terça-feira, 4 de agosto de 2020

Com a faca e o queijo na mão…


Acho que, como comentário a este artigo de Helena Matos sobre políticas de absurdo, angariador de votos, bem posso integrar o email que o Luís me enviou, sobre o traçado dessa política de afectos e acolhimento. Eis o email:

«Até Maio, as nomeações do Governo ultrapassaram as mil e o custo de salários aumentou cerca de 11 milhões.»

A trituradora /premium

Chegou a vez dos veterinários. A geringonça atira-se aos técnicos com a firmeza de uma trituradora. O activismo faz xeque-mate à competência. E, por agora, ganha.

HELENA MATOS   Colunista do Observador   OBSERVADOR, 02 ago 2020

O primeiro-ministro com uma indignação e uma assertividade que não se lhe viram aquando dos incêndios de Pedrógão, declarou no parlamento a propósito do incêndio de um canil em Santo Tirso, perante o menear assertivo de cabeça de André Silva do PAN: “Vi aquilo que foi de facto o que disse e bem, o massacre chocante dos animais em Santo Tirso. É absolutamente intolerável o que aconteceu. Quanto à orgânica do Estado, não tenho dúvidas que a temos que repensar porque obviamente a Direcção-Geral da Alimentação e Veterinária não está feita para cuidar de animais de estimação e manifestamente não tem revelado capacidade ou competência de se ajustar à nova realidade legislativa que temos”. Aquilo que António Costa designa como nova realidade legislativa é a submissão da competência técnica às tácticas dos políticos: a nova realidade legislativa nesta matéria é um absurdo. E para mais um absurdo que não se consegue cumprir.

Recordo que em 2016 o parlamento aprovou por unanimidade legislação proibindo o abate de animais nos canis municipais. Em 2020, o resultado dessa legislação está aí na proliferação de “abrigos” infectos, canis municipais superlotados e matilhas de “cães errantes”. Mas o país, incapaz de pedir contas aos políticos pela aprovação de legislação por razões absolutamente populistas (o PAN chegara ao parlamento em 2015 e era grande o medo entre os demais partidos de perderem votos para os auto-proclamados defensores dos animais) assiste agora desinteressado a este ataque de António Costa a um serviço estatal que manifestamente não podia cumprir uma legislação desadequada à realidade. Afinal nunca como agora se falou tanto em Natureza, ambiente, campo… mas nunca o desconhecimento e o desinteresse sobre tudo isso foi tão grande: os ataques de “cães errantes” (versão politicamente correcta dos outrora vadios ou assilvestrados) a rebanhos mal são notícia fora das colunas dos jornais locais. A versão Disney da vida rural não concebe que uma matilha desses cães mate cabras e ovelhas ou que ataque as populações rurais.

A criação de uma direcção-geral à medida dos interesses do PAN será provavelmente o próximo passo pois o incêndio no canil de Santo Tirso tornou-se o pretexto para satisfazer uma exigência do PAN: a amputação da Direcção-Geral de Veterinária (DGAV) através da criação de uma muito fofinha direcção-geral dita de “defesa da protecção e bem-estar animal” versus a DGAV que segundo o PAN é “produtivista e de defesa dos interesses dos agentes económicos”. Esta concepção do PAN do bem-estar animal versus os interesses económicos é uma falácia: os interesses económicos associados ao mundo “não produtivista” dos animais de companhia são enormes. Não por acaso encontramos fabricantes de rações e prestadores de serviços para animais de companhia a patrocinarem as associações que dizem defender cães e gatos: este é um mercado que vale mais de 750 milhões de euros por ano. O PAN não vê interesses económicos nas teses de que temos de recolher, alimentar e tratar todos os animais susceptíveis de serem definidos como de companhia?

Quanto à transferência entretanto anunciada dos animais ditos de companhia para a tutela do ministério do Ambiente é um absurdo: por exemplo, o ministério do Ambiente vai aceitar a existência de matilhas de cães errantes em zonas protegidas, como acontece na Arrábida? Ou na praia de São Jacinto? E a destruição que estes provocam das espécies protegidas? E a degradação dos ecossistemas?

Os parceiros do PS no Governo têm mostrado um interesse voraz pelo controlo dos serviços que nos habituámos a considerar técnicos: em 2017, a directora do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), Luísa Maia Gonçalves, foi afastada porque deu parecer negativo à nova Lei de Estrangeiros nascida de um projecto do BE (quem se mete com o BE leva!). Já a Comissão de Recrutamento e Selecção para a Administração Pública (CRESAP) foi colocada por António Costa numa espécie de estado vegetativo quando não é desautorizada e enxovalhada pelo Governo como aconteceu aquando da escolha do Director-Geral da Direcção-Geral da Administração e do Emprego Público em que o Governo recusou todos os nomes indicados pela CRESAP com o argumento expresso em despacho da secretária de Estado da Administração Pública de que entre os não indicados pela CRESAP fora identificado “um candidato com um perfil mais compatível com as orientações estratégicas definidas”.

