De Henry
Kissinger, que o Dr.
Salles colocou no seu blog, talvez para lançar uma visão mais compreensível
das razões de Putin e os seus aparentes direitos a uma Ucrânia das próprias
origens russas. Mas isso não desculpabiliza Putin, que parece um louco
criminoso, à maneira de Hitler, embora mais suavizada pelos seus ares piedosos de
Tartufo untuoso.
UCRÂNIA 2
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 05.03.22
Artigo de Henry Kissinger publicado no «Washington Post» em 5 de
Março de 2014.
https://www.washingtonpost.com/opinions/henry-kissinger-to-settle-the-ukraine-crisis-start-at-the-end/2014/03/05/46dad868-a496-11e3-8466-d34c451760b9_story.html
«A discussão pública sobre a Ucrânia tem tudo a ver com
confronto. Mas sabemos para onde vamos? Na minha vida, vi quatro guerras começarem com grande
entusiasmo e apoio público, todas as quais não soubemos como terminar e de três
das quais nos retiramos unilateralmente. O teste da política é como ela
termina, não como começa. Com demasiada frequência, a questão
ucraniana é apresentada como um confronto: se a Ucrânia se junta ao Oriente ou
ao Ocidente. Mas para que
a Ucrânia sobreviva e prospere, não deve ser o posto avançado de nenhum dos
lados contra o outro – deve funcionar como uma ponte entre eles. A Rússia deve
aceitar que tentar
forçar a Ucrânia a um status de satélite e, assim, mover as fronteiras da
Rússia novamente, condenaria
Moscou a repetir a sua história de ciclos autorrealizáveis de pressões
recíprocas com a Europa e os Estados Unidos. O Ocidente deve entender que, para a Rússia, a
Ucrânia nunca pode ser apenas um país estrangeiro. A história russa começou
no que foi chamado de Kievan-Rus. A religião russa espalhou-se a partir daí.
A Ucrânia faz parte da Rússia há
séculos e as suas histórias estavam entrelaçadas antes disso. Algumas das batalhas mais importantes pela liberdade
russa, começando com a Batalha de
Poltava em 1709, foram travadas em solo ucraniano. A Frota
do Mar Negro – o meio de
projecção de poder da Rússia no Mediterrâneo – é baseado em arrendamento de
longo prazo em Sebastopol, na Crimeia. Até
mesmo dissidentes famosos como Aleksandr Solzhenitsyn e Joseph Brodsky
insistiam que a Ucrânia
era parte integrante da história russa e, de facto, da Rússia. A União
Europeia deve reconhecer que a sua lentidão burocrática e a subordinação
do elemento estratégico à política interna na negociação da relação da Ucrânia
com a Europa contribuíram para transformar uma negociação em crise. A política externa é a arte de
estabelecer prioridades. Os ucranianos são o elemento decisivo. Eles vivem num
país com uma história complexa e uma composição poliglota. A parte ocidental
foi incorporada à União Soviética em 1939, quando Stalin e Hitler dividiram os
despojos. A Crimeia, cuja população é 60%russa, tornou-se
parte da Ucrânia apenas em 1954 quando Nikita Khrushchev, ucraniano de
nascimento, a concedeu como parte da celebração do 300º ano de um acordo russo
com os cossacos. O Ocidente é, em grande parte católico; o Oriente, em
grande parte, é ortodoxo russo. O Ocidente fala ucraniano; o Oriente fala
principalmente russo. Qualquer tentativa de uma ala da Ucrânia de dominar a
outra – como tem sido o padrão – levaria eventualmente a uma guerra civil ou
separação. Tratar a Ucrânia como parte de um confronto
Leste-Oeste arruinaria por décadas qualquer perspectiva de trazer a Rússia
e o Ocidente – especialmente a Rússia e a Europa – para um sistema internacional
cooperativo. A Ucrânia
é independente há apenas 23 anos; anteriormente
estava sob algum tipo de domínio estrangeiro desde o século 14. Não
surpreendentemente, os seus líderes não aprenderam a arte do compromisso,
muito menos a perspetiva histórica. A política da Ucrânia
pós-independência demonstra claramente que a raiz do problema está nos esforços
dos políticos ucranianos para impor a sua vontade a partes recalcitrantes do
país, primeiro por uma facção, depois pela outra. Essa é a
essência do conflito entre Viktor Yanukovych e sua principal rival política,
Yulia Tymoshenko. Eles representam as duas alas da Ucrânia e não estão
dispostos a dividir o poder. Uma
política sábia dos EUA em relação à Ucrânia, buscaria uma maneira de as duas
partes do país cooperarem entre si. Devemos buscar a reconciliação, não a
dominação de uma facção. A Rússia e o Ocidente, e muito menos as várias fações
na Ucrânia, não agiram de acordo com esse princípio. Cada um piorou a situação. A Rússia não conseguiria impor uma solução militar
sem se isolar em um momento em que muitas das suas fronteiras já são precárias.
