Na sequência da de ontem. Admirável
síntese de Jaime
Nogueira Pinto, expectante – como todos, mesmo os que não conhecem a
História – em relação à História de amanhã, de dados já lançados. Um bravo!
também a alguns comentadores conhecedores das malhas históricas, e
acrescentando outros dados …
Uma nova ordem internacional?
Mesmo partindo do princípio de que se
evitará o pior, a chamada ordem internacional liberal sairá desta guerra
seriamente abalada.
JAIME NOGUEIRA PINTO
OBSERVADOR, 12
mar 2022,
Este é um tempo bem negro, um tempo de
trevas em que os anjos da guerra parecem ter soprado as trombetas, libertando
cavaleiros e demónios. Embora na
clássica confusão das batalhas a escalada possa não nos parecer apocalíptica, o
perder de face de uns, o desespero de outros, o descontrolo das consequências,
a histeria das massas, a ausência de lideranças lúcidas e firmes podem trazer
grandes e trágicas surpresas, alargando a outras geografias os horrores da
guerra e das suas vítimas directas e colaterais.
Seja
como for, e mesmo partindo do princípio de que se evitará o pior, a chamada ordem internacional liberal sairá seriamente
abalada deste conflito. E, depois
de um interregno, terá de surgir uma nova ordem, talvez poliárquica ou dividida
em blocos. Será uma nova Guerra Fria? Acabarão por
bipolarizar-se os blocos? E, se sim, com que alinhamento e em nome de quê?
A História e a reflexão sobre a
História não são agora muito populares. O
presente tende a entender-se através das fórmulas simplistas das ideologias de
serviço e das teorias da conspiração e qualquer reflexão independente corre o
risco de se transformar em perigosa heresia. No entanto, como no
diálogo entre Abraão e Jeová para poupar Sodoma e Gomorra, podemos sempre ir
contando e descontando uns justos, mesmo poucos, que vão mantendo a lucidez no
meio da histeria e da confusão.
Por que ganhou o Estado-Nação?
Foi
em 1975
que Charles Tilly editou a colectânea de ensaios The Formation of National States in Western Europe. Pesando as razões que tinham levado ao triunfo do “Estado nacional”
como forma dominante de comunidade política, Tilly não teve dúvidas em
destacar “a
preparação para a guerra”.
Depois
da especulação político-filosófica de Hegel e da interpretação economicista do
Estado como instrumento do domínio classista de Marx, a reflexão histórica e sociológica sobre a construção do
Estado tinha sido
desenvolvida por pensadores
alemães da
transição do século XIX para o século XX. Foi o caso de Max Weber e Otto
Hintze, que estudaram as relações
entre o esforço de guerra, a centralização da fiscalidade e a criação das
burocracias administrativas permanentes; e também a relação entre a extensão
territorial e o modelo político adoptado.
Weber, cuja obra teórica está marcada pelas
tensões entre liberalismo e nacionalismo, em difícil equilíbrio no seu
pensamento, não deixou de confrontar directamente Marx na
sua Wirtschaftsgeschichte (História Económica Geral), contrapondo “meios de produção” e “meios
de destruição”, a “empresa capitalista” e o “Estado
territorial”: o monopólio ou a centralização dos “meios de destruição” e da
organização da violência, em contraste com a sua dispersão por vários senhores
da guerra, era, para
Weber, tão ou mais importante para a história social do que a monopolização ou centralização dos “meios de produção”
numa empresa capitalista.
A guerra, o Estado e a reconfiguração da ordem
internacional
“War
made the State and the State made war” é a famosa frase de Tilly.
Assim
também as grandes recomposições na ordem entre os Estados, na ordem
mundial ou internacional, têm vindo a ser fixadas pelas grandes
conflagrações. Foi o que aconteceu na História moderna da Europa com a
Guerra dos Trinta Anos, com as guerras
da Revolução e do Império, com a Grande Guerra de 14-18, com a Segunda
Guerra Mundial e com a Guerra Fria de 1948-1991.
