quarta-feira, 23 de março de 2022

Más fadas há


Por cá e por lá. Mas houvesse mais gente assim persistente, como MJA! Fôssemos todos assim, penetrados de igual amor pelo nosso país… E igual afinco trabalhador!... Outro galo nos cantaria.

Por cá

E por cá? Por cá parece que nada se passa, mas quando se destapar a politica portuguesa que encontraremos por detrás da obscuridade silenciosa do último mês?

MARIA JOÃO AVILLEZ

OBSERVADOR, 23 mar 2022, 00:2038

1A invasão da Ucrânia passou um rolo compressor pela política, o espaço público pulverizou tudo o que não fosse o som da guerra, a atenção confinou-se nos écrans que nos trazem a tragédia a casa e em directo. Deles e sem trégua, irradia simultânea e permanentemente o mal e o bem duvidoso prodígio que nos distingue como humanos.

A política interna seguiu nos bastidores, sem que dela tenhamos tido um assomo sequer. Que terá ocorrido nos estados maiores dos partidos durante o ultimo mês? Que disseram ou pensaram os seus líderes que mal os ouvimos? Que governo terá composto António Costa? O que já tinha em mente ou as novas circunstâncias ditaram alterações ou até uma mudança de natureza na escolha de alguns nomes e pastas? Sabemos que o governo será “ágil, adjectivo que por si só não inspira nem mobiliza mas não se sabe. À hora a que escrevo – terça à tarde –, para além das ”adivinhas” do costume supostamente bem informadas, ou de intencionais fugas de informação, saber, não se sabe. Nem disto, nem de mais nada, houve um apagão da política portuguesa.

Quando ela se destapar que encontraremos por de trás da obscuridade silenciosa deste último mês?

2Carlos Moedas fez bem em afastar de vez a “eventualidade” (?) de se candidatar ao PSD na colheita 2020. Já não era sem tempo: os telefonemas sucediam-se, as pressões choviam, a insistência não desarmava. Havia até quem invocasse (que vergonha) que ele poderia continuar na Câmara, era uma questão de “acumular”. O equívoco é fatal e eloquente. Caso tivéssemos dúvidas do que a “casa PSD” anda a gastar em desnorteio e desqualificação política, ficávamos entendidos: os “pressionantes” de Moedas (eram muitos e não de somenos) na aturdida pesca à linha de quem os salve de uma derrocada, ignoraram um mandamento político sagrado: os deveres de um eleito, para com os seus eleitores. O seu compromisso perante eles. Aliás ter-se-ia preferido ouvir Moedas falar de compromisso em vez de “missão”. É de compromisso que se trata, este é anterior à missão. Ela é que deriva dele e não o contrário. Além de que a palavra missão – mas isto já sou eu a falar – lembra de imediato sacrifício, penas, esforço, peso. O poder de convocatória de Lisboa é maior que isso. Só um compromisso estará a altura dele.

3Voltando ao PSD: por alguma razão a nenhum observador razoável escapará a actual disponibilidade/capacidade do PSD para o pior. No caso, para se esquecer do que foi, significou, fez, conseguiu. Caindo no buraco onde se meteu atrás de um líder que nunca o deveria ter sido mas que enquanto o foi levou o partido para uma morada política errada; caindo na pasmosa complacência com que aceita que seja o ainda líder mas não futuro líder a escolher, decidir, dirigir, convidar, em nome de um partido onde não permanecerá (ou permanecerá e isto é um jogo?); caindo na passividade sem temer que o ainda dirigente-mor comprometa o PSD – a curto, médio e longo prazo – com rumos, orientações, ou quem sabe se até acordos partidários que só por um acaso improvável coincidirão com o que faria um futuro líder. Seja ele qual for, aliás, falo de princípios e não de nomes; caindo na letárgica terra de ninguém para onde a actualidade da invasão da Ucrânia o atirou mas de onde lhe competia ter sabido – e querido! – começar a sair e não saiu.

