terça-feira, 15 de março de 2022

O 10 de Junho é bastante


Julgo que é por modéstia apenas que deixamos essas coisas, que o Dr. Salles refere, no escaninho da nossa humildade, forma recatada de continuar merecendo apoios monetários externos, sem mostrar orgulho besta, que atrairia sobre nós má vontade exterior, se alardeássemos o muito do nosso interior literário e épico, glorioso e real, não tenho dúvidas sobre tal. Por isso, as celebrações do nascimento de Camões, perenes enquanto formos nação, nos bastam, e a Camões também, que já cá não está e não se lhe dá que seja relembrado ou não, pois pobre morreu, na pátria ingrata,  e só tem que continuar, para nas vistas não dar, há mais que fazer, dentro do nosso lazer de povo gentil e sensível que sempre seremos, com o estrangeiro necessitado, ou com o rico endinheirado…  O 10 de Junho nos basta. E ele próprio o explicitou ao acentuar essa ingratidão pátria:

"Nô mais, Musa, nô mais, que a Lira tenho Destemperada e a voz enrouquecida, E não do canto, mas de ver que venho Cantar a gente surda e endurecida. O favor com que mais se acende o engenho Não no dá a pátria, não, que está metida No gosto da cobiça e na rudeza Dũa austera, apagada e vil tristeza". “Os Lusíadas, canto X, estr. 145“ —  Luís Vaz de Camões.

Mas sentimo-nos enternecidos com essas traduções da epopeia camoniana, nesses sítios por onde andou…

EFEMÉRIDE CAMONIANA

 HENRIQUE SALLES DA FONSECA

 A BEM DA NAÇÃO, 14.03.22

 

Na eventualidade de Vossa Excelência não ter sido atempadamente informada, comunico que a «Rede Camões na Ásia», constituída por estudiosos e investigadores da obra camoniana, se reuniu em Congresso no dia 12 de Março deste ano de 2022 em Jakarta com o intuito de celebrar o 450º aniversário da primeira edição d’ «Os Lusíadas» e de lançar a respectiva tradução em indonésio.

Havendo quem defenda a tese de que Camões possa ter iniciado em Ternate a composição do nosso panegírico, compreende-se o interesse indonésio na celebração da obra, da efeméride e da respectiva tradução para a sua língua nacional.

E nós, Excelência?

Dando-se a provável eventualidade de a nossa sociedade civil estar atordoada com a pandemia e com a guerra da Rússia, compreende-se a falha na comemoração da efeméride mas, precisamente por isso, conta-se com a liderança de Vossa Excelência na necessária celebração.

Celebração cautelosa no que respeite à saúde pública, sem custos que agravem o défice das contas públicas mas, isso sim, com a solenidade que Camões merece.

E se deixámos passar a data em que «Os Lusíadas» saíram dos prelos de António Gonçalves, 12 de Março de 1572, não deixemos escapar 2022 sem, pelo menos, uma Sessão Solene na Biblioteca Nacional e a deposição de coroa de flores junto ao túmulo do poeta. E que tudo decorra sob a égide de Sua Excelência o Presidente da República.

A bem dos Valores Nacionais,

Henrique Salles da Fonseca

Tags: história

 COMENTÁRIOS:

 Rui Bravo Martins  14.03.2022: Incisivo, oportuno, esclarecedor e sarcás....! Aguardemos. Parabéns! Rui Bravo Martins

 Anónimo  14.03.2022  12:23:  Será que sexa leu ou vai ler (se tiver tempo!) esta magnífica bofetada? Saberá ela quem foi Camões ou onde é a Indonésia, pior ainda Ternate? Talvez fosse mais eficiente propor uma comemoração na Sociedade de Geografia. Pobre país castrado da sua história e glorias