Irá a guerra Rússia-Ucrânia e o
decorrente conflito alargado fundar uma nova ordem, pondo termo à ordem
internacional liberal que se seguiu à Guerra Fria com a vitória do Ocidente? E será a
guerra quente possível entre Estados com armas de destruição maciça, ou ainda
há uma dissuasão implícita que limita a guerra, obrigando-a a ser fria?
A Guerra
dos Trinta Anos foi o epílogo das guerras religiosas na Europa. Desde que a cisão causada por Lutero opôs
católicos a protestantes que as alianças e a definição do amigo e do inimigo
passavam pela crença. A França de
Richelieu quebrou esta regra quando se aliou aos protestantes contra os
Habsburgo, sendo pioneira de uma razão de Estado nacional que se sobrepunha às
identidades e solidariedades religiosas.
O
século e meio passado entre os tratados
de Westfalia e a Revolução Francesa
é marcado por conflitos dinásticos e territoriais, como a Guerra
da Sucessão de Espanha e a Guerra dos Sete Anos. No mesmo período, surgem
novos poderes na Europa, a Rússia de Pedro, o Grande, e a Prússia de
Frederico II, que se afirmam e criam ou consolidam o Estado através
de guerras vitoriosas. Ao mesmo tempo há uma forte rivalidade franco-inglesa na Europa e nas áreas de
expansão imperial, das Américas à Índia.
Nas
vésperas da Revolução Francesa existem na Europa cinco
poderes principais: a França, o
Reino Unido, a Prússia, a Áustria e a Rússia. A Revolução e a aliança das potências monárquicas para
apagar os fogos subversivos de Paris, consumados com a execução do Rei, vão
marcar e definir blocos ideológicos, numa bipolarização que vai perdurar, com
mobilidade de alianças, ao longo do Império napoleónico. Com a derrota e o exílio do Imperador e o triunfo
dos Aliados, o que se segue, ideologicamente, é uma oposição entre as potências
conservadoras da Santa Aliança –
Rússia, Áustria e Prússia e a França dos Bourbon, até 1830 – e as monarquias liberais.
O
século XIX volta às guerras nacionais e territoriais. O surto liberal e emancipalista da “primavera das
nações” de 1848-49 é dominado
pelos impérios do Leste e as
guerras seguintes são as guerras da unidade ou da conquista
da estatalidade de duas nações antigas
– a Itália e
a Alemanha. Não há
blocos, há alianças que,
entretanto, no final do século, cristalizam
na Entente franco-britânica aliada à
autocracia russa, contra os Impérios Centrais, aliados à Itália (que, já em pleno conflito, vai mudar de bordo).
A
Grande Guerra foi ainda uma guerra clássica, de interesses nacionais, embora do lado da Entente houvesse
a tentativa de fazer dela uma guerra ideológica das nações liberais contra os
“Impérios autoritários” alemão, austríaco e otomano; uma bipolarização cuja lógica era comprometida já
que os liberais tinham, do seu lado, a autocracia russa. Em Fevereiro de 1917 veio o colapso do regime czarista depois das derrotas militares, com dezenas de
milhares de soldados vencidos e desgarrados em S. Petersburgo a não quererem
voltar para o “matadouro” da frente.
Foram
eles a massa de manobra da Revolução Russa, primeiro democrática, depois
bolchevique. Também em 1917, a intervenção americana reforçaria o
carácter ideológico da guerra e, sobretudo, da paz. O Presidente Wilson introduziria definitivamente na
História moderna a ideia de que havia “países maus” que gostavam da guerra e
não apreciavam a democracia e que deviam pagar por isso: a Alemanha do Kaiser era assim e devia ser punida.
E
foi sobretudo graças ao esforço francês, um esforço não ideológico, centrado na reparação e
compensação da derrota de 1870-71,
que a paz punitiva de Versalhes consagrou a humilhação e miséria da Alemanha. Hitler surgiu
daí, eleito nas urnas como salvador.
A
Guerra Civil de Espanha foi já uma
guerra ideológica entre uma aliança de conservadores autoritários,
nacionalistas revolucionários e fascistas e uma Frente Popular de republicanos,
socialistas, anarquistas e comunistas. As ajudas externas vieram de “voluntários” alemães e
italianos e de “internacionalistas” de várias origens.
