Apenas para localizar - à vol d’oiseau - as questões postas por José Milhazes e seus comentadores:
Bielorrússia
Frontispício,
na Internet, (sem mapa nem bandeira):
País
na Europa
Descrição
Belarus,
país do Leste Europeu sem saída para o mar, é uma nação conhecida por sua
arquitectura stalinista, pelas grandes fortificações e pelas florestas
primordiais. Na capital moderna, Minsk, a monumental sede da KGB se
destaca na Praça da Independência, enquanto o Museu da Grande Guerra Patriótica
relembra a participação do país na Segunda Guerra Mundial. A capital abriga
também muitas igrejas, como a dos Santos Simão e Helena, de estilo neo-românico.
Presidente:
Aleksandr
Lukashenko Tendência
População:
9,485 milhões
(2018) Banco
Mundial
Moeda:
rublo
bielorrusso
Línguas
oficiais: Língua
bielorrussa, Língua russa
Será que o ditador Lukachenko conseguirá o seu sexto
mandato? /premium
Lukachenko tem conseguido sobreviver
politicamente graças à demagogia social interna e à “ginástica” entre a Rússia
e o Ocidente, mas o povo está cada vez mais cansado de viver num país
estagnado.
JOSÉ MILHAZES
OBSERVADOR25 25 jul 2020
Os
milhares de milhões de euros da União Europa, a contratação de Jorge Jesus pelo
Benfica e os saltos televisivos de “Cristina Ferreira” são temas bem mais
“relevantes” do que a existência de uma longa ditadura de 25 anos na
Bielorrússia que se poderá prolongar, no mínimo, por ainda mais quatro anos.
Todavia,
arrisco-me a chamar a atenção para as eleições presidenciais marcadas para 9 de
Agosto pelo ditador bielorrusso Alexandre Lukachenko. Isto porque, entre outras
razões, a Bielorrússia se situa no coração do continente
europeu, entre a Rússia e a União Europeia, e tem uma importância geostratégica
semelhante à da Ucrânia. Além do mais, é um importante corredor de ligação
comercial entre a UE e Moscovo.
Alexandre Lukachenko aposta
tudo na conquista do seu sexto mandato consecutivo, não olhando a meios para
vencer. Não nos devemos esquecer que estamos perante um político que não
esconde a sua simpatia por ditadores como Adolfo Hitler, Vladimir Lenine ou
José Estaline.
Numa
entrevista ao jornal de negócios alemão “Handelsblatt” de 23 de Novembro de
1996, ele declarou: “Acredite, a história da Alemanha é, em certa medida,
uma cópia da história da Bielorrússia em determinadas etapas. A dada altura, a
Alemanha foi levantada das ruínas graças a um poder muito duro imposto por
Adolfo Hitler… A ordem alemã formou-se durante séculos, com Hitler essa
formação atingiu o ponto mais alto. É isso que corresponde à nossa compreensão
de república presidencial e do papel do presidente nela. Hitler criou uma
poderosa Alemanha graças a um poder presidencial forte… A Alemanha levantou-se
graças ao facto de toda a nação se ter consolidado e unido em torno de um líder
forte”.
Em
relação aos dirigentes soviéticos, a sua opinião é a seguinte: “Claro que eu
tenho uma opinião um tanto ou quanto diferente da sociedade russa quanto a
Estaline e Lenine… Foram nossos dirigentes. Lenine criou o Estado, Estaline
reforçou-o”.
Nas
eleições anteriores ele vencia não só devido à repressão da oposição e à
falsificação dos votos, mas também graças a uma política de aparente
estabilidade e de demagogia social, em parte financiada pelos negócios com o
petróleo e gás russos.
Muitos
dos eleitores que apoiavam a economia socialista e paternalista do dirigente
bielorrusso esperavam que o “batka” (“paizinho”) repetisse no país uma “modernização
autoritária” como as
que ocorreram em países como Singapura ou a Coreia do Sul.
No
entanto, o país continua a ver-se perante graves desafios. A Bielorrússia
enfrenta a mais grave crise económica dos últimos 25 anos e as organizações
internacionais prevêem que, durante este ano, a queda do PIB seja de 4-5%.
Isto
não se deve apenas à Covid-19, pois Lukachenko olhou sempre para a pandemia no
seu país como Bolsonaro no Brasil ou Trump nos Estados Unidos, mas também às discussões
com a Rússia sobre o preço do petróleo russo importado e ao facto de, nos
últimos dez anos, a economia bielorrussa não conhecer crescimento.
Além
do mais, a situação de estagnação e de falta de reformas é tal que ele
conseguiu fazer com que parte da elite económica e financeira apresentasse os
seus candidatos ao cargo de Presidente: Valeri Tzepkalo, antigo embaixador da
Bielorrússia nos Estados Unidos e ex-director do Parque de Altas Tecnologias (o
equivalente ao Silicon Valley) e Victor Babariko, gerente do banco
Belgazprombank, um dos maiores do país, durante vinte anos.
