Para a escalada final. E o colaboracionismo desatento do Ocidente, egoísta ou cínico, jogando no interesse próprio. Uma boa síntese de Alexandre Homem Cristo, e a reaccções de alguns dentre a centena de comentadores, no cansaço da armadilha em que foi apanhado o mundo inteiro.
Os cúmplices de Putin
Extrema-esquerda e extrema-direita?
Sim, mas convém também incluir os líderes europeus que ignoraram os riscos de
uma dependência económica e energética com uma autocracia com ambições
imperialistas.
ALEXANDRE HOMEM CRISTO
OBSERVADOR, 03 mar 2022, 00:20116
Em 2008, a Rússia iniciou um conflito
com a Geórgia, para o controlo das regiões da Ossétia do Sul e Abecásia. Em 2014, Putin anexou a Crimeia ao território da
Federação Russa, apropriando-se da região ucraniana como se esta lhe pertencesse. No mesmo ano, apoiando forças separatistas, Moscovo
conseguiu que as regiões de Donetsk e Lugansk se declarassem independentes da
Ucrânia, sob protecção militar de Putin. Desde
2019, a Rússia tem emitido milhares de passaportes russos para as populações
dessas regiões, enraizando a sua influência e justificando a sua acção militar
com a protecção desses cidadãos russos. Entretanto, enquanto a ambição
expansionista do regime russo era evidente, tornara-se indisfarçável a natureza
corrupta do Kremlin, ligando militares, serviços secretos, oligarcas e
empresas-públicas a fluxos de milhões de dólares. Houve quem denunciasse,
mas Putin não enfrentou limites à impiedosa perseguição política dos seus
oponentes, tanto a nível interno como externo. Em 2006, Alexander Litvinenko, que fugira para
Londres para expor a corrupção de Putin, foi envenenado mortalmente em solo
britânico com uma substância radioactiva, por dois antigos
membros do KGB próximos de Putin. Em 2020, Alexei Navalny, empresário
que usou o seu acesso a informação de empresas-públicas russas para documentar
essa corrupção, foi vítima de atentado por envenenamento, tendo sobrevivido —
actualmente, está preso.
A
estratégia de Putin não assentou apenas em acções sobre territórios
fronteiriços e repressão política.
Durante todos estes anos, Putin
nunca perdeu de vista que a afirmação geopolítica do Kremlin dependeria do
enfraquecimento da UE. Por isso,
abraçou a China como seu parceiro privilegiado. Investiu em espionagem para monitorizar instituições e empresas
europeias. Abriu os
cofres ao financiamento de movimentos e partidos eurocépticos (à esquerda e à
direita), percebendo que quanto mais estes crescessem mais destabilizadas
ficariam as potências europeias. Tentou
interferir em campanhas eleitorais de outros países, ampliando a propaganda
anti-UE e colocando pelotões de hackers a disseminar desinformação pró-Moscovo.
E, assim, entre as elites políticas,
económicas e culturais, Putin
criou aliados no coração do Ocidente que, por adesão ideológica ou oportunismo,
se tornaram defensores de uma relação especial com a Rússia.
Com
altos e baixos nas tensões diplomáticas, nada disto realmente impressionou os
líderes políticos ocidentais, que preservaram a sua relação com a Rússia ou, em
alguns casos, até a aprofundaram. Em 2017, quando se sentou na cadeira de poder do
Élysée, Emmanuel Macron foi rápido a convidar Putin para encontros em
Versailles e, meses depois, na sua residência de Verão. O objectivo era redesenhar a relação com Moscovo,
manter um diálogo aberto e ultrapassar uma NATO “em morte cerebral”, para
desenvolver interesses estratégicos franceses: em 2018, Macron assumia que
França ambicionava ser o país com mais investimentos na Rússia. Enquanto
isso, na Alemanha, a tolerância para com o regime de Putin foi ainda maior,
sustentada na dependência do gás natural e nas lucrativas trocas comerciais,
que incluíram uma polémica venda de
equipamento militar para simulações de combate e treinos das tropas russas. Sem coincidência, Schröder,
antigo chanceler alemão que assinou a autorização para a construção do
gaseoduto Nord Stream 1, está hoje na administração da Gazprom — a empresa
estatal russa para o gás. Os
exemplos internacionais multiplicam-se e traduzem-se nos dados das exportações russas:
em 2019, 64% do gás natural foi para a UE, assim como 50% do crude e de
produtos petrolíferos. Esta interdependência foi, até agora, uma arma de Putin
contra o Ocidente.
