Teve sempre um carisma de
intelectualidade e de erudição que afastava do seu convívio esses da
mediocridade acéfala do rebanho obediente às normas impostas. Os primitivos do
contra liam os livros proibidos, dos autores que lutaram contra as injustiças
sociais, através do seu raciocínio demonstrativo, e isso lhes dava, aos ledores
primitivos desses tais, a aura da superioridade e do desdém contra os mais. Estes
de agora não precisam da leitura, basta-lhes serem da irmandade, cuja
perversidade se destaca no seu espumar contra o Ocidente, justificativo de
todas as suas desculpas de uma guerra facinorosa, ainda que se achem com
direito às mesmas regalias do alimento que do Ocidente lhes vem, alimento que
eles apetecem, como os mais, para si próprios, por muito que se esforcem por demonstrar
que o apetecem para o povo, pelo tal espírito de solidariedade, como os
cantores intelectuais dantes transmitiam (que os de hoje são mais adeptos dos
prazeres que o amor vincula, na sequência, aliás, do “carpe diem” dos
primórdios, conquanto desconheçam isso.
Não enganam ALBERTO GONÇALVES. Mas António Costa também não, é claro, ALBERTO GONÇALVES tem um raciocínio implacável de acutilância e visão, e não perdoa, nem a Costa nem ao rebanho que elegeu Costa. Estamos arrumados. No rebanho, naturalmente. Sem outros guardadores de préstimo.
Não celebrem o fim do PCP e do BE
Se a extrema-esquerda se esfumar, o fumo é meramente
formal. Na prática, a chama da irracionalidade mantém-se acesa em zonas
demasiado vastas da sociedade, que o PS não se importará de acolher.
ALBERTO GONÇALVES, Colunista do OBSERVADOR
OBSERVADOR, 19 mar 2022
Nas últimas semanas, a invasão da
Ucrânia revelou a alguns portugueses a natureza do PCP e do BE. É estranho ter sido preciso chegar a 2022 para se
perceber que o desígnio de ambas as seitas sempre consistiu em demolir o que
outrora se designava por “modo de vida ocidental”, e que qualquer tirano que se
proponha fazê-lo merece o aplauso assumido da primeira seita ou dissimulado da
segunda. Mas a
compreensão lenta é um direito dos povos. E
esmiuçar esse processo é o nosso dever: o que mudou? O que levou a que os
dois partidos comunistas perdessem boa parte do respeito de que
inexplicavelmente beneficiavam por cá?
Por
um lado, houve a circunstância de o país atacado ser, numa interpretação
algo solta, uma democracia europeia, propensa a partilhar connosco aliados e
alianças. As semelhanças com Portugal permitiram deduzir a atitude de
PCP e BE caso, por absurdo, os invadidos fôssemos nós – e não
seria uma atitude especialmente patriótica. Se
eles desprezam a Ucrânia por sonhar com a pertença à NATO, é natural que
abominem os respectivos membros fundadores e lhes desejem os piores castigos,
incluindo um Putin, dois Godzilla ou três meteoritos. Naturalmente em nome da “paz”.
Por
outro lado, talvez o mais decisivo, os
“media” caseiros por uma vez repararam na inclinação franca ou disfarçada
daquela gente por regimes totalitários.
E transformaram-na em notícia. E
depois em notícias alusivas a trapalhadas legais e éticas, assaz alheias à
guerra. E depois na disseminação de uma suspeita: a de que, ao invés do
que tantos pensavam, os bandos de leninistas não pairam acima dos mortais nem
são pessoas ou instituições especialmente confiáveis. De repente, PCP e BE passaram a merecer pelo menos um
bocadinho do escrutínio de que, ao contrário da “direita”, escapavam há décadas. Ao fim da impunidade, eles chamam “perseguição”,
embora o termo correcto seja “justiça”.
O que mudou foram principalmente os
interesses do PS, que há pouco saiu de eleições com maioria folgada e a
expensas da erosão das agremiações à sua esquerda. Se é evidente que os socialistas já não carecem de
penduricalhos para governar, é natural que queiram garantir que não voltam a
carecer: além de torrar os milhões do PRR, um dos objectivos do PS é aproveitar
a deixa para reduzir os penduricalhos a pó, ou quando muito a dois ou três
deputados “simbólicos”. O resto,
aconselhava uma cantiga horrenda, basta imaginar. Imaginem, só por piada, que a
generalidade dos “media”, que genericamente depende do PS para subsistir,
recebeu ordens expressas ou tácitas para colaborar no exercício. Com boa
vontade, a coisa faz-se.
