domingo, 13 de março de 2022

A História de hoje


Na sequência da de ontem. Admirável síntese de Jaime Nogueira Pinto, expectante – como todos, mesmo os que não conhecem a História – em relação à História de amanhã, de dados já lançados. Um bravo! também a alguns comentadores conhecedores das malhas históricas, e acrescentando outros dados …

Uma nova ordem internacional?

Mesmo partindo do princípio de que se evitará o pior, a chamada ordem internacional liberal sairá desta guerra seriamente abalada.

JAIME NOGUEIRA PINTO

OBSERVADOR, 12 mar 2022,

Este é um tempo bem negro, um tempo de trevas em que os anjos da guerra parecem ter soprado as trombetas, libertando cavaleiros e demónios. Embora na clássica confusão das batalhas a escalada possa não nos parecer apocalíptica, o perder de face de uns, o desespero de outros, o descontrolo das consequências, a histeria das massas, a ausência de lideranças lúcidas e firmes podem trazer grandes e trágicas surpresas, alargando a outras geografias os horrores da guerra e das suas vítimas directas e colaterais.

Seja como for, e mesmo partindo do princípio de que se evitará o pior, a chamada ordem internacional liberal sairá seriamente abalada deste conflito. E, depois de um interregno, terá de surgir uma nova ordem, talvez poliárquica ou dividida em blocos. Será uma nova Guerra Fria? Acabarão por bipolarizar-se os blocos? E, se sim, com que alinhamento e em nome de quê?

A História e a reflexão sobre a História não são agora muito populares. O presente tende a entender-se através das fórmulas simplistas das ideologias de serviço e das teorias da conspiração e qualquer reflexão independente corre o risco de se transformar em perigosa heresia. No entanto, como no diálogo entre Abraão e Jeová para poupar Sodoma e Gomorra, podemos sempre ir contando e descontando uns justos, mesmo poucos, que vão mantendo a lucidez no meio da histeria e da confusão.

Por que ganhou o Estado-Nação?

Foi em 1975 que Charles Tilly editou a colectânea de ensaios The Formation of National States in Western Europe. Pesando as razões que tinham levado ao triunfo do “Estado nacional” como forma dominante de comunidade política, Tilly não teve dúvidas em destacar “a preparação para a guerra”.

Depois da especulação político-filosófica de Hegel e da interpretação economicista do Estado como instrumento do domínio classista de Marx, a reflexão histórica e sociológica sobre a construção do Estado tinha sido desenvolvida por pensadores alemães da transição do século XIX para o século XX. Foi o caso de Max Weber e Otto Hintze, que estudaram as relações entre o esforço de guerra, a centralização da fiscalidade e a criação das burocracias administrativas permanentes; e também a relação entre a extensão territorial e o modelo político adoptado.

Weber, cuja obra teórica está marcada pelas tensões entre liberalismo e nacionalismo, em difícil equilíbrio no seu pensamento, não deixou de confrontar directamente Marx na sua Wirtschaftsgeschichte (História Económica Geral), contrapondo “meios de produção” e “meios de destruição”, a “empresa capitalista” e o “Estado territorial: o monopólio ou a centralização dos “meios de destruição” e da organização da violência, em contraste com a sua dispersão por vários senhores da guerra, era, para Weber, tão ou mais importante para a história social do que a monopolização ou centralização dos “meios de produção” numa empresa capitalista.

A guerra, o Estado e a reconfiguração da ordem internacional

War made the State and the State made war” é a famosa frase de Tilly.

Assim também as grandes recomposições na ordem entre os Estados, na ordem mundial ou internacional, têm vindo a ser fixadas pelas grandes conflagrações. Foi o que aconteceu na História moderna da Europa com a Guerra dos Trinta Anos, com as guerras da Revolução e do Império, com a Grande Guerra de 14-18, com a Segunda Guerra Mundial e com a Guerra Fria de 1948-1991.