Não me lembro de um partido político, no caso o maior da oposição, em estado de entorpecimento tanto tempo. Algum jovem de vinte, trinta anos virará hoje a cabeça para olhar para o PSD?

4Portugal deve ser o único pais da Europa – do mundo? – onde, por vontade própria da direita portuguesa, a vida partidária começa ao centro. Não se duvide de resto que uma das piores e nunca resolvidas heranças do 25 Abril é que vai para quarenta e tal anos que uma parte considerável do país continua com vergonha de pronunciar a palavra direita. Com honrosas excepções, de uma forma geral assume mal a pertença ou afronta titubeantemente a escolha. Uma relação ao viés, disfarçada pela (salvífica?) palavra centro não augura nada de bom para a direita: deturpa-a quando não a falsifica.

Com tudo isto, naturalmente, o centro esgotou, como na ópera. É caso até para perguntar quem mais, na política e de entre os nossos políticos, terá de ser avisado da situação de lotação esgotada. Não cabe lá um alfinete, não há nem um bilhete. Sendo aparentemente incompreensível tal atracção por este lugar político sem propósito nem utilidade, a escolha mereceria talvez um estudo comportamental. Depois de Rui Rio ter dado cabo de si e quase do PSD com a (sua) irredutibilidade centristaNuno Melo, candidato a liderança do CDS, apresenta-se como de “centro direita”.

Seja. Mas tal como a Torre de Pisa surge-nos – ou é impressão minha? – mais inclinado para um dos lados. O do centro, justamente. É certo que os portistas que o incentivaram e ele representa não querem outra coisa.

E o eleitorado quer? E os militantes, os simpatizantes, os resistentes, quem sabe, até ex-militantes e ex-simpatizantes com o desejo de voltar, sentir-se-ão representados? Nuno Melo cuja empreitada é reconhecidamente ciclópica, tem de se tornar plausível num proveitoso futuro político: para o CDS, para direita, para o país, para ele próprio. Será capaz?

Será capaz de uma assinatura em nome próprio? De agir por si e não em nome de um exclusivo grupo de “portistas sem Portas” em grande parte responsável pelo estado das coisas políticas e financeiras no Largo do Caldas? Não haverá mais (boa ) gente e (outra) vida para além deles?

Será enfim capaz de reerguer um partido fundador da democracia e que apesar de hoje moribundo se mantém absolutamente indispensável no tabuleiro partidário, no hemiciclo de S. Bento, no governo do país e na política portuguesa?

Oxalá seja.

POLÍTICA   CDS-PP   PSD

COMENTÁRIOS:

Manuel Fernandes: MJA continua a querer ignorar que existe um partido de direita. Porque não é a direita que ela queria, muito Cascais, bem vestida e blasée. MJA queria uma direita de salão e saiu-lhe uma direita da rua. Queria uma direita de vénia e salamaleque e saiu-lhe uma direita de confrontação e combate. Temos pena, mas é o que há. Não gosta, não coma.           José maria: quando se destapar a política portuguesa que encontraremos por detrás trás da obscuridade silenciosa do último mês? MJA não descansa enquanto não encontrar sombras em vez de luz...         Carlos Silva: É verdade, cara MJA. A guerra da Ucrânia é vista como um programa tipo BBF, com uns tiros pelo meio. Só quando começar a "fumegar" pela Europa é que a "malta" acordará para a realidade nua e crua.  Boa crónica.           Alberico Lopes: Como é que pessoas como o Dr. Mota Pinto e David Justino continuam a dar o aval a esta situação verdadeiramente anómala e de tragicomédia como a que assistimos pela não saída imediata do dr. Rio, é para mim um enigma de que só sairá prejudicado o PSD! Como é que estes senhores e outros da Comissão Política não vêem isto? Dr. Rio: vá-se embora! Que triste figura!             vitor Manuel > Alberico Lopes: Para responder a essa questão não é preciso ser cientista político, basta acompanhar as declarações desses influentes personagens.  A grande preocupação da maioria do aparelho desse partido é ser parceiro na mesa do orçamento. Já em tempos idos o foi dito por um seu grande autarca, depois confirmado pelo percurso de R.R..  Mas não deixam saudades, tal a cumplicidade com quem transformou este país numa sua propriedade.           Alberico Lopes > vitor manuel: Infelizmente tem toda a razão! É tudo uma questão de dignidade que é o que falta a estes protagonistas! Todos!             AL MA: A Imprensa Portuguesa e o controlo desta pelo PS, é semelhante ao controlo de Putin sobre a imprensa e difusão de uma narrativa delirante e revisionista da situação. Não estamos muito diferentes da Rússia, com as narrativas diárias de que nada nos faltará, não haverá racionamentos, e que nada da guerra nos afectará. O Oásis Socialista, como boa máquina de propaganda inspirada em regimes autoritários, mas com capa de amplas Liberdades, tenta diariamente nos mentir sobre  a realidade, coisa que não é novidade, pois é um modus operandi, das Esquerdas sejam elas quais forem          Mario Almeida: Sim por cá continuamos a ser governados por uma máfia com uns quantos Ziuganovs na “oposição”, tudo traduzido do Russo em calão. Tudo o que na Rússia é trágico em Portugal é cómico… e o Novishok chega-nos em doses homeopáticas e bem distribuído por todos em geral. Gera um certo mau estar… mas todos pensam que é do que comeram ontem. A comunicação social está devidamente amestrada… a que não está não leva o selo de agente estrangeiro … nem subsídios! Tivemos comunistas negacionistas do Holodomor no governo … mas debate-se com seriedade a existência de nazis judeus a 4000 Kms de distância. Por enquanto não há planos para reconquistar Olivença… mas nunca estamos livres do imprensável!           Francisco Tavares de Almeida: É sempre agradável ler MJA mesmo quando, como hoje, enuncia uma evidência - a Ucrânia suspendeu a Covid e a política interna - e comenta duas realidades supérfluas, uma actual, o CD, outra futura, o PSD.            João Ramos: Certíssimo Maria João!    jose Afonso: Não esquecer que vamos ter um ministro das finanças, que entregava os resistentes russos a putin. Tenho vergonha de ter um governo com tal figura. Um incapaz, um ignorante, um inconsequente á frente dos destinos do país neste momento tão exigente.       Pedro Ferreira: Realmente não se percebe como deixam o Rui Rio ainda mandar nos destinos do PSD um homem que em vez de construir só destruiu o PSD só por vaidade e poleiro. Começo a perder as esperanças de algum dia voltar a votar PSD estão todos a esquecer que há bastantes Portugueses que se sentem órfãos na politica e em última instância teremos que votar Chega.       OutraConta Apagada: MJA está enganada, há uma boa parte do país que não tem medo da palavra “direita”. Somos o eleitorado que votou no Chega que já é a 3a força política do país por mais que o queiram ignorar.      bento guerra: "No pasa nada".Um governo  zombie, que não pode subir impostos, perante um parlamento sob as suas ordens, uma oposição a divertir-se e o chefe ,em viagens afectivas           João Floriano: «Nós por cá todos bem»: era sempre assim que o meu avô Floriano, exímio carpinteiro de baús com tachas de latão começava as cartas que nos enviava numa era longínqua em que não havia correio electrónico. E é assim que nós estamos: todos bem por cá. Lamentamo-nos, queixamo-nos, mas depois alguém fala na Ucrânia, a medida de todas as desgraças, e concluímos que até nem estamos assim tão mal. Já vamos quase em cinco meses de vazio governativo, não se espera que saiam grandes reformas do novo executivo, aliás nem se sabe muito bem o que esperar desta maioria absoluta. Teremos menos extrema esquerda, mais direita  mas vai tudo continuar na mesma (sou um espírito optimista).

 

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