Os factos e as conclusões referidos por Alberto Gonçalves. Que naturalmente se arrisca. Nós não, que nos convém a modorra.
Um homem sem qualidade /premium
Não seria demasiado grave que ao dr.
Costa faltasse lisura, decência e, vá lá, coragem. Acima de tudo, falta ao dr.
Costa humanidade.
ALBERTO GONÇALVES,
Colunista do Observador
OBSERVADOR, 29 ago
2020
Horas
depois da reunião com o dr. Costa, da qual saiu todo contentinho, o
bastonário da Ordem dos Médicos, já um pouco abatido, queixou-se de o dr. Costa
de não ter dito em público o que, em privado, se tinha comprometido a dizer.
Aparentemente, o senhor bastonário é um dos muitos portugueses que, em Agosto
de 2020 e a julgar pelas sondagens, continuam a tomar o dr. Costa por um
indivíduo confiável. Há fenómenos extraordinários. Submetidos
a doses adequadas de propaganda, os mesmos portugueses acreditariam que Khomeini era um baluarte da luta feminista.
Noto,
dado que a propaganda não deixou que se notasse devidamente, que a reunião
citada surgiu na sequência de um vídeo em que o dr. Costa, em “off” e perante
jornalistas do “Expresso”, chamava “cobardes” aos médicos que não andaram a
reboque das “autoridades” socialistas locais, no caso do lar de Reguengos onde
morreram 18 infelizes por desidratação, incúria e outras inevitabilidades.
Durante a reunião, pelos vistos, o dr. Costa explicou ao senhor bastonário que
as suas declarações haviam sido descontextualizadas, e que, no contexto, o
“cobardes” apenas pretendia expressar a admiração e o respeito que sente pela
classe. Após a reunião, declarou que o Estado, leia-se meia dúzia de
figurinhas do partido, estivera impecável em todo o processo. Em todo o
processo, em “off” e em “on”, o dr. Costa nunca pediu desculpa aos médicos.
Muito pior, nunca pediu desculpa aos familiares das vítimas.
O episódio resume a personagem. Aqui,
como em dezenas de ocasiões anteriores, temos o sujeito que mantém uma relação
complicada com a verdade, o sujeito que tem uma relação nula com a
responsabilidade, o sujeito que perde a (débil) compostura ao primeiro entrave,
o sujeito que não tolera divergências, o sujeito habituado a debater assuntos
sérios com a sofisticação de comentadores da bola, e o sujeito que tem os
pobres – e bem agradecidos – jornalistas por capachos da sua vontade. E isto, aliado ao domínio precário da língua
portuguesa e à tendência, fatal no PS, para se rodear de trapaceiros e
nulidades, é o lado menos nocivo do dr. Costa. Não seria demasiado grave que ao
dr. Costa faltasse lisura, decência e, vá lá, coragem. Acima de tudo, falta ao
dr. Costa humanidade.
Em
2017, logo após a primeira vaga de incêndios e de cadáveres, o dr. Costa
apareceu aos saltinhos de alegria no lançamento da candidatura de um futrica à
câmara de Lisboa, pediu uma avaliação do impacto dos fogos na respectiva
popularidade e, por fim, rumou de férias para Ibiza. Após a segunda vaga de
incêndios e cadáveres, realizou uma “comunicação” ao país em que exaltava o
excelso trabalho dele e do governo dele, e em que nem por um instante lhe
ocorreu lamentar com um vestígio de franqueza os cento e tal cidadãos que o
Estado deixou arder. Mais tarde, evidentemente aconselhado, fingiu comover-se
numa sessão parlamentar: não foi uma grande interpretação. Para lá das inúmeras
virtudes de que carece, o dr. Costa carece de empatia.
Quando
o dr. Costa consumou a subida de “apparatchik” de paróquia a chefe nacional, os
pasmados da praxe, para efeitos de legitimação, cobriram-no de elogios, entre
eles o de “príncipe da política”. Hoje, parece sarcasmo. À época,
também parecia. É difícil conceber maior insulto à monarquia e à política.
Mesmo a política portuguesa, com um vasto rol de doutores sem letras, de
manhosos sem mundo e de prepotentes sem razão, não produzira, fora das fileiras
secundárias ou de partidos totalitários, um líder tão literalmente desumano –
pondero a palavra – quanto o dr. Costa.
Não meço a humanidade pela
inteligência, pela bondade ou, Deus me livre, pelo sentimento: meço-a pela
possibilidade de olharmos alguém e, sob as imperfeições e divergências,
suspeitarmos de alguma característica partilhável, de um pormenor susceptível
de nos convencer que seria suportável passar dez minutos a tomar café com
aquela criatura. Eu, que já passei horas (e abracei) Jerónimo de Sousa, um
ignorante afável, não imagino conviver dez segundos com o dr. Costa. Um fulano
normal olha o dr. Costa com horror. E ele olha-nos com desprezo.