Irá a guerra Rússia-Ucrânia e o decorrente conflito alargado fundar uma nova ordem, pondo termo à ordem internacional liberal que se seguiu à Guerra Fria com a vitória do Ocidente? E será a guerra quente possível entre Estados com armas de destruição maciça, ou ainda há uma dissuasão implícita que limita a guerra, obrigando-a a ser fria?

A Guerra dos Trinta Anos foi o epílogo das guerras religiosas na Europa. Desde que a cisão causada por Lutero opôs católicos a protestantes que as alianças e a definição do amigo e do inimigo passavam pela crença. A França de Richelieu quebrou esta regra quando se aliou aos protestantes contra os Habsburgo, sendo pioneira de uma razão de Estado nacional que se sobrepunha às identidades e solidariedades religiosas.

O século e meio passado entre os tratados de Westfalia e a Revolução Francesa é marcado por conflitos dinásticos e territoriais, como a Guerra da Sucessão de Espanha e a Guerra dos Sete Anos. No mesmo período, surgem novos poderes na Europa, a Rússia de Pedro, o Grande, e a Prússia de Frederico II, que se afirmam e criam ou consolidam o Estado através de guerras vitoriosas. Ao mesmo tempo há uma forte rivalidade franco-inglesa na Europa e nas áreas de expansão imperial, das Américas à Índia.

Nas vésperas da Revolução Francesa existem na Europa cinco poderes principais: a França, o Reino Unido, a Prússia, a Áustria e a Rússia. A Revolução e a aliança das potências monárquicas para apagar os fogos subversivos de Paris, consumados com a execução do Rei, vão marcar e definir blocos ideológicos, numa bipolarização que vai perdurar, com mobilidade de alianças, ao longo do Império napoleónico. Com a derrota e o exílio do Imperador e o triunfo dos Aliados, o que se segue, ideologicamente, é uma oposição entre as potências conservadoras da Santa Aliança – Rússia, Áustria e Prússia e a França dos Bourbon, até 1830e as monarquias liberais.

O século XIX volta às guerras nacionais e territoriais. O surto liberal e emancipalista da “primavera das nações” de 1848-49 é dominado pelos impérios do Leste e as guerras seguintes são as guerras da unidade ou da conquista da estatalidade de duas nações antigasa Itália e a Alemanha. Não há blocos, há alianças que, entretanto, no final do século, cristalizam na Entente franco-britânica aliada à autocracia russa, contra os Impérios Centrais, aliados à Itália (que, já em pleno conflito, vai mudar de bordo).

A Grande Guerra foi ainda uma guerra clássica, de interesses nacionais, embora do lado da Entente houvesse a tentativa de fazer dela uma guerra ideológica das nações liberais contra os “Impérios autoritários” alemão, austríaco e otomano; uma bipolarização cuja lógica era comprometida já que os liberais tinham, do seu lado, a autocracia russa. Em Fevereiro de 1917 veio o colapso do regime czarista depois das derrotas militares, com dezenas de milhares de soldados vencidos e desgarrados em S. Petersburgo a não quererem voltar para o “matadouro” da frente.

Foram eles a massa de manobra da Revolução Russa, primeiro democrática, depois bolchevique. Também em 1917, a intervenção americana reforçaria o carácter ideológico da guerra e, sobretudo, da paz. O Presidente Wilson introduziria definitivamente na História moderna a ideia de que havia “países maus” que gostavam da guerra e não apreciavam a democracia e que deviam pagar por isso: a Alemanha do Kaiser era assim e devia ser punida.

E foi sobretudo graças ao esforço francês, um esforço não ideológico, centrado na reparação e compensação da derrota de 1870-71, que a paz punitiva de Versalhes consagrou a humilhação e miséria da Alemanha. Hitler surgiu daí, eleito nas urnas como salvador.

A Guerra Civil de Espanha foi já uma guerra ideológica entre uma aliança de conservadores autoritários, nacionalistas revolucionários e fascistas e uma Frente Popular de republicanos, socialistas, anarquistas e comunistas. As ajudas externas vieram de “voluntários” alemães e italianos e de “internacionalistas” de várias origens.

