segunda-feira, 10 de agosto de 2020

No tempo da minha escola primária

 

Aprendiam-se as províncias: Minho, Trás-os-Montes e Alto Douro, Douro Litoral, Beiras (Alta, Baixa e Litoral), Ribatejo, Estremadura, Alentejo (Alto e Baixo) e Algarve, e os respectivos distritos, com as capitais correspondentes. Nomes que nos faziam apegar-nos ao nosso pequeno rectângulo variado, mesmo os que viviam longe dele. Depois, por cá, falou-se, já por várias vezes, em regionalização, conducente, ao que se propalava, a um maior desenvolvimento regional, mais ou menos independente dos poderes centrais e vimos, nessa fragmentação, como processo libertador, a perda de uma unidade e coesão nacionais que nos chocava, pelo desvio tendente apenas a satisfazer mais ambições pessoais, sem que tal significasse necessariamente um desenvolvimento eficaz, além da perda de unidade linguística e esvaimento do sentimento pátrio que dela proviriam.

O texto de António Barreto trouxe-nos tristes lucubrações, sobre uma questão que julgávamos arredada, na nossa quarentena preguiçosa de informação, e daí a consulta à Internet, para entendermos a retoma de um tema em que não reparáramos.

Eis as NOTAS DA INTERNET que nos permitiram compreender melhor o discurso de António Barreto, como sempre brilhante de construção e de previsão de maior descalabro ainda do que aquele a que nos julgávamos votados com os efeitos devastadores da Covid-19: na sombra e na traição, aqui vamos, assim, sendo levados, inexoravelmente, sem que surja um libertador, num país de tão poucos escrúpulos

Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

“As CCDR são serviços desconcentrados do Ministério das Cidades, Ordenamento do Território e Ambiente (MCOTA) (actual Ministério do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia), dotados de autonomia administrativa e financeira, incumbidos de executar ao nível das respectivas áreas geográficas de actuação as políticas de ambiente, de ordenamento do território, de conservação da natureza e da biodiversidade, de utilização sustentável dos recursos naturais, de requalificação urbana, de planeamento estratégico regional e de apoio às autarquias locais e suas associações, tendo em vista o desenvolvimento regional integrado.”

— Decreto-Lei 104/2003, de 23 de Maio, Artigo 1.º do Capítulo I.[1]

Áreas de actuação das CCDR

As CCDR propriamente ditas, só foram criadas em 2003, com a fusão entre as Comissões de Coordenação Regional (CCR) e as direcções regionais do Ambiente e do Ordenamento do Território, organismos estes que também não passavam de serviços desconcentrados do Estado central. Contudo, antes de 2003, as CCR já funcionavam com funções semelhantes às das actuais CCDR’s. As CCR foram instituídas em 1979, na sequência das regiões de planeamento criadas, em 1969, durante o governo de Marcelo Caetano, com o objectivo de fazer uma distribuição regional equitativa do desenvolvimento a ser obtido pelo III Plano de Fomento. Inicialmente, as CCR tinham apenas funções de coordenação da actividade dos municípios, mas viram as suas competências aumentarem bastante ao longo do final do século XX.

A estrutura organizativa das CCDR’s é bastante complexa, e compreende um Presidente da CCDR, um conselho administrativo, uma comissão de fiscalização e um conselho regional.[1]

Nenhum destes órgãos é eleito directamente, sendo o Presidente da CCDR nomeado pelo Governo português por um período de 3 anos.[1]

A área de actuação das CCDR corresponde inteiramente à das unidades estatísticas NUTS II no continente. A única excepção é a área da CCDR de Lisboa e Vale do Tejo, onde até 2002, existiu uma NUTS II homónima, que correspondia à área da respectiva CCDR.

Contudo, nesse ano, por motivos relacionados com a distribuição de fundos comunitários daUnião Europeia, a NUTS II de Lisboa e Vale do Tejo (que era constituída por 5 NUTS III), foi extinta e o seu território foi esquartejado por várias outras NUTS II: 1 NUTS III foi entregue ao Alentejo, 2 foram entregues ao Centro e as restantes 2 passaram a formar a nova NUTS II de Lisboa.

Actualmente, existem 5 Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional.

