domingo, 2 de agosto de 2020

Viagenzinha pela Net

Apenas para localizar - à vol d’oiseau - as questões postas por José Milhazes e seus comentadores:

Bielorrússia

Frontispício, na Internet, (sem mapa nem bandeira):

País na Europa

Descrição

Belarus, país do Leste Europeu sem saída para o mar, é uma nação conhecida por sua arquitectura stalinista, pelas grandes fortificações e pelas florestas primordiais. Na capital moderna, Minsk, a monumental sede da KGB se destaca na Praça da Independência, enquanto o Museu da Grande Guerra Patriótica relembra a participação do país na Segunda Guerra Mundial. A capital abriga também muitas igrejas, como a dos Santos Simão e Helena, de estilo neo-românico.

Presidente: Aleksandr Lukashenko Tendência

Capital: Minsk

População: 9,485 milhões (2018) Banco Mundial

Moeda: rublo bielorrusso

Línguas oficiais: Língua bielorrussa, Língua russa

 

Será que o ditador Lukachenko conseguirá o seu sexto mandato? /premium

Lukachenko tem conseguido sobreviver politicamente graças à demagogia social interna e à “ginástica” entre a Rússia e o Ocidente, mas o povo está cada vez mais cansado de viver num país estagnado.

JOSÉ MILHAZES

OBSERVADOR25 25 jul 2020

Os milhares de milhões de euros da União Europa, a contratação de Jorge Jesus pelo Benfica e os saltos televisivos de “Cristina Ferreira” são temas bem mais “relevantes” do que a existência de uma longa ditadura de 25 anos na Bielorrússia que se poderá prolongar, no mínimo, por ainda mais quatro anos.

Todavia, arrisco-me a chamar a atenção para as eleições presidenciais marcadas para 9 de Agosto pelo ditador bielorrusso Alexandre Lukachenko. Isto porque, entre outras razões, a Bielorrússia se situa no coração do continente europeu, entre a Rússia e a União Europeia, e tem uma importância geostratégica semelhante à da Ucrânia. Além do mais, é um importante corredor de ligação comercial entre a UE e Moscovo.

Alexandre Lukachenko aposta tudo na conquista do seu sexto mandato consecutivo, não olhando a meios para vencer. Não nos devemos esquecer que estamos perante um político que não esconde a sua simpatia por ditadores como Adolfo Hitler, Vladimir Lenine ou José Estaline.

Numa entrevista ao jornal de negócios alemão “Handelsblatt” de 23 de Novembro de 1996, ele declarou: “Acredite, a história da Alemanha é, em certa medida, uma cópia da história da Bielorrússia em determinadas etapas. A dada altura, a Alemanha foi levantada das ruínas graças a um poder muito duro imposto por Adolfo Hitler… A ordem alemã formou-se durante séculos, com Hitler essa formação atingiu o ponto mais alto. É isso que corresponde à nossa compreensão de república presidencial e do papel do presidente nela. Hitler criou uma poderosa Alemanha graças a um poder presidencial forte… A Alemanha levantou-se graças ao facto de toda a nação se ter consolidado e unido em torno de um líder forte”.

Em relação aos dirigentes soviéticos, a sua opinião é a seguinte: “Claro que eu tenho uma opinião um tanto ou quanto diferente da sociedade russa quanto a Estaline e Lenine… Foram nossos dirigentes. Lenine criou o Estado, Estaline reforçou-o”.

Nas eleições anteriores ele vencia não só devido à repressão da oposição e à falsificação dos votos, mas também graças a uma política de aparente estabilidade e de demagogia social, em parte financiada pelos negócios com o petróleo e gás russos.

Muitos dos eleitores que apoiavam a economia socialista e paternalista do dirigente bielorrusso esperavam que o “batka” (“paizinho”) repetisse no país uma “modernização autoritária” como as que ocorreram em países como Singapura ou a Coreia do Sul.

No entanto, o país continua a ver-se perante graves desafios. A Bielorrússia enfrenta a mais grave crise económica dos últimos 25 anos e as organizações internacionais prevêem que, durante este ano, a queda do PIB seja de 4-5%.

Isto não se deve apenas à Covid-19, pois Lukachenko olhou sempre para a pandemia no seu país como Bolsonaro no Brasil ou Trump nos Estados Unidos, mas também às discussões com a Rússia sobre o preço do petróleo russo importado e ao facto de, nos últimos dez anos, a economia bielorrussa não conhecer crescimento.

Além do mais, a situação de estagnação e de falta de reformas é tal que ele conseguiu fazer com que parte da elite económica e financeira apresentasse os seus candidatos ao cargo de Presidente: Valeri Tzepkalo, antigo embaixador da Bielorrússia nos Estados Unidos e ex-director do Parque de Altas Tecnologias (o equivalente ao Silicon Valley) e Victor Babariko, gerente do banco Belgazprombank, um dos maiores do país, durante vinte anos.