E aqui chegamos a um ponto incontornável do nosso presente e a uma condicionante terrível do nosso futuro: a administração pública tem vindo a perder qualidade. Traduzindo, as tristes figuras da Directora-Geral de Saúde não são uma excepção nem uma anomalia, pelo contrário correspondem a um padrão crescente pois a competência técnica tem vindo a ser desvalorizada face à subserviência mostrada perante o poder político. Em sectores como a investigação criminal são já evidentes os sinais de que dificilmente se aceitará que as investigações não confirmem as teses dos activistas que funcionam como milícias mediáticas da esquerda radical, veja-se como o homicídio de Bruno Candé foi logo definido como racismo e, se por acaso a investigação não confirmar essa certeza antecipada, já se sabe que alguém vai ter o seu nome escrito nos jornais. A geringonça, imagem com o seu quê infantil de estrutura desajeitada, é na verdade uma trituradora cada vez mais pesada das vontades e competências.

PS: Num sinal da regressão dos tempos somos compulsivamente levados a tratar os animais com termos humanos e os humanos como uma alínea do expediente burocrático: adoptamos cães mas somos cuidadores informais dos nossos pais. Recusar usar este dialecto dos tempos que correm é um exercício que não sei se vale a pena mas garanto que é tão cansativo que deve queimar tantas calorias quanto uma ida ao ginásio.

ANIMAIS  NATUREZA  AMBIENTE  CIÊNCIA  PAN  POLÍTICA  107

COMENTÁRIOS

antonyo antonyo: 16.000 cães abandonados todos os anos . Adoptados 4.000 . Abate veterinário proibido . Aceitam-se sugestões .    Clara Évora: O ataque da ideologia ao conhecimento e racionalidade técnica é um crime de gravidade extrema. Que só encontra paralelo no ataque criminoso da esquerda terrorista à familia como estrutura básica e indispensável à sobrevivência da sociedade. Para lá da total falta de escrúpulos do golpista, que tudo e mais um par de botas faz e fará para alijar as suas responsabilidades óbvias em toda e qualquer circunstância, a razão de mais este ataque e assalto reside nestes factos : "56,75% dos militantes do PS têm mais de 50 anos. O maior peso de militantes, na classificação por profissões, é o de sectores maioritariamente na esfera da função pública. O total de inscritos é de 72.744 pessoas, das quais 19.306 inscreveram-se desde 2015." Sem uma administração pública e um Estado forte e independente do roubo partidário, Portugal continuará pobre e sub-desenvolvido para sempre.     Liberal Assinante Platónico > Clara Évora: Não põe a questão de uma futura existência de Portugal. E, no entanto, até nós civilizações sabemos agora que somos mortais. (Paul Valéry)      Portugal, 877 anos de existência: uma ideologia que existe para destruir a normalidade tem necessariamente que atacar o senso comum e a racionalidade. A conquista do poder é o fim, os meios tudo o que for útil.     Rui Rebelo: Isto só acontece porque para a esquerda a razão ideológica (que protege o governo ideológico) está acima da própria razão. Neste caso o desemprego que também afecta a família do veterinário visado é considerado o "gulag". Ou seja, não há um crime nem tão menos um julgamento (pois as entidades ainda são independentes) para apurar responsabilidades. Vai directamente para o "gulag" por "decreto" político!

Pedro Reis: O líder do PAN devia ser preso por ser o responsável principal da reles vida de abandono e sofrimento que é o dia a dia de muitos animais. Aguardam tristemente a morte por sofrimento e solidão ou uma morte por atropelamento numa estrada. Os restantes políticos são uns insensíveis cobardes.

Liberal Assinante Platónico > Pedro Reis: Votos, meu caro, votos! O problema destas "causas para fracturar" é que fracturam mesmo! Qualquer maluquinho que tenha o apoio de 5% ou menos do eleitorado pode passar a exigir a Lua ao poder, que esse poder se verga aterrorizado com a ideia da perda de votos. O melhor exemplo são os "ambientalistas" e a completa desproporção entre aquilo que representam e o poder que os deixaram ter.     António Silva: Helena, absolutamente de acordo acerca dessa raça execrável dos activistas, uma gente sem carências que explora as carências alheias para chegar ao Poder.

