domingo, 20 de março de 2022

Ao menos, Macbeth tinha escrúpulos


O Padrinho, Don Vito Corleone, no desempenho de Marlon Brando, sempre me pareceu tenebroso, na atitude seráfica, serenamente rígida, com que expunha os seus argumentos decisivos. Foi essa imagem que me ficou do filme, há muitos anos. Passou recentemente num dos canais da televisão, mas furtei-me a revê-lo. Afinal, revemo-lo diariamente hoje - no espanto de idêntica serenidade facial traiçoeiramente rígida, impecavelmente mansa na sua aparência de brandura hirta, o aspecto pio encobrindo um mundo de artimanha traiçoeira - na figura de Vladimir Putin.

Jaime Nogueira Pinto mais uma vez nos dá uma lição do seu muito saber, no propósito comparativo com essa figura putinesca que os inimigos de JNP, na sua amizade por VP, por este motivo atacam com a ferocidade de adeptos definitivos do russo e seus poderes e saberes tenebrosos. Na questão do melhor filme, contudo, eu continuo a achar a Música no Coração uma obra-prima de arte e encanto e Erin Brocking outra, de desempenho e beleza, além da função social, com alguma sátira de permeio, mas os meus gostos cinéfilos são muito exíguos de real conhecimento, confesso, e mais virados para os enredos de beleza e graça existenciais. Quanto à comparação com “Macbeth” - de que há muito me lembrei, Shakespeare sendo sempre uma referência de lucidez de pensamento e arte - essa sua personagem “Macbeth”, criminosa, aliás, por conta de um destino figurado nas bruxas da origem clássica, para além de ser empurrada para o crime por uma esposa ambiciosa e mais audaz, é um anjinho, se comparado com essa sinistra figura russa, que parece irreal, apesar dos tais exemplos que também ajudaram, certamente, a consolidar – não ponho em causa a sua cultura livresca e cinéfila – essa monstruosidade "humana" (?) dos nossos tempos, que dá pelo nome de Vladimir Putin.

Uma proposta irrecusável

50 anos depois da estreia, O Padrinho, de F.F. Coppola, que Stanley Kubrick considerou “talvez o melhor filme de sempre”, continua a ser uma proposta irrecusável.

JAIME NOGUEIRA PINTO, Colunista do Observador

 OBSERVADOR, 19 mar 2022, 00:1834

Foi há 50 anos, no dia 14 de Março de 1972, que estreou nos Estados Unidos The Godfather, de Francis Ford Coppola, a adaptação ao cinema de um romance de Mario Puzo. Puzo nascera em 1920, em Hell’s Kitchen, Manhattan, filho de imigrantes napolitanos, analfabetos e pobres, e o bairro seria cenário da agitada mocidade de Vito Corleone, o protagonista da sua saga, já muito vendida e traduzida quando da estreia do filme.

Seria, no entanto, a tradução em imagens de Copolla do mundo dos Corleone de Puzo que daria à saga o som e a fúria de um mundo maior, habitado por um elenco inigualável: Marlon Brando, Don Vito Corleone, o grande chefe da família e do bando; Robert De Niro, o jovem Don Vito do Padrinho II; e Al Pacino, o filho mais novo de Don Vito, Michael Corleone, que, pela “força do destino”, acaba por ser o herdeiro e o sucessor do Padrinho e o protagonista da saga, da juventude até à morte. E o que poderia não passar de uma boa história das famílias mafiosas italo-americanas na luta pela sobrevivência e pela hegemonia territorial e financeira nas geografias do crime da América transformou-se numa crónica dos avessos do “sonho americano” e da América do século XX; numa história da geopolítica e da geoeconomia atlantista do crime organizado; num tratado sobre o poder e as suas formas; e, mais do que isso, num tratado sobre a natureza humana.

