Detectivesco. Por Helena Matos. Aterrador, para todos os efeitos, quer
se trate da Merkel, quer do presidente português, quer da taxa social da nossa
sobrevivência económica. Impecável crónica, como sempre, de clareza e espírito
sardónico, pese embora a insignificância dos casos nacionais, face ao caso
mundial, quem sabe se arrasador, apagando definitivamente a importância dos
restantes, sem nos salvar do ridículo universal.
O primeiro, pois, partindo de um paralelo
sinistro com Chamberlain, o tal que
disse, a respeito do Tratado de Munique (transcrevo da Internet) : "I believe it is peace in our time", que
definitivamente impunha Hitler como semeador
da guerra, revela as andanças de Angela
Merkel como semeadora de nova guerra, pela sua coligação com Putin, de dependência energética, apesar
dos avisos dos Ucranianos. O segundo, trata-se das inépcias presidenciais, cada
vez mais patetas e patéticas. O terceiro do taxismo socialista, dos novos
impostos propostos pelo bloco de esquerda, insaciável na caridade popular da sua
justificação política.
Qual
o maior assassino? Será que a vergonha supera o medo?
Perguntar antes que seja tarde demais
Angela Merkel é o novo Chamberlain?
Marcelo em modo fungagá da bicharada anuncia isolamento político do PR? Bloco
quer nova taxa? Claro que sim. O BE trocou o comunismo pelo taxismo.
HELENA MATOS, Colunista
do Observador
OBSERVADOR, 20 mar
2022
Angela Merkel é o novo Chamberlain? Quando em Junho de 2019 reuniu com Zelenski, Angela Merkel teve um dos ataques de tremores que então lançavam algumas dúvidas sobre o seu estado de saúde. À luz da presente invasão da Ucrânia quase apetece
pensar que as más
decisões tomadas pela então chanceler alemã se devem
à doença que a afectava nesse ano de 2019. Infelizmente não é assim: quando se
analisam as decisões tomadas por Merkel somos obrigados a constatar que existe uma linha constante de desvalorização
do risco representado pela crescente dependência alemã e europeia do gás russo
logo de Putin, dependência essa para mais acentuada pela decisão de Merkel de encerrar as centrais nucleares
alemãs.
Levámos
anos a ouvir os considerandos dos nossos vizinhos do norte sobre a
forma como no sul nos governamos mal. A
mais expressiva dessas apreciações foi proferida pelo ministro holandês Jeroen Dijsselbloem “não se
pode gastar todo o dinheiro em copos e mulheres e depois pedir ajuda.” Infelizmente
o nosso desgoverno financeiro não se deve aos festivos “copos e mulheres” mas
muito mais tristemente à mediocridade da nossa governação. Mas face ao que estamos a viver, cabe perguntar em que
pensavam os dirigentes da tão bem governada Alemanha quando não só ignoraram os riscos da crescente dependência
energética da Rússia como a promoveram? Ou mais concretamente, em que pensava Angela Merkel quando ignorou e
subestimou todas os avisos sobre o risco inerente à cada vez maior dependência
energética da Rússia?
O mais constrangedor no caso de Merkel
é que o engano se arrastou por anos e anos. Pior, o
passar dos anos tornou a chanceler mais imprevidente: Merkel chega ao poder em 2005, o ano em que a Rússia de
Putin usa o fornecimento de gás à Ucrânia como forma de castigar este país pela
sua aproximação à Europa. Os factos
ocorridos durante aquela que ficou conhecida como “guerra do gás” (designação
que à luz dos acontecimentos de 2022 tem algo de humor negro!) não foram suficientes para colocar os alemães de
sobreaviso, fossem
eles o derrotado Schröder que escassas semanas depois de deixar o poder integra
o projecto do pipeline Nord Stream (que liga por mar a Rússia à
Alemanha) que promovera enquanto chanceler, ou a vitoriosa Angela Merkel que mantém a aposta neste
pipeline. Ora a
opção por um pipeline que ligasse directamente por mar a Rússia à Alemanha não era
politicamente neutra como bem explicavam a Ucrânia e os estados do Báltico: o Nord
Stream era
especialmente vantajoso para a Rússia que assim se desembaraçava de ter de
negociar com os países até ai atravessados pelos pipelines que traziam o gás
russo até ao centro da Europa. E a Alemanha o que ganhou com o Nord
Stream? Uma
dependência crescente da Rússia, dependência que Merkel agravou quando, em
2011, influenciada pelo desastre de Fukushima e quiçá por uma popularidade a
baixar, decidiu anunciar o abandono do nuclear pela Alemanha. Das 17 centrais nucleares então existentes na Alemanha
responsáveis pela produção de um quarto da energia do país, oito fecharam. Para as restantes foi anunciado um calendário de
encerramento até ao final de 2022.