A Segunda Guerra Mundial começará por ser uma guerra clássica, não ideológica, com o governo conservador da Polónia a ser atacado e vencido por uma aliança espúria: a dos nacionais-socialistas alemães com os comunistas soviéticos.

Entretanto, a partir da invasão da URSS, em Junho de 1941, a guerra clássica, travada por razões de território e reivindicações nacionais da Alemanha, transformava-se em guerra ideológica contra o comunismo e os judeus, fenómeno que se estenderia, mais tarde, aos países ocupados pelo Terceiro Reich. O mesmo aconteceria em Itália, a partir de 1943, com a luta na República Social Italiana entre fascistas e antifascistas. A marginalização do Direito da Guerra, o apelo à formação de “legiões” de voluntários estrangeiros, como as Waffen SS, foram sinais desse carácter ideológico.

Da Segunda Guerra Mundial resultaria o fim do mundo eurocêntrico, quer pelas destruições sofridas pelas potências europeias vencidas e vencedoras – Alemanha, Itália, Grã-Bretanha, França – quer pela consagração, pela Carta das Nações Unidas, de uma Nova Ordem Mundial que implicava o fim dos impérios coloniais europeus. Em contrapartida, emergiram como grandes e únicas superpotências a União Soviética – com o desígnio de estender o comunismo a todo o mundo – e os Estados Unidos da América, que decidiram enfrentar a ameaça de comunização do globo fazendo a contenção da URSS, segundo o guião traçado por George Kennan.

Nascia assim um mundo bipolar onde, por causa das armas nucleares, a guerra passava a ser tabu entre os dois poderes. A Europa estava partida entre zonas de influência e o Kremlin usava os partidos comunistas na sua política exterior e na propaganda.

O conflito acabou com a vitória americana e ocidental por meios de estratégia indirecta que contribuíram para a autodestruição e rendição do regime e do império soviético no tempo de Gorbachev.

Tal como a Contenção de Kennan tinha marcado o começo da Guerra Fria, estruturando a ordem internacional, também Francis Fukuyama, em The End of History and the Last Man, um ensaio sobre a irreversibilidade da expansão do modelo anglo-saxónico de democracia liberal e capitalista, se proporia escrever a bíblia dos novos tempos ou da nova ordem internacional pós-Guerra Fria.

Depois do Fim da História

A Guerra Fria e a sua ordem bipolar, criada e sustentada num modo de fazer a guerra que tornava a guerra total indesejável, ou até impensável porque suicida, acabou nesses anos de 1989-1991.

Seguiu-se um tempo tendencialmente unipolar, de hegemonia norte-americana, com a expansão da ordem liberal democrática. A expansão deste “modelo único” gerou também contestação e uma progressiva multipolaridade – com o despertar e consolidar da China, um regime para-totalitário de Partido Único, e a ofensiva do macro terrorismo jiadista contra a América e o Ocidente, que levou às campanhas mal terminadas do Iraque e do Afeganistão e à afirmação progressiva de poderes regionais: a Rússia, na Eurásia, a Turquia, no Sueste da Europa, a Índia, no subcontinente asiático, o Brasil, na América do Sul.

Estes trinta anos de ordem internacional liberal acabaram no dia 25 de Fevereiro, quando as unidades militares russas invadiram a Ucrânia. O equilíbrio era já instável, com uma série de grandes Estados – a China, a Índia, a Rússia, o Paquistão, a Turquia e a Arábia Saudita – e parte significativa dos Estados africanos e do Médio Oriente a resistirem, de vários modos, à integração no modelo; e outros, bem no coração do Ocidente, como a Polónia e a Hungria, pressionados, discriminados e acusados de “iliberalismo” por várias instituições ocidentais, como o Parlamento Europeu e uma Administração americana refém das causas fracturantes da ala esquerda do Partido Democrático.

Desta vez, a guerra cultural e a guerra político-económica vão levar a uma oposição prolongada e tudo aponta para o regresso dos blocos. Dois Estados poderosos, a Rússia e a China, cerram fileiras e estreitam relações. E a avaliar pela lista de abstenções na votação nas Nações Unidas, uma série de outros Estados importantes vão segui-los.