As origens da Máfia

O etnólogo Giuseppe Pitre, pioneiro dos estudos antropológicos sicilianos, explica que, em meados do século XIX, no bairro de Borgo, em Palermo, o adjectivo “mafiuso” era sinónimo de elegante, corajoso e empreendedor. Havia, entretanto, outros usos para o termo, que designavam os que resistiam à intimidação ou impunham a sua vontade pela força. A palavra “máfia” e a expressão “mentalidade de máfia” eram ainda usadas para definir a insularidade siciliana, a afirmação do que era próprio, a resistência ao que era alheio e a desconfiança em relação às autoridades instituídas.

Esta semântica reflectia uma reacção ao poder central, considerado estrangeiro, e a afirmação de um modo siciliano de pensar, sentir e resistir, traduzido em formas pré-modernas de lealdade clânica e familiar.Omertà ou lei do silêncio e a recusa de colaborar com as autoridades judiciais e policiais do poder central eram práticas características dos “homens de honra”, que valorizavam as tradições de raiz insular siciliana e privilegiavam os seus códigos costumeiros, à margem da lei escrita.

A resistência, por vezes violenta, às tentativas do governo italiano do Risorgimento de impor a centralização, vieram alterar o significado de Máfia e mafioso. A vitória dos católicos regionalistas em 1868-69 fez crescer as tensões autonomistas contra aqueles que queriam fazer dos sicilianos “espanhóis, piemonteses ou alemães”. Depois da Comuna de Paris de 1871, juntou-se à preocupação unitária o medo da subversão socialista, que o discurso do poder associou ao mundo do crime, a um mundo de práticas iniciáticas e secretas, viveiro de resistências violentas.

A partir daí, Máfia siciliana ou Camorra napolitana passaram a ser sinónimos do mundo do segredo e do crime. No entanto, para os mafiosos e para as comunidades locais a versão continuava a ser outra: a “Cosa Nostra” era uma associação de “uomini d’onore”, que, à margem das corruptas autoridades centrais, assegurava a justiça aos mais débeis e aos mais pobres. Em algumas narrativas, chegava mesmo a apresentar linhagens antigas, medievais, de romântica resistência à opressão do poder central, memória de sociedades governadas por regras e rituais semelhantes aos maçónicos ou carbonários, como os Beati Paoli.

Em nome da Justiça

O livro de Puzo começa num tribunal americano, em que os autores da violação e agressão de uma jovem são absolvidos devido à corrupção do sistema. O pai da vítima, Amerigo Bonasera, protagoniza a primeira e inesquecível cena de O Padrinho, ao queixar-se a Don Vito: “I allways believed in America”… mas a justiça da América falhara e, por isso, era ao poder paralelo do “homem de honra”, Don Vito, que Bonasera apelava, pedindo auxílio e reparação.

Para “corrigir o sistema”, Don Corleone vai castigar os abusadores. Como irá conseguir, através de uma “proposta irrecusável” a um renitente produtor de Hollywood, que o seu afilhado tenha o papel que deseja para salvar a carreira.

Esta justiça rápida e expedita – ao modo dos reis das lendas e narrativas – uma justiça que pode dar tudo e tirar tudo, inclusive a vida, substituindo-se às injustiças e inoperâncias da justiça central, estará talvez na base do fascínio do público americano e mundial pelo universo da Máfia e pela figura do Padrinho.

Sendo, desde a fundação, uma República constitucional, os Estados Unidos não tiveram reis, absolutismo, ou sequer ditadores. Não têm, por isso, experiência histórica real de um poder absoluto como o que Don Vito tem dentro da sua família, do seu clã e do mundo mafioso. Um poder que o Padrinho exerce com sabedoria e prudência, numa comunidade com rígidos códigos não escritos, uma comunidade tribal, composta pela família em sentido estrito e pelos “capos” e “soldados” que, com os respectivos agregados familiares, se acolhem ao seu munus. Hierarquia patriarcal, disciplina, formas e ritos quase litúrgicos regulam a vida desta comunidade. Os Corleone são uma das cinco famílias, com os seus cinco ”Dons”, do mundo do crime organizado italiano de Nova Iorque: os Corleone (Don Vito), os Barzini (Don Emilio), os Tataglia (Don Phillip), os Stracci (Don Anthony) e os Cuneo (Don Otilio).