Em 2022, com a invasão da Ucrânia, tudo
mudou. Os laços económicos romperam,
sanções mais duras aplicaram-se e a Rússia ficou isolada. A posição forte e
unânime da UE pode ser moderadamente animadora, mas ficou claro que surgiu
demasiado tarde e a um custo terrível para os ucranianos e o continente
europeu. Quando pensamos nos cúmplices de Putin, convém por isso não olhar
apenas para os partidos dos extremos — à esquerda, os que se agarram à
nostalgia do projecto soviético; à direita, os que admiram o nacionalismo e
agradecem os petrodólares que financiam os seus partidos. Nas contas de
cumplicidades, há que incluir os líderes das principais economias europeias,
que escolheram ignorar os riscos de uma interdependência económica e energética
com uma autocracia corrupta e com ambições imperialistas. Quem vende a alma ao
Diabo tende a esquecer-se como pode ser dolorosa a cobrança.
Tudo
isto conduz a duas lições. Primeira lição: os “valores europeus” são como os
unicórnios — podem ficar bonitos no papel e soar bem nos discursos, mas na
prática não se vislumbram. O facto é que, durante largos anos, a UE tem
tolerado as atrocidades de Putin em nome de vantagens económicas e políticas,
seguindo até estratégias de dependência energética que, no plano geopolítico,
fragilizaram a segurança dos cidadãos do continente. Segunda lição: entregar
sectores estratégicos a regimes autocráticos implica ficar à mercê das suas
estratégias de poder, que afectam preços, autonomia política e a segurança das
populações. E se esta segunda lição está hoje a ser vivida na pele pelos
alemães, dependentes dos russos para o gás natural e a mãos com o impacto das
sanções impostas à Rússia, talvez valha a pena pensar na encruzilhada em que se
meteram Portugal e Grécia, por exemplo, vendendo-se à China. Já que não
aprendemos estas lições antes, pode ser que agora fiquem assimiladas.
GUERRA NA UCRÂNIA UCRÂNIA EUROPA MUNDO UNIÃO EUROPEIA
COMENTÁRIOS:
Miguel Eanes. Os
cúmplices de Putin são todos aqueles que vão ganhar com esta guerra e a europa
não é de certeza.
Luís Abrantes: Cúmplices
fomos todos nós que quisemos ignorar as loucuras de Putin… já para não falar
dos agentes a soldo do KGB, que no sistema político português dão pelo nome de
pcp e bloco de esquerda… Julio
Carreira: Artigo
com nada de novo. Mais um breve historial das relações económicas entre o
Ocidente e a Rússia. João Alves: Como
tenho vindo a defender, o PS de António Costa, tendo em conta o seu
relacionamento político, institucional e pessoal íntimo, durante seis anos, com
PCP, partido que não desaprova o ataque militar da Rússia de Putin ao ocidente
democrático e liberal e à NATO, por interposta Ucrânia, não tem condições nem
credibilidade políticas para governar Portugal, país membro da NATO, durante a
actual conjuntura internacional. Nuno A: As 2 últimas frases são as que
nos interessa discutir. Corrigir agora, para não chorar daqui a pouco. Van Wanderer: Os
cúmplices de Putin são múltiplos, e como é apanágio desses, movem-se de ambos
os lados da barricada. Nesta estória sórdida não há inocentes. Português indignado: Os
sinais estavam lá todos... Fizeram de conta que não se passava nada... Agora
tem de lidar com o resultado desastroso e trágico. Dani Silva > Português
indignado: Concordo. Os sinais de que o regime de Putin é totalitário e não
olha a meios para atingir os seus fins estavam lá todos.
Dante Alighieri > Jorge AlmeidaO Jorge
tem razão, houve de facto críticos de Putin, mas não foi a eles que me dirigi.
Houve até muito boa gente que alertou para a excessiva dependência energética
da Europa em relação à Rússia e ao mesmo tempo quem especulasse que o que havia
afinal era uma pressão dos USA para impedir essa interligação económica da
Europa com a Rússia com o objectivo de vender os seus recursos naturais à
Europa. Enfim, há sempre várias perspectivas de analisar a mesma problemática.
