quarta-feira, 16 de março de 2022

Fado é sorte


Amália, sempre. Mas parece obsceno falar-se nisso, com o mundo tal como se nos mostra hoje, com os exemplos vindos de um leste corajoso e valente, a dar-nos tais lições de coragem e digno amor pátrio. Nós, como sempre: cozinhando o nosso destino, atidos a um chefe que sempre soube cozinhar o seu.

Sortes e azares num mundo em mudança

Como sempre não nos preparámos no curto intervalo que mediou entre a saída da troika e a chegada da pandemia. E agora, como sempre, estamos pior do que a maioria dos nossos parceiros europeus.

RAQUEL ABECASIS, Jornalista e ex-candidata independente pelo CDS nas eleições autárquicas e legislativas

OBSERVADOR, 15 mar 2022, 00:1721

1De repente, nas poucas horas de uma madrugada, acordámos dentro de uma nova realidade. A Europa está à beira de um caldeirão a arder e Portugal, cá no cantinho, está ainda escondido a tentar organizar-se. O eterno atraso que temos em relação aos nossos parceiros chega ao ponto de nem sequer nos conseguirmos organizar politicamente em tempo aceitável. Uma crise política que começou em meados de outubro está ainda por ultrapassar. O que os outros países resolvem num mês nós tardamos em resolver. Já lá vão seis meses e ainda não temos um governo empossado.

2Menos mal que os resultados foram providenciais e a maioria absoluta que os portugueses deram ao PS trazem-nos, ao menos, um cenário político de estabilidade para enfrentar os tempos difíceis que se avizinham. Fomos bafejados pela sorte sem saber como nem porquê. Em tempo de guerra não se limpam armas e, independentemente da opinião que cada um tem sobre o Governo PS, é melhor ter à frente dos destinos do país um Primeiro-ministro experiente do que fazer a rodagem a um novo Primeiro-ministro. Era bom que a experiência de António Costa o inspirasse a pensar duas vezes antes de mudar os dois, igualmente experientes, ministros dos Negócios Estrangeiros e da Defesa. Na reorganização de pastas que se avizinha, não é boa ideia mudar os dois ministros que, até agora, deram prova da sua competência para o lugar. Substituir Santos Silva e Gomes Cravinho pode trazer-nos o azar de colocar dois erros de casting para duas pastas onde, agora mais do que nunca, se exige profissionalismo, sobriedade, experiência e competência.

3Os quinze dias de guerra que já decorreram foram suficientes para que as consequências económicas (e o que estamos a ver é só o princípio) já tenham aterrado no nosso quotidiano como mais uma bomba, em cima dos escombros que sobraram de uma crise financeira, a que se juntou uma pandemia e agora isto. Apetece pensar que são azares a mais para um país só. São. Mas a sorte que se constrói em tempos de acalmia prepara-nos para quando chegam os azares. E a verdade qual é? Como sempre, não nos preparámos no curto intervalo que mediou entre a saída da troika e a chegada da pandemia. A palavra de ordem que vigorou durante esses quatro anos foi desfazer as maldades da troika. Não aproveitámos a ocasião e agora, como sempre, estamos pior do que a maioria dos nossos parceiros europeus. E até já há quem, como Durão Barroso este fim-de-semana, fale no regresso da crise das dívidas que pode colocar Portugal outra vez debaixo de mira.

4O aumento dos preços da gasolina, ao ritmo a que está a acontecer, torna inevitável a necessidade de apertarmos o cinto. Atrás da gasolina vêm todos os outros produtos, particularmente os bens de primeira necessidade. Uma das opções que teríamos era a de mais rapidamente fazermos a transição, há muito ambicionada, de deixar o carro em casa e passar a usar massivamente os transportes públicos. Seria a ocasião de usar a crise como oportunidade de mudança. É aqui que mais uma vez deparamos com um azar que poderíamos ter acautelado. Não há transportes suficientes para satisfazer a procura. Mais uma vez confiámos na sorte de que teríamos o tempo suficiente para ir fazendo o discurso climático sem dele tirar consequências e agora fomos apanhados com as calças na mão.

5Enquanto tudo isto acontece, o sempre sortudo António Costa pode gabar-se de não ter perdido a sua estrelinha. Rui Rio, por incrível que pareça, continua a alumiar-lhe o caminho, deixando livre a autoestrada do poder para o Primeiro-ministro usar como lhe aprouver, na certeza de que não surgirá ninguém para o incomodar (agora já nem o PCP nem o BE). É certo que os astros não têm ajudado no que diz respeito às conjunturas que tem tido que enfrentar: primeiro uma pandemia, agora uma guerra. Mas acho que nenhum Primeiro-ministro europeu se sentirá tão à vontade para tomar decisões difíceis como António Costa. Ele é o único homem para quem os portugueses podem olhar neste momento da aflição. No PSD, o programa está por agora interrompido e o espetáculo só recomeça sabe-se lá quando.