A
política de Lukachenko face à pandemia da Covid-19 foi a gota de água que fez
transbordar a taça da insatisfação da população face ao poder que não se cansa
de afirmar que o principal é o cuidado com as pessoas. O Presidente bielorrusso
recusou-se a impor quarentena desvalorizando a pandemia e as suas
consequências.
Outro
sério candidato da oposição era o conhecido blogger Serguei Tikhonovski.
A
resposta de Lukachenko não se fez esperar: foram abertos rapidamente
processos-crime contra os candidatos, tendo Babariko e Tikhonovski sido
detidos, enquanto que Tzepkalo conseguiu refugiar-se em Moscovo ao saber que
também iria ser detido. Todos os três foram excluídos da luta eleitoral.
A
oposição contra-atacou conseguindo registar, à última hora, Svetlana
Tikhonovskaia, esposa de Serguei, como candidata ao cargo de Presidente. Tzepkalo
e Babariko apelaram aos seus apoiantes que votem nela.
Lukachenko,
por sua vez, comentou que a Constituição do país não é feita “para as
mulheres”, pois a presidência é um “fardo demasiadamente pesado para elas”.
No
que diz respeito a sondagens, foi proibida a sua publicação depois de um
dos estudos dar uma popularidade a Lukachenko de apenas 3%.
Lukachenko
não achou que a pandemia exigisse a imposição de quarentena ou outras medidas
especiais, mas a Comissão Eleitoral da Bielorrússia, alegando os perigos
criados pela Covid-19, decidiu que em cada secção de voto só poderão estar
presentes até cinco observadores. O ditador já ameaçou expulsar os jornais
estrangeiros que tentam “desestabilizar” a situação no país.
No
plano internacional, o dirigente bielorrusso tenta desenvolver uma “política de
amizade” com o Ocidente e a Rússia, passando por ser uma espécie de ponte entre
eles, mas, na realidade, arrisca-se a entrar numa nova posição geopolítica
arriscada, na deterioração das relações com ambas as partes. Lukachenko acusa
os “fantoches russos” (Tzepkalo, Babariko e Tikhonovski) de ingerência, mas são
a União Europeia e os Estados Unidos que criticam o ditador pelas detenções. O
Kremlin limita-se a negar qualquer ingerência.
Porém,
verdade seja dita, Vladimir Putin
está farto do político que tenta travar a hegemonia russa na União Eurasiática. Lukachenko
quer combustíveis a preços internos russos, mas Putin responde que isso só será
possível quando existirem um orçamento e sistema fiscal únicos, um nível mais
alto de integração. O dirigente bielorrusso, porém, receia ser absorvido pela
Rússia.
A situação está tão tensa que Minsk
prefere ir pedir dinheiro emprestado ao Fundo Monetário Internacional ou até à
China do que a Moscovo.
Quanto às relações de Minsk com
Bruxelas e Washington, temos assistido a uma atitude mais pragmática nos
últimos anos da parte do Ocidente, as sanções contra o regime foram abrandadas,
pois receiam atirar Lukachenko para os braços de Vladimir Putin, e o ditador
sabe isso.
No entanto, quando forem anunciados
os resultados de 80% a favor de Lukachenko, muitos bielorrussos sairão às ruas
para protestar contra mais uma falsificação eleitoral e em maior quantidade do
que em escrutínios anteriores e, se a resposta for a repressão violenta e os
presos políticos, então a EU e os Estados Unidos ver-se-ão obrigados a
protestar e tomar medidas para isolar Lukachenko.
Porém,
caso o ditador não consiga travar a onda de protestos, certamente que se virará
para Putin em busca de apoio à custa de grandes cedências. Para o Kremlin, a
Bielorrússia faz parte da sua zona exclusiva de influência e não está disposto
a deixar um desenvolvimento igual ao que conheceu a Ucrânia em 2014.
COMENTÁRIOS:
Euro de Eos: É engraçado como Putin, cujos valores morais estão mais próximos da direita
do que o governo da UE, é odiado pela direita.
Carlos Vinagre: José Milhazes, perdoe-me desde já estas duas perguntas, talvez de âmbito
mais pessoal... Visitou Belarus recentemente? Quando é que lá esteve pela
última vez?
Hugo Gonçalves: Segundo a Wikipedia, q vale o q vale, a Bielorrússia é um país bastante
desenvolvido. Ñ desculpa algum tipo de ditadura, mas mostra dados positivos.
José MilhazesAUTOR > Hugo Gonçalves: Se a estagnação económica, social e política é um dado
positivo, então a Bielorrússia está bem. Se calhar, os protestos vêm daqueles
que querem sempre mais, ingratos!