Para o Ocidente, a demonização de Vladimir Putin não é uma política; é um álibi
para a ausência de uma (…???...). Putin deve perceber que, quaisquer que
sejam as suas queixas, uma política de imposições militares produziria outra
Guerra Fria. Por sua parte, os Estados Unidos precisam evitar tratar a
Rússia como uma aberração a ser pacientemente ensinada sobre as regras de
conduta estabelecidas por Washington. Putin é um estratega sério – nas
premissas da história russa. Compreender os valores e a psicologia dos EUA não
são os seus pontos fortes. A compreensão da história e da psicologia russas
também não foi um ponto forte dos formuladores de políticas dos EUA. Líderes de todos os lados devem voltar a examinar os
resultados, não competir em postura. Aqui está a minha noção de um resultado
compatível com os valores e interesses de segurança de todos os lados: A Ucrânia deve ter o direito de escolher livremente as
suas associações económicas e políticas, inclusive com a Europa. A Ucrânia
não deveria aderir à OTAN, posição que assumi há sete anos, quando surgiu pela
última vez.
A Ucrânia
deve ser livre para criar qualquer governo compatível com a vontade expressa
pelo seu povo. Os sábios
líderes ucranianos optariam então por uma política de reconciliação entre as
várias partes do seu país. Internacionalmente, devem seguir uma postura
comparável à da Finlândia. Essa nação não deixa dúvidas sobre a sua feroz
independência e coopera com o Ocidente na maioria dos campos, mas evita
cuidadosamente a hostilidade institucional em relação à Rússia. É incompatível com as regras da ordem
mundial existente de a Rússia anexar a Crimeia. Mas deve ser possível colocar o
relacionamento da Crimeia com a Ucrânia numa base menos tensa. Para esse fim, a
Rússia reconheceria a soberania da Ucrânia sobre a Crimeia. A Ucrânia deve
reforçar a autonomia da Crimeia nas eleições realizadas na presença de
observadores internacionais. O
processo incluiria a remoção de quaisquer ambiguidades sobre o status da Frota
do Mar Negro em Sebastopol. Estes são
princípios, não prescrições. As pessoas familiarizadas com a região saberão que
nem todos serão palatáveis para todas as partes. O teste não é a satisfação absoluta, mas a
insatisfação equilibrada. Se alguma
solução baseada nesses ou em elementos comparáveis não for alcançada, a
tendência para o confronto se acelerará. A hora para isso chegará em breve.»
Tradução:
Pedro Mascarenhas/Google
p.e.f. Margarida Castro
Tags: ucrânia
COMENTÁRIOS:
Henrique Salles da
Fonseca 05.03.2022 16:29: Em primeiro lugar devo lhe dizer que simpatizo me com o
povo Ucraniano que visita Goa em grande número como turistas e alguns deles
residem em Goa por meses seguidos. Julgo que ucranianos são boas pessoas e bem-intencionados
e não são afluentes. Essa guerra não tem cabimento. É totalmente indesejável. A
Ucrânia é um país pobre e a América é um país totalmente comerciante e
interesseiro e só vê o seu próprio benefício (selfish). Não devia convidar a
Ucrânia a ser membro da Nato, nem a União Europeia convidar a Ucrânia a ser
membro. Ambos sabiam e previam as consequências. A pobre Ucrânia é uma
vítima dessas maquinações por parte da América e da EU. A pobre Ucrânia devido
à sua pobreza ficou tentada com essa oferta e julgando que a América e a Nato
viriam em ajuda a defendê-la militarmente . Mas tanto a América como a EU
abandonaram a Ucrânia como se ela fosse uma tijela quente. Amândio
coelho pereira (Bombaim)
Henrique Salles da
Fonseca 05.03.2022 16:33: Dr Henrique
corrija-me se é que eu estou errado quanto ao meu ponto de vista! Pois penso
que essa é que foi a causa ou provocação para a Rússia declarar a guerra contra
a Ucrânia e isso estava bem previsto pela Ucrânia América e a EU. Amândio
Coelho Pereira (Bombaim)
Anónimo 05.03.2022 16:35: Obrigado, Henrique, por nos trazeres esse artigo de
Henry Kissinger, escrito um mês antes do conflito entre rebeldes pró-russos e
as forças armadas ucranianas, conflito que acabou por desaguar nos Acordos de Minsk. Já agora, porque não foram respeitados, no quê
e por quem? E que diligências foram tomadas para que o fossem? Reportando-me ao
que tem acontecido recentemente, digo
Não à declaração de independência das duas
províncias orientais ucranianas, como
disse Não à recente deriva independentista de Regiões do País nosso vizinho, como disse Não à declaração
unilateral de independência do Kosovo e ao seu consequente reconhecimento por
Portugal, embora tenha de admitir que este se fez com os cuidados possíveis,
malgrado as pressões a que Portugal foi sujeito para o seu pronto
reconhecimento, conforme o então
Presidente da República, Prof.