Ambientalmente
o resultado desta decisão foi um disparate pois enquanto apregoava metas
ambiciosos para a descarbonização, a Alemanha tinha de recorrer mais ao carvão
para produzir energia. Já
politicamente as consequências foram um desastre que é o mesmo que dizer que
foram um brinde para Putin: após o
anúncio do abandono do nuclear por parte da Alemanha, o projecto de um novo
pipeline — o Nord Stream 2
— a ligar a Rússia à Alemanha tornou-se incontornável. A persistência neste logro manteve-se
mesmo quando já não existiam dúvidas sobre as intenções de Moscovo: em 2021, já
com tropas russas concentradas na fronteira com a Ucrânia, a Alemanha fechou
três das seis centrais nucleares que ainda mantinha em funcionamento: Brockdorf, Emsland e Gröhnde. (Será que
fecharão as três que ainda estão em funcionamento e que está previsto
fecharem este ano?)
A
política de Merkel entre 2005 e 2021 conduziu, em 2022, a Alemanha, e através
dela a UE, para uma armadilha quase perfeita: a de ter de sancionar um país, a
Rússia, do qual não pode deixar de depender. O paradoxo é tal que a UE financia os dois
lados da guerra pois n é verdade que apoia militar e financeiramente a
Ucrânia também é verdade que não pode deixar de comprar gás russo, logo
continua-se a dar dinheiro a Putin e no caso a dar mais porque os preços sobem.
Por fim, as economias e as empresas
europeias são as mais afectadas pelas sanções e boicotes contra a Rússia. Pior
era quase impossível.
Chamberlain
acreditou ter conseguido a paz ao fazer um acordo com Hitler, Merkel acreditou ter neutralizado Putin ao fazer
dele um parceiro de negócios. Moral
da História: as democracias nunca devem confiar naqueles seus
líderes que acham que os outros governantes — particularmente se forem
ditadores — estão a dizer aquilo que eles gostavam de ouvir.
O fungagá da bicharada presidencial.
A coisa, entendendo-se por coisa o discurso
presidencial, ia no jeito hiperbólico do costume “Moçambique tem
futuro. Tem futuro em tudo. Moçambique é sempre melhor do que era da última
vez. É sempre melhor do que aquilo que se esperava. É sempre melhor do que
aquilo em que se confiava. E por isso confia-se sempre em Moçambique…” A ditirâmbica
verborreia do presidente português não é propriamente desconhecida em
Moçambique mas nada preparara os presentes na cerimónia de inauguração de um
empreendimento turístico em Moçambique nem a nós, portugueses, aqui à
distância, para o que veio a seguir: “Devemos dar uma escapada até este empreendimento não
para a inauguração mas sim um mergulho nas águas. Para o diálogo com elefante.
Para uma troca de impressões com a girafa. Para um ou outro momento mais
romântico com os pássaros. E para aqueles que são muito marítimos também com os
peixes do mar.” Com
o novo governo sentando numa maioria absoluta e a presidência da República
transformada no fungagá da bicharada é provável que a girafa do zoo lisboeta se
torne no interlocutor que resta a Marcelo.
