“Sicut erat in principio, et nunc, et sempre
et in saecula saeculorum.”
E como era de prever.
A consagração da Rússia e da Ucrânia a Maria
Quis a Providência que o regime, que se propunha construir um
mundo novo através do proletariado, fosse derrubado pelo proletariado.
P. GONÇALO
PORTOCARRERO DE ALMADA
OBSERVADOR, 26
mar 2022, 00:1971
Ontem, em Roma, o Papa Francisco houve
por bem consagrar a Rússia e a Ucrânia ao Imaculado Coração de Maria, durante
uma celebração na Basílica de São Pedro, em comunhão com os Bispos de todo o
mundo.
No
dia 25 de Março celebra-se liturgicamente a solenidade da Anunciação do Anjo
São Gabriel à Virgem Maria, precisamente
nove meses antes do Natal. Ontem foi também o aniversário da consagração
feita em Roma, em 1984, diante da imagem original de Nossa Senhora de Fátima,
por São João Paulo II, com a participação do episcopado mundial, em cumprimento
do pedido feito pela Mãe de Jesus à Irmã Lúcia e que ainda não tinha sido
realizado validamente, não obstante as consagrações feitas pelos Papas
precedentes e, até, pelo próprio Karol Wojtyla.
A
Conferência Episcopal Portuguesa, através de um comunicado do passado dia 18,
não só se uniu,“em
profunda comunhão com o Santo Padre”, à consagração da Rússia e da Ucrânia ao Imaculado
Coração de Maria, como
anunciou que Francisco enviou “a Fátima, como Legado Pontifício, o Cardeal Konrad Krajewski, Esmoler Apostólico”, o qual fez, em simultâneo com o
Papa, a mesma consagração na Capelinha das Aparições, na presença dos Bispos
portugueses e de alguns milhares de peregrinos.
Na aparição de 13 de Julho de 1917, na
Cova da Iria, Nossa Senhora disse aos pastorinhos: “Deus quer estabelecer no
mundo a devoção ao meu Imaculado Coração. Se fizerem o que eu vos disser,
salvar-se-ão muitas almas e terão paz. A guerra vai acabar, mas, se não
deixarem de ofender a Deus … começará outra pior. (…)(…) Para a impedir, virei pedir a consagração da Rússia a meu
Imaculado Coração e a Comunhão reparadora dos primeiros sábados. Se atenderem a
meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz; se não, espalhará seus erros
pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja; os bons serão
martirizados; o Santo Padre terá muito que sofrer; várias nações serão
aniquiladas. Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará. O Santo Padre
consagrar-me-á a Rússia que se converterá e será concedido ao mundo algum tempo
de paz.”
De facto, a primeira Guerra Mundial
terminou pouco depois, em 1918, e, em 1939, começou “outra pior”. Porque não se fez a pedida consagração ao Imaculado
Coração de Maria, a Rússia espalhou os “seus erros pelo mundo promovendo
guerras e perseguições à Igreja” e “várias nações” foram efectivamente
“aniquiladas”.
Embora
já a 13-7-1917 Nossa Senhora tenha aludido à consagração da Rússia ao seu
Imaculado Coração, quando ainda nem sequer se tinha dado a revolução
bolchevique dita de Outubro, mas que, segundo o nosso calendário, aconteceu em
Novembro desse ano, também então disse que só mais tarde pediria essa
consagração, o que efectivamente aconteceu em Tuy, a 13 de Junho de 1929.
Com
a implantação da República em Portugal, os bispos diocesanos foram desterrados
das suas dioceses, os feriados religiosos foram suprimidos e as ordens
religiosas foram expulsas do país, nomeadamente a Companhia de Jesus, que já o
tinha sido antes, pelo Marquês de Pombal. Por este motivo, Lúcia, a
sobrevivente das aparições de Fátima, teve de emigrar para a vizinha Galiza,
para aí poder professar como religiosa doroteia. Também em Tuy lhe apareceu Nossa Senhora.
No
dia 13 de Junho de 1929, estando a
Irmã Lúcia a fazer a sua oração noturna na capela do seu Convento, foi
testemunha de mais um acontecimento sobrenatural: “De repente, iluminou-se
toda a capela com uma luz sobrenatural e sobre o altar apareceu uma cruz de luz
que chegava até ao teto. Em uma luz mais clara, via-se na parte superior da
cruz uma face de homem com o corpo até à cinta (eterno Pai), sobre o peito uma
pomba de luz (Espírito Santo) e pregado na Cruz, o corpo de outro homem
(Filho).”
