Por cá. São Crónicas que nos dão vida, como
a seguinte, de Henrique Salles da
Fonseca, vozes de gente valorosa que arrisca opor o seu pensamento de rectidão
apoiada em experiência e saber, aos vagidos – poderosos embora, por estarem tão
nos gostos gerais que até fazem chorar as pedras da calçada - sem outra
dimensão, aliás, que essa, de lavar de lágrimas as próprias pedras, tanta a
bondade que emanam para com essas, as pedras, no clima de “humanização” em que
vivemos. Dantes era mais o fado, o responsável por esse lavar e durar. Mas a
infantilização também faz carreira hoje, ouçam-se os vagidos.
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 26.08.20
Tanto pela doutrina como pela
«praxis», sou antinazi. O mesmo afirmo em relação ao comunismo. Devido à
ausência de doutrina, basta a «praxis» para me afirmar antifascista.
O nazismo, afirmando a superioridade da «raça alemã» – por clara deturpação do conceito nietzschiano do «Übermensch»[i]- e pugnando pelo domínio alemão das «raças
inferiores», merece o meu repúdio. Pese embora eu não ser judeu, quer
genética quer religiosamente, nada tenho de antissemita apesar de também achar
que eles não são «o povo eleito de Deus». A praxis nazi dos campos de
extermínio dos «Minderwertige Menschen» (pessoas inferiores) e a conquista do
Lebensraus» (espaço vital) para além do território historicamente consolidado
da «Vaterland» (Mãe Pátria) com total desrespeito pelos povos vizinhos, são, em
resumo, o fundamento do meu asco ao nazismo.
O marxismo é teoricamente mais elaborado que o nazismo mas,
querendo acabar com o capitalismo, acabou por contribuir para que este se
autocriticasse, se corrigisse e crescesse até à actualidade, nomeadamente pela
via da fiscalidade e da segurança social. O marxismo é um absurdo
económico e foi (é) submetido a uma «praxis» que dele fez um dos maiores
flagelos por que a Humanidade tem passado. A diabolização do
lucro está escrita em letras garrafais no epitáfio da economia marxista e os
crimes cometidos pelo Poder Soviético contra os Direitos Humanos justificariam
a repetição do julgamento de Nuremberga em que, mais do que algum quadro de
Direito positivo, prevaleceram critérios inspirados no Direito Natural.
Eis,
resumidamente, por que não me limito a ser «não comunista» e me afirmo
anticomunista.
Quanto ao fascismo, que defino como «o capricho do ditador», quer
de direita quer de esquerda, considero-o «casos de Polícia Psiquiátrica».
E
o meu espanto é: - Como é possível, depois de sabermos o que a História nos
tem contado, que em pleno século XXI ainda haja quem siga essas ideias e se dedique
ao respectivo proselitismo não apenas com assiduidade mas mesmo com fervor.
Excluo ab initio a idiotia e, portanto, resta a nostalgia de épocas em que
prevalecia a propaganda que anunciava «horizontes de esperança» e em que se
badalava a fraternidade. A realidade veio a mostrar horizontes
de sucata e tratamentos privilegiados para as «nomenklaturas» partidárias e
total desprezo pelas massas populares. A
hegemonia intelectual gramsciana revela-se como puro folclore totalmente
desenquadrado das realidades macroeconómicas anunciando irrealismos que só
conduzem à desagregação social. Mais
uma vez, reveja-se a História (neste caso, italiana do pós guerra) em que esse
mesmo irrealismo se revelou afugentador das massas populares.
Resta
a tradição familiar para justificar atitudes presentes por cópia do que há 50 e
60 anos se tinha por verdadeiro. Só que, entretanto, sabemos que tudo era
utopia, propaganda e miséria.
Utopia, porque não se cria um «homem novo» com base na
chacina dos opositores; propaganda,
porque não é possível assegurar o futuro mentindo durante muito tempo a muita
gente; miséria, porque o
modelo económico marxista é totalmente absurdo na teoria e na «praxis»
castra todo o voluntarismo inovador.
Daqui, a desmotivação humana em vez dos falsíssimos
«horizontes de esperança».
CONCLUSÃO:
sou tão antifascista como sou antinazi e anticomunista.
Agosto de 2020
Henrique Salles da Fonseca
[i] Super
homem – conceito não rácico em que o
homem se eleva acima da média humana pelo nível cultural, pela rectidão, pela
coragem…
Tags: política
COMENTÁRIOS
Anónimo 26.08.2020: Vejo,
Henrique, que na sequência do meu comentário de 22 do corrente, ao teu post “As
Vacas do “Avante”, de 21/8, em que eu me
classificava como “não comunista” e não, como tu, de “anticomunista, desenvolves
muito racionalmente o tema, e numa assentada te declaras igualmente
antifascista e antinazi, subscrevendo eu também ambas as posições. Mas não
deve ser por acaso que nas Democracias, em geral, são declarados ilegais os
movimentos de ideologia nazi ou fascista, e aceites os de natureza marxista, ao
ponto de poderem estar representados nos Parlamentos partidos com essa
orientação. Por tudo o que tenho lido no teu blog, tens tido sempre o cuidado
de fundamentar a tua opinião, seja qual for o assunto, como, aliás, acabas de o
fazer, mais uma vez. Mas sabes, Henrique, comumente o prefixo “anti”
associado a ideologia tem subjacente posições primárias, não racionais, do
estilo “é assim, porque é assim ponto final”. E isso, não!