A Segunda Guerra Mundial começará por
ser uma guerra clássica, não ideológica, com o governo conservador da Polónia a
ser atacado e vencido por uma aliança espúria: a dos nacionais-socialistas
alemães com os comunistas soviéticos.
Entretanto,
a partir da invasão da URSS, em Junho de 1941, a guerra clássica, travada por
razões de território e reivindicações nacionais da Alemanha, transformava-se em
guerra ideológica contra o comunismo
e os judeus, fenómeno
que se estenderia, mais tarde, aos países ocupados pelo Terceiro Reich. O mesmo aconteceria em Itália,
a partir de 1943, com a luta na República Social Italiana entre fascistas e
antifascistas. A
marginalização do Direito da Guerra, o apelo à formação de “legiões” de
voluntários estrangeiros, como as Waffen SS, foram sinais desse carácter
ideológico.
Da Segunda Guerra Mundial resultaria o
fim do mundo eurocêntrico, quer pelas destruições sofridas pelas potências
europeias vencidas e vencedoras – Alemanha, Itália, Grã-Bretanha, França – quer
pela consagração, pela Carta das Nações Unidas, de uma Nova Ordem Mundial que
implicava o fim dos impérios coloniais europeus. Em contrapartida, emergiram
como grandes e únicas superpotências a União Soviética – com o desígnio de
estender o comunismo a todo o mundo – e os Estados Unidos da América, que
decidiram enfrentar a ameaça de comunização do globo fazendo a contenção da
URSS, segundo o guião traçado por George Kennan.
Nascia
assim um mundo bipolar onde, por
causa das armas nucleares, a guerra passava a ser tabu entre os dois poderes.
A Europa estava partida entre zonas de influência e o Kremlin usava os partidos
comunistas na sua política exterior e na propaganda.
O
conflito acabou com a vitória americana e ocidental por meios de
estratégia indirecta que contribuíram para a autodestruição e rendição do
regime e do império soviético no tempo de Gorbachev.
Tal
como a Contenção de Kennan tinha marcado o começo
da Guerra Fria, estruturando a ordem internacional, também Francis Fukuyama, em The End of History
and the Last Man, um ensaio sobre a irreversibilidade da expansão do modelo
anglo-saxónico de democracia liberal e capitalista, se proporia escrever a
bíblia dos novos tempos ou da nova ordem internacional pós-Guerra Fria.
Depois do Fim da História
A
Guerra Fria e a sua ordem bipolar, criada e sustentada num modo de fazer a
guerra que tornava a guerra total indesejável, ou até impensável porque
suicida, acabou nesses anos de 1989-1991.
Seguiu-se
um tempo tendencialmente unipolar, de hegemonia norte-americana, com a expansão
da ordem liberal democrática. A
expansão deste “modelo único” gerou também contestação e uma progressiva
multipolaridade – com o despertar e consolidar da China, um regime
para-totalitário de Partido Único, e a ofensiva do macro terrorismo jiadista
contra a América e o Ocidente, que levou às campanhas mal terminadas do Iraque
e do Afeganistão e à afirmação progressiva de poderes regionais: a Rússia, na
Eurásia, a Turquia, no Sueste da Europa, a Índia, no subcontinente asiático, o
Brasil, na América do Sul.
Estes
trinta anos de ordem internacional liberal acabaram no dia 25 de Fevereiro, quando as unidades militares russas invadiram a
Ucrânia. O equilíbrio
era já instável, com uma série de
grandes Estados – a China, a Índia, a Rússia, o Paquistão, a Turquia e a Arábia
Saudita – e parte significativa dos Estados africanos e do Médio Oriente a resistirem,
de vários modos, à integração no modelo; e
outros, bem no coração do Ocidente, como a Polónia
e a Hungria,
pressionados, discriminados e acusados de “iliberalismo” por várias
instituições ocidentais, como o Parlamento Europeu e uma Administração
americana refém das causas fracturantes da ala esquerda do Partido Democrático.
Desta vez, a guerra cultural e a
guerra político-económica vão levar a uma oposição prolongada e tudo aponta
para o regresso dos blocos. Dois
Estados poderosos, a Rússia e
a China, cerram
fileiras e estreitam relações. E a avaliar pela lista de abstenções na votação
nas Nações Unidas, uma série de outros Estados importantes vão segui-los.