William Smith: Faz cá falta o Portuguese Man. O que é
que ele irá inventar para poder implicar com JM? Hoje
não está fácil, mas o Man, neste capítulo, é duma criatividade inexcedível.
Vitor Fonseca: Será que conhecem Belarus? Lukaschenko conhecem? Comunismo de extremas
conhecem? Parece que não. Aqui sempre se jogou nos dois lados. Agradar a Putin
quando as coisas na UE não estavam e vice versa, só que o país estagnou no
tempo, muitos anos sem crescimento, com o Czar a mandar e a ver seu filho para o
futuro. Agora as pessoas ficam cansadas de tanta perseguição, tortura, prisão ,
submissão . De toda a maneira, o Czar já enviou o exército para a rua, meteu
presos os discordantes e prepara-se, como sempre para falsificar as eleições
como um bom Comunista
Adelino Lopes: Nós sabemos que para os Russos, o limite do imperialismo é o Atlântico. Nas
actuais circunstâncias, o acesso por terra a Kaliningrado depende de pelo menos
2 países. Os Bálticos odeiam os Russos. Os Polacos também. Se os Bielorussos
também odiarem os Russos, esse acesso ficará muito mais condicionado. Daí que
os Russos devam ter muito cuidado com a questão Bielorussa. Mas, mais uma vez,
a Europa anda a ver passar navios. E volto à minha teoria: onde estará a
fronteira entre a Rússia e o Ocidente? Onde os povos quiserem. Ou seja: se
no ocidente (países bálticos, Polónia e Ucrânia) se viver melhor, os
bielorussos irão voltar-se para ocidente e colocar a fronteira nas costas. Tal
como aconteceu com os ex-países do Leste. Agora, se a Europa andar a gastar as
reservas com pedintes….
José MilhazesAUTOR
> Adelino Lopes: Assino por baixo.
Aguia tricefala > Adelino Lopes: Caro Adelino, penso que não leu o artigo... "Nós sabemos que para os Russos, o limite
do imperialismo é o Atlântico." E para os EUA qual o limite do imperialismo?
Ou será que o caro Adelino entende que há um imperialismo "bom" e um
imperialismo "mau"? Penso que tem uma visão muito distorcida e
ingénua do papel da "Europa" na Europa (ou não sabe que a Rússia
também é Europa?). Será que já se interessou em conhecer a influência dos EUA
nos países bálticos? Penso que o seu comentário não passa de um conjunto de
"wishful thinkings". Ainda bem que o caro não ocupa nenhum lugar
diplomático relevante...
José Milhazes AUTOR > Aguia tricefala: Mas o Adelino Lopes falou dos
EUA? Estamos a falar da Rússia e da UE.
Adelino Lopes > Aguia tricefala: Li o artigo. E como compreendo
as pessoas que não gostam de quem não siga aquela narrativa! E desatam a
colocar adjectivos. Tristeza, é o que é. Admite a democracia, só isso.
Democraticamente, na minha opinião, o imperialismo é mau se for imposto à
força. Será bom se os povos aceitarem. Mas deixa os povos decidirem. Até podem
querer um mau imperialismo. Se for democraticamente …. Tudo bem. Não queiras
impor a tua visão, porque isso é aquilo que os radicais não prescindem de
fazer.
William Smith > Adelino Lopes: "onde
estará a fronteira entre a Rússia e o Ocidente?" Que raio! Eu só conheço da Rússia S.
Petersburgo, que não é propriamente uma cidadezinha qualquer. Mas espanta-me que parece não
passar pela cabeça de ninguém que é muito mais fácil integrar os russos na UE
do que, por exemplo, andar a tentá-lo com os turcos, ou o Kosovo ou a Albânia
que, pelo menos culturalmente, não têm nada a ver connosco.
Kildare Aleksander > José Milhazes: Belarus foi uma criação dos comunistas, pois não
existia esse país antes de Lenin.
Aguia tricefala > Adelino Lopes: "Até podem querer um mau imperialismo. Se for
democraticamente... Tudo bem". Caro Adelino, confirmo que viverá noutro
mundo, não neste. Presume-se que o imperialismo mau será o norte-americano.
Será que se está a referir à resistência de Salazar ao imperialismo norte-americano?
Pensará o caro: pois, não havia democracia, se houvesse, o imperialismo norte-americano
teria vencido. Mas acabou por vencer com a inevitabilidade do Plano Marshall: o
mau imperialismo norte-americano não quer saber de democracia para nada, basta
aproveitar as fraquezas dos países. Aconselho a procurar informar-se sobre a
"influência" que os EUA estão a fazer sobre a Dinamarca na questão do
Nord Stream 2 - que vai prejudicar, e muito, a Alemanha. Aguardo para ver como
se encaixa aqui essa teoria do "imperialismo"...
Nenhum comentário:
Postar um comentário