Já
que voltas ao assunto, e focas as diversas ideologias, digo-te que Georges
Orwell, segundo li num livro de um jornalista
norte-americano, Thomas Ricks, que
compara a biografia daquele escritor e a de Churchill,
escreveu no final da sua vida que ”um comunista e um fascista estão mais
próximos um do outro, do que qualquer um deles de um democrata”. (O diplomata soviético Valentim Berezhkov, quando em 1940 chegou a Berlim, vindo de Moscovo,
sentiu-se desconfortado porque descobriu “tanta coisa em comum”). Em
relação ao nazismo, referes-te ao extermínio das pessoas inferiores e à
conquista dos territórios, a título de espaço vital. Quando li,
no final da década 90, “A Minha Luta” fiquei admirado com a “surpresa” que o
mundo teve na década de 30, com as acções de Hitler, pois ele anunciava no
livro ao que vinha. Logo na primeira página, primeira, repito, escreveu: “Se o Reich
que abarca todos os alemães não tiver possibilidade de os alimentar, nascerá da
necessidade desse povo o direito moral de adquirir terras estrangeiras. O arado
tomará então o lugar da espada e as lágrimas da guerra farão crescer as
colheitas do mundo futuro”.
Mais claro do que isto? E em todo o livro perpassa ódio aos judeus, como por
exemplo, quando afirma que aquele que não for caluniado pela manhã por um
jornal judeu é porque perdeu o dia anterior, chamando ao povo judaico “inimigo
mortal” do povo alemão. Confessas-te não antissemita, tal como eu também não
sou (mais uma coincidência). Há não antissemitas que são sionistas, enquanto
outros, e até judeus, além de não serem antissemitas também não são sionistas. Sobre os crimes do comunismo soviético de Estaline (também os houve, e não foram poucos nem pequenos, na China comunista, de Mao) foram denunciados, pelo menos alguns deles, como
referi no meu anterior comentário, no discurso de 1956 de Nikita
Khrushchev, isto é, 3 anos depois da morte do
ditador, pelo que não há forma de os mitigar ou de os ignorar. Como escreve o historiador britânico Richard Overy na
sua obra sobre os Ditadores
Estaline e Hitler, o que
importa não é demonstrar qual dos dois homens era o mais perverso ou mais
louco, mas sim tentar compreender os processos históricos que levaram essas
ditaduras a perpetrar o assassínio numa escala tão colossal. Evidencia a certa altura do livro, a seguinte diferença: o sistema soviético estava empenhado na construção de
utopia (que tu citas) comunista e encontrou no exterior da URSS milhares de
comunistas dispostos a apoiá-lo por força da sua hostilidade ao capitalismo
contemporâneo. Por outro lado, Hitler odiava o marxismo e o mesmo acontecia com
a maioria dos europeus fora da Alemanha. Este ditador estava comprometido em
construir uma nova ordem europeia baseada na hierarquia racial (como tu
lembras) e na superioridade cultural germânica. Embora ambas as ideologias
rejeitassem o humanismo e o liberalismo europeus, o choque entre elas seria
inevitável, por mais Pactos Molotov-Ribbentrop que existissem. O importante, Henrique, é que sob o manto da
Democracia possam coexistir pessoas que perfilhem ideologias distintas ou
tenham posturas não totalmente coincidentes perante as ideologias, mas que
tenham um denominador comum – de respeito pela Democracia e pelo direito à
diferença democrática entre elas. Forte abraço. Carlos
Traguelho
Francisco G. de Amorim, 26.08.2020: Magnífica análise. Assino em baixo com 100% de ideias e comportamento iguais. Um abraço.
Adriano Lima 27.08.2020: Penso
que já não está muito longe o tempo em que as ideologias políticas, mormente as
de feição perversa, passarão à história, face ao primado das tecnologias que
invadirão todo o campo da actividade social reduzindo a intervenção humana nos
processos decisórios a uma escala ínfima. Contudo, se me considero antifascista
e antinazi (estas ideologias são, de facto, aberrações que requerem tratamento
psiquiátrico), tenho certa dificuldade em considerar-me anticomunista ou
antimarxista. É que o Marxismo, sendo uma filosofia, pode ser discutida em
diálogo e confronto intelectual, o que, a meu ver, deve excluir o radicalismo
de posições. Já o mesmo não direi do Estalinismo, que é uma aberração em tudo
idêntica ao Fascismo e Nazismo.
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