Entre José Milhazes e um seu comentador – PortugueseMan – sobre a questão das eleições de Lukachenco na Bielorrússia. PortugueseMan entende que a visão política de José Milhazes ferozmente anticomunista, (como a de quase todos nós, que suportamos o jugo da nossa esquerda piedosamente e tacanhamente seguidora das doutrinas de igualitarismo social hipocritamente seguido pelo governo de A. Costa, a mando dessa tal esquerda sua apoiante), lhe confere um estatuto de menos lucidez, pois deveria preocupar-se antes com a ascensão russa no domínio nuclear e económico (contrariamente ao decréscimo desses poderes nos EUA), o que potencia, uma vez mais, um próximo desastre nuclear, pois que as ambições de domínio terreno nunca deixaram de existir, em todo o sempre, e a Rússia é uma boa prova dessa ambição dominadora, que nem a queda do muro de Berlim naturalmente converteu.
Quem organiza as “revoluções coloridas”?/premium
Além da polícia e das forças armadas, o ditador não tem
apoio de mais ninguém no interior do país, mas mesmo essas podem mudar de
campo, tendo-se registado já alguns casos.
JOSÉ MILHAZES
OBSERVADOR, 16 ago 2020
É
moda entre a extrema-esquerda considerar que qualquer levantamento com vista a
derrubar os ditadores da sua cor política não passa de uma “revolução
colorida”, palavras para caracterizar uma revolta organizada por forças
externas, obrigatoriamente financiadas pelos Estados Unidos, União Europeia,
CIA, George Soros, Alexey Navalny, etc., mas recusam-se a reconhecer que na
origem dessas revoluções estão políticas desastrosas realizadas por ditadores
ou autocratas que pretendem eternizar-se no poder.
No
momento em que escrevo este artigo de opinião, ainda não se sabe quem irá
vencer no confronto entre o ditador bielorrusso Alexandre Lukachenko e os muitos milhares de manifestantes que saem há já
sete dias para as ruas das cidades da Bielorrússia para exigir a demissão do “agro-fuhrer”
(como é conhecido Lukachenko por no passado ter dirigido uma unidade
colectiva de produção soviética) e a realização de eleições presidenciais
livres e transparentes. Mas, qualquer que seja o resultado, o país irá passar
por um longo período de turbulência devido à sua posição geopolítica.
Os
apoiantes de Lukachenko, dentro e fora da Bielorrússia, não têm dúvidas de que
as eleições presidenciais de 9 de Agosto corresponderam aos mais exigentes
padrões democráticos e que os protestos da oposição não passam de manobras imperialistas
para derrubar o Presidente legitimamente eleito.
O
comunicado do quase defunto Partido Comunista de Espanha é um exemplo
claro dessa tese: “Os mídias conservadores e algumas forças de esquerda que
cederam à campanha de propaganda eclodida em Washington e Bruxelas, descreveram
os protestos após as eleições como pacíficos, algo que não corresponde à
realidade. Além do facto de outras questões relevantes requererem
esclarecimento (como a presença dos mercenários russos de Wagner detidos em
Minsk, e cuja presença não pode ser descartada como sendo o resultado de um
plano dos serviços secretos ucranianos), os governos ocidentais exigem
passividade à polícia bielorrussa, considerando todos os protestos como
pacíficos, apesar das acções evidentes de grupos nazis e destacamentos de
extrema direita, complementando os protestos da oposição liberal para criar
bolsas de caos em Minsk e outras cidades, e que até levou à criação de grupos
de mulheres de branco, em imitação das campanhas contra Cuba, tentando criar
outro Maidan que justifique a aplicação de novas sanções, assédio político e
diplomático e, eventualmente, que possa servir de gatilho para derrubar o
governo Lukashenko”.
Uma mistura de mentiras,
meias-mentiras e meias-verdades que fazem inveja aos adeptos das teorias da
conspiração. Aí só falta mesmo George Soros e Bill Gates.