A cada dia de uma longa carreira, o dr. Costa ajuda a definir o
arquétipo, felizmente raro, do político privado de dúvidas, escrúpulos,
vergonha, limites. Cavaco não tinha dúvidas, mas tinha escrúpulos. Guterres não
tinha escrúpulos, mas tinha dúvidas. Durão não tinha limites, mas tinha
vergonha. Sócrates não tinha vergonha, mas tinha limites (e Pedro Passos Coelho nem é para aqui
chamado). O dr. Costa não tem nada que se
aproveite, incluindo a capacidade de ver nos semelhantes (salvo seja) qualquer
coisa diferente de instrumentos ou empecilhos dos propósitos dele. O dr. Costa
não é só um mau governante: é obviamente má pessoa. E uma pessoa má que manda
sem escrutínio num país é obviamente um governante terrível. E perigoso.
Principalmente,
por dispor de poder absoluto e não o emprego subalterno na repartição das
finanças que um carácter assim recomendaria, o dr. Costa é um perigo, cujas
consequências ainda não experimentamos na totalidade. Nem todas as calamidades
que vêm sucedendo a Portugal são culpa do dr. Costa. Demasiadas calamidades
evitáveis exibem, directa ou indirectamente, a sua autoria. Muito
além da covid, os sucessivos, e arbitrários, estados de emergência e
contingência não escondem o estado de agonia a que chegamos: um povo
voluntariamente entregue aos apetites de um homem sem qualidade. É talvez
merecido. É de certeza trágico.
COMENTÁRIOS:
António Lamas: Extraordinário Alberto.
Em cheio na
avaliação.
Carlos Quartel: Arrasador, sem paninhos quentes. Em minha opinião, corresponde à verdade,
mas não se pode deixar de referir que está lá com os votos dos eleitores
portugueses. A geringonça foi uma golpada, em que os enganou (nem se deram por
enganados, coitados) mas agora não houve engano. O que o autor viu, todos vimos,
por que razão consegue os votos ?? Tem feitiço???
Xico Nhoca: Esta avaliação foi de arrasar. E, desgraçadamente, certeira. Desconfio que
AG nutre uma repugnância pelo espécime que só é comparável com a minha. Luís Marques Óptimo artigo.
fritz maier: A vida andava a correr mal ao Khosta. Vai
daí, o gajo (emprego as mesmas palavras que ele costuma empregar), como sempre
faz quando acossado e apesar de protegido pela CS que ele próprio paga,
organizou, com uma pressa no mínimo desagradável, uma reunião com o BE. Ora, o BE e o PCP vão ter o cuidado de terminar
quaisquer danos que ainda não tenham sido feitos.
Catarina Alves Costa: não é só um mau governante: é obviamente má pessoa. E uma pessoa má que
manda sem escrutínio num país é obviamente um governante terrível. E perigoso. Muito obrigado Alberto Gonçalves pelo seu
inestimável desassombro e lucidez. Fica assim dito, por intermédio da sua pena
lapidar, o que igualmente penso e profundamente sinto. Nem de encomenda se
obteria um matarruano de repelência superior ao assaltante do poder instalado
no governo do nosso país.
Maria Alva: Se a xica-espertice manhosa e sem escrúpulos fosse música, Kosta seria a
Orquestra Sinfónica de Viena a tocar à desgarrada com Orquestra Filarmónica de
S. Petersburgo. Parabéns e até prá semana,
AG.
André Ondine: Nada a acrescentar. Uma descrição perfeita do manhoso habilidoso.
Numantinus Cipianus Estou de volta, depois de um retiro sabático a que em parte me propus e,
noutra parte, fui obrigado pelo azedume esconso e trauliteiro de uns quantos
esquerdosos e alguns também direitalhos salazarentos que sempre que posto por
aqui qualquer treta, passam a denunciar-me mais rápido do que o execrando Che
tratava de dar uns quantos tiros na nuca dos recalcitrantes que o afrontavam. E regressei, hélas, para comentar as façanhas de
um verdadeiro artista português seguindo o mote, pois então, do nosso estimado
AG que o criador guarde na sua bondade infinita e o proteja dos nefandos e
truculentos prosélitos de São Marx. Adiante
que se faz tarde. Alguém de vcs que me lêem teriam o topete de comprar um carro
em segunda mão ao Dr. Kostas? Certamente que, pelo menos hesitariam ou, no
mínimo, iriam pressurosamente ler no Portal da Queixa da net se, o cidadão em
questão, não tinha pelo menos uma vez metido serradura no motor do veículo a
fim de que desse para rolar uns quilómetros. O suficiente, pois claro, para
ainda acusar o comprador de ter sido ele mesmo o autor da marosca! Diz o povão
que quem vê caras não vê corações. Mas todos nós, pelo menos aqueles que não
têm o cérebro trepanado ao estilo de uma boa parte dos comunistas, há muito
aprendeu a intuir que pessoas existem a quem lhes está escarrapachada na cara a
desfaçatez e a mais que provável falta de carácter. AG anda bem ao
interrogar-se como é possível certo tipo de pessoas alcandorarem-se aos lugares
cimeiros do estado. E tenho para mim que, de uma forma até mais prosaica, raro
é o político que não deita mão da arte da dissimulação e da falta sistemática
de vergonha. Nicolau Maquiavel explicou-nos isso de forma sucinta e directa e,
de uma forma genérica, quase todos eles surfam a mesma onda da genial
personagem criada pelo também genial Jorge Amado que é, como muitos certamente
se lembrarão, do prefeito Odorico Paraguaçu da cidade baiana de Sucupira, do
romance e novela O Bem Amado. Não gosto muito de perorar sobre pessoas que
pessoalmente não conheça e, por isso mesmo, devo ater-me àquilo que ressalta da
personagem política. E, sem quaisquer dúvidas, parece-me tratar-se de uma
pessoa manhosa, arrogante, prepotente e trapalhona. A psiquiatria tem para este
tipo de pessoas uma designação que indicia uma psicopatologia concomitante. E,
como bem diz o AG, tudo isto é trágico. Usa dizer-se que cada povo tem os
governantes que merece. Também acho. Bem lá no fundo o povão tuga merece o Dr.