As sedes das CCDR são as seguintes:

CCDR Norte - Palacete do Campo Alegre, Massarelos, Porto

CCDR Centro - Quinta dos Loios, Santo António dos Olivais, Coimbra

CCDR Lisboa e Vale do Tejo - Edifício Alexandre Herculano, Coração de Jesus, Lisboa

CCDR Alentejo - Edifício Arantes e Oliveira, Malagueira, Évora

CCDR Algarve - Museu Regional, , Faro

 

OPINIÃO

Furtivamente, neste quente Verão…

Foi neste Verão, difícil entre todos, que os dois maiores partidos decidiram acertar agulhas na questão das eleições para as CCDR, aprovando um sistema incongruente nos fundamentos, confuso nos objectivos, contraditório na legitimidade, mesquinho na inspiração e dissimulado nas intenções.

ANTÓNIO BARRETO

PÚBLICO, 9 de Agosto de 2020

O país receia a segunda vaga da pandemia, assim como os maus resultados de um abrandamento talvez precipitadamente decidido. As opiniões, justamente inquietas, dividem-se entre os que pensam que se foi longe de mais, sobretudo com o fecho de escolas, e os que julgam que não se fez tanto quanto se deveria e que se desmobilizou prematuramente. Apesar do tom sabichão de tantos comentários e tantas vozes, ninguém sabe exactamente quais seriam as melhores soluções…

A população do país inteiro vive dias e semanas de aflição, sem rendimentos, com pouco trabalho, muito desemprego, sem turistas, com facturas para pagar, com filhos em casa sem ocupação, com avós em lares desprotegidos, com doentes sem consulta, sem cirurgias programadas, com reservas de viagem e de hotelaria perdidas e sem alimentos no frigorífico…

Grande parte do país vive com temor dos transportes públicos com muito calor e mais riscos de contágio, assim como dos restaurantes e das lojas de roupa, com regras drásticas, mas sem mercadoria nem clientes. Olha-se para os lares de idosos e as creches, os jardins públicos e os recintos desportivos, com o silencioso pavor envergonhado de quem não quer mostrar medo, mas que teme o desconhecido. Tudo o que parecia simples e seguro é hoje incerto…

Metade do país vive novamente uma intensa e perigosa temporada de incêndios, com cada vez mais equipamentos dispendiosos, cada vez mais operacionais em serviço, cada vez mais perigo a ameaçar casas e fazenda, cada vez mais florestas vítimas de pirómanos, descuidos e criminosos…

Uma boa parte do país sente que raramente se viveram tempos tão perigosos. As gerações mais novas sentem-se defraudadas nas suas expectativas. Os mais velhos resignam-se a verificar que os seus últimos anos de vida não lhes trouxeram a ambicionada tranquilidade, mas sim uma inesperada ansiedade. Todos têm dificuldade em prever o futuro imediato, raros sentem ter os meios necessários para as emergências que nos esperam. Todos olham para o Governo, para as autoridades e para a União Europeia com a inquietação de quem espera tudo…

Foi neste quadro difícil e pesado que o Governo tomou decisões sérias e graves sobre a administração pública, promulgadas pelo Presidente da República e sancionadas pelo Parlamento, que assim autorizaram o que os partidos cozinharam nos seus conciliábulos.

Foi neste Verão, difícil entre todos, que os dois maiores partidos decidiram acertar agulhas na questão das eleições para as comissões de coordenação e desenvolvimento regional, ditas CCDR, aprovando um sistema incongruente nos fundamentos, confuso nos objectivos, contraditório na legitimidade, mesquinho na inspiração e dissimulado nas intenções.

Já se conhecia o plano. O Governo queria evitar o necessário referendo e dar a impressão de que respeita a Constituição. Tinha a firme intenção de não colocar o Presidente da República, adversário da regionalização, em posição delicada. Procurou não hostilizar, sem necessariamente agradar, os dois partidos de esquerda de quem o Governo depende. Desejou dar a impressão de que, apesar das enormes dificuldades do momento, o Governo não perde a iniciativa. Tentou assim demonstrar alguma capacidade reformista. Preocupado com a falta de programas e tarefas para a administração local e os partidos regionais, o Governo decidiu avançar com o seu estapafúrdio plano de realizar eleições indirectas, misturando as legitimidades nacionais, locais e corporativas e mantendo a mão pesada sobre os mecanismos de decisão. Nem sequer os seus mais competentes e experientes académicos e especialistas concordam: uns desejavam uma verdadeira regionalização, outros queriam uma autêntica descentralização, todos recusavam esta mistura explosiva e paralisante de legitimidades e de responsabilidades.

Na verdade, a intenção é clara. Não necessariamente a de criar empregos para os seus amigos. É verdade, mas não é o mais importante. Mas certamente a de procurar uma plataforma entre o PS e o PSD, que permita que seja um acréscimo de autoridade do Estado central sobre as regiões e as autarquias, ao mesmo tempo que uma aparência, bem ilusória, de que a descentralização está em curso.