ECONOMIA   ANTÓNIO COSTA   POLÍTICA   GUERRA NA UCRÂNIA   UCRÂNIA   EUROPA   MUNDO

Carlos Chaves: Caríssima Raquel, se me permite, acho que já é tempo de assumir que vai no mesmo caminho do Freitas do Amaral! A adesão ao PS.            josé maria: Como sempre não nos preparámos no curto intervalo que mediou entre a saída da troika e a chegada da pandemia. E agora, como sempre, estamos pior do que a maioria dos nossos parceiros europeus Versão da mentira Goebbels, na variante feminina da Raquel Abecassis..  Paulo Cardoso > josé maria: Para ti é mentira, porque és um daqueles que sempre comeu da gamela, que o socialismo enche. O triste, não é ter gente como tu. Triste, é haver muitos que pensam e são como tu. Mais triste ainda, é haver muitos mais ainda que pensam o contrário, mas não têm a fidelidade canina de colocar a cruz no boletim.             advoga diabo: Sim sim, uns malvados estes socialistas, Governo e povo, como demonstra a maioria absoluta, salvaram o país depois do mórbido Passos, conseguiram o 1º superavit da democracia, reagiram com alto mérito à pandemia. Só falta resistirem às provações da guerra!!! Malandros.            JD F > advoga diabo: Está a falar dos mesmos malandros que saíram do mórbido passos / troika e voltaram a dar-lhe, com maioria relativa, o ganho do acto eleitoral? A malandros tem de acrescentar esquizofrénicos, ou então, largar o discurso da troika e saída da troika...passados estes anos todos, parece que os socialistas ainda estão mais incomodados com a geringonça e subida ao poder do que os social democratas... Curiosamente fica sempre fora do discurso que quem chamou a troika foi o mórbido do socras, ps, e graças ao que os portugueses se sujeitaram, com o mórbido do passos e que portugal teve a confiança para aquelas taxas de juro espetaculares que tanto deram a costa gabarolanço de grandes negócios de juros de divida...acho que até eu que não percebo nada disso fazia grandes negócios com a coisa de feição!            João Ramos: No ponto 2 não partilho da alegria da autora para a maioria de António Costa e a razão é exactamente por se tratar de António Costa, um mentiroso compulsivo que vive para intrujar o ignorante povo português, e da qual já temos uma pequena amostra, é que das verbas já recebidas da “bazuca” 90% foram para o sector público, isto é, para sustentar o monstro, a única eventual vantagem é o facto de ele a partir de agora não ter em quem se desculpar e a responsabilidade será apenas do seu governo, desculpas com pandemia e a guerra, certamente as vai tentar, mas um bom governo sabê-las ia enfrentar coisa de que tenho as maiores dúvidas em relação ao personagem… pobre país!!!           José Menezes: Ah e Guterres ! Ouvir o Secretário Geral da UN (nas declarações de ontem por exemplo) é como ouvir uma 'wish-list' ou o comentário de 'esperto' dos que passam pelos vários canais digitais. A falta de liderança de Guterres, de capacidade de mobilizar, de moderar, de interceder, de incutir esperança - mostra bem em como 'o fraco líder faz fraca a forte gente'.             José Menezes: Concordo totalmente com o que escreve nos 5 pontos.

