Uma boa síntese de Paulo Tunhas sobre a arte portuguesa – e não só –
para boicotar a História, criando uma nova narrativa, mesmo que esta falseie os
factos e desvirtue os dados, numa falsa bondade, e não só por espírito de
imitação e subserviência aos que primeiro o disseram, mas porque por esse meio,
que repudia o conservadorismo e o bom-senso, pensa conquistar o lugar que lhe
compete a seguir, no comando. Avante, pois, camaradas, vós estais primeiro que
a nação, que, com tanta pequice, destruís para os vossos filhos.
Força, camaradas, mais um esforço! /premium
Precisamos de importar praticamente tudo, dos bens de
consumo material às atitudes políticas. Nisso somos, de facto, muito bons.
PAULO TUNHAS
OBSERVADOR, 06 ago
2020
Logo
no princípio da Introdução ao seu muito interessante e convincente livro sobre A
nova direita anti-sistema. O
caso do Chega (Edições
70), o politólogo italiano Riccardo
Marchi lembra subtilmente “os desejos da
comunicação social, há muito faminta de ver replicada, em Portugal, a onda
europeia” de populismo. À partida, há dois motivos poderosos para tais
desejos. O
primeiro é a necessidade de encontrar um novo inimigo bem
definido que encarne em si tudo aquilo contra o qual se julga dever combater,
mesmo que, para esse inimigo cumprir cabalmente a sua função, seja necessário
exagerar-lhe os traços ao ponto da caricatura (“fascismo”, “neofascismo”, etc.).
O segundo é mais banal e prosaico. Se
os outros têm, porque é que nós não haveríamos de ter? É o velho mimetismo
nacional, que Vasco Pulido Valente não parou nunca de sublinhar, em todo
o seu esplendor. Precisamos de importar praticamente tudo, dos bens de consumo
material às atitudes políticas. Nisso somos, de facto, muito bons.
É apenas esta segunda tendência que
me ocupa hoje. Mais
precisamente, esta tendência tal como ela se manifesta por relação a um objecto
particular, o denominado “politicamente correcto” (PC). Devem contar-se
pelos dedos de uma mão as vezes em que usei por escrito esta expressão,
sobretudo porque sempre me pareceu carente de dimensão descritiva. A sua
origem, convém lembrá-lo, situa-se à esquerda. Servia para designar a posição
daqueles que eram excessivamente zelosos, aos olhos dos mais liberais, na
defesa das “posições justas”. É
sobretudo a partir de 1990
que ela adquire uma significação mais próxima daquela que agora possui. Como se pode ver numa antologia de 21
artigos organizada por Paul
Berman, publicada em 1992 e intitulada Debating
P.C. The Controversy over Political Correctness on College Campuses. O
debate, que percorre um vasto número de assuntos, mostra pelo menos três
coisas: que a linha que separa as posições da direita e da esquerda é
muito menos bem definida do que se tende a pensar; que a
radicalidade e a consequência de certas posições é um facto palpável; e, o que
só dificilmente pode parecer surpreendente, que os nossos representantes
caseiros do PC se encontram, a esta distância toda, ainda na mais tenra
infância da arte, não passam de meninos de coro. Não quero com este último comentário diminuir o
alcance da célebre teoria dos piropos do Bloco de Esquerda ou das profundas
elaborações dos discípulos do Professor Boaventura Sousa Santos. Limito-me a
uma constatação: entre Portugal e os EUA, de onde praticamente tudo vem, há um
trajecto abissal que só dificilmente poderá ser percorrido.
Paul Berman, na
apresentação do livro, nota que o P. C. resulta do encontro do liberalismo
americano com a filosofia desconstrucionista e, mais genericamente,
pós-estruturalista, francesa. Não faria
sentido, por muitas razões, estar aqui a falar de Derrida, Foucault, ou até de
Lacan, dos seus méritos e deméritos. Mas faz todo o sentido mencionar que,
até na linguagem, a influência é palpável.
