O certo é que o partido se mantém,
claramente respeitado por quem lhe pede assistência para consolidar o seu próprio
posicionamento à testa da nação. É certo que o Bloco de Esquerda poderá inchar de modo a suprir a escassez leiteira
do PCP, mas pelo que se conhece do
nosso absorvente chefe socialista, este jamais abandonará a respeitável figura de
um parceiro que lhe proporcionará sempre o traço de uma seriedade mais
vetusta, e ao qual até permite a grande festa da intelectualidade lusa do
AVANTE, em moldes que não concedeu a outras peregrinações do nosso foro social,
por via das restrições do confinamento viral dos nossos tempos.
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 21.08.20
Nascido
em 1945, lembro-me
muito bem de, por vezes, aparecer na nossa caixa de correio um jornal chamado
«Avante» impresso num papel muito fino quase ao estilo do que então se
usava para o correio aéreo. Lembro-me de por mais de uma vez ter tentado ler o
dito jornal e de logo às primeiras linhas ter desistido da leitura por total
falta de interesse. Não dei por que mais alguém lá em casa se interessasse por ele. Lembro-me dele, sim, no lixo quando lá
fui despejar qualquer sebência. Conversando à mesa de jantar na ocorrência duma
dessas raras aparições jornalísticas então clandestinas, constatei que só a
minha mãe e os meus avós tinham dado pelo jornal e ficámos a saber que tinha
sido o meu avô que, depois de lhe dar uma fugaz mirada, o pusera a caminho do
húmus. Foi o meu pai que explicou ser aquele o jornal do Partido Comunista e
que, se um dia chegasse ao Poder, nos tirava os prédios. Adolescente, não
precisei de mais explicações para me tornar anticomunista. Até hoje. Só que,
hoje, com mais alguns argumentos…
Apesar
de aqueles serem tempos da clandestinidade do PCP, eles eram também os das
vacas gordas pois a URSS investia fortemente no derrube de Salazar e de Franco
para os respectivos Partidos Comunistas tomarem o Poder e, daí, se estrangular
a Europa entre a Cortina de Ferro e uma Península Caída a URSS, cessaram os
apoios financeiros ao PCP tendo este que passar a fazer pela própria vida. Emagreceram
as vacas mas o monolitismo doutrinário manteve-se. O
enorme Ibérica comunizada. E assim continuou até à falência do comunismo em
finais de 1989.
património
imobiliária adquirido nos tempos delas gordas, não rende pois continua,
romanticamente, a albergar os «Centros de Trabalho» onde nada se produz e
tudo se consome; os descontos obrigatórios que os eleitos em listas comunistas
fazem para apoio à tesouraria do Partido estão em queda pois os eleitos são
cada vez menos e o mesmo se diga da tendência dos apoios públicos (uma verba
fixa por cada voto recebido nas urnas).
Numa
perspectiva claramente minguante, o PCP vê-se a braços com as consequências do
seu dogmatismo: perda de comunicação, perda de peso político, perda de
receitas.
E
as vacas cada vez mais magras…
Resta-lhes
um punhado de erva, a que cresce na «Quinta da Atalaia».
Não
sei adivinhar o futuro mas creio que o BE dificilmente aceitará a integração do
PCP sob pena de se esgatanharem todos e o caldo se entornar por completo. Até
não é má ideia; aqui fica a sugestão.
Mais
uma vez, o determinismo histórico marxista a revelar-se às avessas contando-se
já as costelas às vacas do Avante.
Agosto
de 2020
Henrique
Salles da Fonseca
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COMENTÁRIOS:
Pêro Pedroso, 21.08.2020: Já
os Benardinos e companhia andam a desviar obras nas câmaras por isso, se o
partido não enriquecer enriquecem eles. Se por ventura se separarem um dia
duvido que se integrem no BE pois aprenderam a roubar e como tal estão melhor
junto aos outros ladrões. Na realidade prefiro que não acabe nunca pois se
tivermos que aturar a esquerda, que seja dividida e não unida. Dividir para
conquistar.
Anónimo, 22.08.2020:: Hesitei muito,
Henrique, se deveria comentar ou não. Não é que me sinta obrigado a fazê-lo,
mas como o tenho feito regularmente, por benevolência tua, não queria que
pensasses que estaria a “fugir” à dificuldade, por este post ser algo delicado.
