sábado, 15 de agosto de 2020

Já lá vai o tempo

 

Das histórias de Perrault, O Polegarzito esperto, o Gato das Botas, a Cendrillon e o sapatinho mágico… E as fadas e todo esse universo de impossibilidades desfeitas pela varinha mágica, ou pela ladinice dos heróis infantis… Já lá vai tudo isso, que os meninos hoje nem lêem, talvez, apurando as suas fantasias na caixinha mágica dos jogos e dos heróis valentões inspiradores das movimentações sociais de reclamações ou entusiasmos idólatras que se vêem a cada passo, por esse mundo fora, onde eles são permitidos. E o que acontece lá longe, tem para mim o efeito de encantamento das histórias infantis de outrora. Mas apenas porque são gentes distantes de terras distantes, que criam magia. Bielorrússia! O chefe mau, que já foi bom, agora odiado… Uma história diferente, que nos afasta por momentos da nossa realidade triste.

BIELORRÚSSIA

Pressão sobre Lukashenko aumenta nas ruas enquanto UE dá luz verde a sanções

Grandes manifestações estão convocadas para o fim-de-semana. Lukashenko pede aos bielorrussos para ficarem em casa e fala em agressão a partir do estrangeiro. UE prepara sanções a figuras do regime.

PEDRO BASTOS REIS           PÚBLICO, 14 DE AGOSTO DE 2020

Svetlana Tikhanouskaia, a candidata da oposição nas eleições em que Aleksander Lukashenko foi declarado vencedor, exilada na Lituânia, convocou grandes manifestações na Bielorrússia neste fim-de-semana, quando há greves em todo país contra o regime. Já Lukashenko fez um discurso a exigir aos bielorrussos que fiquem em casa. “Não saiam às ruas! Vocês estão a ser usados, as nossas crianças estão a ser usadas, como carne para canhão”, afirmou o Presidente, alegando que está em curso uma interferência estrangeira no país para o derrubar.

Enquanto o futuro da Bielorrússia se joga nas ruas, numa reunião extraordinária do Conselho dos Negócios Estrangeiros, os 27 Estados-membros acordaram a elaboração de uma lista de figuras do regime a quem serão impostas sanções. O chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, confirmou que, agora, “começa o trabalho para sancionar os responsáveis pela violência e falsificação [do resultado das eleições”. A oficialização das medidas a adoptar deverá ocorrer no final de Agosto, numa reunião formal entre os ministros.

Enquanto isso, na Bielorrússia, Lukashenko desfiava a teoria da conspiração: “Hoje chegaram pessoas da Polónia, da Holanda da Ucrânia e da Rússia, apoiantes de [Alexei] Navalni [o blogger russo que é hoje a mais importante força da oposição russa]. A agressão contra a Bielorrússia já começou”, atirou.

Enquanto milhares de pessoas marcharam nas ruas de Minsk, com flores e cartazes a exigir a demissão de Lukashenko, com um apoio cada vez maior dos sectores operários, outrora um bastião de apoio ao regime, os ministros dos Negócios Estrangeiros da UE deram o primeiro passo no sentido de retaliar contra o regime bielorrusso.

Temos de parar com a violência nas ruas das cidades bielorrussas. Peço às autoridades que parem e aceitem dialogar”, afirmou Tikhanouskaia, num vídeo colocado online, apelando ainda aos bielorrussos que continuem a contestar os resultados das eleições do último domingo que, segundo os números oficiais, só lhe deram 10% dos votos.

Nos últimos dois dias, Minsk ensaiou algumas tentativas de apaziguar a violência dos últimos seis dias, libertando 2000 dos mais de 6700 manifestantes detidos desde a noite eleitoral. No entanto, as imagens e os relatos da violência exercida sobre os manifestantes, que a Amnistia Internacional qualificou como uma “campanha de tortura generalizada” e a intransigência de Lukashenko, tem levado cada vez mais pessoas às ruas, enquanto as greves estendem-se a cada vez mais sectores, desde trabalhadores das fábricas a professores, passando por médicos e jornalistas.

tp.ocilbup@sier.ordep

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COMENTÁRIOS:

vinha2100 MODERADOR: Cheira a liberdade na Bielorrússia. Em Portugal, os comunistas parecem os membros duma seita a mandarem-se ao lago do COVID na festa do Avante. Bate certo. O vento sopra todo para o mesmo lado.