O
Partido Comunista Português ainda não se manifestou sobre a situação na
Bielorrússia, mas o artigo publicado no último número do Avante a propósito da
reeleição de Lukachenko faz crer que a sua posição não irá divergir dos
camaradas espanhóis.
Claro que, tendo em conta a posição
estratégica da Bielorrússia entre a União Europeia e a Rússia, seria ingénuo
acreditar que membros da UE, os Estados Unidos ou o Kremlin não tentassem tirar
proveito, directa ou indirectamente, da crise nesse país.
Mas isto não pode fazer esquecer uma
questão, principalmente aos ideólogos do marxismo-leninismo: quem e o que levou a esta “situação
revolucionária”. Como é sabido, para isso é necessário que haja “condições objectivas e subjectivas”.
No
caso da Bielorrússia, a resposta é evidente: o cansaço dos bielorrussos com
uma ditadura nacional-socialista, que mantém o país numa situação económica
estagnada, mantida, significativamente, à custa dos subsídios russos através do
fornecimento de hidrocarbonetos a baixos preços.
A
forma como o ditador trata a população bielorrussa durante a pandemia,
subestimando os perigos do Covid-19 para a saúde pública, contribui muito para
a perda de popularidade de um político que já se encontra no poder há 26 anos.
Mas
o rastilho da explosão social foi aceso com a realização de umas eleições
presidenciais viciadas e a posterior onda inaudita de repressão, lançada
pela polícia e pelo KGB (os serviços secretos bielorrussos herdaram o nome do
seu antecessor soviético) contra aqueles que ousaram vir para a rua
contestar a “estrondosa vitória” do ditador. Milhares de pessoas foram
detidas e torturadas de forma violenta pelas forças de segurança.
Tudo
indicava que o cenário iria repetir situações anteriores, ou seja, Lukachenko
falsifica eleições
presidenciais, a oposição contesta, ele envia tropas e polícia para a rua e,
passados alguns dias, as coisas acalmam.
Desta
vez, aconteceu uma novidade que deveria deixar eufóricos os
marxistas-leninistas, mas parece não ser o caso. A classe operária, sim, os
trabalhadores dos gigantes industriais públicos ameaçam com greves se as
repressões continuarem, juntaram-se aos protestos. Em alguns lugares já se
registaram paragens laborais e os manifestantes exigem a demissão de Lukachenko.
Além da polícia e das forças armadas, o ditador não tem apoio de mais ninguém
no interior do país, mas mesmo essas podem mudar de campo, tendo-se registado
já alguns casos.
Putin: a última
esperança de Lukachenko
Durante
a campanha eleitoral, o presidente bielorrusso lançou muitas farpas na direcção
do Kremlin, sendo uma das mais forte a prisão de 32 mercenários russos. Isso
levou a que alguns políticos russos fiéis à corte criticassem Lukachenko e
levantassem a hipótese de ter chegado a hora de ser necessário livrar o
“infeliz povo bielorrusso” do sátrapa.
Vendo-se
completamente encurralado, Lukachenko vira-se para Moscovo, como era
previsível, e dispõe-se a aceitar todas as condições. Ele apressou-se a
telefonar a Putin e ambos se mostraram convencidos de que todos os problemas da
Bielorrússia (se resolveriam com o auxílio russo):
“O
principal é que esses problemas não sejam utilizados por forças destrutivas que
tentem prejudicar a cooperação mutuamente vantajosa dos dois países”,
sublinharam eles, acrescentando que reafirmaram a disposição de “reforçar as
relações de aliados”.
É
de recordar que, durante a campanha eleitoral, Lukachenko anunciou que as
relações com a Rússia deixavam de ser de “aliados”, para ser de “parceiros”.