 Anónimo  14.03.2022  14:58: Muito bem, Henrique, muito bem e muito oportuna a tua carta aberta. Os aspetos que focas e que, infelizmente, mobilizam a nossa atenção diária, não justificam, não podem justificar o silêncio que envolve o aniversário em causa. Poder-se-á dizer que não há silêncio, pois o JL tem dedicado várias páginas ao evento, que o Ateneu, do Porto, expõe um exemplar da 1ª edição de “Os Lusíadas”, que haverá leituras quinzenais de poesia camoniana no átrio da Biblioteca da FLUL, que há exposição organizada pela Biblioteca Casa Bragança, que há percursos camonianos aos Domingos, que no Dia Mundial do Teatro, no D. Maria II, haverá uma incursão pela obra de Camões, que o Centro Nacional de Cultura não deixará de celebrar o acontecimento, que… tudo isso é verdade, mas falta algo, falta Camões, “Os Lusíadas” e demais poesia camoniana saírem dos circos fechados dos especialistas e dos interessados e irem ao encontro popular, irem para a rua… E isso não se consegue com o silêncio das Entidades Públicas, dos meios de comunicação social, das editoras e das livrarias. Espero que as Escolas, ao menos, estejam a dar o realce devido à efeméride. Tive a sorte de viver em Madrid em 2005, ano em que se completaram 400 anos de publicação de “D. Quixote”. Não queiras saber o entusiasmo popular que existia, as constantes celebrações, não em locais a que as pessoas raramente acedem, mas antes pelo contrário; as livrarias estavam repletas de novas edições desde as simples, às amplamente comentadas, às embelezadas com gravuras. E não se diga que para ler aquela obra é simplesmente necessário entender o castelhano e a leitura de “O Lusíadas” é mais complexa. Pode ter alguma verdade, mas não toda. Talvez seja suficiente dizer que o “D. Quixote”, que possuo, o qual foi editado nesse ano pelo Instituto Cervantes, é acompanhado por um outro livro, apenas de notas, que tem 1450 páginas. Das cerimónias havidas, há uma que a minha memória reteve: uma maratona de leitura, em que os leitores se revezavam, tendo cabido ao Rei D. Juan Carlos iniciá-la com o célebre primeiro parágrafo: “En un lugar de la Mancha, de cuyo nombre no quiero acordarme, no ha mucho tiempo que vivía un hidalgo de los de lanza en astillero, adarga antigua, rocín flaco y galgo corredor.” Espero que não leves a mal, Henrique, aproveitar este momento e esse espaço para dar nota de um soneto não de Camões, mas sobre Camões, que extraí do livro “A Cidade dos Sítios”, de António Valdemar, edição CGD. O soneto é de um habitante das Chagas, em Lisboa, do século XVIII, Gonçalves Crespo, que foi casado com Maria Amália Vaz de Carvalho. O poema refere-se ao encontro que Camões terá tido com Catarina Ataíde, numa 6ª Feira Santa, na então existente igreja das Chagas, que haveria de ser destruída pelo Terramoto e outra viria a ocupar o seu lugar. (A semelhança da história com Petrarca é grande – este conheceu a sua musa –Laura – também numa 6ª Feira Santa e igualmente numa igreja). Aqui vai o soneto: “Próxima vinha a nobre Catarina/ Da porta principal da igreja, quando/Seu olhar encontrou suave e brando/ O olhar de um moço de presença fina. E, ao fulgor desse olhar ardente, inclina/ A dama o rosto, tímido, corando…/ Arfa-lhe o níveo seio, palpitando, / Em doida e estranha comoção divina. Camões, que outro não era o moço, ardido/ Num gesto de galã desvanecido:/ “Quem vos pudera merecer!”, murmura. E a dama, ao ouvi-lo, lânguida sorria, / Pois que em todos os tempos a ousadia/ Ao amor nunca trouxe desventura." Abraço Carlos Traguelho

Henrique Salles da Fonseca  14.03.2022  16:46: Naturalmente que a Senhora Ministra e o seu Governo não estão para comemorar eventos 'fascistas'...Elias Quadros

EFEMÉRIDE CAMONIANA

 HENRIQUE SALLES DA FONSECA

 A BEM DA NAÇÃO, 14.03.22

 

Na eventualidade de Vossa Excelência não ter sido atempadamente informada, comunico que a «Rede Camões na Ásia», constituída por estudiosos e investigadores da obra camoniana, se reuniu em Congresso no dia 12 de Março deste ano de 2022 em Jakarta com o intuito de celebrar o 450º aniversário da primeira edição d’ «Os Lusíadas» e de lançar a respectiva tradução em indonésio.

Havendo quem defenda a tese de que Camões possa ter iniciado em Ternate a composição do nosso panegírico, compreende-se o interesse indonésio na celebração da obra, da efeméride e da respectiva tradução para a sua língua nacional.

E nós, Excelência?

Dando-se a provável eventualidade de a nossa sociedade civil estar atordoada com a pandemia e com a guerra da Rússia, compreende-se a falha na comemoração da efeméride mas, precisamente por isso, conta-se com a liderança de Vossa Excelência na necessária celebração.

Celebração cautelosa no que respeite à saúde pública, sem custos que agravem o défice das contas públicas mas, isso sim, com a solenidade que Camões merece.

E se deixámos passar a data em que «Os Lusíadas» saíram dos prelos de António Gonçalves, 12 de Março de 1572, não deixemos escapar 2022 sem, pelo menos, uma Sessão Solene na Biblioteca Nacional e a deposição de coroa de flores junto ao túmulo do poeta. E que tudo decorra sob a égide de Sua Excelência o Presidente da República.