O taxismo. “Bloco
quer nova taxa”. Desta vez a nova taxa proposta sobre o
BE incide sobre as empresas que lucram com a crise – as eléctricas – e
destinar-se-ia a dar “um apoio directo às famílias mais vulneráveis”. Em
Portugal o socialismo evoluiu para um estado superior: o taxismo. Um estudo da CIP
identificou mais de 4.300 taxas. A
imaginação do legislador em matéria de taxas, contribuições, adicionais… é tal
que frequentemente as próprias entidades desconhecem as taxas cobradas por si
próprias. Inicialmente o taxismo criou taxas sobre todas as actividades
e serviços. Agora já
vamos nas taxas de nova geração ou seja as taxas sector a sector: criou-se uma taxa para as celuloses com
o objectivo não de obter mais receita fiscal mas sim de “defender a floresta”.
Outra para os fornecedores
de dispositivos médicos que visa subsidiar o SNS. E
como esquecer o adicional
ao IMI que veio para salvar Segurança Social?. Esta legitimação
das taxas através da apresentação do fim a que se destina é uma das tácticas do
taxismo pois naturalmente ninguém quer estar contra as famílias vulneráveis ou
a favor da falência da Segurança Social. Logo paga-se
a taxa. E depois a outra e mais outra… O resultado é invariavelmente o mesmo: o dinheiro nunca chega. Logo outra taxa tem de ser criada. O taxismo é o socialismo. Dos pobres, claro.
ANGELA MERKEL ALEMANHA EUROPA MUNDO MARCELO REBELO DE SOUSA
PRESIDENTE DA REPÚBLICA POLÍTICA
COMENTÁRIOS:
Luis Ferreira: Oh Helena.... Que tal estudar
um pouco de história para além do que vem da taberna!? Chamberlain não acreditava que o acordo que fez
com hitler o parasse na realidade. Mas foi o suficiente para abrandar hitler e
dar tempo à Inglaterra e França para se rearmar e ganhar força para o combate.
Se tivesse ido logo para a guerra seriam dizimados e provavelmente estarias a
falar alemão agora. Liberales
Semper Erexitque > Luis
Ferreira: Inconcebível tolice. Em 1938 era a Alemanha que não estava preparada para
a guerra, e Chamberlain acreditava piamente no papeleco assinado por Hitler com
que desembarcou e que exibiu em Inglaterra. Poucas vozes o contrariaram. Tendo
em conta o que se seguiu, houve uma que ficou para a História: foi a de Winston
Spencer-Churchill. Logo em Março de 1939 se soube o que valia o papeleco e a
assinatura de Hitler, quando a Checoslováquia foi despedaçada e deixou de
existir.
josé maria: Bloco quer nova taxa? Claro que sim. O BE trocou o comunismo pelo taxismo. O BE propõe a criação de uma sobretaxa sobre
empresas que têm lucrado com o aumento dos preços da energia devido à
guerra na Ucrânia e que sirva para apoiar as famílias mais vulneráveis, segundo
consta na edição do Dinheiro Vivo, de 19/3/2022, que a colunista cita. Mas, ó
Helena Matos, o que há de errado numa medida com esse conteúdo? Fica incomodada
que essas empresas serem um pouco mais oneradas, apesar do seu aumento de
lucros? A situação precária das pessoas mais vulneráveis já não a incomoda ?