Um exemplo (que reenvia, de resto, ao estilo lacaniano). De acordo com uma
autora, Barbara Johnson,
alguém terá demonstrado de forma cabal o facto de que “a ginofobia [o medo
das mulheres] se encontra estruturada como uma linguagem” e que,
correspondentemente, “a linguagem se encontra estruturada como ginofobia”. O
mesmo, sem dúvida, se poderia dizer da tontice…
Mas
não queria insistir neste aspecto. A antologia de Berman lida, como disse,
com vários tópicos, e fá-lo acolhendo simultaneamente pontos de vista
conservadores e de esquerda. Um facto particularmente interessante, que
referi de passagem e que seria hoje sem dúvida mais difícil de encontrar,
representando um dos interesses maiores da arqueologia deste debate, é o da oposição
das várias posições de esquerda. Uma
certa esquerda – representada, entre outros, por aquele que é talvez o
maior filósofo contemporâneo vivo, John R. Searle – defende, a partir do seu ponto de vista,
posições que se encontram por vezes próximas de conservadores como Roger
Kimball (cujo livro Tenured Radicals é muito
informativo), enquanto que uma outra esquerda, a “esquerda
cultural”, segue um caminho diametralmente
inverso.
Para
esta última, o ensino universitário deve, antes de tudo o mais, inscrever-se
num multiculturalismo radical, isto é, num multiculturalismo não mitigado e por
inteiro alicerçado num identitarismo étnico inabalável. Só assim a “auto-estima” e o empowerment das
várias minorias poderia ocorrer. Há aqui obviamente uma espécie de essencialismo
que rejeita qualquer porosidade das culturas. Tal
essencialismo é, no entanto, necessário para que a “acção afirmativa” seja
levada às suas últimas consequências e
para que o “eurocentrismo”, o privilégio dos dead white males, seja abolido,
nomeadamente nos currículos universitários e no cânone dominante no estudo da
literatura, por mais que tal cânone seja encarado, por uma parte dos
conservadores e pelo grosso da esquerda liberal, como algo que se encontra em
revisão constante. O que é importante, do ponto de vista do PC, é que cada
comunidade étnica se baste sobretudo com o seu cânone exclusivo, pois só assim,
fora de qualquer terreno comum, a “auto-estima” se poderá desenvolver. À custa
de um apartheid voluntário? À custa de um apartheid voluntário, sim.
É esta atitude que legitima o chamado “afrocentrismo”. Para os
afrocentristas, os egípcios – supostamente todos negros – foram espoliados
pelos gregos da sua filosofia, toda ela de origem egípcia, e os africanos foram
os primeiros a descobrir a América e encontram-se na origem das civilizações
europeia e asiática. Se tudo
isso passou desapercebido desde tempos imemoriais, tal deveu-se a um formidável
empreendimento de ocultação por parte dos europeus, que tudo fizeram para calar
esse ponto indisputável. É o que afirma, entre muitos outros, o principal
teórico afrocentrista contemporâneo, o norte-americano Molefi
Kete Asante. (Na sua óptima colecção “Livros vermelhos”, a editora Guerra &
Paz publicou recentemente um óptimo
pequeno livro do africanista francês François-Xavier Fauvelle, professor no
Collège de France, intitulado A ideologia afrocentrista à
conquista da história, em que
faz um breve resumo das posições afrocentristas, incluindo um capítulo sobre a
íntima relação entre um certo afrocentrismo, praticado na órbita da Nação do
Islão de Louis Farrakhan, e o mais radical anti-semitismo).
