Uma forma chã e objectiva de apelar para
a consciência humana, lembrando razões de humanidade, sem necessidade de
elaborar discursos exaltadores da idiossincrasia pátria referente a simpatia
humana - como fez o nosso PR, na sua maneira exibicionista, naturalmente
exagerada e vã, que nos humilha. Parece eficaz a sugestão do Dr.Salles da Fonseca sobre a
criação de uma Escola e
Hospital Luso-Ucranianos, a par da sua argumentação em torno da tirânica falácia
do presidente russo da inclusão da Roménia no espaço pátrio da Rússia, estando
os ucranianos a revelar uma admirável coragem de oposição a ela. Mas será que
Putin se fica por aí?
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 12.03.22
A tenacidade demonstrada pelos ucranianos na defesa do seu País
contra a Invasão russa destrói por completo os argumentos de que a Ucrânia faz
parte da Rússia - argumentação historicamente caduca, etnicamente falsa e
politicamente aberrante. Os factos demonstram-no.
Como alguém disse numa TV, «Putin
poderá ganhar a guerra mas perderá a paz». E é para que os problemas
militares possam ser resolvidos que nós, os outros europeus, temos o dever de
proporcionar aos refugiados ucranianos (velhos, mulheres e crianças, quer
saudáveis quer doentes) as melhores condições de vida. Até para que os
combatentes saibam que as famílias estão a recato.
Pelas notícias, constatamos que a
nossa sociedade (pública e privada) se aplica com entusiasmo em iniciativas de
acolhimento. Aliás, outro procedimento não seria expectável.
Do que os refugiados
necessitam imediatamente é da recuperação emocional e física mas logo de
seguida necessitarão de arranjar um modo «normal» de vida pois ninguém sabe por
quanto tempo cá ficarão.
Nesta incerteza, lanço duas
sugestões:
A instituição da «Escola
Luso-Ucraniana»;
A instituição do «Hospital
Luso-Ucraniano» onde médicos ucranianos possam exercer
enquanto não aprendem português (e, daí, não serem membros da nossa Ordem dos
Médicos).
Em situações normais, iniciativas
deste género seriam bilaterais dos Estados envolvidos, mas com a
situação por que actualmente o Estado Ucraniano atravessa, a iniciativa só
poderá ser unilateral, do Estado Português.
Ficam as sugestões na certeza,
porém, de que há muitas matérias por definir, a começar por «onde», «como»,
«com quem», «para quem»… e se ficarmos à espera que a nossa
Administração Pública decida avançar com soluções, mais valerá que nos sentemos.
Acho bem melhor que apareçam particulares que se constituam em grupos
luso-ucranianos (um grupo para cada iniciativa) de estudo, promoção
e pressão que «levem as
respectivas cartas a Garcia».
Quem se oferece?
Março de 2022
Henrique Salles da Fonseca
Tags: ucrânia
COMENTÁRIOS:
Henrique Salles da
Fonseca 12.03.2022 12:56: Muito boas sugestões. Apoiado! De acordo. Espero que
a iniciativa dê frutos. José
Monralvão
Adriano Miranda Lima 12.03.2022 15:11: Sob a vertigem mediática que nos assola e coloca no
meio desta guerra infame, conforta ler ou ouvir palavras e sugestões sensatas,
Dr. Salles, como estas com que deu conteúdo a este post. Todo o acolhimento
e solidariedade que possamos dispensar aos refugiados ucranianos não será
demais para minorar o seu sofrimento e também para que não nos sintamos
exclusos da imensa tragédia humana que está a acontecer nesta Europa em que
vivemos. O que sugere faz sentido e é realizável, e oxalá seja
replicável em outros países de acolhimento, como estou certo acontecerá.Por
vezes, tenho de me beliscar para me convencer de que a invasão de um país
soberano europeu não é ficção neste tempo civilizacional em que vivemos. Volta
e meia, revejo na televisão cenas da última guerra mundial, e sempre com um
sentimento de alívio pela crença na sua provável irreversibilidade. Mas crença
costurada com linhas frágeis por eu não ser propriamente um optimista e não
raras vezes questionar a natureza humana, com o que ela tem de complexa,
inextricável e imprevisível. E se dúvidas houvesse, está aí o Putin a
destroná-las completamente. Também, tenho-me interrogado sobre o que se
passará na cabeça dos comandantes das forças que invadiram e atacaram a Ucrânia.
Um militar jura lutar e morrer pela sua pátria, mas em caso algum esse
compromisso solene pode incluir a participação em guerras injustas ou em
violação do direito internacional. Seria de esperar que o golpe palaciano
tivesse a sua génese precisamente nas forças invasoras. Não entendo como podem
esses responsáveis militares apaziguar a sua consciência. Como podem
dormir tranquilos quando até têm conhecimento (têm de ter) de que corpos dos
seus soldados não recuperados (ou abandonados) estão a ser devorados por cães
esfomeados.
Quanto à história da Ucrânia, e como bem diz, é falaciosa a essa de que o país
é parte integrante da Rússia. Li alguma coisa sobre o assunto e o que se colhe
é que nos primórdios das nacionalidades europeias toda essa região da Europa
era indefinível e de contornos e subordinações políticas flutuantes. Mas se
dúvidas houvesse, tem de se dizer que o ideal nacionalista dos ucranianos que
hoje nos assombra não despontou espontaneamente, é de muitos séculos. Adriano Lima
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