Homens e planeta em desassossego, em correspondência anímica.
Erupção vulcânica de La Palma pode
repetir-se nos Açores. Autoridades em alerta e Governo Regional prepara cenário
de retirada de população
Autoridades em alerta na
sequência da crise sismo-vulcânica reforçam prontidão de meios de socorro e
preparam planos de evacuação da ilha. Governo Regional desaconselha viagens
para São Jorge.
OBSERVADOR, 22
mar 2022, 20:07 1
O Presidente do Centro de Informação e Vigilância
Sismovulcânica dos Açores, Rui Marques,
reconhece que a atual situação que se vive em São Jorge “não é normal” e
que pode repetir-se uma situação semelhante à de La Palma. Governo
Açoriano anunciou que já está a ser preparado um plano para eventual
necessidade de retirar população e desaconselha viagens para São Jorge.
Rui
Marques, presidente do Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos
Açores, nota à Rádio
Observador, que os sismos são “de magnitudes baixas”, mas com
“epicentros muito próximos de zonas habitadas” o que significa que mesmo com as
baixas magnitudes são sentidos pela população. “Todos os sismos têm
magnitude inferior a 3,3. O que teve maior intensidade foi sentido a 20 março. São
sismos que dão uma sensação semelhante à passagem de um pesado junto a uma
habitação mais frágil”, exemplifica acrescentando que “não há estragos
associados”: “Sente-se, mas não há sequer objetos tombados nas prateleiras”.
Mas o facto de até ao momento serem
sismos de baixa intensidade não tranquiliza o especialista que nota que “esta
crise, neste local e com esta quantidade de sismos em tão curto espaço de tempo
não é normal acontecer.” Para o
responsável, que recupera o que aconteceu nas anteriores erupções de 1580 e
1808, o cenário de
erupção seria semelhante ao que se viveu em La Palma no
final do ano passado.
“Há que considerar o contexto geodinâmico dos
Açores. Todos os sismos a ser registados têm origem tectónica. Uma quantidade muito grande de sismos que se localizam
sobre um sistema vulcânico ativo, o Sistema Vulcânico Fissural de Manadas, na
ilha de São Jorge. Como tal, temos que considerar como uma crise
sismo-vulcânica”, explica à
Rádio Observador.
Rui
Marques nota que as autoridades se preparam para “dois cenários distintos”.
“Por um lado a ocorrência de um sismo de magnitude superior aos que estamos a
registar neste momento. Grande parte
dos sismos são muito próximos das zonas habitacionais e da vila das Velas. Se tivermos um pouco mais de magnitude num destes
sismos, com alguma facilidade temos danos em infraestruturas. Por outro
lado o facto desta sismicidade se localizar
num sistema vulcânico activo faz com que a hipótese de uma possível erupção não
possa ser descartada.”
“Relembro que desde o povoamento dos Açores, e
já depois, neste mesmo setor, temos duas erupções históricas. A erupção de 1580 e de 1808. Uma no século XVI e outra no século XIX. O estilo
eruptivo mais próximo do que tem acontecido nos Açores é uma erupção como a de
La Palma”, exemplifica frisando que em “planeamento de emergência e gestão de
riscos são considerados todos os cenários” para que possam estar “preparados
para reagir.”
”O que
tentamos é perceber se essas variáveis se alteram ao longo deste processo
dinâmico, de um sistema extremamente complexo — o vulcânico —, tentando, com
base nestes parâmetros, perceber se estamos ou não perante um cenário
pré-eruptivo”, clarifica notando que “não é possível prever se vai ou não haver
uma erupção”, mas que o objetivo é “tentar com a maior antecedência
possível perceber que há uma alteração no sistema vulcânico e apoiar a decisão
das entidades de Proteção Civil que, se necessário, procederão à evacuação das
populações.”
Esta
tarde o Governo Açoriano já revelou que está a preparar
cenários de retirada da população da ilha de São Jorge, tendo já
sido iniciada a retirada de doentes internados no Centro de Saúde das Velas,
que está próximo dos epicentros dos sismos. Os doentes serão deslocados para o
Centro de Saúde da Calheta, na outra ponta da ilha de São Jorge “no sentido de
precaver qualquer situação que torne mais difícil a movimentação, a mobilidade
e alguma evacuação”.
