quarta-feira, 9 de março de 2022

Chapéus há muitos


Apesar do pensamento que defende Raquel Abecasis no seu texto, que me parece ditado pelos princípios de firmeza e elevação moral, além da sua qualidade discursiva - que iria merecer chufas é certo, daqueles a quem ela descobre “a careca”, já o devia esperar, de entre os seus muitos comentadores -(que suprimi, nauseada por tantas cabeças enfiando os tais chapéus).

Explicar o inexplicável

De acordo com as teses que agora invocam os defensores de Putin, a independência de Timor seria uma provocação e uma perturbação à estratégia da Indonésia, a grande potência da região.

RAQUEL ABECASIS, Jornalista e ex-candidata independente pelo CDS nas eleições autárquicas e legislativas

OBSERVADOR, 08 mar 2022

Ao longo dos últimos dias, pessoas de vários sectores, da extrema-esquerda a uma pretensa intelectualidade com voz nos meios de comunicação social, tentam justificar a agressão russa a um país soberano. A censura internacional ao acto de Putin, bem como a surpresa com a reacção firme do presidente ucraniano, foram suficientes para envergonhar os que se comovem com as dores do Kremlin. Perante isto, a estratégia destes analistas passou a ser a de encontrar outros responsáveis para não deixar Putin sozinho. Como não podia deixar de ser, lá vieram os culpados do costume: a NATO, os americanos e a União Europeia.

Não se percebe qual é a parte sobre as regras democráticas, o direito internacional e o direito à autodeterminação dos povos que suscita dúvidas a estes defensores da geoestratégia de Putin. Sobretudo, surpreende-me que estas mesmas pessoas, políticos incluídos, tenham, contrariamente ao que agora defendem, sido tão firmes na defesa da independência de Timor. De acordo com as teses que agora invocam, defender a independência de Timor seria uma provocação e uma perturbação à estratégia da Indonésia, a grande potência da região com direito a decidir sobre o futuro dos países limítrofes.

Se há coisa que os últimos dias têm mostrado é que na ordem internacional não pode haver meias democracias, que aceitam como parceiros ditadores de corpo inteiro fazendo de conta que são apenas meios ditadores.

Quem acha que a Ucrânia se deve manter como neutral, sem direito a aderir à NATO nem à União Europeia, devia explicar muito bem o que é que a Ucrânia tem a menos do que qualquer outro país que queira fazer as suas escolhas em termos estratégicos. É porque são um país vizinho da Rússia? É porque essa vizinhança lhe dá um estatuto de sub-país? Ou é porque não queremos incomodar o ditador Putin para continuarmos alegremente a fazer negócios com ele de acordo com as regras dele?

A história da Europa devia ser suficiente para não nos deixar ter este tipo de equívocos. Mas não só insistimos nos erros, como nas explicações, como na tentativa de procurar compromissos com quem não quer compromisso nenhum.

A verdade é esta: Putin decidiu esta guerra porque quer anexar a Ucrânia. No dia em que deu a ordem de invasão ficou claro que não iria recuar. O desfecho da actual situação é complexo, até porque ninguém está a imaginar Vladimir Putin sentado no banco do Tribunal Penal Internacional. Resta-nos esperar tudo da bravura e determinação de Zelensky, como no passado esperámos de Churchill. Para além das armas que, em boa hora, vários Estados europeus estão a enviar para a Ucrânia, a esperança para Zelensky pode também estar no efeito de uma arma poderosa dos tempos modernos: o poder das redes sociais como meio de destruição da imagem de um ditador aos olhos do seu próprio povo. A multiplicação de manifestações antiguerra na Rússia dá-nos alguma esperança de que sejam os russos a fazer recuar Putin. Como é que o vão fazer? Neste momento é imprevisível.

GUERRA NA UCRÂNIA   UCRÂNIA   EUROPA   MUNDO   VLADIMIR PUTIN   RÚSSIA

COMENTÁRIOS:

Eduardo L: Pronto. E se o México (ou o Canadá) e a Rússia se tornarem 'amigos' e os russos decidirem lá instalar mísseis militares? A menina jornalista vive num mundo dos contos de fadas e é mesmo a voz da narrativa oficial do Ocidente, leia-se EUA, UE e NATO. O Putin já anda a dizer há mais de 7-8 anos que NÃO quer a NATO nas suas fronteiras, ponto! Desta frase quais a palavras que não percebe? Acontece que a Rússia é o maior país do mundo, tem um arsenal militar forte (incluindo muito nuclear) e tem petróleo e gás com fartura. Donde estar numa posição de mandar umas bocas sobre o que se faz ou não nas suas fronteiras. O tópico chama-se geo-estratégia e relações internacionais. Se a intenção do Ocidente fosse pacífica teriam aceite a neutralidade da Ucrânia, a semi-independência dos estados separatistas e a soberania russa da Crimeia; mais um plano a 3 (Rússia, UE, IMF) para desenvolver a Ucrânia. Mas não. Querem parecer que são durões e enfiaram-se num buraco. Qual é o plano dos ocidentais? Protelar esta guerra ad eterno? A questão não é ser ou não 'defensor de Putin'; a questão é sim a falta de jeito, total incompetência, dos líderes ocidentais.         Van Wanderer > Eduardo L: Trata-se da geração Disney...            Anarquista Inconformado: A senhora candidata a deputada, já se esqueceu que os EUA e a UE designaram um presidente indigitado para a Venezuela? E que cobardemente, não designaram Alexei Navalny presidente interino da Rússia. Já agora, os EUA foram a correr pedir ao presidente legítimo da Venezuela que lhes forneça petróleo isto depois de terem roubado o dinheiro que o estado Venezuelano tinha investido nos EUA. Sabia dessas verdades senhora candidata a deputada? Anarquista Inconformado: Dona Raquel, talvez por desconhecimento não saiba que a invasão de Timor pela Indonésia foi ordenada pelos EUA.           Mr. Lobby: E no entanto, ao tempo, os EUA incitaram a Indonésia a tomar de conta de Timor, tal como indicaram à Espanha de Franco que não se oporiam a que esta anexasse Portugal... E após todos os esforços portugueses pela independência de Timor, foi a Austrália a €$colhida como a nação amiga do povo maubere...          José Paulo C Castro > Mr. Lobby: A estratégia de justificar Putin com os podres dos outros... Geralmente é usada para concluir que a podridão é admissível de um dos lados.   João Afonso > Mr. Lobby: Só nas ditaduras comunistas e sucedâneos é que se criminaliza o pensamento. Nas democracias liberais só se criminalizam os actos. Por exemplo, eu posso pensar em apropriar-me de amizades que me proporcionem casas em Paris, férias de sonho, vestuário à la carte em Manhattan, e ter uma vida de nababo, mas nunca serei condenado por ter esses pensamentos.  Sei que não vivemos num estado ditatorial, do agrado da comunagem, mas será que vivemos numa democracia liberal? Esperemos para ver!    Van Wanderer > José Paulo C Castro: Não compreendo o ataque presente ao PCP... Não foi precisamente o que fizeram PSD e CDS na defesa da guerra ilegal promovida pelos EUA no Iraque em 2003, tentando justificar o injustificável. até anos mais tarde vir Blair e Barroso, tal qual duas crianças, dizerem que foram enganados na avaliação das informações que lhes mostraram?!...          Van Wanderer > João Afonso: A guerra no Iraque em 2003 foi um pensamento?!...           José Paulo C Castro > Van Wanderer: E por causa do que aconteceu em 2003 agora não se pode atacar a posição do PCP ? O PCP é contra a liberdade individual do cidadão face ao Estado e do modo de vida ocidental. Seria criticável apenas por isso, não fossem ainda as tentativas de parecer que não é isso, que é outra coisa e que não pode ser criticado.          Van Wanderer > José Paulo C Castro: Pois... Só que os moralistas que agora condenam o PCP são fundamentalmente os mesmos (os mediáticos e presentes em ambos os cenários) que não condenaram PSD e CDS pelo seu apoio à guerra ilegal no Iraque, nem sequer condenaram tal guerra, o que agora o PCP ao menos faz.           José Paulo C Castro > Van Wanderer: Nem vá mais longe. Os superiores moralistas PCP e associados mediáticos que agora condenam a invasão da Ucrânia são os mesmos que diziam ser boato falso e ingerência ostracizante enganadora aqueles avisos que os EUA e a NATO indicavam sobre a intenção de Putin invadir a Ucrânia. Não foi em 2003 e enganados com documentos que só se revelaram falsos anos depois. Foi há menos de um mês e com fotos claras da acumulação de forças no terreno. Quanto mais não fosse, deviam ser criticados por serem sonsos, além de tudo o resto. O pior é que eu acho que não estavam a ser sonsos, tal como agora não condenam a invasão. São só palavras defensivas pois, no fundo, desejam que a Rússia e Putin mostrem ganhar esta guerra nas barbas da NATO e submeter a Ucrânia. Só têm de dizer o contrário para minorar danos auto-infligidos. Nós que sempre fomos da verdadeira direita!       José Paulo C Castro: Donde se conclui que em Portugal, considerando os principais actores políticos presentes em ambos os momentos, só o PS manteve a coerência, tanto condenando ao tempo os EUA, como condenando agora a Rússia. Já os restantes (PSD, CDS, PCP) parecem preferir a plasticina política do alinhamento mais conveniente para as condenações...        Pontifex Maximus: O mais triste disto tudo é o papel que alguns generais do nosso exército se têm prestado fazer a comentar a guerra de agressão da Rússia. E é nestes senhores que confiamos e pagamos para nos defenderem de uma possível agressão de um estado-maior, mais populoso e mais rico que esteja por aí (se não sabem quem poderá ser, comprem uma qualquer História de Portugal, por exemplo do Oliveira Marques que li no liceu).         JS M: Menina Abecassis , sobre Timor ler Rui Cinatti e lembrar o herói português Magiollo de Gouveia. E nunca esquecer a Fretilin comunista inventada em Lisboa com o apoio da senhora Ana Gomes na altura do MRPP. Sobre a UE reler o soviético Bukovski que disse apontando para Bruxelas- eu já vivi o vosso futuro! Sobre a América lembrar Hiroshima e Nagasaki. Ninguém mais a não ser os americanos lançaram bombas atômicas sobre as cidades.  João Afonso > JS M: Nagasaki e Hiroshima são crimes de guerra, a exemplo dos bombardeamentos sistemáticos às cidades alemãs, como Dresden. Contudo, esses crimes de guerra não definem os EUA, ou como o dito popular, no melhor pano cai a nódoa. Já na URSS, e agora na Federação Russa de Putin, o melhor pano....está tão cheio de nódoas que não se descortina a cor original.

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