Porque é que não se fez antes?
Porque, não desvalorizando os excelentes esforços do eng. Sócrates e dos seus
empregados, até 2015 o PS não controlava uns 90% dos “media” como controla
agora. E porque de 2015 até agora o PS não podia arriscar
conflitos com PCP e BE. Agora, é quase inevitável que o PS aspire a engolir em
definitivo o eleitorado comunista. E não é improvável que o eleitorado
comunista, habituado a engolir o que calha, engula o PS.
Os
politólogos, que são os “especialistas” que encheram fugazmente as televisões
entre o sumiço dos “especialistas” em Covid e o despontar dos “especialistas”
em geo-estratégia, fartaram-se de amanhar explicações para o desastre eleitoral
do PCP e do BE. Esqueceram-se de uma, a de que hoje não custa a um
comunista votar PS na medida em que, para efeito de assuntos internos e gestão
corrente, o PS actual não anda longe do comunismo. A título de exemplo, veja-se a cambalhota do
partido face ao 25 de Novembro, que apoiou decisivamente em 1975 e rejeita com
certo asco nos tempos que correm.
Com
maior ou menor “pragmatismo”, o PS do
dr. Soares consagrou-se contra o comunismo. O PS do dr. Costa, do rapaz da TAP e dos pequenitos da
JS consagrou-se a favor, com ligeiras – e hesitantes – ressalvas em matérias
internacionais (o dinheiro, que dá jeito, obriga ao verniz “civilizado”). A exposição dessas ressalvas, a propósito da
questão ucraniana, coincidiu com o turbilhão de 30 de Janeiro e ajuda o PS:
enquanto anula os penduricalhos no
futuro, apaga as intimidades que com eles manteve no passado. Se o passado é
recente, a memória é fugaz.
Em circunstâncias normais, estaríamos
a celebrar o plausível desaparecimento da extrema-esquerda, cuja velha e
grotesca influência é a principal causa do nosso atraso. Nas circunstâncias vigentes, não se recomenda
celebrar nada. Se a extrema-esquerda se esfumar, o fumo é meramente formal. Na
prática, a chama da irracionalidade mantém-se acesa em zonas demasiado vastas
da sociedade, que o PS não se importará de acolher. E as cinzas serão as do
país, bem capaz de se desgraçar sozinho num mundo em combustão. O PCP e o BE
perderam. O comunismo não perdeu.
EXTREMA
ESQUERDA POLÍTICA COMUNISMO
COMENTÁRIOS:
Américo Silva: Parece que
Moedas está a contratar colaboradores. O pessoal do Observador que não se
distraia, corram que ainda vão a tempo, e podem continuar a colaborar no
jornal, os horários são muiiiito flexíveis. Cisca Impllit: Tal qual! Luis Martins: Se alguém tiver dúvidas de que o PS não se importará
com isso basta olhar para o governo da geringonça em que Costa não se importou
mesmo nada em ter o PCP e o BE como muletas já que a única coisa que lhe
interessa é o poder e as imensas regalias que ele lhe confere assim como a toda
a entourage socialista de norte a sul do país. João Floriano: Excelente. Carlos Grosso: Que nome dar aos filhos, descendentes diretos ou
indiretos, de Putin? Acho que a
língua portuguesa resolve esta questão com facilidade. klaus muller: Realmente, há cada vez menos comunistas. Vendo bem, não se pode dizer que seja um final
incaracterístico. Armando
Azevedo: E
pronto! O futebol é isto! Henrique
Barata Mota: Como epitáfio
de Portugal o fim não está nada mal. Que a Europa nos salve. Luís Abrantes: Concordo, a
cambada comuno bloquista ditatorial do caviar é um cancro difícil de extirpar… FME: Acabei
de ver há pouco no "Último Apaga a Luz", uma das bruxas de serviço, a
Varela, a pegar na vassoura e a desatar a esvoaçar pelo estúdio. Os outros três
comentadores, incluindo a outra bruxa hoje sem vassoura mas tão mal maquilhada
que mais parecia estar no dia do seu funeral, tentavam agarrá-la e dar-lhe uma
traulitada para a sossegar, mas ela rodopiava com a velocidade de um míssil de
Putin, enquanto gritava: - não apoio nem uns nem outros, são todos nazis!
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