sábado, 19 de março de 2022

Ser do contra


Teve sempre um carisma de intelectualidade e de erudição que afastava do seu convívio esses da mediocridade acéfala do rebanho obediente às normas impostas. Os primitivos do contra liam os livros proibidos, dos autores que lutaram contra as injustiças sociais, através do seu raciocínio demonstrativo, e isso lhes dava, aos ledores primitivos desses tais, a aura da superioridade e do desdém contra os mais. Estes de agora não precisam da leitura, basta-lhes serem da irmandade, cuja perversidade se destaca no seu espumar contra o Ocidente, justificativo de todas as suas desculpas de uma guerra facinorosa, ainda que se achem com direito às mesmas regalias do alimento que do Ocidente lhes vem, alimento que eles apetecem, como os mais, para si próprios, por muito que se esforcem por demonstrar que o apetecem para o povo, pelo tal espírito de solidariedade, como os cantores intelectuais dantes transmitiam (que os de hoje são mais adeptos dos prazeres que o amor vincula, na sequência, aliás, do “carpe diem” dos primórdios, conquanto desconheçam isso.

 Não enganam ALBERTO GONÇALVES. Mas António Costa também não, é claro, ALBERTO GONÇALVES tem um raciocínio implacável de acutilância e visão, e não perdoa, nem a Costa nem ao rebanho que elegeu Costa. Estamos arrumados. No rebanho, naturalmente. Sem outros guardadores de préstimo.

Não celebrem o fim do PCP e do BE

Se a extrema-esquerda se esfumar, o fumo é meramente formal. Na prática, a chama da irracionalidade mantém-se acesa em zonas demasiado vastas da sociedade, que o PS não se importará de acolher.

ALBERTO GONÇALVES, Colunista do OBSERVADOR

OBSERVADOR, 19 mar 2022

Nas últimas semanas, a invasão da Ucrânia revelou a alguns portugueses a natureza do PCP e do BE. É estranho ter sido preciso chegar a 2022 para se perceber que o desígnio de ambas as seitas sempre consistiu em demolir o que outrora se designava por “modo de vida ocidental”, e que qualquer tirano que se proponha fazê-lo merece o aplauso assumido da primeira seita ou dissimulado da segunda. Mas a compreensão lenta é um direito dos povos. E esmiuçar esse processo é o nosso dever: o que mudou? O que levou a que os dois partidos comunistas perdessem boa parte do respeito de que inexplicavelmente beneficiavam por cá?

Por um lado, houve a circunstância de o país atacado ser, numa interpretação algo solta, uma democracia europeia, propensa a partilhar connosco aliados e alianças. As semelhanças com Portugal permitiram deduzir a atitude de PCP e BE caso, por absurdo, os invadidos fôssemos nós – e não seria uma atitude especialmente patriótica. Se eles desprezam a Ucrânia por sonhar com a pertença à NATO, é natural que abominem os respectivos membros fundadores e lhes desejem os piores castigos, incluindo um Putin, dois Godzilla ou três meteoritos. Naturalmente em nome da “paz”.

Por outro lado, talvez o mais decisivo, os “media” caseiros por uma vez repararam na inclinação franca ou disfarçada daquela gente por regimes totalitários. E transformaram-na em notícia. E depois em notícias alusivas a trapalhadas legais e éticas, assaz alheias à guerra. E depois na disseminação de uma suspeita: a de que, ao invés do que tantos pensavam, os bandos de leninistas não pairam acima dos mortais nem são pessoas ou instituições especialmente confiáveis. De repente, PCP e BE passaram a merecer pelo menos um bocadinho do escrutínio de que, ao contrário da “direita”, escapavam há décadas. Ao fim da impunidade, eles chamam “perseguição”, embora o termo correcto seja “justiça”.

O que mudou foram principalmente os interesses do PS, que há pouco saiu de eleições com maioria folgada e a expensas da erosão das agremiações à sua esquerda. Se é evidente que os socialistas já não carecem de penduricalhos para governar, é natural que queiram garantir que não voltam a carecer: além de torrar os milhões do PRR, um dos objectivos do PS é aproveitar a deixa para reduzir os penduricalhos a pó, ou quando muito a dois ou três deputados “simbólicos”. O resto, aconselhava uma cantiga horrenda, basta imaginar. Imaginem, só por piada, que a generalidade dos “media”, que genericamente depende do PS para subsistir, recebeu ordens expressas ou tácitas para colaborar no exercício. Com boa vontade, a coisa faz-se.

