Julgo que é por modéstia apenas que
deixamos essas coisas, que o Dr. Salles refere, no escaninho da nossa
humildade, forma recatada de continuar merecendo apoios monetários externos,
sem mostrar orgulho besta, que atrairia sobre nós má vontade exterior, se
alardeássemos o muito do nosso interior literário e épico, glorioso e real, não
tenho dúvidas sobre tal. Por isso, as celebrações do nascimento de Camões,
perenes enquanto formos nação, nos bastam, e a Camões também, que já cá não
está e não se lhe dá que seja relembrado ou não, pois pobre morreu, na pátria
ingrata, e só tem que continuar, para nas vistas não dar, há mais
que fazer, dentro do nosso lazer de povo gentil e sensível que sempre seremos,
com o estrangeiro necessitado, ou com o rico endinheirado… O 10 de Junho nos basta. E ele próprio o explicitou ao
acentuar essa ingratidão pátria:
"Nô mais, Musa, nô mais, que a Lira tenho Destemperada e a voz enrouquecida, E não do canto, mas de ver que venho Cantar a gente surda e endurecida. O favor com que mais se acende o engenho Não no dá a pátria, não, que está metida No gosto da cobiça e na rudeza Dũa austera, apagada e vil tristeza". “Os Lusíadas, canto X, estr. 145“ — Luís Vaz de Camões.
Mas sentimo-nos enternecidos com essas traduções da epopeia camoniana, nesses sítios por onde andou…
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA
NAÇÃO, 14.03.22
Na
eventualidade de Vossa Excelência não ter sido atempadamente informada,
comunico que a «Rede Camões na Ásia», constituída por estudiosos e
investigadores da obra camoniana, se reuniu em Congresso no dia 12 de Março
deste ano de 2022 em Jakarta com o intuito de celebrar o 450º aniversário da
primeira edição d’ «Os Lusíadas» e de lançar a respectiva tradução em indonésio.
Havendo
quem defenda a tese de que Camões possa ter iniciado em Ternate a composição do
nosso panegírico, compreende-se o interesse indonésio na celebração da obra, da
efeméride e da respectiva tradução para a sua língua nacional.
E
nós, Excelência?
Dando-se
a provável eventualidade de a nossa sociedade civil estar atordoada com a
pandemia e com a guerra da Rússia, compreende-se a falha na comemoração da
efeméride mas, precisamente por isso, conta-se com a liderança de Vossa
Excelência na necessária celebração.
Celebração
cautelosa no que respeite à saúde pública, sem custos que agravem o défice das
contas públicas mas, isso sim, com a solenidade que Camões merece.
E
se deixámos passar a data em que «Os Lusíadas» saíram dos prelos de António
Gonçalves, 12 de Março de 1572, não deixemos escapar 2022 sem, pelo menos, uma
Sessão Solene na Biblioteca Nacional e a deposição de coroa de flores junto ao
túmulo do poeta. E que tudo
decorra sob a égide de Sua Excelência o Presidente da República.
A
bem dos Valores Nacionais,
Henrique Salles
da Fonseca
Tags:
história
COMENTÁRIOS:
Rui Bravo Martins 14.03.2022:
Incisivo, oportuno, esclarecedor e sarcás....! Aguardemos.
Parabéns! Rui Bravo Martins
Anónimo 14.03.2022 12:23: Será que
sexa leu ou vai ler (se tiver tempo!) esta magnífica bofetada? Saberá
ela quem foi Camões ou onde é a Indonésia, pior ainda Ternate? Talvez fosse
mais eficiente propor uma comemoração na Sociedade de Geografia. Pobre país
castrado da sua história e glorias
Anónimo 14.03.2022 14:58: Muito bem, Henrique, muito bem e muito oportuna a tua
carta aberta. Os aspetos que focas e que, infelizmente, mobilizam a nossa
atenção diária, não justificam, não podem justificar o silêncio que envolve o
aniversário em causa. Poder-se-á dizer que não há silêncio, pois o JL
tem dedicado várias páginas ao evento, que o Ateneu, do Porto, expõe um
exemplar da 1ª edição de “Os Lusíadas”, que haverá leituras quinzenais de
poesia camoniana no átrio da Biblioteca da FLUL, que há exposição organizada
pela Biblioteca Casa Bragança, que há percursos camonianos aos Domingos, que no
Dia Mundial do Teatro, no D. Maria II, haverá uma incursão pela obra de Camões,
que o Centro Nacional de Cultura não deixará de celebrar o acontecimento, que…
tudo isso é verdade, mas falta algo, falta Camões, “Os Lusíadas” e demais
poesia camoniana saírem dos circos fechados dos especialistas e dos
interessados e irem ao encontro popular, irem para a rua… E isso não
