Foi num evento desportivo em que seu
irmão Filipe julgo que ganhou uma classificação medalhada, talvez mesmo o
primeiro lugar. Creio que era bom em vela. O que me ficou na memória foi a
figura da sua irmã Elena a
desfazer-se em lágrimas, pela classificação do irmão, e sempre pensei nela e na
família de Juan Carlos com
ternura, achando-os pessoas de boa formação moral. Uma irmã que se desfaz em
lágrimas com a vitória do irmão, como qualquer plebeu amante da família,
denuncia uma amizade real, mesmo sem ser de reis. Na minha família também
éramos chorões e amigos e bastante brincalhões, a Infanta Elena foi um veículo
da minha simpatia pelos Reis de Espanha e sempre achei o Rei Filipe discreto e
educado. Só posso desejar para ele e os seus, a continuação de uma monarquia
mantenedora da coesão nacional. Os ventos ideológicos de hoje em dia mal
permitirão tais anseios, Salles da
Fonseca bem se esforça por dar uma achega a soluções de continuidade, não sei
se ainda estarei cá para o ver. Ojalá!
HENRIQUE SALLES DA
FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 13.08.20
Já
casada, a então Princesa Isabel estava de visita ao Quénia quando soube que o
seu pai, o Rei Jorge VI, tinha morrido. Regressou de imediato a Inglaterra para
os cerimoniais apropriados à circunstância os quais culminaram com a sua coroação
dando início ao longuíssimo reinado de Isabel II. Apetecia-me dizer «o
longuíssimo e simpático reinado…» mas acho que me devo conter na adjectivação.
A imagem que transparece de Isabel II
é claramente a de uma pessoa muito digna, irradiando a simpatia suficiente para
não ser efusiva nem macambuzia. E pronto,
pouco mais dela se espera. E esse pouco mais restringe-se a um conjunto de
cerimónias protocolares em que lhe está sempre reservado o papel central mas em
que os verdadeiros protagonistas são alguns dos seus súbditos. Por exemplo, Isabel II é o símbolo máximo da
Igreja Anglicana mas ninguém no seu perfeito juízo espera que a Rainha se
pronuncie «motu próprio» em matérias de fé. Esta matéria é o foro do Arcebispo
de Cantuária. O mesmo se diga das matérias profanas em que o
protagonismo é do Primeiro-Ministro. E
assim é que a figura real não tem sido beliscada apesar de Isabel II nunca ter
defendido o cumprimento da (inexistente) Constituição e de, tendo começado por
ser Rainha de dimensão imperial, se ver hoje na contingência de perder a
Escócia. Mas tudo isso se deveu aos políticos, não à Chefe de um Estado
minguante.
No
sentido inverso, quero crer que o então Presidente da Alemanha tenha
presidido às cerimónias da reunificação mas quem ficou no retrato e na nossa
memória foi o então Chanceler Helmut Kohl.
Para
o bem ou para o mal, o responsável pelo andamento da carruagem é quem tem
as mãos nas rédeas, não o «dono dos cavalos».
*
* *
Aqui ao lado, o Símbolo não é
apenas simbólico, cumpre-lhe também «pôr as mãos nas rédeas» e, vai daí, correr
o risco de alguns salpicos. Só que,
com o regime pluviométrico mediterrânico, em vez de alguns salpicos, pode ser
uma grande chapuçada de lama ou pode mesmo a carruagem atolar-se e os
passageiros terem que ser evacuados à pressa.
Deixando-me de figuras de retórica, não vai bem o reinado de Filipe
VI de Espanha e a pandemia só juntou achas à fogueira Estão em perigo a unidade
espanhola e a Monarquia.
Quem
está muito embrenhado na situação, pode já estar muito assoberbado por detalhes
e perder a necessária visão do conjunto da cena mas quem está de fora e sabe
pouco tem mais facilidade em ver a floresta.
Assim,
sem pretender ensinar o «Pai Nosso ao Vigário, estou em crer que a unidade
de Espanha ainda (?) possa ser salva por uma alteração constitucional que
transforme a Espanha actual num Estado Federal – não vejo qualquer
incompatibilidade entre um Estado Federal monárquico com alguns Estados
federados regendo-se como Repúblicas[i]. Mas isto só será possível se o Rei,
por uma última vez, agir como efectivo polarizador da cena global promovendo a
criação duma maioria pró ocidental (PSOE,
PP, Ciudadanos, Vox,…) chamando-os a todos em simultâneo à Zarzuela e
dizendo-lhes: - Esta reunião começa agora e só terminará quando me
garantirem uma solução política salvadora de Espanha.
Quanto
à imagem da Monarquia – e porque é pública a vida privada dos Chefes de Estado
– o «núcleo central» deve ser expurgado de elementos menos simpáticos aos olhos
da opinião pública. Sugestão: uma temporada a arejar em Lanzarote. O rude
Saramago esteve lá e ganhou um Nobel. Aquela ilha faz maravilhas.