A bem dos Valores Nacionais,

Henrique Salles da Fonseca

Tags: história

 COMENTÁRIOS:

 Rui Bravo Martins  14.03.2022: Incisivo, oportuno, esclarecedor e sarcás....! Aguardemos. Parabéns! Rui Bravo Martins

 Anónimo  14.03.2022  12:23:  Será que sexa leu ou vai ler (se tiver tempo!) esta magnífica bofetada? Saberá ela quem foi Camões ou onde é a Indonésia, pior ainda Ternate? Talvez fosse mais eficiente propor uma comemoração na Sociedade de Geografia. Pobre país castrado da sua história e glorias

 Anónimo  14.03.2022  14:58: Muito bem, Henrique, muito bem e muito oportuna a tua carta aberta. Os aspetos que focas e que, infelizmente, mobilizam a nossa atenção diária, não justificam, não podem justificar o silêncio que envolve o aniversário em causa. Poder-se-á dizer que não há silêncio, pois o JL tem dedicado várias páginas ao evento, que o Ateneu, do Porto, expõe um exemplar da 1ª edição de “Os Lusíadas”, que haverá leituras quinzenais de poesia camoniana no átrio da Biblioteca da FLUL, que há exposição organizada pela Biblioteca Casa Bragança, que há percursos camonianos aos Domingos, que no Dia Mundial do Teatro, no D. Maria II, haverá uma incursão pela obra de Camões, que o Centro Nacional de Cultura não deixará de celebrar o acontecimento, que… tudo isso é verdade, mas falta algo, falta Camões, “Os Lusíadas” e demais poesia camoniana saírem dos circos fechados dos especialistas e dos interessados e irem ao encontro popular, irem para a rua… E isso não se consegue com o silêncio das Entidades Públicas, dos meios de comunicação social, das editoras e das livrarias. Espero que as Escolas, ao menos, estejam a dar o realce devido à efeméride. Tive a sorte de viver em Madrid em 2005, ano em que se completaram 400 anos de publicação de “D. Quixote”. Não queiras saber o entusiasmo popular que existia, as constantes celebrações, não em locais a que as pessoas raramente acedem, mas antes pelo contrário; as livrarias estavam repletas de novas edições desde as simples, às amplamente comentadas, às embelezadas com gravuras. E não se diga que para ler aquela obra é simplesmente necessário entender o castelhano e a leitura de “O Lusíadas” é mais complexa. Pode ter alguma verdade, mas não toda. Talvez seja suficiente dizer que o “D. Quixote”, que possuo, o qual foi editado nesse ano pelo Instituto Cervantes, é acompanhado por um outro livro, apenas de notas, que tem 1450 páginas. Das cerimónias havidas, há uma que a minha memória reteve: uma maratona de leitura, em que os leitores se revezavam, tendo cabido ao Rei D. Juan Carlos iniciá-la com o célebre primeiro parágrafo: “En un lugar de la Mancha, de cuyo nombre no quiero acordarme, no ha mucho tiempo que vivía un hidalgo de los de lanza en astillero, adarga antigua, rocín flaco y galgo corredor.” Espero que não leves a mal, Henrique, aproveitar este momento e esse espaço para dar nota de um soneto não de Camões, mas sobre Camões, que extraí do livro “A Cidade dos Sítios”, de António Valdemar, edição CGD. O soneto é de um habitante das Chagas, em Lisboa, do século XVIII, Gonçalves Crespo, que foi casado com Maria Amália Vaz de Carvalho. O poema refere-se ao encontro que Camões terá tido com Catarina Ataíde, numa 6ª Feira Santa, na então existente igreja das Chagas, que haveria de ser destruída pelo Terramoto e outra viria a ocupar o seu lugar. (A semelhança da história com Petrarca é grande – este conheceu a sua musa –Laura – também numa 6ª Feira Santa e igualmente numa igreja). Aqui vai o soneto: “Próxima vinha a nobre Catarina/ Da porta principal da igreja, quando/Seu olhar encontrou suave e brando/ O olhar de um moço de presença fina. E, ao fulgor desse olhar ardente, inclina/ A dama o rosto, tímido, corando…/ Arfa-lhe o níveo seio, palpitando, / Em doida e estranha comoção divina. Camões, que outro não era o moço, ardido/ Num gesto de galã desvanecido:/ “Quem vos pudera merecer!”, murmura. E a dama, ao ouvi-lo, lânguida sorria, / Pois que em todos os tempos a ousadia/ Ao amor nunca trouxe desventura." Abraço Carlos Traguelho

Henrique Salles da Fonseca  14.03.2022  16:46: Naturalmente que a Senhora Ministra e o seu Governo não estão para comemorar eventos 'fascistas'...Elias Quadros

 

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