Acho que é preciso acrescentar tb 6. a UE não vai poder/conseguir manter as ajudas aos estados membros pós-pandemia pq afinal há catástrofes muito maiores do que a gripe viral que matou 0,01% dos Europeus - face a uma guerra mortal que pode mantar 500 a 1000 vezes mais do que o SARS-COV2. 7. sem PRR e sem qq auto-suficiência (energética e alimentar, pelo menos) Portugal é um náufrago - um país inviável - e precisa de um plano de contingência para os 3 anos que esta situação de guerra na Europa vai levar a ultrapassar (no mínimo, uma vez que a última desta natureza levou 6 anos e 10 anos a recuperar). 8. sem líderes à altura, com os portugueses distraídos, e as elites políticas perdidas na pequena política (PSD etc) não vai haver nem plano nem um caminho que se possa apresentar e mobilizar os portugueses (nascidos ou não cá, mas a viver e a querer o melhor para Portugal). Por mais sorte que Costa tenha e tem imensa, este é o momento que irá realmente colocá-lo à prova e mostrar sem o futuro dele passa por uma carreira a outro nível em Bruxelas.           Cisca Impllit: O parlapié é sempre o mesmo para não fazermos as reformas necessárias (ou então desfazê-las deitando fora os sacrifícios já  feitos). Socialisticos e atrasadinhos. Muito moles da cabeça.            Tiago S: O PS NÃO MUDARÁ. Artigo muito bom como sempre, mas é impossível aceitar a visão de que costa e o ps assumirão a responsabilidade da austeridade em que já estamos, e daquela que se tornará ainda mais inevitável. Lembrar que quando o largo do rato se apercebeu das consequências na altura de gerir o país com a troika que encomendou, não hesitaram, quais ratos do largo, em mandar cobardemente o seu governo de então capitular. Esperaríamos que a guerra e a austeridade fossem mais uma vez uma oportunidade para libertar o país da actual canga de impostos, reformar a segurança social, baixar a despesa pública primária, etc, etc, etc, e dotar o país de um módico de viabilidade futura? Errado: o ps e costa não vêem a libertação da sociedade civil do estado com bons olhos.  Mais, consideram-na mesmo uma inimiga dos seus intentos. Exemplo? O anúncio de apoio a 1.4 milhões de Portugueses para a compra de bens essenciais é tão só mais um capítulo do aprofundamento da dependência do estado em que estão mergulhados mais de 50% dos Portugueses. Costa e o ps não largarão esta urna a troco de nada, e muito menos em nome da viabilidade futura do país. - Mais uma vez os avençados da esquerda e extrema-esquerda bem tentaram denunciar este comentário, mas sem efeito. O mesmo foi reaprovado pelo Observador em menos de nada.           bento guerra: O Costa é o PM com mais sorte das últimas décadas e agora, em vez da falência, que era previsível, vão sair mais "bazucas" e ajudas, para suavizar o plano inclinado. A própria oposição anda entretida."Vai acabar tudo bem, com alguns sacrifícios" diz o homem das "selfies"            Cisca Impllit > bento guerra Tantas vezes a cantarinha vai à  fonte... Nós já estamos habituados a escaqueirarmo-nos!!           Seknevasse: Uma muito boa crónica. Consigo estar de acordo com os pontos todos citados. Nos meus anos de vida, a expressão "eterno atraso" tem vindo a aplicar-se a Portugal, muitas vezes, é certo que nem sempre é uma desvantagem esse atraso... sobre os políticos de uma possível oposição ao PS, salientava apenas que em Espanha após a crise da liderança de Casado espoletada pela espionagem a Ayuso (e fracos resultados das sondagens) já existe um novo líder, o Feijó, consensual e muito provavelmente o sucessor de Sanchez... Por cá nada de novo, a lapa do Rio não deixa o poder de jeito nenhum. E candidatos a líder, com carisma, nem um !!            Valquíria:  “É certo que os astros não têm ajudado no que diz respeito às conjunturas que tem tido que enfrentar: primeiro uma pandemia, agora uma guerra.” Desculpe, não têm ajudado os portugueses, porque a António Costa têm dado um jeitão estas crises simétricas são uma maravilha para qualquer governante, há sempre um desculpa para a miséria.          Paulo CardosoValquíria: Tal e qual.           Paulo Cardoso: Sim, Raquel. Entendo o seu raciocínio, mas não posso concordar. O habilidoso pode ser o único dente que nos resta na boca. Mas, é aquele dente podre, tão podre, que está a infectar a gengiva. Se não se remover, vai gangrenar aquela e alastrar. Mais valeria arrancá-lo já e aprender a mastigar sem nenhum. Esta é a verdade. Pode ser dura, mas é a que temos. Não desista, Raquel.            sioux boomerang: Não,  portugal encaixou perfeitamente nesta filosofia ocidental dos outros, perfeitamente, já somos europeus as nossas empresas já estão entregues ao estrangeiro, já não damos um passo sem primeiro nos dizerem lá de fora para que lado , os bancos também já só faltam dois e depois já está tudo entregue também , a bancarrota era o destino óbvio desta filosofia e chegamos lá sem problemas nenhuns , olhe para azar só faltava sermos europeus espanhóis ,  e já não falta muito .         Madalena Sa: Tudo isto é bem verdade mas triste povo que não se sabe dar ao respeito e vota nesta gente! Não se augura nada de bom com o governo que se avizinha! Ouvir hoje, a ainda ministra da Agricultura armada em vedeta fez dó!

 

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