O Padrinho começa em 1945, no imediato pós-guerra, com Michael Corleone de volta a casa para o casamento da irmã como herói. É também então que surge “o Turco”, Virgil Sollozo (Al Lettieri), com a proposta de uma nova área de negócio. Solozzo andou pela Turquia e o tráfico de droga, o negócio que quer trazer para a América com o apoio do Padrinho, encontra a firme oposição de Don Vito, que contrapõe à “ilicitude” da nova actividade a “licitude” dos negócios tradicionais – a protecção, as mulheres, o jogo. A droga destrói a sociedade e pode destruir a América e Don Vito, tal como o seu protegido Amerigo Bonasera, acredita na América. Por isso, a família Corleone ficará de fora.

A idade do ouro da Lei Seca

A “Prohibition” foi o grande motor económico do crime organizado na América. Antes da “Lei Seca”, introduzida pela 18ª Emenda à Constituição de 1919, com entrada em vigor em 1 de Janeiro de 1920, havia gangues de irlandeses, italianos, judeus, polacos e outros imigrantes que se dedicavam ao crime em pequena escala. A Proibição, ao ilegalizar o hábito ou o vício socialmente transversal na população americana masculina, fez com que o contrabando, o fabrico e a distribuição de álcool se tornassem um negócio milionário, gerando grandes mestres do crime, como Lucky Luciano, Al Capone, Bugsy Siegel ou Meyer Lansky, que ganharam e movimentaram fortunas, com as quais corromperam políticos e polícias. Passavam, assim, a dominar e a corromper a seu favor o “sistema corrupto” que, com desilusão, tinham encontrado na “Terra da Oportunidade”, realizando, entretanto, o seu próprio “sonho americano”. Quando acabou a Proibição, em 1933, com FD Roosevelt, os bandos e os chefes sobreviventes transferiram as suas quadrilhas e recursos para os Casinos de Las Vegas e da California, lugares de jogo e de prostituição de luxo.

A série Boardwalk Empire, com Steve Busceni, é sinal do continuado interesse da filmografia americana e do público por esses tempos e esses modos. Um clássico foi The Public Enemy, de William Wellman, com James Cagney e Jean Harlow. Nos anos 30, Cagney especializou-se em fitas de gangsters, contracenando com Humphrey Bogart em Angels with Dirty Faces, The Roaring Twentiesou Each Dawn I Die. Estaline, que era um cinéfilo praticante, intercalava Chaplin, de quem era devoto, com os gangsters de Cagney, de quem também era dedicado fã.

“O melhor filme de sempre”

Embora no film noir europeu haja antecedentes e paralelos, o crime organizado é um tópico cinematográfico essencialmente americano. Mas se de Once Upon a Time in America, de Sergio Leone, a Miller’s Crossing, dos irmãos Cohen, ou de The Goodfellas, de Martin Scorcese,  a Reservoir Dogs, de Tarantino, não faltam obras importantes que vemos e revemos e onde sempre descobrimos  coisas novas, por que é que Os Padrinhos continuam no topo das preferências? Cinquenta anos passados sobre a saga que abre com a memorável cena de Amerigo Bonasera, beijando a mão a Don Vito, para terminar com o “capo” Clemmenza curvado perante Michael na mesma reverência e homenagem, o culto dos Padrinhos continua.

Segundo o próprio Coppola, a força do filme está em ser “uma história de um rei e três filhos”, “a tragédia do poder” num contexto de sucessão. Na trilogia, não faltam alusões a situações trágicas, contrastes dialéticos entre liberdade e necessidade ou entre clã, família e Estado; e há sacrifícios de inocentes, traições fraternais, maldições geracionais, escolhas e o preço das escolhas, vidas e mortes ditadas por uma aceitação ou por uma recusa. No último filme da saga, os pecados dos pais são espiados nos filhos, e Michael Corleone, à procura de perdão, redenção e respeitabilidade, de modo institucional, quase farisaico, é castigado com a morte da filha.