Para todos eles, globalização económica não significa globalização política: o capitalismo de direcção central chinês, a monarquia religiosa saudita, o nacionalismo da Índia de Modi não parecem muito dispostos, quer a aceitar o modelo democrático liberal como sistema político interno, quer a aplicar sanções à Rússia ou a cortar relações económicas que sejam do seu interesse nacional. E na Europa também há resistências ao federalismo de Bruxelas.

Tudo isto augura e fundamenta uma reorganização da ordem internacional, depois de três décadas da ordem que se seguiu à Guerra Fria. Os alinhamentos parecem, para já, desenhar-se com um hemisfério ocidental, euro-americano, englobando os países da NATO e da EU, contra um eixo Moscovo-Pequim e seus aliados e dependentes mais próximos. No lugar dos antigos “não-alinhados” ficará talvez uma frente de geometria variável que vá adaptando os seus interesses nacionais às linhas de força e às pressões dos núcleos duros dos dois campos.

Entrámos num interregno cheio de incógnitas e perigos. A forma como vamos sair dele, a criação de uma nova ordem de paz e segurança, vai depender do realismo e da verdade com que os dirigentes políticos pesarem as forças em presença e agirem perante elas.

Os dados já estão lançados.

GUERRA NA UCRÂNIA   UCRÂNIA   EUROPA   MUNDO   RELAÇÕES INTERNACIONAIS   POLÍTICA

COMENTÁRIOS

 Antonio Mendes: Artigo um pouco denso. A meu ver peca por ignorar que a luta continua a ser entre o ocidente (incluindo Japão, Austrália e Nz/Kor) e os ex-comunistas agora transformados em capitalismo de estado de inspiração semelhante à do fascismo/nazismo. Este modelo continua a ver a concorrência como uma actividade de predadores algo que o capitalismo de mercado refuta. Nessa perspectiva é intrinsecamente violento apesar do equilíbrio incerto do terror nuclear. O estado-nação é cada vez mais uma aberração, mas o ocidente precisa de manter a sua superioridade militar e não apenas económica enquanto os predadores não se civilizarem e aceitarem a proposição de Keynes de que mais vale o ser humano  oprimir a sua carteira do que os seus concidadãos.              Ahmed Gany: A heresia de Wilson foi um erro crasso que o Ocidente ainda está a pagar.            Tiro Liro: O melhor do Observador.            Maria Madeira: Mais um excelente texto de J.N,Pinto.            josé maria: Jaime Nogueira Pinto, veja os factos: 1 - Rússia Unida, partido de direita liberal, cuja adesão foi pedida na Internacional Democrata Centrista, cuja designação substitui a Internacional dos Partidos Populares e Democratas-Cristãos. Foi fundada em 1961 em Santiago, Chile como a União Mundial Democrata Cristã, com base no legado de outras internacionais democratas cristãs; 2 - Putin, cristão ortodoxo, líder do Rússia Unida; 3 - Putin, chefe de estado de um regime presidencialista, que tem vindo a aplicar na Rússia politicas económicas liberais, como a taxa única de IRS, de 13% e redução substancial das taxas de IRC; 4 - Putin, político execrável, mancomunado com os oligarcas russos e grupos nazis, como o Wagner, sua tropa privada; 5 - Putin, praticando na Rússia os mesmos princípios económicos do Milton Fiedman e dos Chicago Boys; 6 - Putin, o Pinochet genocida e russo em acção. Algo a comentar, Jaime Nogueira       Liberales Semper Erexitque: Os dados estão lançados há muito e são bem conhecidos: "Le nationalisme c'est la guerre!" Robert Schuman. Pontifex Maximus: JNP esqueceu-se de África, o que é algo impossível de acontecer quando se pensa no futuro que aí vem. Uma Europa pobre em matérias primas sem acesso à Sibéria, deixada de borla aos chineses, a África será, de novo, absolutamente fundamental para a Europa, agora não colonial mas liberal, o que quer se queira quer não é é algo perigoso naquele continente. Isto quando a América Latina, por natureza visceralmente ileberal, está expectante mas as notícias de que a China açambarcou os cereais argentinos da próxima colheita e possibilidade de Bolsonar ganhar ao Lula no Brasil poderá ditar o fim da civilização ocidental. De que são herdeiros e a prazo se arrependerão da sua traição cultural.          