A
Irmã Lúcia disse que, nesta ocasião, “suspenso no ar, via-se um cálix e uma
hóstia grande, sobre a qual caíam algumas gotas de sangue, que corriam pelas
faces do crucificado e duma ferida do peito. Escorrendo pela hóstia, essas
gotas caíam dentro do cálix.” A hóstia é a partícula de pão não fermentado que, na
celebração da Eucaristia, se converte verdadeiramente no Corpo de Cristo. Inúmeros
milagres eucarísticos atestam, cientificamente, esta inexplicável presença
real, verdadeira e substancial de Jesus Cristo na hóstia consagrada.
A
vidente de Fátima viu também que, “sob o braço direito da cruz, estava Nossa
Senhora com o seu Imaculado Coração na mão … Sob o braço esquerdo umas letras
grandes, como se fossem de água cristalina que corresse para cima do altar,
formavam estas palavras: ‘GRAÇA E
MISERICÓRDIA…’ Depois, Nossa Senhora disse-me: ‘É chegado o momento em que Deus
pede para o Santo Padre fazer, em união com todos os Bispos do mundo, a
consagração da Rússia ao meu Imaculado Coração, prometendo salvá-la por este
meio’.”
Esta
consagração da Rússia, pelo Papa São João Paulo II, foi feita em Roma, a
25-3-1984, “em união com todos os Bispos do mundo”, e teve um efeito
espectacular: duas semanas depois, a 11-4-1984,
Mikahil Gorbachov foi eleito segundo secretário do Partido Comunista soviético
e, um ano depois, a 23-4-1985, com a morte de Chernenko, passou a líder da
URSS, como primeiro secretário. Começou então a ‘perestroika’ (reforma) e a
‘glasnot’ (transparência), que levaram à extinção do comunismo na Rússia e à
sua reevangelização: desde então, foram baptizados milhões de russos e
construíram-se mais de 20 mil igrejas. À implosão do comunismo soviético seguiu-se a
libertação de todos os países do pacto de Varsóvia. Quis a ironia do destino
ou, melhor dizendo, a Providência divina, que o regime que, supostamente, se
propunha construir um mundo novo através do proletariado, fosse derrubado pelo
proletariado: o sindicato Solidariedade, chefiado por um operário, Lech
Walesa, que levou à queda do comunismo na Polónia e, depois, na Rússia e em
todo o Leste da Europa.
É particularmente significativo que
essa repentina mudança, ou conversão, tenha acontecido, graças a Deus, sem
violência. É igualmente de realçar que, à época, nenhum politólogo ou
comentador previu a queda dos regimes comunistas da Rússia e do Leste europeu.
A natureza pacífica dessa transformação e a sua absoluta imprevisibilidade
abonam, certamente, a favor do seu carácter sobrenatural.
A
13-7-1917, Maria tinha dito: “O Santo Padre consagrar-me-á a Rússia que se
converterá e será concedido ao mundo algum tempo de paz.” Se a conversão da Rússia é a sua libertação do jugo
comunista, já ocorreu, mas se for o seu regresso à comunhão eclesial católica,
de que se separou no fim do primeiro milénio da era cristã, ainda está por
acontecer. Também
ainda não se alcançou o tão desejado “tempo de paz”, pelo que não será
temerário desejar que esses venham a ser os efeitos da consagração da Rússia e
da Ucrânia, ontem realizada pelo Papa Francisco, em Roma e em Fátima, em união
com o episcopado mundial. Queira Deus que, graças a esta consagração, se
alcance o fim da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, bem como a sua conversão, e
a nossa também, à única Igreja de Cristo.
RELIGIÃO SOCIEDADE RÚSSIA MUNDO UCRÂNIA EUROPA SANTUÁRIO DE
FÁTIMA
(Alguns) COMENTÁRIOS:
Carminda Damiao: As Aparições de Fátima, são das mais importantes a
nível mundial. A prova, são os milhares de peregrinos que todos os anos, vêm a
Fátima de todos os cantos do mundo. Na queda do império soviético comunista,
sem derramamento de sangue, após a consagração feita pelo Papa João Paulo II,
só não vê o milagre quem não quer.