Esta decisão, de absoluta infelicidade política, tem outra consequência: a de reforçar a dependência da administração pública dos partidos, dando segurança aos vínculos de vassalagem. E ainda outro efeito muito habilidoso, como agora é costume: o de criar bodes expiatórios para todas as temporadas e todos os riscos! Protecção civil? Prevenção florestal? Riscos do ambiente? Desastres de clima? Estratégia de desenvolvimento? Investimentos locais? Criação de emprego? Para tudo isso, temos agora o responsável perfeito, o culpado ideal: as regiões, as autarquias e a sociedade civil.

Este é o acto de maior covardia do Governo de António Costa. A confirmar a sua enorme habilidade em encontrar, longe ou perto de si, mas fora de si, responsáveis e culpados. Este é o gesto mais confuso e contraditório do Presidente da República, que sabe que está a colaborar com uma fantasia. Esta é a decisão mais errada dos partidos políticos que, acossados pelas crises, agem com o reflexo condicionado de se crispar e de reforçar a sua mão baixa sobre a administração.

Andou mal o Presidente da República ao promulgar, sem antes exigir um exame à sua constitucionalidade, uma lei com a qual é quase certo que não está de acordo e de que vê os seus limites e as suas contradições. Não andaram bem as autoridades que aprovaram um sistema que não é carne nem peixe. Esteve mal o Governo, ao criar mais um dispositivo que encerrou a administração pública entre as mãos dos partidos. Não esteve bem o Parlamento, ao permitir que o Governo invente soluções artificiais para a administração pública e que promovem a rivalidade das legitimidades e o choque das representatividades. Andam muito mal António Costa e Rui Rio, ao negociarem entre eles os futuros designados, a que chamarão eleitos pelas regiões e que mais não serão do que agentes dos chefes. Em Agosto, furtivamente, em dias quentes de calor, de incêndios e de vírus, comete-se erro sério. E inútil.

Sociólogo

TÓPICOS

OPINIÃO  PARTIDOS POLÍTICOS  GOVERNO  ANTÓNIO COSTA  RUI RIO  DESCENTRALIZAÇÃO  ESTADO

J I Toscano INICIANTE: Muito bem!

Jonas Almeida INFLUENTE: "O Governo queria evitar o necessário referendo e dar a impressão de que respeita a Constituição" descreve bem as últimas 3 décadas.

A. Martins INICIANTE: Mais um artigo lúcido e inteligente de A. Barreto a acordar-nos para as golpadas antidemocráticas dos partidos do poder. Entretanto o Marcelo assobia pró lado e aprova as leis que tornam o nosso país pasto desses partidos e dos analfabetos funcionais nados e criados nas Jotas. A sociedade civil não conta, o que contam são os jobs for the boys, como há dias se viu com a Procuradora que ganhou o concurso europeu, mas como não era da cor, foi preterida para o boy que ficou em 2º lugar. Com as CCDR vai ser, mais do mesmo. Apetece cantar como o grande Zeca Afonso: eles comem tudo, eles comem tudo, eles ... ...

antonio rocha INICIANTE: Em Portugal todos são entupidos, reles e corruptos, à excepção deste escriba e do Tavares que por aqui também destila o seu ódio. Haja paciência.

alberico.lopes INICIANTE: Há avençados xuxas que nem sequer sabem disfarçar!

antonio rocha INICIANTE: Mais um alucinado do Chega, são às dúzias e ao que se sabe, muito bem pagos.

Fernando Teixeira INICIANTE: Concordo em absoluto com o Comentário de Cisteina abaixo, e já esperava as críticas dos Avençados do costume, que me metem nojo. Tenho por si, António Barreto, o maior respeito, consideração e admiração, inclusive intelectual. Não me esqueço que foi você que, com enorme coragem, enquanto Ministro da Agricultura num governo PS que ainda se dizia marxista, acabou com a bandalheira em que se transformaram as Unidades Colectivas de Produção, versão PCP/Militares de Esquerda, que além de terem sido roubadas pela força das armas, só serviram para destruir o que existia e também para saquear o Fundo de Desemprego, sendo que um dos membros de um casal lá trabalhava durante 6 meses enquanto o outro recebia o dito Subsídio, e depois trocavam Esta golpada foi concluída por Sá Carneiro

Joaquim Manuel Lopes INICIANTE: Confusões e mais.