se consegue com o silêncio das Entidades Públicas, dos meios de comunicação
social, das editoras e das livrarias. Espero que as Escolas, ao menos,
estejam a dar o realce devido à efeméride. Tive a sorte de viver em Madrid
em 2005, ano em que se completaram 400 anos de publicação de “D. Quixote”. Não
queiras saber o entusiasmo popular que existia, as constantes celebrações, não
em locais a que as pessoas raramente acedem, mas antes pelo contrário; as
livrarias estavam repletas de novas edições desde as simples, às amplamente
comentadas, às embelezadas com gravuras. E não se diga que para ler aquela
obra é simplesmente necessário entender o castelhano e a leitura de “O
Lusíadas” é mais complexa. Pode ter alguma verdade, mas não toda. Talvez seja
suficiente dizer que o “D. Quixote”, que possuo, o qual foi editado nesse ano
pelo Instituto Cervantes, é acompanhado por um outro livro, apenas de notas,
que tem 1450 páginas. Das cerimónias havidas, há uma que a minha memória
reteve: uma maratona de leitura, em que os leitores se revezavam, tendo
cabido ao Rei D. Juan Carlos iniciá-la com o célebre primeiro parágrafo: “En un
lugar de la Mancha, de cuyo nombre no quiero acordarme, no ha mucho tiempo que
vivía un hidalgo de los de lanza en astillero, adarga antigua, rocín flaco y
galgo corredor.” Espero que não leves a mal, Henrique, aproveitar este
momento e esse espaço para dar nota de um soneto não de Camões, mas sobre
Camões, que extraí do livro “A Cidade dos Sítios”, de António Valdemar, edição
CGD. O soneto é de um habitante das Chagas, em Lisboa, do século XVIII,
Gonçalves Crespo, que foi casado com Maria Amália Vaz de Carvalho. O poema
refere-se ao encontro que Camões terá tido com Catarina Ataíde, numa 6ª Feira
Santa, na então existente igreja das Chagas, que haveria de ser destruída pelo
Terramoto e outra viria a ocupar o seu lugar. (A semelhança da história com
Petrarca é grande – este conheceu a sua musa –Laura – também numa 6ª Feira
Santa e igualmente numa igreja). Aqui vai o soneto: “Próxima vinha a
nobre Catarina/ Da porta principal da igreja, quando/Seu olhar encontrou suave
e brando/ O olhar de um moço de presença fina. E, ao fulgor desse olhar
ardente, inclina/ A dama o rosto, tímido, corando…/ Arfa-lhe o níveo seio,
palpitando, / Em doida e estranha comoção divina. Camões, que outro não era o
moço, ardido/ Num gesto de galã desvanecido:/ “Quem vos pudera merecer!”,
murmura. E a dama, ao ouvi-lo, lânguida sorria, / Pois que em todos os tempos a
ousadia/ Ao amor nunca trouxe desventura."
Abraço Carlos Traguelho
Henrique Salles da
Fonseca 14.03.2022 16:46: Naturalmente que a Senhora Ministra e o seu Governo
não estão para comemorar eventos 'fascistas'...Elias Quadros
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA
NAÇÃO, 14.03.22
Na
eventualidade de Vossa Excelência não ter sido atempadamente informada,
comunico que a «Rede Camões na Ásia», constituída por estudiosos e
investigadores da obra camoniana, se reuniu em Congresso no dia 12 de Março
deste ano de 2022 em Jakarta com o intuito de celebrar o 450º aniversário da
primeira edição d’ «Os Lusíadas» e de lançar a respectiva tradução em indonésio.
Havendo
quem defenda a tese de que Camões possa ter iniciado em Ternate a composição do
nosso panegírico, compreende-se o interesse indonésio na celebração da obra, da
efeméride e da respectiva tradução para a sua língua nacional.
E
nós, Excelência?
Dando-se
a provável eventualidade de a nossa sociedade civil estar atordoada com a
pandemia e com a guerra da Rússia, compreende-se a falha na comemoração da
efeméride mas, precisamente por isso, conta-se com a liderança de Vossa
Excelência na necessária celebração.
Celebração
cautelosa no que respeite à saúde pública, sem custos que agravem o défice das
contas públicas mas, isso sim, com a solenidade que Camões merece.
E
se deixámos passar a data em que «Os Lusíadas» saíram dos prelos de António
Gonçalves, 12 de Março de 1572, não deixemos escapar 2022 sem, pelo menos, uma
Sessão Solene na Biblioteca Nacional e a deposição de coroa de flores junto ao
túmulo do poeta. E que tudo
decorra sob a égide de Sua Excelência o Presidente da República.