Porque é que não se fez antes? Porque, não desvalorizando os excelentes esforços do eng. Sócrates e dos seus empregados, até 2015 o PS não controlava uns 90% dos “media” como controla agora. E porque de 2015 até agora o PS não podia arriscar conflitos com PCP e BE. Agora, é quase inevitável que o PS aspire a engolir em definitivo o eleitorado comunista. E não é improvável que o eleitorado comunista, habituado a engolir o que calha, engula o PS.

Os politólogos, que são os “especialistas” que encheram fugazmente as televisões entre o sumiço dos “especialistas” em Covid e o despontar dos “especialistas” em geo-estratégia, fartaram-se de amanhar explicações para o desastre eleitoral do PCP e do BE. Esqueceram-se de uma, a de que hoje não custa a um comunista votar PS na medida em que, para efeito de assuntos internos e gestão corrente, o PS actual não anda longe do comunismo. A título de exemplo, veja-se a cambalhota do partido face ao 25 de Novembro, que apoiou decisivamente em 1975 e rejeita com certo asco nos tempos que correm.

Com maior ou menor “pragmatismo”, o PS do dr. Soares consagrou-se contra o comunismo. O PS do dr. Costa, do rapaz da TAP e dos pequenitos da JS consagrou-se a favor, com ligeiras – e hesitantes – ressalvas em matérias internacionais (o dinheiro, que dá jeito, obriga ao verniz “civilizado”). A exposição dessas ressalvas, a propósito da questão ucraniana, coincidiu com o turbilhão de 30 de Janeiro e ajuda o PS: enquanto anula os penduricalhos no futuro, apaga as intimidades que com eles manteve no passado. Se o passado é recente, a memória é fugaz.

Em circunstâncias normais, estaríamos a celebrar o plausível desaparecimento da extrema-esquerda, cuja velha e grotesca influência é a principal causa do nosso atraso. Nas circunstâncias vigentes, não se recomenda celebrar nada. Se a extrema-esquerda se esfumar, o fumo é meramente formal. Na prática, a chama da irracionalidade mantém-se acesa em zonas demasiado vastas da sociedade, que o PS não se importará de acolher. E as cinzas serão as do país, bem capaz de se desgraçar sozinho num mundo em combustão. O PCP e o BE perderam. O comunismo não perdeu.

EXTREMA ESQUERDA   POLÍTICA  COMUNISMO

COMENTÁRIOS:

Américo Silva: Parece que Moedas está a contratar colaboradores. O pessoal do Observador que não se distraia, corram que ainda vão a tempo, e podem continuar a colaborar no jornal, os horários são muiiiito flexíveis.           Cisca Impllit: Tal qual!            Luis Martins: Se alguém tiver dúvidas de que o PS não se importará com isso basta olhar para o governo da geringonça em que Costa não se importou mesmo nada em ter o PCP e o BE como muletas já que a única coisa que lhe interessa é o poder e as imensas regalias que ele lhe confere assim como a toda a entourage socialista de norte a sul do país.            João Floriano: Excelente. Carlos Grosso: Que nome dar aos filhos, descendentes diretos ou indiretos, de Putin? Acho que a língua portuguesa resolve esta questão com facilidade.          klaus muller: Realmente, há cada vez menos comunistas. Vendo bem, não se pode dizer que seja um final incaracterístico.           Armando Azevedo: E pronto! O futebol é isto!     Henrique Barata Mota: Como epitáfio de Portugal o fim não está nada mal. Que a Europa nos salve.            Luís Abrantes: Concordo, a cambada comuno bloquista ditatorial do caviar é um cancro difícil de extirpar…        FME: Acabei de ver há pouco no "Último Apaga a Luz", uma das bruxas de serviço, a Varela, a pegar na vassoura e a desatar a esvoaçar pelo estúdio. Os outros três comentadores, incluindo a outra bruxa hoje sem vassoura mas tão mal maquilhada que mais parecia estar no dia do seu funeral, tentavam agarrá-la e dar-lhe uma traulitada para a sossegar, mas ela rodopiava com a velocidade de um míssil de Putin, enquanto gritava: - não apoio nem uns nem outros, são todos nazis!

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