O
esclarecimento foi feito por Clélio Meneses, que tutela a Protecção Civil no
Governo regional, numa conferência de imprensa esta tarde, onde esclareceu que
as autoridades estão a tratar do “problema em permanência com os melhores
técnicos”: “Para, no caso de ser necessário, termos a resposta preparada para
intervir. Esta resposta tem uma natureza ao nível de necessidade de
evacuações e de cuidados de saúde e tudo isto está a ser preparado para, na
nossa esperança, não ser necessário.”
À
população açoriana, Rui Marques pede que esta fique “atenta à informação
veiculada pelos organismos oficiais” e que “mantenham a tranquilidade e as
vidas normais”. “No momento em que houver alguma alteração, caso seja
percecionada pela monitorização [do CIVISA]. Será imediatamente comunicada aos
serviços de Protecção Civil que procederão à informação das populações ou
evacuação, se necessário.”
Governo
diz que ainda não há evidência de atividade vulcânica em São Jorge, mas que
situação “poderá ocorrer” e desaconselha deslocações a São Jorge.
“Não há qualquer sinal ou evidência de atividade
vulcânica, quer pelo satélite, quer pelos sensores. Todas as ocorrências
sísmicas têm origem tectónica. No entanto, pelo histórico e pela
localização sucessiva dos epicentros, poderá ocorrer esta situação“, afirmou o titular da pasta da Saúde nos Açores, que
tutela também a Proteção Civil, Clélio Meneses, numa conferência de imprensa,
em Angra do Heroísmo.
Desde
sábado à tarde já foram registados mais de 1.800 sismos na ilha de São
Jorge, 104 dos quais sentidos pela população. Só hoje, desde a
meia-noite, foram sentidas 22 ocorrências.
Segundo
o secretário regional da Saúde, a atividade sísmica está a uma profundidade
entre os seis e os 12 quilómetros, o que “não indicia qualquer risco eminente
de atividade vulcânica”, mas a situação pode vir a alterar-se.
“É
um sinal, dizem os especialistas, de que não está muito perto da superfície, o
que não será propriamente propiciador de erupção vulcânica. No entanto, tudo
isto está a ser acompanhado com rigor, com precisão, de modo que possamos
acautelar a segurança das pessoas”, afirmou.
Clélio
Meneses frisou que as entidades oficiais não estão “a esconder nada” da
população e que estão a acompanhar o evoluir da situação “ao minuto”, estando
preparadas para tomar decisões em caso de “maior emergência”.
“Se
se começar a perceber que estão a subir à superfície estes eventos sísmicos é
um sinal de preocupação e aí transmitimos”, garantiu.
“O
grande conselho é que as pessoas mantenham a calma possível num momento de
transtorno como este que estão a viver desde sábado, tal é a intensidade da actividade
sísmica, mas estejam atentos à informação que vai ser dada”, afirmou.
Clélio
Meneses desaconselhou, por outro lado, deslocações para a ilha de São
Jorge, que possam ser adiadas, dando como exemplo atividades desportivas ou
culturais.
“Aconselha-se a que não se desloquem nesta
situação de crise sísmica. Havendo algum evento, com impacto maior, são mais
pessoas” para serem retiradas, explicou.
O
presidente da câmara de Calheta, explica à Rádio Observador que as autoridades
estão “em coordenação inclusivamente com ilhas vizinhas”, mas rejeita um
cenário “demasiado alarmante”.
“Todos
sabemos que os sismos e actividade não é possível controlar como as
tempestades, por exemplo, é nesse sentido que isto [Plano Municipal de
Emergência] se activou”, diz explicando que há neste momento um “maior
número de recursos, mais atentos e totalmente disponíveis” para qualquer
cenário caso a situação se agrave.
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COMENTÁRIOS:
Thunderdome - The Return of Grimm: Tirem o pessoal de lá o mais depressa
possível. A falha do Atlântico está activa.
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