Liberales Semper Erexitque > Pontifex Maximus: E viva a liberdade de expressão!          Vou ali e já volto: Jaime Nogueira Pinto a superar-se no seu melhor. As democracias liberais tiveram a autocracia russa como aliada tanto na 1.ª quanto na 2.ª Guerra. Todavia, já ao final desta última, o General Patton quis seguir com os seus tanques até Moscovo para derrubar também este “Império autoritário”. Este general já então tinha razão, mas na altura o esforço económico necessário iria exaurir as populações entretanto sobrecarregadas para derrotar a Alemanha, pelo que não havia condições. Todavia, parafraseando o presidente Marcelo, “há que manter pressão na mola!”. De qualquer forma, iremos todos viver pior. Para mim, não há dúvidas a quem assacar responsabilidades: não serão a Henry Kissinger ou Richard Nixon, por incluírem a China da economia mundial, nem a Gerhard Schröder ou Angela Merkel, por incluírem a Rússia na economia europeia. Quero crer que estes e todos os demais devem já estar a fazer contas, acabando também por concluir a quem assacar responsabilidades.           Ping PongYang > Vou ali e já volto: Patton, inepto que só se tornou uma "celebridade" graças a um filme romanceado e MacArthur, um incompetente com aspirações napoleónicas, são duas das criaturas mais incapazes que West Point já produziu. "Seria difícil conseguir fazer-se menos, tendo tantos meios à disposição" Gen. Walton Walker sobre MacArthur na Coreia            Liberales Semper Erexitque > Ping PongYang: Essa memória não será algo selectiva? MacArthur foi quem esteve na baía de Tóquio a assinar a rendição do Japão, ou estou enganado? Já Patton esteve em difíceis batalhas contra a Wehrmacht logo desde o norte de África, e foi até quem apanhou com a contra-ofensiva final alemã nas Ardenas. Não sou especialista em assuntos militares, mas se esses foram maus generais, quem serão os bons?          Ping PongYang > Liberales Semper Erexitque: "Gostos não se discutem". Bons exemplos não faltam: Omar Bradley, George Marshall (Marshall Plan), Ridgway, Gavin, um desconhecido que escreveu quase sozinho, desde a doutrina OTAN à criação dos manuais FM em uso até aos dias de hoje...           Ping PongYang > Liberales Semper Erexitque: A realidade gosta pouco de romances. Jackie Fisher: Almirante Britânico que definiu praticamente todas as classes de vasos de guerra modernos, tendo para isso que "pôr na ordemum imbecil chamado W Churchill. Hyman Rickover: O Almirante sem farda responsável pelo actual ascendente da US Navy contra TUDO e TODOS.           Ping PongYang > Liberales Semper Erexitque: Jackie Fisher: Que "desenhou" as Marinhas modernas ( desde a alimentação aos requisitos das máquinas ) mesmo tendo que "pôr na linha" um imbecil metediço chamado W Churchill.         Liberales Semper Erexitque > Ping PongYang: Caro Ping, começo a perceber que é um especialista em assuntos militares, e não apenas em vacinas militares! Vou aproveitar para lhe perguntar como vê a guerra na Ucrânia de um ponto de vista estritamente militar. Apenas com armas convencionais, pensa que a derrota dos ucranianos é certa? E parece-lhe que aquilo terá uma resolução militar rápida, ou que vai ser mais um atoleiro para russos?           