Antonio Rosinha: Portocarrero Almada faz um resumo histórico de acontecimentos que
relaciona segundo o ponto de vista da Igreja Católica, o qual é partilhado, no
todo ou em parte, por outras Igrejas Cristâs. Quem não concorda com o
relacionamento não pode recusar os acontecimentos; contudo, poderia abster-se
de expor os seus complexos pessoais ou traumas íntimos. Sempre que existem
críticas selvagens, ficam a conhecer-se os problemas próprios dos que criticam;
isto vem na 1ª página dos manuais de psicologia. As discordâncias e críticas
civilizadas, ateias ou agnósticas, são, pelo contrário, um alimento ao
conhecimento e, eventualmente, matéria de bom debate.
josé maria: A idolatria não diz respeito
apenas aos falsos cultos do paganismo. Continua a ser uma tentação constante
para a fé. Ela consiste em divinizar o que não é Deus. Há idolatria desde o
momento em que o homem honra e reverencia uma criatura em lugar de Deus
LÚCIO MONTEIRO: 6. Também
ainda não se alcançou o tão desejado “tempo de paz”, pelo que não será
temerário desejar que esses venham a ser os efeitos da consagração da Rússia e
da Ucrânia, ontem realizada pelo Papa Francisco, em Roma e em Fátima, em união
com o episcopado mundial”.
Se
os Ucranianos desistissem de defender heroicamente a sua Pátria ou se a
Comunidade Internacional deixasse de apoiar a Ucrânia, através de todos os
meios possíveis, não seria qualquer mistificação, em forma de “consagração”,
que poria termo à actual guerra russo-ucraniana e o consequente “tempo de paz”. Os Ucranianos sairão vitoriosos desta invasão
perpetrada pelo terrorista e criminoso de guerra Putin, apenas graças ao amor
incondicional que nutrem pela sua Pátria, sem precisarem de qualquer
intervenção sobrenatural.
5. “A natureza
pacífica dessa transformação e a sua absoluta imprevisibilidade abonam,
certamente, a favor do seu carácter sobrenatural”. As vicissitudes da
odisseia humana não têm absolutamente nada de caráter sobrenatural. Qual é a
mania em querer transformar em coisas de outro mundo, acontecimentos
perfeitamente naturais, resultantes da ação humana, cujos desenlaces são
perfeitamente previsíveis e mensuráveis?
4. “Depois,
Nossa Senhora disse-me: ‘É chegado o momento em que Deus pede para o Santo
Padre fazer, em união com todos os Bispos do mundo, a consagração da Rússia ao
meu Imaculado Coração, prometendo salvá-la por este meio”. Há
precisamente 105 anos que a Rússia aguarda pacientemente para ser “salva”. Será
que Putin recebeu de Nossa Senhora a “missão” de ser o “salvador” prometido?
Mas para que “salve” a Rússia, será inevitável que transforme a Ucrânia num
novo Holocausto?
3. “A
Irmã Lúcia disse que, nesta ocasião, “suspenso no ar, via-se um cálix e uma
hóstia grande, sobre a qual caíam algumas gotas de sangue, que corriam pelas
faces do crucificado e duma ferida do peito. Escorrendo pela hóstia, essas
gotas caíam dentro do cálice.”
Mais uma “pérola”, saída de uma
imaginação absurdamente à rédea solta e sem qualquer espécie de controlo.
2.
“De repente, iluminou-se toda a capela com uma luz sobrenatural e sobre o
altar apareceu uma cruz de luz que chegava até ao teto. Em uma luz mais clara,
via-se na parte superior da cruz uma face de homem com o corpo até à cinta
(eterno Pai), sobre o peito uma pomba de luz (Espírito Santo) e pregado na
Cruz, o corpo de outro homem (Filho).
Pelo
texto acima transcrito, fica claro que Lúcia era dotada de uma imaginação
fértil, fertilíssima. O que falta saber é se se trata da imaginação dela, ou de
outrem, que transformaram a pobre criatura numa espécie de testa-de-ferro de
mensagens ardilosas, capciosas e manipuladoras.