O conservadorismo dos Corleone e da saga de Coppola está centrado em Don Vito e em Michael. Don Vito teve uma ascensão difícil ao poder e à relativa respeitabilidade; é realista e conservador no uso dos instrumentos do poder e mede a violência. As “propostas irrecusáveis” que o celebrizam, as máximas que vai soltando, a gestão das influências, as opiniões sobre a família, sobre as mulheres, sobre o poder, sobre a América, vão chocando e seduzindo os espectadores. A sua razoabilidade ao propor a paz entre as famílias depois de o terem tentado matar e de lhe matarem o filho mais velho – Sonny (James Caan) –, a sua ligação funda e discreta a Michael, com aquela cerimónia dos grandes afectos entre pais e filhos, tornam-no, apesar de tudo, “estimável”. E para o cobrir, para lhe rezar pelos pecados, lá está a esposa devota, Dona Carmela Corleone, que vai à missa todos os dias pedir por aquele marido que ela, “esposa e mãe” tradicional, sabe sobejamente necessitado de perdão.

Michael é diferente; e talvez por ser um recém-chegado à chefia do mundo do crime, onde não queria nem pensava entrar, revela-se surpreendentemente impiedoso. É um herói que une a astúcia da raposa à força e brutalidade do leão e que renuncia a tudo: à vida normal que o seu estatuto de filho de pai rico e de herói da guerra lhe podiam garantir, à família e à mulher Kate (Diane Keaton), à tranquilidade, à segurança.

Os manuais maquiavélicos estão cheios destes exemplos, tirados de uma cultura política italiana de nação poliárquica, fragmentada, dividida, de estatalidade tardia, propiciando a organização de grupos, de máfias, de pequenos bandos com códigos identitários que separam radicalmente o “nós” do “eles”. E o “nós” são os clãs, as famílias, o sangue. Porque embora o negócio seja o fim e as traições e agressões sejam justificadas como ossos do ofício, “nada de pessoal, só negócio”, a verdade é que, enquanto outros gangsters, como Solozzo e Hyman Roth, ou polícia corrupto McCluskey, actuam essencialmente por “lucro “empresarial”, os Corleone, Vito e Michael, regem-se sobretudo por espírito de família. Embora não esqueçam o ouro que lhes confere o poder, para eles o sangue é a justificação primeira para usar o ferro. Por isso matam quem, não sendo da família, vai contra ela, e também quem, sendo da família, a trai.

A ascensão de Michael é a de um herói trágico, como foi a de Vito, ao matar o tirano Don Fannucci ou ao vingar a morte do pai, assassinado pelo cacique local, Don Ciccio. Michael salva o pai na clínica e mata Solozzo e McCluskey para o proteger. Depois, faz a viagem até às raízes sicilianas, a Corleone, onde se exila, perde a mulher, volta para suceder ao pai e liquida os seus inimigos num sangrento e sacrílego São Valentim. No fim, torna-se chefe e tirano, galga todos os obstáculos e pune todos os traidores, até o irmão, Freddo.

Na tragédia grega temos enredos assim; no Inferno de Dante, há quem, por menos, esteja em lugares piores; em Shakespeare, nas History Plays, há destas tragédias, dilemas e sangrentos percursos.

A Inglaterra, a Merry England que conheceu a Revolução e o regicídio século e meio antes da França, e que, mesmo na Restauração, com Carlos II, o Merry Monarch, se vingou dos regicidas, enforcando-os e esquartejando-os, tem uma história com sangue, mistério, terror, revolução e contra-revolução, sempre ao abrigo da lei e pela lei.

A América, não. Na América, liberal desde a fundação, estas violências e este sangue nunca foram tutelados pela lei. Talvez por isso apareçam em força no Cinema, arte americana por excelência, em amálgamas de drama, ópera, comédia, tragédia, crime e castigo, com primordiais nobres heróis e vilões dos mais baixos instintos à solta na modernidade. A mistura parece repetir e congregar três milénios de imaginação e reprodução da natureza humana; uma natureza humana que, ainda que milenarmente repetida, não cessa de nos surpreender, qual ensanguentada cabeça de cavalo entre lençóis de seda.