Vou ali e já volto > Ping PongYang: Entre os bons exemplos existem os melhores, dentre os quais citaria Erwin Rommel. Se a Rússia tiver neste momento algo desta craveira, as preocupações de JNP revelar-se-ão despropositadas, apesar de capítulos a não esquecer. No quadro nacional, citaria António de Spínola. As (in)competências de Patton são conhecidas, e relevam para o Princípio de Peter: mesmo os bons cometem asneiras quando as suas aspirações não correspondem àquelas. Todavia, tal não exclui a competência anterior caso as consequências da incompetência sejam dirimíveis. Na minha modesta opinião, este não é o caso de Putin, cuja incompetência se eleva às do Führer: ambos tiveram a hipótese de entrar para o Walhala e a História, dela saem pelos piores motivos. O Patton, perante estes, é competente. Ainda bem que nunca entrou na política! Antes pelo contrário: Esta guerra é o produto da "ordem internacional liberal", transformada numa nova forma de fascismo!!!          Liberales Semper Erexitque > Antes pelo contrário: Palavra de fascista. Sem aspas.        Álvaro Aragão Athayde: Continua a não alinhar na histeria colectiva, o que é bom. Continua a não recuar à Crise do Terceiro Século, a Diocleciano, a Teodósio I, à Expansão Omíada, à Expansão Viking/Varangiana, ao Grande Cisma, à Guerra da Crimeia, ao Projecto Imperial de Halford John Mackinder, retomado por Zbigniew Kazimierz Brzeziński, o que é mau. Quanto à Hegemonia Liberal está morta e quase enterrada, John Joseph Mearsheimer explica porquê.            Liberales Semper Erexitque > Álvaro Aragão Athayde: Nunca existiu uma "hegemonia liberal", o melhor que se conseguiu no tempo das nossas vidas foi Margaret Thatcher. Nunca mais ninguém esteve à altura dela. E o socialismo foi tomando tudo o que pôde, escondendo o seu nome.       Acg: Nada melhor, em manhã de sábado chuvoso - o que é bom, em contraciclo de uma seca muito áspera - ler e rever a História, é sempre um prazer ler JNP, chamando a nossa atenção para o que se passa e por que se passa.               Tone da Eira: Acho estas análises muito intelectualizadas e que não ajudam a compreender o que se passa na tomada de decisão de líderes e países. Tenho a impressão que os autores que são importantes para o pensamento de JNP (os filósofos, Fukuyama) serão notas de rodapé nos pensamentos político/económico/militar de quem decide. Um exemplo, será que na família real saudita alguém deu/dá alguma importância ao que Fukuyama escreve? E podemos perguntar, será que a família perdeu alguma coisa ao não ter dado importância?              João Correia > Tone da Eira: A família real saudita estudou nas melhores escolas e universidades (anglo-saxónicas), não no ISCTE. É natural que tenham lido Fukuyama.          Cisca Impllit: Não são as vitórias, antes os despojos que nos revelarão os quadros mentais de um hipotético período de paz seguinte.            PortugueseMan: ...E será a guerra quente possível entre Estados com armas de destruição maciça, ou ainda há uma dissuasão implícita que limita a guerra, obrigando-a a ser fria?... Está a pensar bem. Na minha opinião, e é sempre importante salientar que é a minha opinião, chegámos a uma era onde efectivamente caiu o tabu sobre a utilização de armas maciças. Infelizmente. Tivemos bastantes sinais do que aí vinha mas optámos por ignorá-los a todos. Eu estive mais de um ano a escrever nos artigos do José Milhazes que vinha aí algo grande. Posso apontar alguns sinais do que foram aparecendo, mas antes gostaria de salientar o que considero peça chave para o que vem aí. Putin. Putin está a caminho dos 70 anos. Lavrov a caminho dos 72 e Shoigu a caminho do 67. Lavrov está no topo a nível da diplomacia e Shoigu parece-me que é altamente respeitado nas esferas militares e não só na Rússia. Lavrov é a ponta de lança e quando a diplomacia falhar, "A guerra é a continuação da política por outros meios", estando Shoigu a desempenhar esse papel. Putin, a meu ver, é alguém extremamente dedicado à pátria, com um forte sentido de dever. E está rodeado de pessoas como ele. Penso que concordará comigo que com a idade, passamos a ver por outras perspectivas e a noção de que todos nascemos com um cronómetro em contagem decrescente torna-se mais premente à medida que o tempo passa. Putin não quer passar para o seu futuro sucessor e para as futuras gerações o peso e a responsabilidade de terem que tomar decisões difíceis para uma possível luta pela sobrevivência. Putin chamou a si a responsabilidade de acabar com o problema de segurança que a NATO representa para a Rússia, perfeitamente consciente de todas as consequências possíveis para tal decisão. Incluindo nucleares    João Ramos: Actualmente as dúvidas são enormes e muito perigosas, e a falta de dirigentes com capacidade para as saber enfrentar também é dramática, esta é que é a realidade!!!       