Fogo Nuclear.916051 INICIANTE: Tenho dois colegas Bielorrussos que tem as famílias lá e Dizem que de certeza absoluta houve fraude e da grande. Até me mostraram a conta do Twitter que publicou um vídeo onde se vê um tipo (ou tipa) a descer as escadas colocadas à janela do edifício com o saco dos votos. Julgo que o guardian inglês tb Publicou tal vídeo. Agora os russos vão descobrir que a tipa da oposição é fascista e Nazi, que a eleição foi legítima, que há misteriosas forças ocidentais por trás de tudo isto e vão conduzir mais um referendo que vai dizer que 110% da população quer unir-se à Rússia e vão anexar o país, crimea like. 14.08.2020

Joao EXPERIENTE: Se se está a referir aos nazis de Kiev acho que não foram os “russos que disseram”, até aqui o Público o refere desde há seis anos Público 1/9/2014 “Azov, o batalhão neonazi que vai defender Mariupol”, até recentemente Público 21/6/2020 “Como a Ucrânia se tornou o maior viveiro de neonazis do mundo”. É um facto, semana sim semana não atribuem a uma praça ou avenida o nome de um nazi SS notável, ou erguem mais uma estátua e homenageiam mais um nazi numa efeméride do seu falecimento. É assim. 14.08.2020

Sima Qian INFLUENTE: João, nem uma palavra em defesa do martirizado povo da Bielorrúsia?

Fogo Nuclear.916051 INICIANTE: Tenho dois colegas Bielorrussos que têm as famílias lá e dizem que de certeza absoluta houve fraude e da grande. Até me mostraram a conta do Twitter Que publicou um vídeo onde se vê um tipo (ou tipa) a descer as escadas colocadas à janela do edifício com o saco dos votos. Julgo que o guardian inglês tb Publicou tal vídeo. Agora os russos vão descobrir que a tipa da oposição é fascista e Nazi, que a eleição foi legítima, que há misteriosas forças ocidentais por trás de tudo isto e vão conduzir mais um referendo que vai dizer que 110% da população quer unir-se à Rússia e vão anexar o país, crimea like.

  jofabianito.937913 INICIANTE: Face ao que a China fez e faz nem uma sanção, nada, continuam na senda da cobardia e da inescrupulosidade. Não valem nadinha

filipeluis.marques EXPERIENTE: Realmente não se entendem estas sanções. É naturalmente, um governo de esquerda

Amélia. Obrigada INFLUENTE E que é que uma coisa tem a ver com a outra? Mas agora, pergunto o que interessa. Houve fraude ou não houve fraude? O povo da Bielorússia que está a manifestar-se pode fazer ou não o pode fazer? Há ditadura na Biolo-rússia ou não há? Concordam com a prisão de milhares de pessoas civis por estarem nas ruas a manisfestarem-se pacificamente? Acham que os funcionários públicos não têm direito a fazer greve? O que acham que um Presidente deve fazer? Gostariam de ter a mesma forma de governação em Portugal? Um presidente vitalício?

 

TEXTO DE APOIO:

BIELORRÚSSIA: Ao fim de duas décadas, Lukashenko começa a perceber o que é ter oposição

Alguma coisa se mexeu no sistema político bielorrusso que se consolidou em torno do homem-forte desde 1994 com os protestos dos últimos meses.

      PÚBLICO, 20 DE JULHO DE 2020

Durante mais de duas décadas, a política bielorrussa permaneceu congelada em torno do Presidente Aleksandr Lukashenko, descrito como “o último ditador da Europa”, por não permitir nem um milímetro de espaço de manobra a qualquer voz opositora. No entanto, a desastrosa gestão da pandemia da covid-19 pelo Governo parece ter exposto as fragilidades do sistema que dirige a antiga república soviética desde a sua independência.

Os bielorrussos preparam-se para ir a votos a 9 de Agosto e este seria mais um ritual sem significado – a fraude e a ausência de uma oposição credível são comuns nas eleições bielorrussas – mas a recente onda de protestos contra Lukashenko parece estar a indicar um momento de viragem.

“Durante duas décadas, o povo concordou em tolerar Lukashenko em virtude de uma espécie de acordo entre o Presidente e o país: ele fornecia segurança e estabilidade e, em troca, ninguém desafiaria a sua presidência vitalícia”, escreve o analista Vitali Shkliarov na revista New Eastern Europe.