EuQuixote EXPERIENTE: No presente momento as CCDR só servem para dar trabalho e consumir tempo às pessoas com o sem número de comissões, comités, conselhos e outros que tais em que estão sempre a chamar “a sociedade civil” para a ignorarem deixando a ideia de que a ouviram. Depois as CCDR são muito boas a atrapalhar e atrasar processos, os funcionários são muito poucos, fazem coisas muito variadas, cheias de burocracias, de autorizações fúteis dos comités e comissões que se reúnem de quando em quando e assim não conseguem desempenhar como deviam, resultando em atrasos medonhos nos processos de decisão.

miguelc INICIANTE: É baralhar para jogar o mesmo jogo. As autarquias são, actualmente, "arenas políticas" de trazer por casa (porque mexem com menos dinheiro e recursos) - por isto (e por não terem possibilidade de realizar autonomamente obra estruturante), a esmagadora maioria tem tanta dificuldade em reformar o seu território e dinâmica económica de forma realmente significativa. Falta gente com real valor.

cisteina EXPERIENTE: Caro António Barreto, é como diz e como, cada vez mais, se percebe, a democracia está refém de bárbaros e iluminados", plagiando o título de um livro do Jaime Nogueira Pinto e medidas as distâncias, Portugal não é o Mundo, ainda que tenha muitos dos seus defeitos, somos vítimas, em crescendo, do sistema e de políticos que nada fazem (ou não querem, dá trabalho) para o alterar. E assim estamos, vão chegar mais uns milhares de milhões (chegaram sempre, desde a adesão) e o grave problema com que nos debatemos manter-se-á por mais uns anos, poucos até ao estouro final tal como aconteceu no Líbano agora depois de uma economia minimalista suportada por uma moeda a valer 20 %. O nosso futuro não é risonho apesar das tácticas e alianças. É pena, continue a escrever e alertar, algo temos de fazer.

Fowler Fowler INICIANTE: Mais vinagre, mais impressões do sociólogo cada vez mais apostado no efeito estético dos títulos das suas crónicas. Ninguém sabe nada, mas o sr. Barreto sabe sempre tudo, como se alguma vez se tivesse dado ao trabalho de estudar qualquer assunto em profundidade, incluindo a matéria sobre este pequeno, mas muito significativo, passo para a descentralização do país. Também neste caso, como é seu costume, não conhece o enquadramento legal. Mas, sabe construir convicções, distribuir adjectivos e, sobretudo, multiplicar impressões de ressabiamento em relação a tudo o que mexe e se inova em Portugal.

Mario Coimbra EXPERIENTE: Tanto azedume...que estranho. A crónica está óptima. Não é cor de rosa não. Para isso leia outro tipo de revistas

António GS INICIANTE: Muito bem, António Barreto. Portugal não se desenvolve e sabemos porquê.

bento guerra.919566 INICIANTE: Barreto chegou ontem de Marte.

Gualter Cabral EXPERIENTE: Oi Você aí! Já destilou o seu vinagre hoje? Já vociferou sobre o seu governante de estimação? Sim. E, depois foi dormir com a satisfação do "dever" cumprido? Sabe o que acontece depois? NADA. O Poder está nas suas mãos mas não sabe como utilizar. Vai continuar votando, assim... embalado na canção: " em cada ausência sua..." Pois, se os presentes não conseguem demover o status, já pensou que os ausentes fazem perigar a leveza da sustentação?

cisteina EXPERIENTE: Não percebi nada deste seu "destilar do vinagre, hoje", uma noite mal dormida. E devia ter dado achegas ao tema, muito, mas muito importante. Como assim ... fiquei na mesma e poderia ter aprendido mais alguma coisa, só banalidades ou, como escreve, "leveza da sustentação", dá para tudo e não diz nada. Enfim ...

Gualter Cabral EXPERIENTE: Cisteina - Resumindo: o fel e vinagre é o elemento constante dos comentadores. Falam, falam, mas não fazem nada, já que ao manterem a engrenagem do estado, ao qual não mudam uma vírgula; pois se limitam a votar em listas viciadas com os caciques do costume, que não passam de funcionários dos partidos, não vamos lá. A abstenção é a única "arma" que o eleitor tem para mudar o regime, de ditadura encapotada, para a democracia participativa. A " leveza do ser" é precisamente a consequência da falta de sustentabilidade a um governo que não tenha a participação de eleitores. Como me tenho repetido, quase à exaustão, de forma directa e, ou não percebem, ou não querem perceber vou mudando o discurso ao sabor da "verve" de momento. Cumprimentos.

 

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