Liberal Assinante Platónico > António Silva: Penso que deu uma interessante definição prática de "esquerda"!    Tiago Queirós: Tal como a Liberdade, o Animalismo é um privilégio, um luxo civilizacional - e não um direito antecipadamente garantido. Somente num contexto de estabilidade social e de sustentabilidade sanitária é possível propor a atribuição do título de «pessoa jurídica» a outros mamíferos. Desde logo, porque o comum cidadão das ditas nações civilizadas não contacta de perto com hipopótamos ou leões, não vendo por isso a sua existência ameaçada. Porque se o comum cidadão das ditas nações civilizadas sentisse a sua existência ameaçada por conta de hipopótamos ou leões, de pronto compreenderia que, em termos evolutivos, poucos são os demais animais com os quais podemos colaborar ou interagir sem riscos consideráveis. Além do mais, como elevar um cão à categoria de «pessoa jurídica», se um cão é absolutamente incapaz de ser responsabilizado pelas suas acções? De acordo com as teses animalistas, encontra-se-me vedada a possibilidade de, arbitrariamente, lesar um cão; mas um cão, ou uma matilha de cães, poderá lesar-me sem que tal comporte a imputação de responsabilidades. Sendo que, na eventualidade de ousar defender-me, acabarei igualmente rotulado de «criminoso». A ridicularia é, assim, de tão elevado grau, que suspeito somente ser possível combater semelhantes fenómenos por meio da abdicação do visionamento de conteúdos televisivos. Afinal de contas, trata-se de expressões essencialmente alimentadas por via das audiências que conferem a determinados meios de comunicação social; logo, optar pela consulta de conteúdos noticiosos através de meios alternativos será um importante passo no sentido de desapossar de influência tão equívocas fabricações.

O Pensador > Tiago Queirós: Somos governados pelos loucos do politicamente correcto. Isto vai acabar muito, muito mal.    Ping PongYang > Tiago Queirós: Há dramas AINDA piores: Será que a partir dagora tenho que me sentir como o Josef Mengele ou o Reinhard Heydrich quando estou perante um pires de caracóis, duma travessa de mexilhões de cebolada ou duma simples sande de coiratos ?      Rui Rebelo > Tiago Queirós: Muito bom. Esse é um excelente ponto de vista!    José Ramos: Por vezes, pergunto-me quando começou realmente a ditadura dos imbecis. Terá começado a instalar-se, talvez, na segunda metade dos anos 80 e, ao princípio, foi devagar; como uma lagosta metida numa panela de água fria. Com o lume ligado, embora brando, sabe-se o que acontece. Depois, da imbecilidade estar já razoavelmente instalada criou-se a situação "roupa nova do Rei", "invisível para os estúpidos" - diziam eles. Pessoas normais, mas covardes, com medo de perder votos, de parecerem estúpidas, "fora-de-moda", "contra-o-progresso" ou, muito pior, "reaccionárias", começaram a aprovar idiotices de uma corja - ainda minoria - de imbecis instalados em universidades, media e outros sítios que o pudor me impede de enumerar. Algumas delas e cada vez mais, por unanimidade, não fosse o dedo inquisitório, acusador e "bem-pensante" condená-las ao opróbrio e à fogueira. Saiu o "acordo ortográfico", saíram muito mais enormidades e saiu "a-lei-dos-animais". Costa, tão saloio ou quase como o dito "Sócrates" e apoiado nos "activistas", vocifera. Entretanto, a lagosta está pronta a ser servida.    José Ramos > Liberal Assinante Platónico: Este cozinhado não é só nacional. Aliás, como tudo em Portugal desde as Descobertas, foi importado. Sobretudo dos EUA e do Reino Unido.     João Porrete > Liberal Assinante Platónico: O Guterres foi o primeiro político a usar o termo politicamente correto "os portugueses e as portuguesas". O Eanes estava-se nas tintas e, com aquela cara de pau, dizia sempre "portugueses". Tenho saudades desse tempo em que o pessoal usava as convenções da língua. Agora, depois de mil e uma mudanças, estamos pior porque mais divididos. Por mim estou-me borrifando mas o ar hoje é menos respirável e menos livre.    José Ramos > Cruzeiro O Verdadeiro: "Se farta de rir", porquê? Sente-se orgulhoso por o país, pela segunda vez desde 1974, ter entrado em pré-falência em 1983? Não precisa de ir tão longe para encontrar motivos para essa hilaridade masoquista; pode recuar até 2011 ou mergulhar alegremente no futuro próximo. Atrevo-me a pensar que o COVID19 foi a sorte grande que saiu a Costa, o poucochinho, e suas esganiçadas amestradas. Mas é só um adiamento...