A
bem dos Valores Nacionais,
Henrique Salles
da Fonseca
Tags:
história
COMENTÁRIOS:
Rui Bravo Martins 14.03.2022:
Incisivo, oportuno, esclarecedor e sarcás....! Aguardemos.
Parabéns! Rui Bravo Martins
Anónimo 14.03.2022 12:23: Será que
sexa leu ou vai ler (se tiver tempo!) esta magnífica bofetada? Saberá
ela quem foi Camões ou onde é a Indonésia, pior ainda Ternate? Talvez fosse
mais eficiente propor uma comemoração na Sociedade de Geografia. Pobre país
castrado da sua história e glorias
Anónimo 14.03.2022 14:58: Muito bem, Henrique, muito bem e muito oportuna a tua
carta aberta. Os aspetos que focas e que, infelizmente, mobilizam a nossa
atenção diária, não justificam, não podem justificar o silêncio que envolve o
aniversário em causa. Poder-se-á dizer que não há silêncio, pois o JL
tem dedicado várias páginas ao evento, que o Ateneu, do Porto, expõe um
exemplar da 1ª edição de “Os Lusíadas”, que haverá leituras quinzenais de
poesia camoniana no átrio da Biblioteca da FLUL, que há exposição organizada
pela Biblioteca Casa Bragança, que há percursos camonianos aos Domingos, que no
Dia Mundial do Teatro, no D. Maria II, haverá uma incursão pela obra de Camões,
que o Centro Nacional de Cultura não deixará de celebrar o acontecimento, que…
tudo isso é verdade, mas falta algo, falta Camões, “Os Lusíadas” e demais
poesia camoniana saírem dos circos fechados dos especialistas e dos
interessados e irem ao encontro popular, irem para a rua… E isso não
se consegue com o silêncio das Entidades Públicas, dos meios de comunicação
social, das editoras e das livrarias. Espero que as Escolas, ao menos,
estejam a dar o realce devido à efeméride. Tive a sorte de viver em Madrid
em 2005, ano em que se completaram 400 anos de publicação de “D. Quixote”. Não
queiras saber o entusiasmo popular que existia, as constantes celebrações, não
em locais a que as pessoas raramente acedem, mas antes pelo contrário; as
livrarias estavam repletas de novas edições desde as simples, às amplamente
comentadas, às embelezadas com gravuras. E não se diga que para ler aquela
obra é simplesmente necessário entender o castelhano e a leitura de “O
Lusíadas” é mais complexa. Pode ter alguma verdade, mas não toda. Talvez seja
suficiente dizer que o “D. Quixote”, que possuo, o qual foi editado nesse ano
pelo Instituto Cervantes, é acompanhado por um outro livro, apenas de notas,
que tem 1450 páginas. Das cerimónias havidas, há uma que a minha memória
reteve: uma maratona de leitura, em que os leitores se revezavam, tendo
cabido ao Rei D. Juan Carlos iniciá-la com o célebre primeiro parágrafo: “En un
lugar de la Mancha, de cuyo nombre no quiero acordarme, no ha mucho tiempo que
vivía un hidalgo de los de lanza en astillero, adarga antigua, rocín flaco y
galgo corredor.” Espero que não leves a mal, Henrique, aproveitar este
momento e esse espaço para dar nota de um soneto não de Camões, mas sobre
Camões, que extraí do livro “A Cidade dos Sítios”, de António Valdemar, edição
CGD. O soneto é de um habitante das Chagas, em Lisboa, do século XVIII,
Gonçalves Crespo, que foi casado com Maria Amália Vaz de Carvalho. O poema
refere-se ao encontro que Camões terá tido com Catarina Ataíde, numa 6ª Feira
Santa, na então existente igreja das Chagas, que haveria de ser destruída pelo
Terramoto e outra viria a ocupar o seu lugar. (A semelhança da história com
Petrarca é grande – este conheceu a sua musa –Laura – também numa 6ª Feira
Santa e igualmente numa igreja). Aqui vai o soneto: “Próxima vinha a
nobre Catarina/ Da porta principal da igreja, quando/Seu olhar encontrou suave
e brando/ O olhar de um moço de presença fina. E, ao fulgor desse olhar
ardente, inclina/ A dama o rosto, tímido, corando…/ Arfa-lhe o níveo seio,
palpitando, / Em doida e estranha comoção divina. Camões, que outro não era o
moço, ardido/ Num gesto de galã desvanecido:/ “Quem vos pudera merecer!”,
murmura. E a dama, ao ouvi-lo, lânguida sorria, / Pois que em todos os tempos a
ousadia/ Ao amor nunca trouxe desventura."
Abraço Carlos Traguelho
Henrique Salles da
Fonseca 14.03.2022 16:46: Naturalmente que a Senhora Ministra e o seu Governo
não estão para comemorar eventos 'fascistas'...Elias Quadros
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