quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Tempo de Maria de Lurdes Resende

 

Tempo de emoção, que vale a pena reviver, ouvindo-a cantar “Avozinha” com a sua voz maravilhosa. Foi do que me lembrei, ao ler este magnífico texto de um autor não identificado, traduzido do castelhano por Salles da Fonseca, trazendo imagens de movimentos que também recordo, nos velhos costumes das aldeias, de avós doces e laboriosas, nos pequenos amanhos das casas enfarruscadas, tantas vezes com os currais por baixo. E o avental da avó em todas as suas funções de labor e de amor, simultaneamente imagem de ternura e de sorriso brejeiro.

 

O AVENTAL DA AVÓ

HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO, 18.08.20

 

O primeiro fim do avental da avó foi proteger a roupa de baixo.

Depois... serviu como luva para tirar a panela do fogão...

Foi maravilhoso para secar as lágrimas dos netos e também para limpar

as suas caras sujas.

Do galinheiro, o avental foi usado para transportar os ovos e, às

vezes, os pintainhos.

Quando os visitantes chegavam, o avental servia para proteger as

crianças tímidas.

Quando fazia frio, à avó servia de agasalho.

Esse velho avental era um fole agitado, para avivar o lume da lareira.

Era nele que levava as batatas e a madeira seca para a cozinha.

Da horta, servia como um cesto para muitos legumes, depois de

apanhadas as ervilhas, era a vez de arrecadar nabos e couves.

E, pela chegada do Outono, usava-o para apanhar as maçãs caídas.

Quando os visitantes apareciam, inesperadamente, era surpreendente ver

quão rápido esse velho avental podia limpar o pó.

Quando era a hora da refeição, da varanda, a avó sacudia o avental e

os homens, a trabalhar no campo, sabiam, imediatamente, que tinham

que ir para a mesa.

A avó também o usou para tirar a tarte de maçã do forno e colocá-la na

janela para arrefecer.

Passarão muitos anos, até que alguma outra invenção ou objecto possa

substituir esse velho avental da minha Avó.

 

Em memória das nossas avós, enviei esta história para aqueles que achei

que a apreciarão.

 

(Autor não identificado – texto traduzido e adaptado livremente de um texto, em castelhano, em «CITAS LITERÁRIAS»)

 

Avozinha

Maria de Lurdes Resende

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De mãos enrugadas, já trementes
Com as lunetas sobre 0 nariz
A minha avozinha, já sem dentes
Contava histórias que me faziam feliz:
Branca de Neve e os sete anões
João Ratão, lendas feudais
Ali-ba-bá e os seus Iadrões
E tantas mais

Avozinha, vá lá só mais uma
Conta que eu não faço Ó Ó
Conta aquela da Fada de Espuma
Conta alguma querida avó
E se acaso eu me deixar dormir
Amanhã o final eu quero ouvir
Só mais uma p'ra tua netinha
Conta alguma, avozinha

P'ra junto de Deus foi a avozinha
Partíu um dia, deixou-me só
Deu-me Deus, em troca uma filhinha
P’ra que eu, um dia, saiba ser também avó
E como Deus tudo perfilha
Com todo o seu grande poder
Da minha filha, a sua filha
Há-de dizer
Avozinha, vá lá

 

Composição: Alves Coelho Filho.   

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