Para
todos eles, globalização económica não significa globalização política: o
capitalismo de direcção central chinês, a monarquia religiosa saudita, o
nacionalismo da Índia de Modi não parecem muito dispostos, quer a aceitar o
modelo democrático liberal como sistema político interno, quer a aplicar
sanções à Rússia ou a cortar relações económicas que sejam do seu interesse
nacional. E na Europa também há resistências ao federalismo de Bruxelas.
Tudo
isto augura e fundamenta uma reorganização
da ordem internacional, depois de
três décadas da ordem que se seguiu à Guerra Fria. Os alinhamentos parecem,
para já, desenhar-se com um hemisfério
ocidental, euro-americano, englobando os países da NATO e da EU, contra um eixo
Moscovo-Pequim e seus aliados e dependentes mais próximos. No lugar dos antigos “não-alinhados” ficará talvez uma
frente de geometria variável que vá adaptando os seus interesses nacionais às
linhas de força e às pressões dos núcleos duros dos dois campos.
Entrámos
num interregno cheio de incógnitas e perigos. A forma
como vamos sair dele, a criação de uma nova ordem de paz e segurança, vai
depender do realismo e da verdade com que os dirigentes políticos pesarem as
forças em presença e agirem perante elas.
Os dados já estão lançados.
GUERRA NA UCRÂNIA UCRÂNIA
EUROPA MUNDO RELAÇÕES INTERNACIONAIS POLÍTICA
COMENTÁRIOS
Antonio
Mendes: Artigo um pouco denso. A meu ver peca por
ignorar que a luta continua a ser entre o ocidente (incluindo Japão, Austrália
e Nz/Kor) e os ex-comunistas agora transformados em capitalismo de estado de
inspiração semelhante à do fascismo/nazismo. Este modelo continua a ver a
concorrência como uma actividade de predadores algo que o capitalismo de
mercado refuta. Nessa perspectiva é intrinsecamente violento apesar do
equilíbrio incerto do terror nuclear. O estado-nação é cada vez mais uma
aberração, mas o ocidente precisa de manter a sua superioridade militar e não
apenas económica enquanto os predadores não se civilizarem e aceitarem a
proposição de Keynes de que mais vale o ser humano oprimir a sua carteira
do que os seus concidadãos. Ahmed
Gany: A heresia de Wilson foi um erro crasso
que o Ocidente ainda está a pagar.
Tiro Liro: O melhor do
Observador. Maria
Madeira: Mais um excelente texto de J.N,Pinto. josé maria: Jaime Nogueira Pinto, veja os factos: 1 - Rússia
Unida, partido de direita liberal, cuja adesão foi pedida na
Internacional Democrata Centrista, cuja designação substitui a Internacional
dos Partidos Populares e Democratas-Cristãos. Foi fundada em 1961 em Santiago,
Chile como a União Mundial Democrata Cristã, com base no legado de outras
internacionais democratas cristãs; 2 - Putin, cristão ortodoxo,
líder do Rússia Unida; 3 - Putin, chefe de estado de
um regime presidencialista, que tem vindo a aplicar na Rússia politicas
económicas liberais, como a taxa única de IRS, de 13% e redução substancial das
taxas de IRC; 4 - Putin, político execrável,
mancomunado com os oligarcas russos e grupos nazis, como o Wagner, sua tropa
privada; 5 - Putin, praticando na Rússia
os mesmos princípios económicos do Milton Fiedman e dos Chicago Boys; 6 - Putin, o Pinochet genocida e russo em acção. Algo a comentar, Jaime
Nogueira Liberales
Semper Erexitque: Os dados estão lançados há muito e são bem conhecidos: "Le
nationalisme c'est la guerre!" Robert Schuman. Pontifex
Maximus: JNP esqueceu-se
de África, o que é algo impossível de acontecer quando se pensa no futuro que
aí vem. Uma Europa pobre em matérias primas sem acesso à Sibéria, deixada de
borla aos chineses, a África será, de novo, absolutamente fundamental para a
Europa, agora não colonial mas liberal, o que quer se queira quer não é é algo
perigoso naquele continente. Isto quando a América Latina, por natureza
visceralmente ileberal, está expectante mas as notícias de que a China
açambarcou os cereais argentinos da próxima colheita e possibilidade de
Bolsonar ganhar ao Lula no Brasil poderá ditar o fim da civilização ocidental.