A política de Lukachenko face à pandemia da Covid-19 foi a gota de água que fez transbordar a taça da insatisfação da população face ao poder que não se cansa de afirmar que o principal é o cuidado com as pessoas. O Presidente bielorrusso recusou-se a impor quarentena desvalorizando a pandemia e as suas consequências.

Outro sério candidato da oposição era o conhecido blogger Serguei Tikhonovski.

A resposta de Lukachenko não se fez esperar: foram abertos rapidamente processos-crime contra os candidatos, tendo Babariko e Tikhonovski sido detidos, enquanto que Tzepkalo conseguiu refugiar-se em Moscovo ao saber que também iria ser detido. Todos os três foram excluídos da luta eleitoral.

A oposição contra-atacou conseguindo registar, à última hora, Svetlana Tikhonovskaia, esposa de Serguei, como candidata ao cargo de Presidente. Tzepkalo e Babariko apelaram aos seus apoiantes que votem nela.

Lukachenko, por sua vez, comentou que a Constituição do país não é feita “para as mulheres”, pois a presidência é um “fardo demasiadamente pesado para elas”.

No que diz respeito a sondagens, foi proibida a sua publicação depois de um dos estudos dar uma popularidade a Lukachenko de apenas 3%.

Lukachenko não achou que a pandemia exigisse a imposição de quarentena ou outras medidas especiais, mas a Comissão Eleitoral da Bielorrússia, alegando os perigos criados pela Covid-19, decidiu que em cada secção de voto só poderão estar presentes até cinco observadores. O ditador já ameaçou expulsar os jornais estrangeiros que tentam “desestabilizar” a situação no país.

No plano internacional, o dirigente bielorrusso tenta desenvolver uma “política de amizade” com o Ocidente e a Rússia, passando por ser uma espécie de ponte entre eles, mas, na realidade, arrisca-se a entrar numa nova posição geopolítica arriscada, na deterioração das relações com ambas as partes. Lukachenko acusa os “fantoches russos” (Tzepkalo, Babariko e Tikhonovski) de ingerência, mas são a União Europeia e os Estados Unidos que criticam o ditador pelas detenções. O Kremlin limita-se a negar qualquer ingerência.

Porém, verdade seja dita, Vladimir Putin está farto do político que tenta travar a hegemonia russa na União Eurasiática. Lukachenko quer combustíveis a preços internos russos, mas Putin responde que isso só será possível quando existirem um orçamento e sistema fiscal únicos, um nível mais alto de integração. O dirigente bielorrusso, porém, receia ser absorvido pela Rússia.

A situação está tão tensa que Minsk prefere ir pedir dinheiro emprestado ao Fundo Monetário Internacional ou até à China do que a Moscovo.

Quanto às relações de Minsk com Bruxelas e Washington, temos assistido a uma atitude mais pragmática nos últimos anos da parte do Ocidente, as sanções contra o regime foram abrandadas, pois receiam atirar Lukachenko para os braços de Vladimir Putin, e o ditador sabe isso.

No entanto, quando forem anunciados os resultados de 80% a favor de Lukachenko, muitos bielorrussos sairão às ruas para protestar contra mais uma falsificação eleitoral e em maior quantidade do que em escrutínios anteriores e, se a resposta for a repressão violenta e os presos políticos, então a EU e os Estados Unidos ver-se-ão obrigados a protestar e tomar medidas para isolar Lukachenko.

Porém, caso o ditador não consiga travar a onda de protestos, certamente que se virará para Putin em busca de apoio à custa de grandes cedências. Para o Kremlin, a Bielorrússia faz parte da sua zona exclusiva de influência e não está disposto a deixar um desenvolvimento igual ao que conheceu a Ucrânia em 2014.

BIELORRÚSSIA   EUROPA   MUNDO

 

COMENTÁRIOS:

Euro de Eos: É engraçado como Putin, cujos valores morais estão mais próximos da direita do que o governo da UE, é odiado pela direita.

Carlos Vinagre: José Milhazes, perdoe-me desde já estas duas perguntas, talvez de âmbito mais pessoal... Visitou Belarus recentemente? Quando é que lá esteve pela última vez?

Hugo Gonçalves: Segundo a Wikipedia, q vale o q vale, a Bielorrússia é um país bastante desenvolvido. Ñ desculpa algum tipo de ditadura, mas mostra dados positivos.

José MilhazesAUTOR > Hugo Gonçalves: Se a estagnação económica, social e política é um dado positivo, então a Bielorrússia está bem. Se calhar, os protestos vêm daqueles que querem sempre mais, ingratos!

