terça-feira, 8 de março de 2022

Pão pão, queijo queijo


Como sempre, aliás, a exposição clara, simples e honesta do Dr. Salles, desta vez a respeito de um procedimento que não merece justificação ditada nem pela racionalidade nem pela moralidade. Merece, sim, condenação universal.

UCRÂNIA - 3

 HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO 07.03.22

NOTA PRÉVIA

Sugiro enfaticamente a quem me lê que atente aos comentários ao texto anterior:

O Doutor Amândio Coelho Pereira, natural de Goa, é cardiologista (cirurgião cárdio-toráxico?) em Bombaim e, seguindo uma postura histórica indiana, aponta culpas à NATO e à UE. Pedindo-me que comente o seu comentário, refiro que a Ucrânia é ubérrima em recursos naturais e é um dos maiores fornecedores de cereais da UE; as suas Universidades contavam (até há uma semana) com significativa população estudantil estrangeira, nomeadamente indiana; foi o Governo Ucraniano presidido por Zelensky que pediu (repetidamente) a adesão da Ucrânia à NATO e à UE e não o contrário;

O meu colega (e camarada de armas em Moçambique) Carlos Traguelho traça-nos uma fundamentada recusa da legitimidade de qualquer afronta à soberania de todo e qualquer Estado reconhecido internacionalmente;

Isabel Pedroso, minha amiga desde a campanha militar moçambicana, traz-nos, lá do alto da sua enorme sabedoria, a questão de sabermos qual a atitude da NATO caso dois dos seus membros se envolvam nalguma bulha;

O Senhor Coronel Adriano Miranda Lima, sempre clarividente, chama a nossa atenção para o carácter extremamente letal que o exemplo das democracias liberais (mais do que as ogivas nucleares) representam para os regimes ditatoriais.

Mas estes apontamentos não substituem a leitura dos comentários a que se referem.

* * *

Se, nos primórdios desta disputa territorial da Rússia com a Ucrânia, Putin pudesse ter alguma razão histórica, deitou tudo a perder com os métodos que vem seguindo. Cada ruína (material ou humana) de estatuto civil constitui, neste século mais humanista do que todos os antecedentes, prova de crime de guerra. Não se trata de julgar factos antigos ao abrigo dos critérios actuais; trata-se, isso sim, de julgarmos actos presentes ao abrigo de critérios seus contemporâneos. E a culpa está amplamente documentada por toda a comunicação social livre. Mais: não me ocupo a acusar os executantes, apenas a culpar o mandante, Putin.

Não me atenho tão pouco a comentar o desenrolar dos acontecimentos pois não sou (nem pretendo ser) repórter de guerra e porque o que agora é verdade, dentro de minutos pode estar ultrapassado. Tento, se possível, meditar um pouco no meio do pandemónio.

Pergunta: - Quantos séculos tem a História russa?

Resposta: - Tantos quantos os das agressões aos povos circundantes.

Pergunta: - Durante quanto tempo viveram os russos em democracia?

Resposta: - Durante o efémero «banho de vodka» de Boris Yeltsin.

Conclusão: pobre povo russo.

Eis por que não acuso os executantes e apenas culpo o algoz Putin.

Pergunta: - E agora?

Resposta: - Três hipóteses: 1. Esmagamento militar russo da Ucrânia e início duma interminável guerra de guerrilha; 2. Golpe palaciano no Kremlin e substituição de Putin; 3. Terceira guerra mundial.

A ver… julgo que «a processão ainda vai no adro».

E Taiwan?

Henrique Salles da Fonseca

Tags: ucrânia

  COMENTÁRIOS

 favorito  Rui Bravo Martins  07.03.2022  16:16: Resposta eloquente, simples para qualquer um, desde que informado por meios independentes, e termina com uma pergunta muito perspicaz,
que envolve a zona asiática mais oriental! Fico curioso qual o teor da contra-argumentação que virá (?) do subcontinente Hindu.

 Henrique Salles da Fonseca  07.03.2022  18:00: Nem mais.....Penso que a terceira hipótese....nem Putin a quer.... Grande abraço  A José Henriques

 Anónimo  08.03.2022  16:19: Agradeço-te, Henrique, a referência aos meus comentários. Antes de tentar responder à tua última questão – Taiwan –, deixa-me contar uma estória que, como verás no final, não é uma estória, mas sim História. Era uma vez, algures no século passado, um chefe carismático, dum país europeu, que pretendia conquistar outro, localizado noutro continente, não só para se vingar da tentativa fracassada de conquista no final do século XIX, como também para fundar um Império, em consonância com os proclamados valores marciais do Regime. Os então países policias europeus, um continental e outro marítimo, tentavam refrear os ânimos desse chefe, mas não demasiado pois também não desejavam que ele se viesse a aliar a um país europeu governado por um chefe mau. Os polícias chegaram a equacionar fazer-lhe várias concessões à custa de territórios alheios, mas sem sucesso. É claro que essas concessões foram previstas de forma discreta, não fossem elas prejudicar eleições que tinham lugar no país do polícia marítimo. Tudo em vão, e a guerra inicia-se, dizendo o chefe aos seus generais que não tivessem receio de bombardear civis nem de utilizar gás mostarda contra soldados. Aqui-d´El-Rey! Logo a Organização Mundial das Nações estabeleceu sanções económicas, excluindo o petróleo, tais como proibir importações do país agressor e exportações para ele, bem como acabar com os créditos financeiros. Mas acontece que um outro polícia que não era europeu, e que não estava nessa Organização, pode continuar a enviar armas, assim como petróleo. Mesmo o polícia europeu marítimo continuou a fornecer carvão, e certamente outros países pouco respeito deverão ter tido pelas sanções decretadas. Resultado: estas foram ineficazes, quer a nível militar, quer económico. E a campanha guerreira continuou até à derrota final do país agredido, sem prejuízo de se iniciar um combate de guerrilha que durou 5 anos, tantos quantos levou a ocupação estrangeira. A estória passa a História se disser que ocorreu nos anos 30, mais concretamente em 1935, o chefe era Mussolini, o país agressor era a Itália, o agredido a Etiópia, os policias continental e marítimo eram, respectivamente, a França e a Grã-Bretanha, o país com chefe mau era a Alemanha hitleriana, a Organização Mundial das Nações era a Liga das Nações e o polícia não europeu era os EUA. Qualquer semelhança com alguma realidade actual é pura coincidência. Baseei-me no livro “Mussolini”, de Martin Clark. Quanto a Taiwan. Digo-te que a China sempre considerou um assunto interno e voltou esta semana a reiterar essa posição. A China tem consciência que a união não se fez no século passado em virtude da guerra da Coreia, pois esta extremou posições, o que não impediu que, em 1971, a China Continental viesse a substituir, na ONU, a China nacionalista, como chamávamos então à China da “nossa” Formosa. A China não tem pressa na solução pacífica. No final da década 80 e início da de 90, por razões profissionais, fui algumas vezes a Macau. O sentimento era que a China desejaria que as transições desse Território e de Hong-Kong corressem bem para que os “irmãos” de Taiwan não obstaculizassem o reencontro. Infelizmente, não poderei dizer que o que tem acontecido recentemente em Hong-Kong seja atrativo para Taiwan. Abraço. Carlos Traguelho

 

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