FIM
Agosto de 2020
Henrique Salles da Fonseca
[i]- Como alternativa à Federação há a Confederação
COMENTÁRIOS
Anónimo, 13.08.2020: : Como já
recordado, Juan Carlos teve a sua
prova de fogo em Fevereiro de 1981, um lustro após o seu entronamento, mas
Felipe foi VI no meio de um vulcão de fogo, onde se fundiam, como num
cadinho, o processo Nóos, envolvendo a sua irmã Cristina e o marido, o alegado
prémio saudita a seu Pai e a viagem deste ao Botswana, culminando na abdicação
do seu progenitor. São precisos nervos de aço, competência,
profissionalismo e bom senso para, reinando, fazer a gestão de toda essa lava
incandescente. E como se isso não bastasse, lá ressurgiu a crise
catalã, com o famigerado
referendo, também já anteriormente mencionado, bem
como a necessidade da renúncia à herança de seu Pai e o exílio deste, para
não falar das diligências que teve de fazer para que Espanha fosse dotada,
recentemente, de governo, com confiança das Cortes. Felipe
VI, nos seis anos que leva de reinado, é,
quanto a mim, credor de admiração assim como de respeito, e congratulo-me em
poder dizê-lo, pois não depositava grandes esperanças nele. A opção de casamento
que fez “a mí no me ha gustado”, não pela origem da noiva, não, de todo, mas
sim por vários comportamentos dela, desde logo no momento da sua apresentação à
comunicação social em que praticamente mandou calar o Príncipe das Astúrias. Em
abono da verdade deve dizer-se que a frase pronunciada, algo como “ahora yo
estoy a hablar, no me interrumpas”, não teve o efeito sísmico, na escala de
Ritcher, da outra frase – “por qué no te callas” – que o seu sogro haveria de
dizer 4 anos decorridos, num cenário ibérico-americano. Depois, outras
cenas públicas se seguiram, para além de rumores sobre cenas privadas
desagradáveis. Coisa positiva foi o silêncio a que se confinou (não sei se por
iniciativa própria ou alheia) o seu primeiro marido (desconheço se, entretanto,
o silêncio se manteve). Não sei se te referias à Senhora na parte final do teu
post, mas Saramago e Letizía têm uma coisa em comum – ambos foram jornalistas.
Em qualquer caso, não "condenaria", mesmo que temporariamente, a
Rainha a praias de areia negra vulcânica. Não sei se o conclave, com que
“ameaças” os partidos espanhóis pró-ocidentais, resultaria, atendendo ao
espectro actual partidário, à ausência de Estadistas (com E maiúsculo) e às
expectativas que as várias Comunidades Autónomas espanholas têm, designadamente
a Catalunha e a Euskadi. Atenta no drama que foi a constituição do actual
governo e na posição reiterada (posteriormente penalizada nas urnas) de os
Ciudadanos em não se coligarem com o PSOE, o que atirou este, desconheço se a
contragosto, para os braços de “Unidas Podemos”. Repara, Henrique, no
comportamento dos responsáveis deste partido na actual crise que, segundo se
lê, disse que ela pôs em causa o actual Rei e abriu o debate sobre a utilidade
da Monarquia, Entidade e Instituição às quais juraram fidelidade em Janeiro
último, aquando da posse do Governo. Tudo isto quando, segundo é público, esse
partido está a ser investigado por fraude, no âmbito de seu financiamento, na
sequência de denúncia feita por um advogado que o partido despedira no final de
2019. Gerir é também prever e antecipar, como sabemos. O mesmo se poderá dizer
em relação ao acto de reinar. Tenho ideia que no decorrer da crise da
Catalunha se falou na hipótese de Espanha como estado federado. Julgo
que não seria incompatível com a Monarquia, nem constituiria modelo único –
Espanha situar-se-ia, por exemplo, ao lado dos EUA, da Rússia, da Alemanha, da
Suíça e do Brasil. Mas será que isso seria suficiente para acalmar as forças
centrífugas? Em 2017 os responsáveis espanhóis diziam que a Catalunha
gozava dos mais amplos poderes autonómicos, mas o que era querido, por alguns,
era a independência, pura e dura. Desconheço que cedências foram feitas aos
partidos independentistas para não inviabilizarem a investidura do actual
governo. Mas tenhamos esperança, Henrique, que Felipe VI saiba antecipar-se
aos acontecimentos e polarize as boas vontades para encontrar o modelo que
melhor sirva a Espanha, a sua Unidade e a Monarquia Parlamentar (isto dito por
mim, republicano, tal como tu és, conforme confessaste, tem mais valor). Grande
abraço. Carlos Traguelho
Henrique Salles da Fonseca, 13.08.2020: Josŕ Montalvão e Silva gosta disto
Henrique Salles da Fonseca, 13.08.2020: José
Pedro Queiroga gosta disto
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