Do oriente europeu, que José Milhazes bem descreve, com efeito sobre os “barões assinalados” do nosso hoje, que todos conhecemos, ai de nós!
Depois digam que a extrema-esquerda é civilizada
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A Bielorrússia mereceu três artigos do
Avante!, mas em nenhum deles se condena a violência policial do ditador
Lukachenko. A culpa é toda da oposição e do Ocidente que ataca um regime
“progressista".
JOSÉ MILHAZES
OBSERVADOR,20 ago 2020
A Bielorrússia mereceu a atenção em
três artigos do órgão oficial do Partido Comunista Português, mas em nenhum
deles há uma palavra a condenar a violência policial do ditador Lukachenko. A
culpa é toda da oposição e do Ocidente que ataca mais um regime “progressista”.
Na
semana passada, na minha opinião do Observador sobre a situação presente na
Bielorrússia, citei um artigo do jornal Avante que indiciava que o Partido
Comunista Português iria mostrar uma vez mais que esta força política radical
iria ser “consequente” e apoiar a falsificação das eleições presidenciais
naquele país, bem como a forte onda repressiva contra a oposição. Recebi
numerosos comentários a acusar-me de “tendencioso”, “mentiroso”, etc., etc. Segundo
os comentadores, o texto apenas apresentava factos!
Claro
que não fico à espera de pedidos de desculpa, pois uma das características
desses comentadores é pertencer à casta da “suprema ideologia” que é o
marxismo-leninismo-estalinismo.
Porém,
é necessário analisar a forma como os “jornalistas” do Avante falsificam as
notícias a fim de justificar a “esmagadora vitória” Alexandre Lukachenko.
No artigo “Bielorrússia rejeita ingerências externas”, os comunistas afirmam: “Embora a candidata
opositora, Svetlana Tijanovskaya – que após as eleições viajou para a Lituânia
– tenha obtido apenas 10,1 por cento dos votos nas urnas, segundo a Comissão
Central Eleitoral, logo na noite das eleições os seus apoiantes levaram a cabo
protestos violentos na capital, repetidos nos dias seguintes. Dos choques entre
estes grupos e a polícia resultaram feridos e detidos, em números que variam
conforme as fontes”.
Eles
partem do princípio que as eleições foram limpas e transparentes, tese muito
duvidosa, e, depois, recorrem a um eufemismo quando dizem que Svetlana
Tikhanovskaya “viajou para a Lituânia”.
Ora é do conhecimento público que ela foi obrigada a sair do país. A
seguir vêm mentiras quando acusam a oposição de levar a cabo “protestos
violentos”, como se a polícia de choque de Lukachenko fosse constituída por
santos defensores da legalidade democrática. Uma carga
policial nos Estados Unidos ou França é para eles um símbolo da “repressão
capitalista”, mas, na Bielorrússia, já é justificável.
Todos os três textos visam fazer-nos
acreditar que tudo foi organizado a partir do estrangeiro, mais precisamente
“por países vizinhos, pela União Europeia e pelos Estados Unidos”. Ou
seja, as várias centenas de milhares de pessoas que saem para as ruas das vilas
e cidades bielorrussas não passam de “fantoches” dos países capitalistas! E se fossem conduzidas pelo Partido
Comunista, a única força política com “carta” para conduzir as massas?
Também não é surpresa o apoio do PCP
à potencial invasão da Bielorrússia pelas tropas russas: “No dia 15, Lukashenko anunciou que acordou com
Vladimir Putin que a Rússia ajudará a Bielorrússia a garantir a sua segurança,
em caso de ameaças militares externas e se solicitado por Minsk, no quadro dos
tratados existentes entre os dois países”.
E também para esta “missão
libertadora” há justificação: “o teor do «programa» da oposição não deixa,
aliás, margem para dúvidas do que realmente se pretende: a retirada do país das organizações
internacionais euro-asiáticas e subsequente integração na União Europeia e na
NATO, limitações significativas nas relações económicas, políticas e culturais
com a Rússia e privatizações do vasto e valioso sector público bielorrusso”.
Para o PCP, os povos não têm direito
a decidir como viver. Quanto à “subsequente integração na União Europeia e na
NATO”, a líder da oposição nunca defendeu tal coisa. Ela defendeu relações mais
equilibradas da Bielorrússia com a União Europeia e a Rússia, mas nunca
defendeu a integração na NATO. Aliás, a oposição bielorrussa tem em conta a
experiência da Ucrânia em 2014, quando parte do seu território foi ocupado
pelas tropas de Putin.
As mentiras continuam: “entretanto, por mais que as grandes cadeias
mediáticas o procurem ocultar, um pouco por todo o país estão a ter lugar
manifestações de apoio ao actual presidente e ao processo político que
encabeça. No domingo, 16, dezenas de milhares concentraram-se numa praça
central da capital e a 18 realizaram-se grandes manifestações noutras cidades,
como Gomel e Mogilev”.