William Smith: Faz cá falta o Portuguese Man. O que é que ele irá inventar para poder implicar com JM? Hoje não está fácil, mas o Man, neste capítulo, é duma criatividade inexcedível.

Vitor Fonseca: Será que conhecem Belarus? Lukaschenko conhecem? Comunismo de extremas conhecem? Parece que não. Aqui sempre se jogou nos dois lados. Agradar a Putin quando as coisas na UE não estavam e vice versa, só que o país estagnou no tempo, muitos anos sem crescimento, com o Czar a mandar e a ver seu filho para o futuro. Agora as pessoas ficam cansadas de tanta perseguição, tortura, prisão , submissão . De toda a maneira, o Czar já enviou o exército para a rua, meteu presos os discordantes e prepara-se, como sempre para falsificar as eleições como um bom Comunista

Adelino Lopes: Nós sabemos que para os Russos, o limite do imperialismo é o Atlântico. Nas actuais circunstâncias, o acesso por terra a Kaliningrado depende de pelo menos 2 países. Os Bálticos odeiam os Russos. Os Polacos também. Se os Bielorussos também odiarem os Russos, esse acesso ficará muito mais condicionado. Daí que os Russos devam ter muito cuidado com a questão Bielorussa. Mas, mais uma vez, a Europa anda a ver passar navios. E volto à minha teoria: onde estará a fronteira entre a Rússia e o Ocidente? Onde os povos quiserem. Ou seja: se no ocidente (países bálticos, Polónia e Ucrânia) se viver melhor, os bielorussos irão voltar-se para ocidente e colocar a fronteira nas costas. Tal como aconteceu com os ex-países do Leste. Agora, se a Europa andar a gastar as reservas com pedintes….

José MilhazesAUTOR > Adelino Lopes: Assino por baixo.

Aguia tricefala > Adelino Lopes: Caro Adelino, penso que não leu o artigo... "Nós sabemos que para os Russos, o limite do imperialismo é o Atlântico." E para os EUA qual o limite do imperialismo? Ou será que o caro Adelino entende que há um imperialismo "bom" e um imperialismo "mau"? Penso que tem uma visão muito distorcida e ingénua do papel da "Europa" na Europa (ou não sabe que a Rússia também é Europa?). Será que já se interessou em conhecer a influência dos EUA nos países bálticos? Penso que o seu comentário não passa de um conjunto de "wishful thinkings". Ainda bem que o caro não ocupa nenhum lugar diplomático relevante... 

José Milhazes AUTOR > Aguia tricefala: Mas o Adelino Lopes falou dos EUA? Estamos a falar da Rússia e da UE.

Adelino Lopes > Aguia tricefala: Li o artigo. E como compreendo as pessoas que não gostam de quem não siga aquela narrativa! E desatam a colocar adjectivos. Tristeza, é o que é. Admite a democracia, só isso. Democraticamente, na minha opinião, o imperialismo é mau se for imposto à força. Será bom se os povos aceitarem. Mas deixa os povos decidirem. Até podem querer um mau imperialismo. Se for democraticamente …. Tudo bem. Não queiras impor a tua visão, porque isso é aquilo que os radicais não prescindem de fazer.

William Smith > Adelino Lopes: "onde estará a fronteira entre a Rússia e o Ocidente?" Que raio! Eu só conheço da Rússia S. Petersburgo, que não é propriamente uma cidadezinha qualquer. Mas espanta-me que parece não passar pela cabeça de ninguém que é muito mais fácil integrar os russos na UE do que, por exemplo, andar a tentá-lo com os turcos, ou o Kosovo ou a Albânia que, pelo menos culturalmente, não têm nada a ver connosco.

Kildare Aleksander > José Milhazes: Belarus foi uma criação dos comunistas, pois não existia esse país antes de Lenin.

Aguia tricefala > Adelino Lopes: "Até podem querer um mau imperialismo. Se for democraticamente... Tudo bem". Caro Adelino, confirmo que viverá noutro mundo, não neste. Presume-se que o imperialismo mau será o norte-americano. Será que se está a referir à resistência de Salazar ao imperialismo norte-americano? Pensará o caro: pois, não havia democracia, se houvesse, o imperialismo norte-americano teria vencido. Mas acabou por vencer com a inevitabilidade do Plano Marshall: o mau imperialismo norte-americano não quer saber de democracia para nada, basta aproveitar as fraquezas dos países. Aconselho a procurar informar-se sobre a "influência" que os EUA estão a fazer sobre a Dinamarca na questão do Nord Stream 2 - que vai prejudicar, e muito, a Alemanha. Aguardo para ver como se encaixa aqui essa teoria do "imperialismo"...


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