Stanley Kubrick, falando do Padrinho I, disse que o filme de Coppola era “possivelmente o melhor filme de sempre” e o que tinha o melhor elenco.

Cinquenta anos depois da estreia, a ascensão e queda dos Corleone, acontecida na América do século passado, consegue espantar-nos e encantar-nos como se tivesse estreado ontem – e acontecido há horas, há milénios ou num qualquer futuro. A saga podia passar-se na Roma dos césares, na Inglaterra da Guerra das Rosas ou no Japão dos Tokugava e ter sido contada por Tácito, Shakespeare ou Kurosawa. Desta vez quem a contou foram Puzo e Coppola, acolitados por um gangue de “capos” e “soldados” de excelência, ao som da música de Nino Rota.

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COMENTÁRIOS:

Liberales Semper Erexitque: A noção de que existe um "melhor filme de sempre" só pode causar riso a quem tenha realmente visto muito cinema - pronto, eu gabo-me, vi muito! Quanto à saga dos Corleone, também tem defeitos, e é extensa demais. O cinema nos EUA é um negócio desde os anos 20, o que tem como consequência esse horror artístico que é a "sequela". O episódio III da saga de Coppola é fraquíssimo, banal, desinteressante, uma desilusão a evitar.            João Floriano: Excelente crónica e sobretudo muito  diferente do habitual: a primeira vez que eu vejo JNP abordar um assunto desta natureza, através da sétima arte. É caso para dizer que já não se fazem filmes destes. O tema da mafia, tratado em tantos filmes  de mais ou menos sucesso, alguns até comédias bem divertidas, estou-me a lembrar do mafioso de Niro agarrado como uma lapa ao seu psicoterapeuta Dreyfuss é uma dessas comédias. Para além do Padrinho, aprecio particularmente Goodfellas e Once Upon a time in America. Na televisão perdia tardes de sábado com o Boardwalk empire. Mas The Godfather é o melhor de todos: uma saga  a sério servida por actores fantásticos ( não sei se já repararam como actores americanos considerados secundários ou supporting podem ser simplesmente geniais), desenrolando-se em várias partes o que dá para explorar bem personagens e situações e acima de tudo tratando um tema clássico no imaginário americano: o  sonho americano. Se Pretty Woman é o lado radioso e romântico do sonho, o Padrinho é o lado negro, escuro como breu.           Vitor Batista > João Floriano: Caro João Floriano, em tempos idos eu sempre disse para mim esse filme era o melhor da história do cinema, mas para muitos pode não ser e eu aceito uma opinião diferente, mas o elenco e a forma como interpretam os personagens é brutal.           João FlorianoVitor Batista: Dentro do seu género é sem dúvida o  melhor. O cinema americano tem coisas fantásticas. Recentemente apanhei um filme com o Tommy Lee Jones (actor soberbo) que achei magnífico: the Homesman. Eu gosto muito de filmes passados no oeste mas que não são o habitual cowboy bom e índio mau. Algo como Dances with Wolves.          Censurado Censurado: Se o Padrinho não fosse um dos melhores filmes de sempre nunca tinha chegado às faculdades e por lá se mantém até hoje. E como o JNP diz de alguma maneira, nem só nas faculdades de cinema. Já que o universo do Padrinho é tão mas tão rico. Mas se tivesse que fazer algum paralelismo com a atualidade - e cheguei a pensar que o objetivo da coluna fosse muito mais que a efeméride dos 50 anos do filme - lembrava-me logo do ressurgimento dos nacionalismos outra vez. Não por acaso também em Itália. Só a 5ª maior economia do mundo com carros fantásticos durante muito tempo. Só para se ter noção. Porque os nacionalismos emergem sempre das crises mais profundas. Quanto tudo o resto falha, estado inclusive, restam as raízes como o JNP tb diz nesta coluna. E quando se anda à procura de parar uma guerra que não conseguimos evitar é capaz de não ser a melhor altura para andarmos a julgar os regimes dos outros. O que infelizmente muita gente não compreendeu nem antes nem depois do espoletar da conflito na Ucrânia.  