Esse arranjo desfez-se com a eclosão da pandemia. Na verdade, Lukashenko faz parte de um grupo reduzido de líderes mundiais (ao lado dos Presidentes do Brasil, Jair Bolsonaro, da Nicarágua, Daniel Ortega, e do Turquemenistão, Gurbanguly Berdimuhammedow) que têm negado a real dimensão do novo coronavírus, mesmo perante as evidências. Na Bielorrússia, Lukashenko disse que a forma como os restantes países lidaram com a pandemia se tratou de uma “psicose maciça” e aconselhou os seus compatriotas a tratarem os sintomas da covid-19 com vodka e sauna.

A resposta do Governo enfureceu a população que, no passado, já tinha demonstrado estar a perder a paciência com o seu Batska (pai), como é conhecido Lukashenko, perante a queda do nível de vida. Até ao fim desta semana, o país registou mais de 65 mil casos confirmados de infecção e quase 500 mortes, números bem superiores aos da vizinha Ucrânia, que tem mais do quádruplo da população. Tendo em conta a pouca importância dada à epidemia, é de esperar que os números oficiais ocultem uma enorme subnotificação.

As ruas começaram a enviar recados a Lukashenko no início de Maio. Num país onde a imprensa está na sua generalidade sob o jugo do Governo, os protestos foram promovidos por Syarhey Tikhanouski, um youtuber que tem cerca de 200 mil seguidores e que incitou os seus compatriotas a saírem à rua com um chinelo – a arma habitual para quem quer livrar-se de uma “barata”.

A resposta não surpreendeu ninguém. Tikhanouski foi detido sob acusação de perturbar a ordem pública, podendo incorrer numa pena de três anos de prisão, e foi impedido de se candidatar a cargos públicos.

Lukashenko também procedeu a uma reorganização interna, com uma remodelação governamental. No início de Junho, chamou para primeiro-ministro Raman Halouchanka, que era responsável pela supervisão da indústria militar. A decisão foi vista como um reforço do peso do aparelho de segurança do regime no Governo.

De uma forma geral, a repressão foi reforçada nas últimas semanas, indicando uma forte agitação do regime. Cerca de 700 pessoas foram detidas, entre activistas, políticos e jornalistas, até à data limite de apresentação de candidaturas à presidência, de acordo com o grupo Viasna, de defesa dos direitos humanos.

“É bastante revelador que Lukashenko tenha escolhido uma estratégia que consiste no apoio do aparelho securitário e no uso activo de medidas repressivas”, diz ao PÚBLICO a investigadora da Universidade de Oslo, Maryia Rohava.

Candidaturas proibidas

A resposta dura das autoridades não ficou por aqui. Ao mesmo tempo que a revolta crescia nas ruas, a política mexia pela primeira vez em décadas. Duas candidaturas às eleições de 9 de Agosto emergiram como desafios reais ao domínio absoluto de Lukashenko. O ex-empresário Viktor Barbariko conseguiu a façanha de reunir mais de 400 mil assinaturas para validar a sua candidatura, mas acabou por ser detido em meados de Junho sob suspeita de lavagem de dinheiro.

O ex-embaixador nos EUA, Valeri Tsepkalo, também estava a gerar grande entusiasmo, mas viu as autoridades eleitorais invalidarem uma quantidade considerável das assinaturas que a sua candidatura havia reunido.

A rejeição das duas candidaturas gerou ainda mais protestos, mostrando que, desta vez, a população não irá aceitar tão facilmente as soluções do costume. Rohava nota que “as eleições podem não mudar o sistema mas vieram evidenciar as medidas repressivas que o sistema usa para se manter no poder”.

A derradeira esperança de que as eleições de dia 9 não sejam mais um ritual vazio recai em Svetlana Tikhanouskaia, a mulher do youtuber preso, cuja candidatura foi viabilizada. Esta semana, Barbariko e Tsepkalo anunciaram o seu apoio à candidata e pediram uma congregação de esforços.

Ainda é incerto se Tikhanouskaia poderá realmente concorrer contra Lukashenko, dado o histórico do regime, e é ainda mais improvável que venha a impedir a sua reeleição. Mas algo no hermético sistema construído desde 1994 na Bielorrússia abalou nos últimos meses. “Seria demasiado optimista dizer que o sistema não irá fornecer o resultado que o autocrata necessita. Mas estamos a ver o sistema a consolidar ainda mais em torno dos elementos mais leais e dos serviços de segurança”, observa Maryia Rohava.

 

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