De que são herdeiros e a prazo se arrependerão da sua traição cultural. Liberales Semper
Erexitque > Pontifex Maximus: E viva a liberdade de
expressão! Vou ali
e já volto: Jaime Nogueira
Pinto a superar-se no seu melhor. As democracias liberais tiveram a autocracia russa
como aliada tanto na 1.ª quanto na 2.ª Guerra. Todavia, já ao final desta
última, o General Patton quis seguir com os seus tanques até Moscovo
para derrubar também este “Império autoritário”. Este general já então tinha
razão, mas na altura o esforço económico necessário iria exaurir as populações
entretanto sobrecarregadas para derrotar a Alemanha, pelo que não havia
condições. Todavia, parafraseando o presidente Marcelo, “há que manter pressão
na mola!”. De qualquer forma, iremos todos viver pior. Para mim, não há
dúvidas a quem assacar responsabilidades: não serão a Henry Kissinger ou
Richard Nixon, por incluírem a China da economia mundial, nem a Gerhard
Schröder ou Angela Merkel, por incluírem a Rússia na economia europeia. Quero
crer que estes e todos os demais devem já estar a fazer contas, acabando também
por concluir a quem assacar responsabilidades. Ping PongYang > Vou ali e já volto: Patton, inepto que só se tornou
uma "celebridade" graças a um filme romanceado e
MacArthur, um incompetente com aspirações napoleónicas,
são duas das criaturas mais
incapazes que West Point já produziu. "Seria difícil conseguir fazer-se menos, tendo tantos meios à disposição"
Gen. Walton Walker sobre MacArthur na Coreia Liberales Semper
Erexitque > Ping PongYang: Essa memória não será algo selectiva? MacArthur foi
quem esteve na baía de Tóquio a assinar a rendição do Japão, ou estou enganado?
Já Patton esteve em difíceis batalhas contra a Wehrmacht logo desde o norte de
África, e foi até quem apanhou com a contra-ofensiva final alemã nas Ardenas.
Não sou especialista em assuntos militares, mas se esses foram maus generais,
quem serão os bons? Ping
PongYang > Liberales
Semper Erexitque: "Gostos não se discutem".
Bons exemplos não faltam: Omar
Bradley, George Marshall (Marshall Plan), Ridgway, Gavin, um desconhecido que
escreveu quase sozinho, desde a doutrina
OTAN à criação dos manuais FM em uso até aos dias de hoje... Ping PongYang > Liberales Semper Erexitque: A realidade gosta pouco de
romances. Jackie Fisher: Almirante Britânico que definiu praticamente todas as
classes de vasos de guerra modernos, tendo para isso que "pôr na ordem" um imbecil chamado W
Churchill. Hyman Rickover: O Almirante sem farda responsável pelo actual
ascendente da US Navy contra TUDO e TODOS. Ping PongYang > Liberales
Semper Erexitque: Jackie Fisher: Que
"desenhou" as Marinhas modernas ( desde a alimentação aos requisitos
das máquinas ) mesmo tendo que "pôr na linha" um imbecil metediço
chamado W Churchill. Liberales
Semper Erexitque > Ping PongYang: Caro Ping, começo a perceber que é um especialista em
assuntos militares, e não apenas em vacinas militares! Vou aproveitar para lhe
perguntar como vê a guerra na Ucrânia de um ponto de vista estritamente
militar. Apenas com armas convencionais, pensa que a derrota dos ucranianos é
certa? E parece-lhe que aquilo terá uma resolução militar rápida, ou que vai
ser mais um atoleiro para russos?
