Burkina Faso, com 11,5%, a Etiópia com 11,6, o Haiti, com 0,9%, o Irão com 0,6%., ou o Iemen, com 0,7%. Esses é que devem ser os países anti-socialistas e evoluídos por excelência.           Sara Ferreira > josé maria Que desonestidade intelectual a sua.         Bernardo Vaz Pinto: Três pontos importantes na hipocrisia das sociedades, que obviamente sempre existiu… Merkell e a Rússia  será ainda uma história por contar , mas não é uma história feliz… O presidente em Moçambique e nenhum  jornalista se lembrou de perguntar quanto é que o governo Moçambicano recebe da Rússia, pelo gás natural que leva? do BE já tido se espera, e espera-se que desapareça para a sua insignificância…provocou mais danos a milhares de portugueses do que o PCP…mas pelos vistos o povo  gosta de (ficar) ser pobre …               Liberales Semper Erexitque : Ou mais concretamente, em que pensava Angela Merkel quando ignorou e subestimou todas os avisos sobre o risco inerente à cada vez maior dependência energética da Rússia? Ora, pensava nos milhões de votos de "ambientalistas", que estão agora no governo do seu país. É a democracia Helena, "o pior de todos os regimes", lembre-se. Pagaremos com língua de palmo o "ambientalismo", mas como não se sabe quando, e sobretudo como é difícil imputar-lhes as consequências da sua religião "científica", continuemos alegremente a achar que eles são os nossos "salvadores".            Manuel Martins: O PR,  em minha opinião,  esteve mal em ir visitar Moçambique uns dias depois deste país não se ter oposto à resolução da ONU contra a guerra.  É cinismo o PR fazer de conta que nada se passou.            miguel cardoso: Exma. Senhora Dra. Helena Matos: Tenho o maior respeito pela sua opinião, mas no caso particular da Alemanha, discordo. A ligação entre a Alemanha (Prússia...) e a Rússia é pouco menos que umbilical e têm sempre planos comuns que a maior das vezes desconhecemos Têm e tiveram interesses comuns e complementam-se em muita coisa. A Rússia e seus satélites são "terrenos de caça" para os alemães, e os russos respeitam-nos e admiram-nos. Posso-me enganar, mas creio que o Nord Stream 2 estará a funcionar antes do fim de 2022. Afinal de contas garantir-lhe-á a energia três vezes mais barata que se viesse, por exemplo, dos EUA.            Filipe Paes de Vasconcellos 1.Como não acredito em mentecaptos, entendo que a enorme dependência energética em que nos encontramos face ao facínora russo visou beneficiar a indústria alemã conseguindo preços mais vantajosos para si próprios. Se assim não for, Merkel e os seus são uma cambada de broncos.  2. Alguém sabe de Gerhard Schröder? Então a Europa não lhe congela nada? 3. o nosso presidente da República começa, cá dentro e lá fora, a envergonhar-me.          Laurentino Cerdeira: Como sempre, D. Helena Matos brinda-nos com um novo excelente artigo. Permitam-me 3 breves notas:  - 1.a) pode não ter relevância, mas Ângela Merkel nasceu e cresceu na antiga RDA; - 2.a) repito sempre: Portugal tem um PR que absolutamente não merece; - 3.a) o be não só é “taxista” como também “tachista”!          Alberico Lopes: Parabéns, Helena! Os seus  artigos são um bálsamo para a nossa tristeza perante o que estamos a assistir no mundo em que vivemos!

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