Cavaco Silva, dá conta
num capitulo específico do seu primeiro livro de memórias daquele período. Não à invasão
de um País soberano, mesmo que fosse apenas para proteger parte da população de
Regiões artificialmente declaradas independentes. A ONU não
poderia tomar diligências para essa protecção, caso se justificasse? Não, por maioria de razão, quando a
invasão atinge a dimensão que se conhece, com a barbárie envolvente. Um País não
pode ser humilhado como a Ucrânia está a ser. Já tive oportunidade de escrever no teu blog, por mais
de uma vez, que o punitivo Tratado de Versalhes, com as suas cláusulas de
culpa e de indemnizações de guerra, bem como a ocupação do Ruhr pelos
franceses, há 100 anos, para se cobrar das indemnizações, assim como a
hiperinflação decorrente do pagamento daquelas contribuíram para a subida de
Hitler ao poder em 1933. A
falta de apoio ocidental, e até de humilhação, à reforma de Gorbachev, contribuiu para a invocação do
nacionalismo russo, protagonizado primeiro por Ieltsin e depois por Putin. Aliás, aquele chegou a insinuar que as
fronteiras entre as antigas Repúblicas das URSS poderiam ser renegociadas,
atendendo à existência nas Repúblicas de minorias de russos, o que acelerou a
independência de algumas delas, como foi o caso da Ucrânia, cujos resultados do
referendo dei nota no meu comentário ao teu post de 1 de fevereiro sobre aquele
País. Por razões também aí expostas, digo
igualmente (como Kissinger) Não à inclusão da Ucrânia na NATO, embora reconheça
que Putin muito tem feito para que o chapéu NATO avance formalmente para a
Ucrânia e, eventualmente, para outros Países, como a Suécia e a Finlândia.
O recente desempenho de Putin tem tido, quanto a mim, efeitos
contraproducentes. Kruschev durou 2 anos, como político, após a sua aventura
cubana. Vamos a ver quantos dura mais Putin, politicamente. Há qualquer
coisa no ADN dos dirigentes russos que me escapa. Já o historiador francês,
recentemente falecido, Joseph Pérez, na biografia de Felipe II, de Espanha,
que acabo de reler, escrevia que, ao contrário do que acontecia nos
Impérios Otomano e Russo, os reis da cristandade ocidental, apesar de exercerem
também um poder absoluto, não eram déspotas, os seus poderes estavam limitados
pelas leis divina e do reino, bem como por um conjunto de contratos, costumes e
privilégios. Putin herdou
o despotismo cruel. Oxalá que
em Kiev, em vez do som e da destruição das bombas se ouça o empolgante som dos
sinos e dos carrilhões com que Mussorgski tão bem termina a sua “Exposição de
Quadros”, com “A grande porta de Kiev”. Conta-se, Henrique, que na
Conferência de Potsdam, em julho de 1945, um oficial americano felicitou
Estaline por o Exército Vermelho ter sido o primeiro a chegar a Berlim, ao que
Estaline lhe respondeu que o czar Alexandre I chegara a Paris, referindo-se à
perseguição ao derrotado exército napoleónico. Reportando-se, certamente, a
esse episódio histórico, Eduardo Lourenço, num dos seus ensaios do início da
última década do século passado, e inserido no seu livro “A Europa
Desencantada”, interroga-se como seria a Europa se os cavalos do general
soviético Jukov tivessem ido beber à Praça da Concórdia”. Como seria? Forte
abraço. Carlos Traguelho
Henrique Salles da
Fonseca 05.03.2022 : Para mim e
quem sou eu para dar opinião Putin não passa de um criminoso para o qual foi
treinado arrasar cidades transformá-las em escombros é a sua forma de diversão.
Era o k faltava os Espanhóis entrarem por aqui dentro e fazerem o mesmo já k
somos todos ibéricos Isabel Pedrosa
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