E vai de acirrar ainda mais...   Na Globalização que os próprios EUA edificaram já todos devíamos ter percebido que temos que saber conviver com todo o tipo de regimes. Como sempre ao longo da história. E nunca vou deixar de ficar espantado com a imaturidade das sucessivas administrações norte americanas. Muito provavelmente pela sua curta história. E o pior é que ainda conseguem ser mais imaturos hoje  que já foram no passado. Talvez fiando-se no poder que têm que pode mudar tudo. Depois de fracasso de “nation building” atrás de fracasso. Corridos do Afeganistão e a Ucrânia com o mesmo nível de corrupção não é por acaso. Como nada nesta vida. O que também faz deles essencialmente estúpidos por nunca terem aprendido nada nem na sua curta história.    Os EUA não vão mudar nenhum regime na Rússia e muito menos na China. Putin já foi o líder mais pró-ocidental que a Rússia alguma vez teve! Mas é capaz de não ter ficado muito agradado com o saque da Rússia nos anos 90. Em que muita gente nunca parou de pensar em Wall Street. Quando olham para algumas das maiores energéticas do mundo devem pensar que fatiadas rendiam um dinheirão. São Nações com quem todos temos trocas comerciais fundamentais e com quem temos de saber lidar num mundo global. Aliás qualquer mudança ocorrerá sempre pelo exemplo e nunca pela via das hostilidades. Bastava não ter provocado a Rússia para lá de tudo quanto era razoável. E ainda por cima usarem cobardemente os ucranianos para isso. Depois de um sucesso enorme no Afeganistão. Até os líderes russos mais pró-ocidentais estão cada vez mais radicalizados. Para a semana Biden vem à Europa assinar o compromisso que a Nato nunca entrará na Ucrânia. Veremos. Já a UE…          Maria da Graça Frazão: Obrigada por mais um excelente artigo JNP. Também para mim O Padrinho é o melhor filme de sempre. Um filme sobre a condição humana expressa magistralmente por Al Pacino (Michael Corleone): o processo de deterioração da alma humana, apropriada pelo mal. Até ao homicídio do irmão, Fredo. A meu ver, o climax da saga. A lembrar Caim e Abel. Depois disso, a busca da redenção impossível. Ou talvez não, se o sofrimento desmedido pela perda da filha for ele próprio, redentor. Na vida de Michael Corleone estamos representados todos nós.            Tiro Liro: JNP leva o Observador às costas.          josé maria: O cristão e mafioso Putin não merece nenhuma crítica directa de Jaime Nogueira Pinto? É uma proposta recusável ser claro na condenação do execrável? Será por causa das conhecidas ligações putinistas aos movimentos europeus de extrema-direita e à brigada nazi do grupo Wagner ? O assunto é tão incómodo que tem que recusar aos tempos sórdidos da personagem fictícia Corleoni? Qual é a diferença entre Pinochet e Putin, JNP?           Francisco Tavares de Almeida > josé maria: Essa é fácil. Sem Putín a gastar 40% com o orçamento militar a Rússia poderia ter um nível de vida semelhante ao da UE. Sem Pinochet, o Chile em vez de ter um nível de vida superior à média sul-americana, teria sido uma outra Venezuela.           josé maria > Francisco Tavares de Almeida: O Chile só recuperou economicamente, depois da era tenebrosa de Pinochet, com as presidências socialistas de Ricardo Lagos e Michelle Bachelet. Os chilenos, depois da época negra do verdugo, mostraram uma clara e constante preferência pelas políticas anti-liberais, como a recente eleição de Gabriel Boric também vem confirmar. A melhor vacina contra o liberalismo económico de Milton Friedman e dos Chigago Boys, acabou por ser a aplicação da política anti-social de Pinochet. Se hoje, o Chile é um país civilizado, moderno e evoluído, isso fica-se a dever exclusivamente às políticas socialistas pós - Pinochet. Contra factos, não há argumentos, todas as estatísticas o demonstram. Quanto à diferença entre Pinochet e Putin não há nenhuma essencial. Um católico, outro cristão. Ambos adeptos do liberalismo económico, aplicado de forma "musculada" e desumana. Ambos adeptos de apoio dos respectivos oligarcas. Ambos seres psicopatas e execráveis.         