Carlos Grosso: Putin não tem como parar. Já perdeu a face. Perdidamente, os dados apontam para a III WW. Saber e conhecer a História como JNP é fantástico, mas nunca será suficiente para evitar períodos caóticos como o que se está a iniciar. Não consigo agarrar as ilusões de um final não descontrolado, a menos que, entretanto, se encontre o final de Putin.          Cisca Impllit > Carlos Grosso: Sim, o juízo está perdido            PortugueseMan: ...Estes trinta anos de ordem internacional liberal acabaram no dia 25 de Fevereiro, quando as unidades militares russas invadiram a Ucrânia... Penso que o correcto seria indicar 24 de Fevereiro. ...Dois Estados poderosos, a Rússia e a China, cerram fileiras e estreitam relações. E a avaliar pela lista de abstenções na votação nas Nações Unidas, uma série de outros Estados importantes vão segui-los... Reparou. Essa votação foi muito interessante. Quantidade não é sinónimo de qualidade e parece estar tudo a olhar para a quantidade. ...Os dados já estão lançados. Os dados estão lançados. Sim. É exactamente isto. Este seu artigo diria que já é um pouco mais negro e se olharmos para trás, estão aqui todos os ingredientes para uma situação catastrófica para todos nós. Para contexto, considero que a situação actual é semelhante à crise dos mísseis de Cuba com uma agravante. Na altura os navios soviéticos não cruzaram a linha vermelha, o pior foi evitado. Por meio de negociações. Cuba não tinha mísseis, a Turquia também não. Agora temos os mísseis da Polónia. As negociações falharam e a linha vermelha foi ultrapassada. Na altura da situação dos mísseis de Cuba, o que seria expectável caso os navios sovíeticos tivessem ultrapassada a linha desenhada pelos americanos? Todos sabiam. O que nós fomos fazer agora? O que nós fomos fazer?          bento guerra: Uma ordem sino-americana,com apêncices de cada lado, a Rússia e a Europa.               Pensamento Positivo > bento guerra: ...E talvez com um 3º "não alinhado" que pode vir a ser importante: A Índia!... E que não se pense que são um actor menor. A Índia já "tem" entre 60% a 80% dos médios e altos quadros das grandes tecnológicas Americanas, por exemplo; algo com que a China nunca sequer sonhou em todos estes anos!... Será que vão querer continuar a ser um mero espectador do jogo? A avaliar pelo fracasso que impuseram à cimeira do clima, parece-me bem que não!...           Américo Silva: Obrigado pela crónica. Coisa maravilhosa de se ver é o apoio dado à batalha da Ucrânia pelos pobres, um assunto com o qual apenas menos do que os 4% mais ricos e poderosos vão lucrar. Faz-me lembrar a batalha de Alcácer-Quibir, onde os mouros venceram mas ninguém lucrou, morreram três reis e Portugal sofreu por motivo que não lhe respeitava. Assim, se desde a WW II os USA querem vencer e ocupar a Rússia, a Portugal importa manter a paz. Compreende-se que Boris Johnson queira apagar erros passados, e Biden ultrapassar dúvidas de legitimidade, mas líderes da UE quererem a guerra e bloquearem os caminhos da paz já parece insensato, e nunca se sabe qual é o fim. Se valeu a pena ajudar a Alemanha e a Rússia uma contra a outra na grande guerra acabando por dominar a Europa ocidental, com armas nucleares a parada é incerta, e a Ucrânia parece ser o idiota útil.

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