Mas
será que os jornalistas do “Avante” não vêem televisão? Só isso poderá explicar
o facto de eles não terem visto a cobertura televisiva das manifestações
pró-Lukachenko nos canais informativos portugueses, para já não falar dos
internacionais. Pena foi que, em Portugal, a comunicação social não tenha
comparado os números de manifestantes nas iniciativas pró- e anti-Lukashenko.
No
artigo “Democracia “à la carte””, o
autor começa por escrever que “esta crónica não é sobre a
Bielorrússia, nem sequer sobre mais uma revolução colorida que ali estará em
preparação, seguindo o mesmo guião de outras. É sobre democracia ou, melhor
dizendo, sobre o que o imperialismo realmente quer dizer quando fala em democracia”.
Porém,
só quem se ficar pelos primeiros dois parágrafos não verá que todo o artigo
visa justificar a política sangrenta do ditador bielorrusso. E para isso repete
o velho rótulo da Ucrânia “fascizante”, caluniando todo um povo, tal como
Estaline fez para reprimir chechenos, inguches, tártaros da Crimeia, etc., etc.
Noutro
texto: “Três exemplos”, volta a
soar o mesmo tema: “que não se tenha dúvidas: a agenda em desenvolvimento
[levada a cabo pelo Ocidente] é uma replicação das «revoluções coloridas» que,
recorde-se, instalaram na Ucrânia um regime de natureza fascista”.
Uma das razões do ódio à
Ucrânia consiste em que o Partido Comunista desse país foi
impedido de correr a eleições. É verdade que essa força política está proibida
não só nesse país, mas em muitos dos antigos países integrantes ou satélites da
União Soviética. E isto tem uma explicação, com a qual se pode concordar ou
não. Pessoalmente, não concordo com semelhante proibição, mas é preciso chamar
a atenção para o facto de esses países terem sido vítimas dos mais
hediondos crimes perpetrados pelos comunistas.
Qual
teria sido a posição do Partido Comunista Português se, após o 25 de Abril de
1974, as autoridades não tivessem proibido as actividades da União Nacional, da
PIDE/DGS, da Legião Portuguesa e de outras organizações do Estado Novo?
Será que só os regimes de
extrema-direita cometem crimes? Será que o assassinato de milhões de pessoas
por regimes da extrema-esquerda não são crimes, mas apenas “desvios”?
Por
isso, não compreendo o que leva 187 intelectuais lusófonos a
assinaram uma carta aberta virada apenas para o combate contra a
extrema-direita. Concordando com o que está escrito
nesse texto, pergunto: mas porque será que eles não olham para o perigo
que vem da extrema-esquerda? Como é
que forças que apoiam regimes como a Venezuela, a Bielorrússia ou a China,
podem defender a dignidade humana?
Sejamos
sensatos, a vossa frase “na certeza de que, como sempre nos mostrou a História,
quem adormece em democracia acorda em ditadura” vale
tanto para a extrema-direita como para a extrema-esquerda. Ambas apenas geram violência, repressão, sangue,
ódio. Os exemplos do passado e do presente ainda não chegam para ver que entre
o nazismo e o comunismo venha o diabo e escolha?
BIELORRÚSSIA EUROPA MUNDO EXTREMA
ESQUERDA POLÍTICA PCP
COMENTÁRIOS:
Filipa Morão: Excelente!! Carminda Damiao: Óptimo artigo.
António Duarte: Certeiro como sempre
José Pinto de
Sá: Bom artigo,
Milhazes!
José Mendes > Alfredo Fernandes: Por exemplo a democracia
portuguesa permitiu, sem consulta eleitoral, entregar a uma corja de
tecnocratas ao serviço de lobbys do sistema financeiro internacional, nunca
eleitos, a soberanias: Aduaneira Monetária
Financeira Cambial Orçamental
Bancária Negócios
estrangeiros Justiça Constituição Etc. Tudo entregue nas costas
dos eleitores. Vote um português em quem votar, ou não vote em ninguém, o
resultado certo é serem aplicadas as políticas impostas pela corja de Bruxelas.
Isto é democrático?
José Carlos Lourenço: O Sr. Cronista não devia malhar de forma tão certeira e metódica nos
comunas tugas. Assim, como é que eles vão ter cabeça (discernimento) para
montar as bancas na Festa !! Ou procurar os lugares mais frescos e arejados
para instalar as delegações dos amigalhaços democratas da Coreia do Norte,
Cuba, Venezuela, China ou Bielorrússia !! Ou dos grupos
"revolucionários" latino-americanos especializados no narco-tráfico!!
Por mais uns dias, dê-lhes algum descanso.....
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