Como
nota de curiosidade, assinale-se que, em 1917, houve muitas outras “aparições”
em Portugal, mas as de Lúcia enquadravam-se melhor nos desígnios manipuladores
da Igreja Católica.
O
próprio Papa emérito Bento XVI já esclareceu que o fenómeno de Fátima não foram
"aparições", mas sim "visões". Ora, tratando-se de
"visões", muitos de nós as experimentamos recorrentemente quando, à
noite, debaixo dos lençóis, sonhamos.
bento guerra: Maria
dura para os ucranianos, suave para os russos. A cada um a sua Maria (as figuras
são cada vez mais mal feitas)
AAA First: Mas qual a novidade de o "prazo de validade" da
consagração a Maria em 1984 que, para quem acredita, resultou na queda do
comunismo e no registo de algum tempo de paz, tenha terminado? Acaso não é
verdade que, num plano pessoal, a conversão é um processo permanente que
precisa de ser continuamente alimentado com oração e escuta da Palavra de Deus?
E que, caso contrário, Deus e os seus ensinamentos transformam-se em abstracções?
Porque é que na conversão dos corações dos decisores políticos havia de ser
diferente? Sim, a oração de consagração, a oração a pedir Paz e outras graças
deve ser permanente!
Alberto Pereira: Obrigado pelo excelente artigo, Padre Gonçalo. Bem haja!
LÚCIO MONTEIRO: “Não deves fazer para ti
imagem esculpida, nem semelhança de algo que há nos céus em cima, ou do que há
na terra em baixo, ou do que há nas águas abaixo da terra. Não te deves curvar
diante delas, nem ser induzido a servi-las, porque eu, Jeová, teu Deus, sou um
Deus que exige devoção exclusiva” (Êxodo 20:4, 5).Será que os idólatras da
imagem de Nossa Senhora de Fátima conhecem estas palavras da Bíblia? Duvido.
LÚCIO MONTEIRO: 1. “Deus quer estabelecer no mundo a devoção ao
meu Imaculado Coração. Se fizerem o que eu vos disser, salvar-se-ão muitas
almas e terão paz. A guerra vai acabar, mas, se não deixarem de ofender a Deus
… começará outra pior”. “A guerra vai acabar, mas, se não deixarem de
ofender a Deus…começará outra pior”.
Desde
os primórdios da Humanidade, sempre houve guerras que começaram e acabaram e
depois começaram outras piores. Afinal, onde está a novidade nas palavras
supostamente “ditadas” por Nossa Senhora?
A
Igreja Católica e o padre Gonçalo Portocarrero de Almada insistem em querer
impingir-nos a ideia de que as palavras acima transcritas e outras do mesmo
teor foram “ditadas” por Nossa Senhora à pastorinha e ignorante Lúcia. Mas,
apesar de tanta insistência, depois de alguma reflexão racional somos levados a
concluir que tais palavras foram cuidadosamente ditadas por algum padre à
pastorinha Lúcia, como se tivessem sido proferidas por Nossa Senhora.
Para
quê tanta contumácia em distorcer a realidade e manipular os crentes?
josé maria: Mas
afinal a consagração da Rússia tem que ser repetida? A primeira tentativa
falhou? Aquela que pretendia evitar que esse país espalhasse os seus males pelo
mundo? Falta de terços e rosários? Ou a encenação fatimista foi tudo treta, que
agora se repete, sem noção da menor decência ética? Não é uma fórmula mágica,
disse o papa Francisco? Mas, em 1917, já era fórmula mágica ou nem por isso? Claro
que a espiritualidade é algo muito diferente da teatralização fatimista e da
sua indecorosa repetição. Os resultados da encenação estão à vista: a
Rússia continua a espalhar os males pelo mundo, as cidades ucranianas são
arrasadas, os ucranianos estão a ser vítimas de um novo genocídio e a senhora
de Fátima, essa, continua a mostrar a sua incompetência salvífica.
Coronavirus corona > josé maria:
José, pelo amor de
Deus. Não houve consagração da Rússia. Houve consagração de todas as nações.
Que veio a "coincidir", pouco depois, com a queda do muro em Berlim.
Esta é a consagração da Rússia e da Ucrânia apenas. Está-lhe a fazer muito
estorvo?
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