Porém,
agora, o discurso de Moscovo mudou rapidamente. Putin foi dos primeiros a
enviar os parabéns a Lukachenko pela “vitória”. Com o aumento da onda de
contestação, alguns políticos e jornalistas próximos da corte do Kremlin, como Margarita
Simonian, directora do Russia Today, principal
canal de propaganda russa para o estrangeiro, passaram a defender
publicamente a necessidade do envio de “pessoas simpáticas” para o
território do Estado vizinho, ou seja, mandar tropas especiais russas para
ocupar a Bielorrússia tal como a Crimeia em 2014.
Segundo
Alexandre Lukachenko, durante a conversa telefónica, Putin ter-lhe prometido
ajuda militar no âmbito dos tratados sobre a União de Estados e a Organização
do Tratado de Segurança Colectiva.
É
verdade que Vladimir Putin não quer perder a Bielorrússia e não pretende
permitir que apareça mais um mau exemplo para os seus cidadãos: o derrube do
ditador através de protestos, mas fazer uma intervenção militar terá
consequências imprevisivelmente perigosas para a Rússia e o mundo. As tropas
russas não terão certamente a recepção que tiveram na Crimeia e a opinião
pública russa poderá contestar os planos militaristas e imperialistas do
autocrata Putin.
O
dirigente russo talvez ainda consiga encontrar uma alternativa pró-russa ao
actual ditador, mas já perdeu muito tempo. Até agora, Putin tem sido cúmplice de
Lukachenko na criação de condições para mais uma “revolução colorida”.
COMENTÁRIOS
Pedro S: Esperemos que o Lukashenko
consiga defender o país deste ataque dos Soros e companhia.
Voto Em Branco: a biolorrússia é a ditadura mais antiga da europa, q se mantém desde a
união soviética. Era um país como a lituânia ou a letónia e agora está a
anos-luz desses vizinhos. Conheço bielorrussos e todos estão a favor das
manifs. Euro
de Eos > Voto Em Branco: A Alemanha é a segunda ditadura
mais antiga da Europa e estou em crer que Portugal um dia ultrapassará a
Alemanha.
Venezuela Livre: O neo comunismo continua com as suas metástases.
PortugueseMan: E por falar em intervenções militares, vamos imaginar que a Polónia resolve
"ajudar" o país vizinho, salvar a população do malvado ditador. É
que a Polónia, está demasiado envolvida nestas questões ucranians e
bielorrussas. Aloja um sistema anti-míssil, e vai receber um reforço de
tropas americanas. Bom, aí pode crer que
temos o caldo entornado. Mas bem entornado. ...mas
fazer uma intervenção militar terá consequências imprevisivelmente perigosas
para a Rússia e o mundo. As tropas russas não terão certamente a recepção que
tiveram na Crimeia e a opinião pública russa poderá contestar os planos
militaristas e imperialistas do autocrata Putin... Intervenção militar para quê? A
Rússia quer dar suporte a um ditador que está em contagem decrescente? para
quê? A Rússia pode entrar na Bielorússia,
para proteger a população, não o presidente. A Rússia só entrará de alguma
forma, se for desejado por uma larga maioria da população e para estabilizar
alguma situação que tenha descambado em algo grave.
A população que decida o que quer. Se quiser uma aproximação à Rússia,
penso que estes gostariam muito dessa solução. Se
quiserem ir por uma aproximação à UE, só têm que ter cuidado e não dizerem que
querem ingressar na NATO. Para fazer uma aproximação à UE,
tem que contar que deixam de contar com os subsídios russos. Em caso de dúvidas é olharem para o percurso da
Ucrânia. Que tentou todas as opções. E
acabou por estar... onde está.
José MilhazesAUTOR
> PortugueseMan: Não tem o mínimo respeito pelos bielorrussos.
Hugo Gonçalves > PortugueseMan: Este portuguese man só está a ser friamente
pragmático. Ñ tem nada a ver c respeito.
William Smith > Hugo Gonçalves: Já dizia não sei quem que o
pragmatismo é o último refúgio dos que querem acreditar no inacreditável.