Vou ali e já volto > Ping PongYang: Entre os bons exemplos existem os melhores, dentre os
quais citaria Erwin Rommel. Se a Rússia tiver neste momento algo desta
craveira, as preocupações de JNP revelar-se-ão despropositadas, apesar de
capítulos a não esquecer. No quadro nacional, citaria António de Spínola. As
(in)competências de Patton são conhecidas, e relevam para o Princípio de Peter:
mesmo os bons cometem asneiras quando as suas aspirações não correspondem
àquelas. Todavia, tal não exclui a competência anterior caso as consequências
da incompetência sejam dirimíveis. Na minha modesta opinião, este não é o caso
de Putin, cuja incompetência se eleva às do Führer: ambos tiveram a hipótese de
entrar para o Walhala e a História, dela saem pelos piores motivos. O Patton,
perante estes, é competente. Ainda bem que nunca entrou na política! Antes
pelo contrário: Esta guerra é o produto da "ordem internacional liberal",
transformada numa nova forma de fascismo!!! Liberales Semper Erexitque > Antes pelo contrário: Palavra de fascista. Sem aspas. Álvaro
Aragão Athayde: Continua a não alinhar na histeria colectiva, o que é bom. Continua a não
recuar à Crise do Terceiro Século, a Diocleciano, a Teodósio I, à Expansão
Omíada, à Expansão Viking/Varangiana, ao Grande Cisma, à Guerra da
Crimeia, ao Projecto Imperial de Halford John Mackinder, retomado
por Zbigniew Kazimierz Brzeziński, o que é mau. Quanto à Hegemonia Liberal
está morta e quase enterrada, John Joseph Mearsheimer explica porquê. Liberales Semper
Erexitque > Álvaro Aragão Athayde: Nunca existiu uma
"hegemonia liberal", o melhor que se conseguiu no tempo das nossas
vidas foi Margaret Thatcher. Nunca mais ninguém esteve à altura dela. E o
socialismo foi tomando tudo o que pôde, escondendo o seu nome. Acg: Nada melhor, em manhã de sábado
chuvoso - o que é bom, em contraciclo de uma seca muito áspera - ler e rever a
História, é sempre um prazer ler JNP, chamando a nossa atenção para o que se
passa e por que se passa. Tone da
Eira: Acho estas
análises muito intelectualizadas e que não ajudam a compreender o que se passa
na tomada de decisão de líderes e países. Tenho a impressão que os autores que
são importantes para o pensamento de JNP (os filósofos, Fukuyama) serão notas
de rodapé nos pensamentos político/económico/militar de quem decide. Um
exemplo, será que na família real saudita alguém deu/dá alguma importância ao
que Fukuyama escreve? E podemos perguntar, será que a família perdeu alguma
coisa ao não ter dado importância?
João Correia > Tone da Eira: A família real saudita estudou nas melhores escolas e
universidades (anglo-saxónicas), não no ISCTE. É natural que tenham lido
Fukuyama. Cisca
Impllit: Não são as
vitórias, antes os despojos que nos revelarão os quadros mentais de um
hipotético período de paz seguinte. PortugueseMan: ...E será a guerra quente possível entre Estados com
armas de destruição maciça, ou ainda há uma dissuasão implícita que limita a
guerra, obrigando-a a ser fria?... Está a pensar bem. Na minha opinião, e é sempre importante salientar que
é a minha opinião, chegámos a uma era onde efectivamente caiu o tabu sobre a
utilização de armas maciças. Infelizmente. Tivemos bastantes sinais do que aí vinha mas optámos
por ignorá-los a todos. Eu estive mais de um ano a escrever nos artigos do José Milhazes que
vinha aí algo grande. Posso apontar alguns sinais do que foram aparecendo, mas antes gostaria de
salientar o que considero peça chave para o que vem aí. Putin. Putin está a caminho
dos 70 anos. Lavrov a caminho dos 72 e Shoigu a caminho do 67. Lavrov está no
topo a nível da diplomacia e Shoigu parece-me que é altamente respeitado nas
esferas militares e não só na Rússia. Lavrov é a ponta de lança e quando a
diplomacia falhar, "A guerra é a
continuação da política por outros meios", estando Shoigu a
desempenhar esse papel. Putin, a meu ver, é alguém extremamente dedicado à
pátria, com um forte sentido de dever. E está rodeado de pessoas como ele. Penso
