Como sempre, aliás, a exposição clara,
simples e honesta do Dr. Salles, desta vez a respeito de um procedimento que
não merece justificação ditada nem pela racionalidade nem pela moralidade. Merece,
sim, condenação universal.
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO 07.03.22
NOTA PRÉVIA
Sugiro
enfaticamente a quem me lê que atente aos comentários ao texto anterior:
O Doutor Amândio Coelho Pereira, natural de Goa, é cardiologista (cirurgião cárdio-toráxico?) em
Bombaim e, seguindo uma postura histórica indiana, aponta culpas à NATO e à UE. Pedindo-me que comente o seu comentário, refiro que a
Ucrânia é ubérrima em recursos naturais e é um dos
maiores fornecedores de cereais da UE; as suas Universidades contavam (até há
uma semana) com significativa população estudantil estrangeira, nomeadamente
indiana; foi o Governo Ucraniano presidido por Zelensky que pediu
(repetidamente) a adesão da Ucrânia à NATO e à UE e não o contrário;
O
meu colega (e camarada de armas em Moçambique) Carlos Traguelho traça-nos uma fundamentada recusa da legitimidade
de qualquer afronta à soberania de todo e qualquer Estado reconhecido
internacionalmente;
Isabel
Pedroso, minha
amiga desde a campanha militar moçambicana, traz-nos, lá do alto da sua enorme
sabedoria, a questão de sabermos qual a atitude da NATO caso dois dos seus
membros se envolvam nalguma bulha;
O Senhor Coronel Adriano Miranda Lima, sempre clarividente, chama a nossa atenção para o
carácter extremamente letal que o exemplo das democracias liberais (mais do que
as ogivas nucleares) representam para os regimes ditatoriais.
Mas estes apontamentos não substituem a
leitura dos comentários a que se referem.
*
* *
Se,
nos primórdios desta disputa territorial da Rússia com a Ucrânia, Putin pudesse
ter alguma razão histórica, deitou tudo a perder com os métodos que vem
seguindo. Cada ruína (material ou humana) de estatuto civil constitui, neste
século mais humanista do que todos os antecedentes, prova de crime de guerra.
Não se trata de julgar factos antigos ao abrigo dos critérios actuais;
trata-se, isso sim, de julgarmos actos presentes ao abrigo de critérios seus
contemporâneos. E a culpa está amplamente documentada por toda a
comunicação social livre. Mais: não me ocupo a acusar os executantes, apenas a
culpar o mandante, Putin.
Não
me atenho tão pouco a comentar o desenrolar dos acontecimentos pois não sou
(nem pretendo ser) repórter de guerra e porque o que agora é verdade, dentro de
minutos pode estar ultrapassado. Tento, se possível, meditar um pouco no meio
do pandemónio.
Pergunta:
- Quantos séculos tem a História russa?
Resposta:
- Tantos quantos os das agressões aos povos circundantes.
Pergunta:
- Durante quanto tempo viveram os russos em democracia?
Resposta:
- Durante o efémero «banho de vodka» de Boris Yeltsin.
Conclusão: pobre povo russo.
Eis
por que não acuso os executantes e apenas culpo o algoz Putin.
Pergunta:
- E agora?
Resposta:
- Três hipóteses: 1. Esmagamento militar russo da Ucrânia e início duma
interminável guerra de guerrilha; 2. Golpe palaciano no Kremlin e substituição
de Putin; 3. Terceira guerra mundial.
A
ver… julgo que «a processão ainda vai no adro».
E Taiwan?
Henrique
Salles da Fonseca
Tags:
ucrânia
favorito
Rui Bravo Martins 07.03.2022 16:16: Resposta eloquente, simples para qualquer um, desde
que informado por meios independentes, e termina com uma pergunta muito
perspicaz,
que envolve a zona asiática mais oriental! Fico curioso qual o teor da contra-argumentação
que virá (?) do subcontinente Hindu.
Henrique Salles da Fonseca 07.03.2022 18:00:
Nem mais.....Penso que a terceira hipótese....nem Putin a quer.... Grande
abraço A José Henriques
Anónimo 08.03.2022 16:19: Agradeço-te, Henrique, a referência aos meus
comentários. Antes de tentar responder à tua última questão – Taiwan
–, deixa-me contar uma estória que, como
verás no final, não é uma estória, mas sim História. Era uma vez, algures no
século passado, um chefe carismático, dum país europeu, que pretendia
conquistar outro, localizado noutro continente, não só para se vingar da
tentativa fracassada de conquista no final do século XIX, como também para
fundar um Império, em consonância com os proclamados valores marciais do Regime.
Os então países policias europeus, um continental e outro marítimo, tentavam
refrear os ânimos desse chefe, mas não demasiado pois também não desejavam que
ele se viesse a aliar a um país europeu governado por um chefe mau. Os polícias
chegaram a equacionar fazer-lhe várias concessões à custa de territórios
alheios, mas sem sucesso. É claro que essas concessões foram previstas de forma
discreta, não fossem elas prejudicar eleições que tinham lugar no país do
polícia marítimo. Tudo em vão, e a guerra inicia-se, dizendo o chefe aos seus
generais que não tivessem receio de bombardear civis nem de utilizar gás mostarda
contra soldados. Aqui-d´El-Rey! Logo a Organização Mundial das Nações
estabeleceu sanções económicas, excluindo o petróleo, tais como proibir
importações do país agressor e exportações para ele, bem como acabar com os
créditos financeiros. Mas acontece que um outro polícia que não era
europeu, e que não estava nessa Organização, pode continuar a enviar armas,
assim como petróleo. Mesmo o polícia europeu marítimo continuou a fornecer
carvão, e certamente outros países pouco respeito deverão ter tido pelas
sanções decretadas. Resultado: estas foram ineficazes, quer a nível
militar, quer económico. E a campanha guerreira continuou até à derrota final
do país agredido, sem prejuízo de se iniciar um combate de guerrilha que durou
5 anos, tantos quantos levou a ocupação estrangeira. A estória passa a História
se disser que ocorreu nos anos 30, mais concretamente em 1935, o
chefe era Mussolini, o país agressor era a Itália, o agredido a Etiópia, os
policias continental e marítimo eram, respectivamente, a França e a
Grã-Bretanha, o país com chefe mau era a Alemanha hitleriana, a Organização
Mundial das Nações era a Liga das Nações e o polícia não europeu era os EUA. Qualquer semelhança com alguma realidade actual é
pura coincidência. Baseei-me no livro “Mussolini”, de Martin Clark. Quanto a
Taiwan. Digo-te que a China sempre considerou um assunto interno e voltou esta
semana a reiterar essa posição. A China tem consciência que a união não
se fez no século passado em virtude da guerra da Coreia, pois esta extremou
posições, o que não impediu que, em 1971, a China Continental viesse a
substituir, na ONU, a China nacionalista, como chamávamos então à China da
“nossa” Formosa. A China não tem pressa na solução pacífica. No final da
década 80 e início da de 90, por razões profissionais, fui algumas vezes a
Macau. O sentimento era que a China desejaria que as transições desse
Território e de Hong-Kong corressem bem para que os “irmãos” de Taiwan não
obstaculizassem o reencontro. Infelizmente, não poderei dizer que o que tem
acontecido recentemente em Hong-Kong seja atrativo para Taiwan. Abraço. Carlos
Traguelho
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