Se vir bem,
assenta como uma luva ao PortugueseMan. (…)
William Smith > PortugueseMan:
O problema, Man, é que eu,
aparentemente tal como tu em relação à Rússia, também gosto muito do pouco que
conheço do país e dos russos. Mas tu não consegues evitar que fiquemos com a
sensação que essa tua defesa da Mãe Rússia é por veres ainda nela a extinta
URSS. Só que eu detesto tudo o que se relaciona com comunismo.
PortugueseMan > William Smith: Tens uma percepção errada. Eu critico a imagem que
o José Milhazes quer passar da Rússia e apenas isso. Para alguém que é
considerado um expert acerca do país, deveria dar uma imagem mais honesta. Não
a dá, e muitas questões não são respondidas, porque simplesmente lhe estraga a
narrativa. E até diria que ele é que quer tentar colar a imagem da Rússia à extinta
URSS. Uma imagem que é familiar e confortável para muitos. Nós bons eles
maus. Nada do que eu falo tem a ver com comunismo, não percebo de onde
vais buscar essas ideias. Um dos meus
hobbies é a geopolítica e geoestratégia. Ao contrário do que nos querem fazer parecer, a
Rússia está a crescer. Não é só ela, mas é o único país, além dos EUA
que detém milhares de ogivas nucleares. O meu interesse sobre o assunto cresceu
exponencialmente quando em 2002, Bush abandonou o tratado ABM. Durante alguns anos, o que
andei a dizer, era que os EUA com esta jogada, preparava-se para uma guerra
nuclear onde existia um cenário onde uma das partes pudesse vencer. Só que isto
foi pensado num cenário onde a Rússia estava muito debilitada economicamente e
não poderia reagir. Hoje, ao fim de quase duas décadas depois. A minha
percepção mudou. A Rússia conseguiu acompanhar, (e uma das causas foi a sua capacidade
económica, que acabou por ser muito superior ao que nos contam) e hoje,
infelizmente, está muito perto a meu ver de efectivamente ter capacidade de
entrar num conflito nuclear e sobreviver. As armas hipersónicas e o
pipeline nord-stream são duas peças muito importantes para esta visão que tenho. Concluindo, considero que estamos muito perto de acontecer algo de muito grave,
possivelmente dentro desta década e nunca vamos aperceber-nos
disso se tivermos José(s) Milhazes por este mundo fora a escrever desta maneira. Há um
crescimento da Rússia e há um declínio dos EUA. Os EUA
não conseguiram em tempo útil montar um sistema antí-míssil , mas os russos
(surpreendentemente) estão muito perto de atingir isso. O meu foco é um possível
conflito entre superpotências, e não se pode analisar este assunto, com imagens
de fantasia da Rússia. As coisas têm que ser vistas como elas são.
PortugueseMan:...o cansaço dos bielorrussos com uma
ditadura nacional-socialista, que mantém o país numa situação económica
estagnada, mantida, significativamente, à custa dos subsídios russos através do
fornecimento de hidrocarbonetos a baixos preços... Meu caro... Quando leio isto, não posso
deixar de esboçar um sorriso. Anos e anos a chamar-lhe a atenção que a Ucrânia
sobrevivia com gás subsidiado e que as opções ucranianas eram muito limitadas
devido à grande dependência económica que tinham com a Rússia.
É uma pena que
agora não faça um artigo às propostas americanas sobre venda de gás americana à
Ucrânia. Foi há coisa de dias a resposta ucraniana. As condições são tão más
para os ucranianos que como é que podem aceitar aquilo. Não podem. E não
aceitam. Mas vão ter que comprar a alguém... A Ucrânia transformou-se num
buraco negro e vai engolir muita gente.
bento guerra: Mas, os "bielos" não
puseram os papelinhos nas urnas, ou já lá estavam?
Manuel Barradas
> bento guerra: a votação foi por SMS e email
Vitor Fonseca
> bento guerra: Já lá estavam. E em alguns casos existe 120% de
votantes. Não tiveram tempo de retirar todos os votos.
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