que concordará comigo que com a idade, passamos a ver por outras perspectivas e
a noção de que todos nascemos com um cronómetro em contagem decrescente
torna-se mais premente à medida que o tempo passa. Putin não quer passar para o
seu futuro sucessor e para as futuras gerações o peso e a responsabilidade de
terem que tomar decisões difíceis para uma possível luta pela sobrevivência. Putin
chamou a si a responsabilidade de acabar com o problema de segurança que a NATO
representa para a Rússia, perfeitamente consciente de todas as consequências
possíveis para tal decisão. Incluindo nucleares João Ramos: Actualmente as dúvidas são enormes e muito perigosas, e
a falta de dirigentes com capacidade para as saber enfrentar também é
dramática, esta é que é a realidade!!! Carlos
Grosso: Putin não tem como parar. Já perdeu a
face. Perdidamente, os dados apontam para a III WW. Saber
e conhecer a História como JNP é fantástico, mas nunca será suficiente para
evitar períodos caóticos como o que se está a iniciar. Não consigo agarrar as
ilusões de um final não descontrolado, a menos que, entretanto, se encontre o
final de Putin. Cisca
Impllit > Carlos Grosso: Sim,
o juízo está perdido PortugueseMan:
...Estes trinta anos de ordem internacional liberal acabaram no
dia 25 de Fevereiro, quando as unidades militares russas invadiram a Ucrânia... Penso que o correcto seria indicar 24 de Fevereiro. ...Dois Estados poderosos, a Rússia e a China, cerram fileiras e
estreitam relações. E a avaliar pela lista de abstenções na votação nas Nações
Unidas, uma série de outros Estados importantes vão segui-los... Reparou.
Essa votação foi muito interessante. Quantidade não é sinónimo de qualidade e
parece estar tudo a olhar para a quantidade. ...Os dados já estão lançados.
Os dados estão lançados. Sim. É exactamente isto. Este seu artigo diria que já
é um pouco mais negro e se olharmos para trás, estão aqui todos os ingredientes
para uma situação catastrófica para todos nós. Para contexto, considero que a
situação actual é semelhante à crise dos mísseis de Cuba com uma agravante. Na
altura os navios soviéticos não cruzaram a linha vermelha, o pior foi evitado.
Por meio de negociações. Cuba não tinha mísseis, a Turquia também não. Agora
temos os mísseis da Polónia. As negociações falharam e a linha vermelha foi
ultrapassada. Na altura da situação dos mísseis de Cuba, o que seria expectável
caso os navios sovíeticos tivessem ultrapassada a linha desenhada pelos
americanos? Todos sabiam. O que nós fomos fazer agora? O que nós fomos
fazer? bento
guerra: Uma ordem sino-americana,com apêncices de
cada lado, a Rússia e a Europa.
Pensamento Positivo > bento guerra: ...E
talvez com um 3º "não alinhado" que pode vir a ser importante: A
Índia!... E que não se pense que são um actor menor. A Índia já "tem"
entre 60% a 80% dos médios e altos quadros das grandes tecnológicas Americanas,
por exemplo; algo com que a China nunca sequer sonhou em todos estes anos!...
Será que vão querer continuar a ser um mero espectador do jogo? A avaliar pelo
fracasso que impuseram à cimeira do clima, parece-me bem que não!... Américo Silva: Obrigado pela crónica. Coisa maravilhosa de se ver é o
apoio dado à batalha da Ucrânia pelos pobres, um assunto com o qual apenas
menos do que os 4% mais ricos e poderosos vão lucrar. Faz-me lembrar a batalha
de Alcácer-Quibir, onde os mouros venceram mas ninguém lucrou, morreram
três reis e Portugal sofreu por motivo que não lhe respeitava. Assim, se desde a WW II os USA querem vencer e ocupar
a Rússia, a Portugal importa manter a paz. Compreende-se que Boris Johnson
queira apagar erros passados, e Biden ultrapassar dúvidas de legitimidade, mas
líderes da UE quererem a guerra e bloquearem os caminhos da paz já parece
insensato, e nunca se sabe qual é o fim. Se valeu a pena ajudar a Alemanha e a
Rússia uma contra a outra na grande guerra acabando por dominar a Europa
ocidental, com armas nucleares a parada é incerta, e a Ucrânia parece ser o
idiota útil.
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