Pelos vistos, não. Liberales Semper
Erexitque > josé maria As empresas e os colectivos nunca são onerados, são
sempre os indivíduos a serem onerados. São os clientes, os trabalhadores, os
accionistas, os credores... Luís Marques: Por esta altura, na Alemanha,
já devem estar a cancelar as encomendas de estátuas da Merkel. Aparentemente, já há mulheres incompetentes,
porreiro, já atingimos a igualdade dos géneros... josé maria: O taxismo é o
socialismo. Dos pobres, claro. Deve ser por
isso que a Dinamarca, com uma carga fiscal de 46,5%, e um dos países mais
evoluídos do mundo, obteve o seu desenvolvimento à custa de contrariar a tese
política e fiscal da Helena Matos.... Na
mesma linha, devem estar a Áustria, a Suécia, a Noruega e a Finlândia, com
taxas superiores a 42%, deve ser o taxismos dos pobres... Imaginem só se fosse o socialismo dos ricos... Exemplares, para a HM, devem ser o Afeganistão,
com um carga fiscal de apenas 0,6%, a Albânia com 22,9%,o Butão, com 10,7%,o
Bangladesh com apenas 0,8%, o Burkina Faso, com 11,5%, a Etiópia com 11,6, o
Haiti, com 0,9%, o Irão com 0,6%., ou o Iemen, com 0,7%. Esses é que devem ser os países anti-socialistas e evoluídos
por excelência. Sara Ferreira >
josé maria Que desonestidade intelectual a sua. Bernardo
Vaz Pinto: Três pontos importantes na
hipocrisia das sociedades, que obviamente sempre existiu… Merkell e a Rússia
será ainda uma história por contar , mas não é uma história feliz… O
presidente em Moçambique e nenhum jornalista se lembrou de perguntar
quanto é que o governo Moçambicano recebe da Rússia, pelo gás natural que leva?
do BE já tido se espera, e espera-se que desapareça para a sua
insignificância…provocou mais danos a milhares de portugueses do que o PCP…mas
pelos vistos o povo gosta de (ficar) ser pobre … Liberales Semper
Erexitque : Ou mais concretamente, em que
pensava Angela Merkel quando ignorou e subestimou todas os avisos sobre o risco
inerente à cada vez maior dependência energética da Rússia? Ora, pensava nos
milhões de votos de "ambientalistas", que estão agora no governo do
seu país. É a democracia Helena, "o pior de todos os regimes",
lembre-se. Pagaremos com língua de palmo o "ambientalismo", mas como
não se sabe quando, e sobretudo como é difícil imputar-lhes as consequências da
sua religião "científica", continuemos alegremente a achar que eles
são os nossos "salvadores". Manuel Martins: O PR, em minha
opinião, esteve mal em ir visitar Moçambique uns dias depois deste país
não se ter oposto à resolução da ONU contra a guerra. É cinismo o PR
fazer de conta que nada se passou. miguel cardoso: Exma. Senhora Dra. Helena
Matos: Tenho o maior respeito pela sua
opinião, mas no caso particular da Alemanha, discordo.
A ligação entre a Alemanha (Prússia...) e a Rússia é pouco menos que
umbilical e têm sempre planos comuns que a maior das vezes desconhecemos Têm e tiveram interesses comuns e
complementam-se em muita coisa. A Rússia e
seus satélites são "terrenos de caça" para os alemães, e os russos
respeitam-nos e admiram-nos. Posso-me
enganar, mas creio que o Nord Stream 2 estará a funcionar antes do fim de 2022. Afinal de contas garantir-lhe-á a energia três
vezes mais barata que se viesse, por exemplo, dos EUA. Filipe Paes de
Vasconcellos 1.Como não acredito em
mentecaptos, entendo que a enorme dependência energética em que nos encontramos
face ao facínora russo visou beneficiar a indústria alemã conseguindo preços
mais vantajosos para si próprios. Se assim não for, Merkel e os seus são uma
cambada de broncos. 2. Alguém sabe de
Gerhard Schröder? Então a Europa não lhe congela nada?
3. o nosso presidente da República começa, cá dentro e lá fora, a
envergonhar-me. Laurentino
Cerdeira: Como sempre, D.
Helena Matos brinda-nos com um novo excelente artigo. Permitam-me 3 breves
notas: - 1.a) pode não ter relevância, mas Ângela Merkel nasceu e cresceu
na antiga RDA; - 2.a) repito sempre: Portugal tem um PR que absolutamente não
merece; - 3.a) o be não só é “taxista” como também “tachista”! Alberico
Lopes: Parabéns, Helena!
Os seus artigos são um bálsamo para a nossa tristeza perante o que
estamos a assistir no mundo em que vivemos!
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