Se
me dei ao trabalho deste pequeno resumo – que não menciona sequer
a questão central do policiamento da linguagem, das elaborações sobre o
“discurso de ódio” e as chamadas fighting words –,
foi apenas para sublinhar três aspectos. O primeiro, a tentação
do apartheid voluntário que subjaz ao PC. O
segundo, coerente com o primeiro, a destruição militante de um terreno de
pensamento comum que nos una na busca de um entendimento tão vasto quanto
possível das diversas culturas. Por
último, o carácter finalmente timorato dos nossos radicais caseiros, que não
têm a coragem de copiar (mesmo com muito atraso) até ao fim as fontes de que se
servem para alimento espiritual. Não é que,
em termos práticos, não prefira até que seja assim. É só que, do ponto de vista
teórico, a incoerência lógica dificilmente poderá ser vista como um mérito.
Força, camaradas, mais um esforço!
POLITICAMENTE
CORRETO SOCIEDADE PARTIDO CHEGA POLÍTICA
COMENTÁRIOS
Antónia Coimbra: Excelente.
Assim, com saber e elevação impar, se destroem os terroristas desconstrutivistas.
Não se julgue, porém, que a ameaça à liberdade e à democracia que estes animais
sociais-fascistas representam se encontra de alguma forma atenuada.
Gens Ramos: Bom trabalho.
Oportuno e claro.
Portugal, 877 anos de existência: A
ditadura da linguagem promete. Se eu tivesse filhos em idade de frequentarem
universidades, pensava duas vezes. "O
comunismo só poderá vingar pela revolução" Marx : perverter as
instituições, romper a coesão social, destruir das nações, conquistar o poder
Joaquim Moreira: Depois deste
“pequeno resumo”, retive uma frase, que lhe dá todo o sumo: “É só que, do ponto
de vista teórico, a incoerência lógica dificilmente poderá ser vista como um
mérito”. O que quer dizer que, é a incoerência que, ao PC, dá consistência.
E que, o mérito está na coerência. Tudo isto se a lógica não for uma
batata, ou que acontece no tempo sem data. Mas um processo de análise que nos
pode ajudar a melhor compreender o que se está a passar. Do que me é dado
observar, a coerência não é um valor ou uma valência. Sobretudo para
quem o que interessa é fazer passar a mensagem do que está a dar. E o
politicamente correcto, é muito mais fácil de assimilar e de defender, por quem
tem como grande e até único objectivo, condicionar o poder. Não é por acaso que
o PC não está à esquerda nem à direita, está onde houver um espírito de seita!
António Sennfelt: Um dos artigos
menos conseguidos do prof. Paulo Tunhas. É pena, porque o assunto é de extrema
actualidade e merece toda a atenção, mas quando se pretende meter o Rossio na
Betesga o resultado não pode ser outro! Comentário como sempre redigido com o mais extremado
amor e carinho a fim de passar incólume pela monitorização de conteúdos de ódio
em boa hora implementada graças aos bons ofícios da exma. senhora ministra de Estado e da Presidência, dra.
Mariana Vieira da Silva, que bem
haja e São Marx guarde.
António Hermínio Quadros Silva: tendo
acabado de ler o 1º volume da História de Portugal e do Império Português de
Anthony Disney ( não há como ler um livro sobre Portugal escrito por estrangeiro,
dada a ausência de preconceitos) concordo em absoluto com a ideia do autor
sobre a necessidade de importarmos tudo desde os bens materiais bem como as
ideias politicas. Foi sempre assim sempre usámos as pimentas e os oiros do
Brasil para satisfação das classes possidónias a nobreza e a igreja no
antigamente e agora a classe política praga que se abateu sobre nós e cujos
efeitos sobrepassam as sete pragas do Egipto. O único período em que não
vivemos acima das nossas possibilidades foi durante o chamado Estado Novo em
que tudo o que foi feito foi com o nosso esforço e com o nosso dinheiro. Nesse
tempo teríamos merecido sermos chamados de frugais e tidos na conta de gente
séria
Antes pelo contrário > António Hermínio Quadros Silva Não é ausência... são apenas preconceitos diferentes.
O que é sem dúvida salutar.