Então aqui vai, mas temo que vamos divergir. Classificaste-te como
“anticomunista” e eu classifico-me como “não comunista”. Suspeito que não seja
de mera semântica a diferença dos “prefixos” “anti” e “não”. No que me diz
respeito, tenho respeito pelas posições e argumentos comunistas, pese embora
não me reveja neles, em geral. Tive amigos íntimos de juventude que militaram
no PCP clandestino e tive colegas de Universidade e também de trabalho, que
eram militantes desse partido, alguns dos quais assumiram lugares cimeiros na
respectiva estrutura, sem que isso afectasse a amizade ou a camaradagem (no
sentido corrente do termo e não na acepção marxista-leninista) que sentia por
eles. O PCP nunca teve grande expressão eleitoral, esta é inferior à influência
que tem tido nas autarquias, que se tem pautado, salvo raríssimas excepções,
pelo menos no que é público, por gestão rigorosa e honesta, bem como nos
sindicatos, particularmente nos que têm impacto na coisa pública. Em 1975,
começaram com 12% (mas o seu compagnon de route, MDP/CDE, teve 4%) para ter no
ano seguinte 14% (o compagnon de route não concorreu). Por essa mesma altura, o
Espanhol e o Grego tiveram 9%, aquele em 1976 e este em 1977. É certo que o
italiano tinha uma expressão de 34%, em 1976, e o Francês, em 1977, de 20%, mas
em Itália e em França a Democracia havia sido reimplementada após a 2ª guerra
mundial, no momento de maior prestígio da União Soviética, enquanto na
Península Ibérica e na Grécia, o ressurgimento da Democracia ocorre quando o
declive do modelo comunista é perceptível, em que já havia desilusão com o
comunismo e a sua praxis, bem como eram incontornáveis os crimes de Estaline, e
as invasões da Hungria, em 56, e da Checoslováquia em 68, particularmente esta,
a qual levou a divergências de postura entre os vários partidos comunistas
europeus. Recordo-te que, ao contrário do PCP, o Espanhol, de Santiago Carrillo (e também de Dolores
Ibárruri, a Pasionária), o Italiano, de Enrico Berlinguer e, logo a seguir, o
Francês, de George Marchais, adoptaram a chamada linha do eurocomunismo, sem
que isso impedisse a redução progressiva da importância eleitoral deles. O que dizer do PCI, que foi estruturante após a
guerra, subscrevendo, na década 70, o famigerado Compromisso Histórico com a
Democracia Cristã, para depois se extinguir em fevereiro de 1991, no mesmo ano
da impulsão da URSS? E do PCF que em 2017 teve 2,7% dos votos? E do PCE,
diluído na Izquierda Unida que, por sua vez, se incorpora eleitoralmente em
Unidas Podemos? Apesar da sua expressão reduzida (5-6%), não estou a ver o
PCP a integrar-se ou a coligar-se com BE, como sugeres com dúvidas, já que este
teve como génese ou seus dissidentes (Política XX!), os trotskistas (PSR) e os
militantes da UDP, os quais todos tinham em comum, pelo menos, divergência em
relação ao PCP e à sua linha soviética. Para o PCP, nem eurocomunismo, nem,
como se vê actualmente, apreciação crítica da Coreia do Norte e tampouco o
conhecimento, por quem devia ter, da existência dos gulags estalinistas. Alguns militantes ainda estão na era anterior a Nikita
Khrushchef e ao seu discurso de Fevereiro de 1956. É preferível que uma das fontes de financiamento
do PCP seja a Festa do Avante, do que depois haja problemas com o respectivo
suporte financeiro, como vemos por vezes por aí e também na vizinha Espanha,
como é o caso de “Podemos”. Mas isso não legitima que aquela
festa se faça a todo o custo, nesta conjuntura, mesmo sob um manto técnico de
saúde pública. Não acredito, por mais vontade disciplinadora que haja, que 100
ou 33 ou 16 mil pessoas observem a chamada distância social e tudo o mais. É um
péssimo sinal, e havendo, por qualquer circunstância, agravamento
epidemiológico em Setembro, não faltarão dedos apontados àquele Partido, ao
Governo e à DGS. Como sabemos não está em causa apenas a saúde pública,
o que já seria suficiente, mas também a Economia. Forte abraço. Carlos Traguelho
Adriano Lima 23.08.2020 : Em
minha opinião, este episódio da festa do Avante é a revelação da mais pura
hipocrisia por parte de um partido que regra geral se põe em bicos de pés para
criticar os seus adversários mas que perante os seus próprios interesses manda
às urtigas os princípios que apregoa.
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