Contudo, não foi isso que coloquei em questão. O que eu queria realçar era que
ninguém (ou quase) “avisou” para a possibilidade de Putin ter pretensões
territoriais de tal magnitude que o levasse a tomar decisões de invadir países
na sua orla fronteiriça desta magnitude e assim colocar em causa a segurança
mundial com capacidade de espoletar um conflito a nível global, a chamada
terceira guerra mundial. Isso, não me lembro ter sido denunciado por analista
algum, mas é possível, admito, que possa ter existido. Jorge Almeida > Dante Alighieri Houve
poucos, mas houve. Assim de repente e da nossa praça lembro-me por exemplo do
José Milhazes.
Paulo Silva > Jorge Almeida: Caro
Jorge Almeida, permita-me a intromissão. Há sempre críticos para tudo e em todo
o lado, mas neste caso a diferença de visibilidade entre esses e os
complacentes com Putin foi abissal. Estou inclusive a lembrar-me do malogrado
Prof. Olavo de Carvalho que alertou para o perigo dos ideólogos que estão por
trás de Putin, como o Prof. Aleksandr Dugin. Esse filósofo escreveu um livro
chamado “A Grande Guerra dos Continentes”, onde, segundo o Prof. Olavo, defende
o varrimento do Ocidente da face da terra com uma terceira guerra mundial. No
entanto apesar destas denúncias os inimigos de Olavo, que estão na CS dominada
pelo politicamente correcto e pela esquerda radical, (Olavo era um pensador da
direita conservadora, anti-comunista assumido), continuaram a colar soezmente o
Prof. Olavo de Carvalho ao saudosista imperialista Vladimir Putin. Assim se
calam os críticos... David Pinheiro > José Santos: Putin é um menino de coro ao pé do Comité Central chinês. Calham
a escolher um presidente com tendência militar e logo veremos do que a China é
capaz.
Paulo Silva: Caro
cronista, e quem são os cúmplices do PCP e do BE?... As lideranças europeias
ainda podem justificar a sua falta de visão para com regimes pouco
recomendáveis com os vários interesses dos seus Estados, (e na esperança que a
economia de mercado alavancasse a democratização desses regimes). Mas qual foi
o interesse em normalizar estalinistas e trotskistas em Portugal?… Podem alegar
que julgavam com isso amansá-los, mas o resultado está à vista. Os partidos da dita direita tradicional em Portugal foram alvo das
campanhas mais ignóbeis a seguir ao 25 do A, que os apontavam de reaccionários
para baixo, com repercussões permanentes na sua identidade futura, como está à vista
de todos. Hoje procuram fazer o mesmo tipo de jogo sujo com outras formações
políticas, sem qualquer pudor e com a participação de todos, mas as duas
organizações da extrema-esquerda acima gozaram sempre de protecção e
respeitabilidade das instituições democráticas durante décadas. Foi preciso uma
guerra?!... PS: uma ideia peregrina que ingénuos e inimigos do Ocidente gostam
de propalar é a inutilidade da NATO após a extinção do Pacto de Varsóvia. Uma
dupla falácia. Nuno de Sousa: Depois do incumprimento dos acordos de Minsk por parte da Ucrânia
(secundada pela Nato, certamente) era de esperar uma reacção da Rússia. Fingir
que esta reacção é "ambições imperialistas" é convidar à alucinação.
Apontar este facto nos dias que correm é ser de extrema-qualquer-coisa e
cúmplice de Putin. Continuem a apelar à irrealidade, inevitavelmente a
realidade não se vai deixar ignorar. Uma população europeia ensandecida por
dois anos de delírio sob pretexto sanitário está pronta para a psicose que será
o seu fim. Continuem a brincar aos "Ocidentes". Paulo Silva > Nuno de Sousa: Memorando de Budapeste, o que é?… Putin, à semelhança de outros
autocratas russos do passado, nunca escondeu os seus intentos em relação à
Ucrânia, e considerou a queda da defunta URSS como a maior catástrofe
geopolítica do séc. XX. Continue a mastigar a propaganda do imperialismo russo. Maior
cego o que não quer ver.
João Pimenta Nuno de Sousa: E a anexação da Crimeia e do
donbass, assim como as mordidas à geórgia, também foram por causa dos acordos
de Minsk? A tal alucinação dos últimos dois anos só aconteceu na Europa? É cada
um...
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