Kostas. E, este, olhará certamente de soslaio e com desdém para o povo ignaro
que o incensa. Que a miséria, em especial a miséria moral, gosta de se sentir
suficientemente acompanhada!... PS- Aos que têm várias contas e denunciam por aqui
"democraticamente" certos comentadores (só um destes artistas tem
umas 40 contas pelo que pude observar) direi que, sempre que me apeteça, cá
estarei para dar luta. Gostem ou não!...
CN Romeu Francisco> Numantinus Cipianus Bravo! Precisamos de si. Não
abandone a partida por causa de 1 Kosta dos Komentários. É dar a vitória a um
grupo de bestas. Liberal
de Castigo > Numantinus Cipianus Seja bem aparecido, cônsul
Numantinus Cipianus, muitos por aqui, entre os quais este seu fã agora de novo
assinante (tive que criar nova conta de correio electrónico!), aguardavam que o
vencedor de Cartago voltasse às lides. Só tenho um pouco pena de ter sido para
falar sobre uma personagem da "vida nacional" em relação à qual até
mencioná-la nos suja a boca ou os dedos. Hesito é em saber se nos suja mais ou
menos do que referir o professor Selfies. Vendo bem as coisas, estão bem um
para o outro. Aproveito para lançar um 'fatwa' sobre quem quer que denuncie os
comentários de Públio Cornélio Cipião Emiliano Numantino o-Africano, que essa
pessoa sofra como castigo ter que abraçar o Dr. Costa mil vezes. fritz maier > Numantinus
Cipianus Diz bem, NC, pois realmente é impressionante como é que uma criatura tão
medíocre consegue estar à frente dum governo da UE ! André Ondine > Numantinus Cipianus: Eu devo dizer que nunca
compraria um carro em segunda mão ao Dr Costa. Nem sequer um carro novo, pois
estou seguro de que se trataria de uma velharia com o conta Kms manipulado, tal
a manhosice da personagem. O homem anda a vender gato por lebre desde que começou
na política, onde parece que sempre esteve.
Anibal Augusto Milhais > Numantinus
Cipianus: Até pensei que tinha desistido! Bem vindo de volta! Nós os da Esquerda
gostamos de o ver por cá! E....claro, veja lá se ...."pára de espumar da
boca, tremelicar, e deitar fumo das orelhas", Saudações aqui do Soldado
Milhões! John Doe > Numantinus
Cipianus: um povo voluntariamente entregue aos
apetites de um homem sem qualidade Como é que um povo que se pode encontrar em todos os
países do mundo, que é muito prezado pelas autoridades e os empregadores lá
fora, como é que esse povo consegue chegar a uma situação tão assustadora ? Mistério
para mim !
paulo Vasconcelos: Lisura e decência são coisas que abundam na personalidade do bastonário da
ordem dos médicos. São tantas toneladas de lisura e decência que em Dezembro
jurava que a ordem não podia fazer auditorias com muita pena dele. Já em
Agosto, a mesma pessoa munida da mesma lisura e decência já dizia completamente
o contrário do que tinha dito em Dezembro para surpresa dele e principalmente
para surpresa nossa. Jorge Carvalho: Obrigado pela coragem e
lucidez. A actualidade portuguesa é atroz, descemos tanto, que por vezes até
perto de um cão sentimos vergonha. Ana Rebelo: Muito bem.
Observa Ador: Está a dar demasiada importância ao dr. costa. John Doe: Observa Ador: Não lhe dar a devida importância maléfica seria um
erro tremendo !
T R Sem tirar, nem pôr.
António Duarte: AG back on track após um anterior artigo menos conseguido, soberbo,
verdadeiramente soberbo. Que regalo para o intelecto. Anseio pela próxima
semana
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