Uma suave voz desassombrada, que nos
tempos de hoje, em que o jugo da esquerda se propõe ser autoridade –
escamoteadora da verdade, para continuar a esparramar os seus entusiasmos do “Abril sempre” que não só esfarrapou a
nação – Macau e Timor não entrando nesse conluio ainda então, para não atrasar o
processo – como deu a todos esses (e mais outros aproveitadores da onda, com
mais moderação, todavia, e sentido pátrio) a possibilidade de singrarem na vida
com um estatuto social e económico mais vantajoso – uma voz desassombrada,
repito, esta de Salles da Fonseca, que não se
importa de levantar o véu da perfídia então perpetrada com o estardalhaço repenicado
dos portadores de cravos desse tempo e dos anos seguintes, até hoje, e até
sempre, talvez, apesar das vozes insubmissas como a de Salles da Fonseca e seus
amigos. Fico feliz, porque desde sempre ergui a minha escrita de oposição
irónica, em livros que poderiam amachucar personalidades, mas a tal democracia,
se impediu o beneplácito a esses livros, obstou também a uma interdição. É certo
que a empresa que publicou “Cravos Roxos”
faliu, mas não me esqueço de que recebi o convite, nesses idos de 80, para
enviar alguns exemplares para um concurso de Prémio Literário, o que fiz
escrupulosamente, sabendo que o silêncio manteria o livro na obscuridade do
desprezo. Mas fico feliz hoje, ao ler o texto do Dr. Salles, que mostra verdades que ninguém quer ouvir. Por
isso, para mostrar a minha afinidade no cepticismo, relativamente às “habilidades”
postas na descolonização exemplar, transcrevo, do livro “Pedras de Sal” publicado em Moçambique, em 1974, e em
2ª edição, de 1981 em “Cravos Roxos”
um texto demonstrativo do mesmo cepticismo que traduz a crónica de Salles da Fonseca. O certo é
que nenhum DAESH se atreveria a invadir um território defendido pelos portugueses
de então, talvez as tropas francesas ou americanas, no êxtase da cobiça, vão hoje
em socorro desses que abandonámos, e o seu governo também, de que os nossos
fingem apiedar-se talvez, ineptos quanto ao auxílio armado.
Eis o texto que escolhi, e que talvez já
tenha publicado no meu blog, mas, entre outros mais, dá-nos o retrato da
palhaçada que vivemos nesse 74. Como hoje:
“E portanto…”
«Eu
acho que só progrediremos com Moçambique independente. E portanto só a Frelimo
corresponde aos anseios da população. E portanto só seremos fortes e livres sob
o domínio da Frelimo que tem estatuto.
A maioria
das pessoas interrogadas pelo jornal “Notícias” exprime-se assim. Matutaram longamente
no caso, vê-se bem, e portanto fazem as suas deduções com lógica matuta.
O processo
de politização encetado pelo jornal “Notícias” revela esmagadora maioria de
adeptos da dedução. De cada quatro pessoas, três, pelo menos, respondem do modo
supracitado.
Isso
obriga-nos a todos a ponderarmos a questão para, se formos interrogados da próxima
vez, também deduzirmos assim, pois é a resposta mais inteligente e essa
inteligência vai transparecer na nossa fotografia.
Eu só
tenho pena que não me tenham perguntado a mim sobre o referendo e a
independência e tirado o retrato. Havia de dizer que não ao referendo –
estávamos tão bem assim! – e havia de dizer que sim ao Samora Machel, por causa
do bem-estar dele, que quando viaja para a Zâmbia para travar as conversações
vai no avião particular do Kaunda e é recebido no palácio deste com o estatuto,
enquanto o desprezado Mário Soares fica no hotel sem avião, coitado, por falta
do estatuto.
E
havia a minha resposta inteligente de transparecer no meu retrato, mas tudo
isto não passa de sonho, que o “Notícias” não quer lá todas as fotografias e
portanto não posso também deduzir”.
HENRIQUE SALLES DA FONSECA A
BEM DA NAÇÃO, 16.08.20
Qualquer
português que tenha feito o Serviço Militar em Moçambique sabe que, como
organização militar, a Frelimo inexiste.
Bastaram-nos «meia dúzia» de
verdadeiros operacionais do Exército, da Marinha e da Força Aérea apoiados por
civis fardados para sustermos e rechaçarmos as investidas pontuais que a
Frelimo fazia. Com excepção de zonas inseguras para os portugueses (mas não
dominadas e muito menos administradas pela Frelimo), a quase totalidade do
território moçambicano era terra de paz. Disso
fiz prova ao viajar no meu carro privado de Nampula a Lourenço Marques na
companhia de dois amigos totalmente desarmados em Julho de 1972. Eu sou o
«documento coevo» e quem disser que a guerra em Moçambique era difícil para os
portugueses, mente descaradamente. Sobre esta viagem, escrevi «POR ESSA PICADA
ALÉM…» que está publicada em http://abemdanacao.blogs.sapo.pt
As zonas em que os civis portugueses não se deslocavam
tranquilamente eram a parte norte de Cabo Delgado e o perímetro da barragem de
Cabora Bassa. Mas a administração era portuguesa e havia comerciantes
portugueses residentes.
Foi
no Largo do Carmo, em Lisboa, que as colónias portuguesas passaram para as mãos
dos movimentos independentistas. Os militares portugueses estacionados em
Moçambique receberam ordem de se perfilarem perante o até então inimigo.
Seguiu-se
a História que as esquerdas políticas fizeram passar como verdadeira.
Entretanto, a Frelimo perdeu o pouco ânimo político que possuía
enquanto combatia os portugueses. Sentou-se na cadeira do Poder, deixou-se
envolver na corrupção, não voltou a encontrar uma liderança carismática que
entusiasmasse os moçambicanos e se desse ao respeito na cena internacional e
continua a ser um «bluff» militar. Até
porque, na tradição marxista, as Forças Armadas são partidárias e quem disser
que são nacionais sabe que está a mentir. Eis como o DAESH hasteou a
sua Bandeira numa das Mocímboas e que a hasteará na outra logo que lhe apetecer
pois «os mercenários de Moçambique chegam tarde».
Dá
para imaginar que anda Xicuembo por trás de tanto milando.
Mas há que suster o desespero dos
moçambicanos inocentes: o problema tem solução militar – como teve noutros
tempo - só que, agora, com muito mais sabedoria.
Agosto
de 2020 Henrique Salles da
Fonseca
COMENTÁRIOS:
Anónimo 16.08.2020:
Artigo muito esclarecedor e importante
pelo seu caracter de testemunho!
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