domingo, 13 de março de 2022

Uma sugestão prática


Uma forma chã e objectiva de apelar para a consciência humana, lembrando razões de humanidade, sem necessidade de elaborar discursos exaltadores da idiossincrasia pátria referente a simpatia humana - como fez o nosso PR, na sua maneira exibicionista, naturalmente exagerada e vã, que nos humilha. Parece eficaz a sugestão do Dr.Salles da Fonseca sobre a criação de uma Escola e Hospital Luso-Ucranianos, a par da sua argumentação em torno da tirânica falácia do presidente russo da inclusão da Roménia no espaço pátrio da Rússia, estando os ucranianos a revelar uma admirável coragem de oposição a ela. Mas será que Putin se fica por aí?

UCRÂNIA - 5

 HENRIQUE SALLES DA FONSECA

 A BEM DA NAÇÃO, 12.03.22

A tenacidade demonstrada pelos ucranianos na defesa do seu País contra a Invasão russa destrói por completo os argumentos de que a Ucrânia faz parte da Rússia - argumentação historicamente caduca, etnicamente falsa e politicamente aberrante. Os factos demonstram-no.

Como alguém disse numa TV, «Putin poderá ganhar a guerra mas perderá a paz». E é para que os problemas militares possam ser resolvidos que nós, os outros europeus, temos o dever de proporcionar aos refugiados ucranianos (velhos, mulheres e crianças, quer saudáveis quer doentes) as melhores condições de vida. Até para que os combatentes saibam que as famílias estão a recato.

Pelas notícias, constatamos que a nossa sociedade (pública e privada) se aplica com entusiasmo em iniciativas de acolhimento. Aliás, outro procedimento não seria expectável.

Do que os refugiados necessitam imediatamente é da recuperação emocional e física mas logo de seguida necessitarão de arranjar um modo «normal» de vida pois ninguém sabe por quanto tempo cá ficarão.

Nesta incerteza, lanço duas sugestões:

A instituição da «Escola Luso-Ucraniana»;

A instituição do «Hospital Luso-Ucraniano» onde médicos ucranianos possam exercer enquanto não aprendem português (e, daí, não serem membros da nossa Ordem dos Médicos).

Em situações normais, iniciativas deste género seriam bilaterais dos Estados envolvidos, mas com a situação por que actualmente o Estado Ucraniano atravessa, a iniciativa só poderá ser unilateral, do Estado Português.

Ficam as sugestões na certeza, porém, de que há muitas matérias por definir, a começar por «onde», «como», «com quem», «para quem»… e se ficarmos à espera que a nossa Administração Pública decida avançar com soluções, mais valerá que nos sentemos. Acho bem melhor que apareçam particulares que se constituam em grupos luso-ucranianos (um grupo para cada iniciativa) de estudo, promoção e pressão que «levem as respectivas cartas a Garcia».

Quem se oferece?

Março de 2022

Henrique Salles da Fonseca

Tags: ucrânia

COMENTÁRIOS:

 Henrique Salles da Fonseca  12.03.2022  12:56: Muito boas sugestões. Apoiado! De acordo. Espero que a iniciativa dê frutos. José Monralvão

 Adriano Miranda Lima  12.03.2022  15:11: Sob a vertigem mediática que nos assola e coloca no meio desta guerra infame, conforta ler ou ouvir palavras e sugestões sensatas, Dr. Salles, como estas com que deu conteúdo a este post. Todo o acolhimento e solidariedade que possamos dispensar aos refugiados ucranianos não será demais para minorar o seu sofrimento e também para que não nos sintamos exclusos da imensa tragédia humana que está a acontecer nesta Europa em que vivemos. O que sugere faz sentido e é realizável, e oxalá seja replicável em outros países de acolhimento, como estou certo acontecerá.Por vezes, tenho de me beliscar para me convencer de que a invasão de um país soberano europeu não é ficção neste tempo civilizacional em que vivemos. Volta e meia, revejo na televisão cenas da última guerra mundial, e sempre com um sentimento de alívio pela crença na sua provável irreversibilidade. Mas crença costurada com linhas frágeis por eu não ser propriamente um optimista e não raras vezes questionar a natureza humana, com o que ela tem de complexa, inextricável e imprevisível. E se dúvidas houvesse, está aí o Putin a destroná-las completamente. Também, tenho-me interrogado sobre o que se passará na cabeça dos comandantes das forças que invadiram e atacaram a Ucrânia. Um militar jura lutar e morrer pela sua pátria, mas em caso algum esse compromisso solene pode incluir a participação em guerras injustas ou em violação do direito internacional. Seria de esperar que o golpe palaciano tivesse a sua génese precisamente nas forças invasoras. Não entendo como podem esses responsáveis militares apaziguar a sua consciência. Como podem dormir tranquilos quando até têm conhecimento (têm de ter) de que corpos dos seus soldados não recuperados (ou abandonados) estão a ser devorados por cães esfomeados.
Quanto à história da Ucrânia, e como bem diz, é falaciosa a essa de que o país é parte integrante da Rússia. Li alguma coisa sobre o assunto e o que se colhe é que nos primórdios das nacionalidades europeias toda essa região da Europa era indefinível e de contornos e subordinações políticas flutuantes. Mas se dúvidas houvesse, tem de se dizer que o ideal nacionalista dos ucranianos que hoje nos assombra não despontou espontaneamente, é de muitos séculos
. Adriano Lima

 

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