José Ribeiro > josé maria: Resposta muito boa (embora o inquisidor JM nem a leia, pois para isso não está formatado)           Francisco Tavares de Almeida: Demolidor artigo, quase a atirar para a necessidade de anti-depressivos. À medida que lia, ia-me apercebendo do muito que não observei, do imenso que ignorei no subjacente das imagens. Se fosse mais novo, iria reler o artigo e rever o filme. Assim só me posso angustiar com ideia do que terei também perdido noutras experiências de vida.           Liberales Semper Erexitque > Francisco Tavares de Almeida: Não fique assim, o Sr. Nogueira Pinto vê O Padrinho de Coppola com os olhos dele, o Francisco Almeida vê-o com os seus, que se calhar vêem muita coisa que os do Sr. Nogueira Pinto não vêem, dada a tendência que este tem para fingir que não existem as coisas que não lhe convêm. Necessariamente, a visão de um comunista ou de um fascista, por mais cultivado que seja, é limitada. Censurado Censurado: Uma das muito poucas vozes lúcidas sobre a guerra na Ucrânia voltou a aproximar-me do JNP. Com a insanidade dos EUA já andarem a ameaçar a maior potência comercial do mundo com sanções... Só Washington é que decide quem pode apoiar quem neste mundo... Enfim. Quando com metade do que a Ucrânia já cedeu à mesa das negociações nunca se tinha ouvido um tiro na Europa. Bastava a questão Nato... Como muitos conselheiros americanos sempre aconselharam a Casa Branca. E a UE...      Liberales Semper Erexitque: Cinema, arte americana por excelência? Oh senhor doutor, acho que confunde cinema com o cinema das pipocas e do "box office"! O cinema foi grande nos EUA em alguns períodos e com alguns autores, como o foi na Europa, no Japão, na Índia... Vale o que vale, mas o cinema foi inventado em França.        Ping PongYang: "Nunca odeie os seus inimigos, isso afecta o seu discernimento !"           bento guerra > Ping PongYang: Há uns anos, o Lavrov, na sua calma distinta ,disse " quem discute zangado, acaba por perder a razão". Isto na era pré-Zelensky            Censurado CensuradoPing PongYang: O Ping tb é da opinião que a Rússia cercada de mísseis tinha mais era que nem piar. É isso? Como os EUA tb faziam não era? E agora ainda decidem quem apoia quem no mundo. Isto quem nasce para vassalo...Queira deus que a China não compre esta guerra com os EUA porque se já está como está com as sanções à Rússia imagine a China fechar as fábricas 3 semanas...E para já parece que só mandaram os EUA descalçar a bota e muito bem.       Valquíria: Análise maravilhosa, temos aqui cinéfilo. Tudo é perfeito, Marlon Brando, o melhor actor do mundo de sempre, está estratosférico, e a música senhores…só comparável com Morricone, nomeadamente em  “era uma vez na América” , “cinema paraíso” e claro, “o bom o mau e o vilão”. A par de Citizen Kane, o melhor filme de sempre. Maria Nunes: JNP, obrigada por mais uma excelente crónica.           Rui Lima: Quem bem escreve , escreve bem não importa o assunto há 5 ou 6 filmes que são obras primas e esse é um deles .             MC: JNG. Bela crónica, a série merece. Entre muitas cenas, a morte de D. Altobelo com um cannoli envenenado. Aqui os elementos que refere encontram-se todos. Envenenado com o seu preferido bolo, pela Mão da querida afilhada. Muita densidade só aí!           Rogerio Russo: Posso estar enganado, mas quis dizer-nos que algo está a mudar nos States. Não abordou a morte do papa no último episódio nem a ligação implícita da igreja de Roma aos muitos padrinhos, nem destes ao IOR. Porquê? Pelo menos poderemos especular…  

 

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