Carlos Quartel: O autor sabe
do que fala, arrasa-nos com uma bibliografia imensa e terá, certamente, alguma
razão. Especialmente na narrativa que corre nos campus das universidades
americanas, onde os negros entraram com a negada segregação positiva. Na nossa comarca, especialmente
na nossa península (em Espanha é demencial) penso quer tudo começa com o
feminismo. Um passo necessário e justo, foi avançando para loucuras que vão
desde a prisão para o piropo até à exigência de administradoras em empresas
privadas. A negritude e o islão são aquisições oportunistas, o que interessa é manter
a chama acesa. O gino poder é o objectivo, os métodos e os argumentos serão os
de ocasião, desde que contribuam para o efeito.
Portugal, 877 anos de existência: Sempre me pareceu que a má vontade contra os brancos
era baseada no sentimento de inferioridade civilizacional das outras culturas,
o que está assim comprovado: alguns "intelectuais" africanos inventam
uma nova história em que se atribuem os feitos europeus. Fico à espera do fascículo em
que foram pioneiros na revolução industrial.
Verdade Mentira > Portugal, 877 anos de existência: Não... a má vontade resulta
mesmo da guerra e da exploração dos negros que foi feita pelos brancos até á
segunda guerra mundial, Portugal um pouco mais até 1974. Nem todos os brancos
que viviam em África foram racistas mas os que o não foram são a minoria, não
reconhecer isto é negar a história, quem tiver dúvidas veja a literatura ou os
filmes da época e fica a saber qual a opinião dos brancos sobre os negros.
José Coelho Gonçalves Cabrita > Verdade Mentira: Diga-me uma só obra visível
realizada pelos africanos excepto as da orla mediterrânica. Em todo o mundo
existem vestígios de várias civilizações, mas em África nem uma. 500 anos de
colonização terão destruído 10000 mil de civilização?
Portugal, 877 anos de existência > Verdade Mentira: As da orla mediterrânica eram o
comércio de escravos, ouro e marfim. Os clientes eram os europeus, entre
outros. Quando os europeus e americanos aboliram a escravatura, houve reis
africanos que protestaram pois era a parte mais lucrativa do seu negócio.
Portugal, 877 anos de existência > Portugal, 877 anos de existência: Os genocídios no Ruanda e Sudão
(entre outros) mostram como a cultura tribal (que está a ser introduzida nos
países desenvolvidos através do multiculturalismo), estava latente em África e
bastou os Europeus terem deixado o continente, para regressar em força.
Não foram eles
provocados pelo racismo? Chamem-lhe o que quiserem!
António Hermínio Quadros Silva > Verdade Mentira: você não diz o que sabe ou por
outras palavras não sabe o que diz. Eu vivi em Angola vários anos e não me
posso queixar de alguma vez ter sido ameaçado insultado ou o que quer que fosse
por algum negro e como eu milhares. Ora se nós tivéssemos sido como vossemecê
diz por certo teria havido imensas atitudes de vingança o que não se verificou.
Falo em angola. Mas você é canhoto logo teve de inventar situações para
justificar a vossa maneira de pensar, É o mesmo que agora fazem em Portugal
pois vivem disso e de espalhar ódios que mais tarde se vão virar contra vocês
próprios.
antonyo antonyo >Portugal, 877 anos de existência: O Brasil manteve a escravatura
até 50 anos depois de ter sido abolida em Portugal.
Hiroku Takaro
> Portugal, 877 anos de existência: Tens razão, o que aconteceu
entre os hutis e os tutsis foi puro amor
Portugal, 877 anos de existência > antonyo antonyo: Portugal - 1869, Brasil - 1888,
EUA - 1863, França - 1848, RU - 1834; ... Arábia Saudita - 1962; Mauritânia –
1981. Palavras para quê?
joana darcas > Verdade Mentira.
Hombre toda a gente é um pouco racista. Um familiar meu até mandou espalhar uns
cartazes em Luanda sul que diziam. SÓ HÁ 2 RAÇAS, HOMENS E MULHERES. Engraçado...
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