Liberal Assinante Platónico > Cruzeiro O Verdadeiro: Ajuda psiquiátrica seria uma boa para os tugas que vivem em negação de que devem 25.000 euros cada ao estrangeiro. Já para ti não há ajuda psiquiátrica que te possa valer.     Liberal Assinante Platónico > José Ramos: Politicamente não, politicamente, importamos tudo de outras paragens, de França, e melhor fora que não fosse assim. Falando só destes nossos tempos, veja o kamarada como o Tugal foi devorado pelo "Maio de 68" e pelo "ami Mitterrand", passando ao lado do choque thatcheriano que abalou o mundo anglo-saxónico e não só. Vai-me dizer que esse choque chegou cá com as privatizações cavaquistas, mas lembre-se que foi a França que, falida ao fim de dois anos de "mitterrandismo", se rendeu e privatizou algumas das suas empresas públicas. Não se tratou de qualquer convicção na economia de mercado, tratou-se de mero pragmatismo ou instinto de sobrevivência! O tuga continua a ignorar soberbamente o que é um mercado e a não aceitar submeter-se às suas regras, ele acha-se acima dos "feirantes". É um fidalgo falido e esfarrapado, o tuga. Apenas as suas peneiras são imorredouras.

Anarquista Inconformado > José Ramos: Oh Esparta, que tal leres algo sobre essas tais pré falências? Mas opiniões de economistas sérios, não de funcionários da oligarquia corrupta e cleptocrata, que usaram esses mitos para saquearem mais o país. Não se esqueça de contabilizar, as 500 toneladas de ouro derretidas para alimentar essa gente.     André Macias: Bravo Helena! A colocar os pontos nos "i" s

Alfaiate Tuga: Num país onde o SNS é uma anedota, não vá ao centro de saúde, telefone ou envie e-mail, nas urgências dos hospitais são horas de espera para ir para casa com ben-uron, meios complementares de diagnóstico, não senhora pois são muito caros. Daqui a uns meses para comprar o apoio do PAN o Costa vai andar a construir lares para canídeo deixando os os tugas de duas patas à mercê de um SNS para COVID positivos, os outros que se lixem que vão largar guito para o privado se o tiverem, ou então vão morrer longe... Estes betos muito capazes, que de tão capazes que são, só conseguem arranjar emprego no estado, onde não são escrutinado por ninguém, vão levar o país para um estado onde a vida de um cão vale mais que a de um humano.

José Santos: Começa a haver um grande problema com os animais soltos e abandonados pelas ruas das localidades. Isto representa um perigo para as pessoas, por vezes até como problema de saúde pública. Inventam-se leis que depois não têm consequências, onde estão os canis municipais que deveriam controlar este problema? Nada! E quem apanha com estas consequências? Todos nós, a larga maioria da população.

Carlos Nicolau > José Santos: Não há canis porque não há dinheiro. Na minha opinião, os amantes dos animais deveriam associar-se e, como fazem muitas associações culturais e desportivas, promover actividades para angariar verbas de forma a poderem ter os seus canis. Mas isso dá muito trabalho sendo mais fácil exigir dos governantes que tomem medidas.      MC Santos: Mais uma vez uma crónica épica. Obrigado HM.   Maria Alva: Excelente "as usual". HM há já alguns anos que nos vem alertando para "a mexicanização do país em curso", desde que o democrata Kosta trepou ao poder. Espero que não nos venha a alertar para uma eventual "bolivarização". Já nos chegou o Verão Quente de 1975!      O Pereira: Não me canso de afirmar que concordo a 100% com esta cronista. Nunca ninguém conseguiria vocalizar tão bem o que penso, como a Helena Matos. 

Ana Sofia Quintana: Parabéns! Mais uma vez oferece uma excelente análise do estado da nação. 

lopez turrillo:  acompanho a cronista neste pensamento: temos um país de frouxos!

Graciete Madeira: De acordo com este artigo.     José Paulo C Castro: Pois eu culpo a Disney e a sua permanente antropomorfização dos animais. Aquilo faz mal à cabeça das crianças urbanas e os pais não sabem... Os animalistas seguem as teses do filósofo Peter Singer e actuam em função delas. São um erro, como os de Marx, pois assentam na negação da cadeia alimentar como elemento chave de um ecossistema. No caso de Marx, negam-se os mercados. No entanto, existe uma enorme atractibilidade por estas ideias por parte da geração Disney. Tal como todas as utopias, fará o seu dano. Os partidos desta onda associam-se naturalmente à esquerda por causa do 'modus operandi'. Um encontro de alienados e activismos que juntam os meios para os seus fins diversos. Costa só conta os votos. Eu gosto sempre de lembrar que Hitler era vegetariano e protector dos animais. A associação de um ditador aquelas ideias explica muita coisa. A falta de humanismo latente também.

Dinis Silva: Excelente artigo    ………………..


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