Ainda sob o encantamento destes
concertos de Ana Moura, António
Zambujo…, declamações do passado que tinha em disco de Villaret e que de vez em quando reponho, graças
à Internet, juntamente
com tantas mais vozes de paixões antigas, ou lembranças de tantos nossos
cabouqueiros de uma pátria antiga, como a História e as letras pátrias nos dão,
não, não merecemos ser desrespeitados assim.
OPINIÃO: Portugal e o problema da corrupção – parte 1
Há cada vez mais sinais à nossa volta que indicam o
regresso em força do velho PS clientelar, pela mão do próprio António Costa.
JOÃO MIGUEL
TAVARES OBSERVADOR, 25 de Agosto de 2020,
Ao
longo dos últimos cinco anos, mesmo sendo crítico da governação socialista, fiz
sempre questão de traçar uma linha de demarcação entre José Sócrates e
António Costa. Existe uma singularidade própria de Sócrates,
da sua personalidade e do seu comportamento, e ganha-se pouco com comparações
forçadas. Além do mais, Costa foi muito hábil a isolar Sócrates após a sua
detenção, com uma das frases mais assassinas da democracia portuguesa –
“ele está a lutar por aquilo que acredita ser a sua verdade” –, e a forma como refreou o PS de atacar a justiça
portuguesa em 2014 e 2015 (ao contrário do que acontecera durante o caso Casa
Pia) pareceu-me digno de respeito e admiração.
Mas
o isolamento da figura de José Sócrates também teve consequências
perniciosas, que se
têm vindo a agravar com o tempo: se a sua reputação e carreira política estão
para sempre destruídas, o sistema que o permitiu e o regime que alimentou a sua
ascensão continua bem vivo – e, de certa forma, está até em processo de
regeneração, após o abalo provocado pela troika. Ao sacrificar Sócrates, António Costa salvou o
PS, salvou alguns dos maiores promotores do socratismo, que integraram o
seu governo sem quaisquer problemas (Augusto
Santos Silva, Vieira da Silva, João Galamba), e salvou o regime português da
óbvia obrigação de reflectir sobre um gravíssimo problema de corrupção que
culminou na destruição de bancos, de empresas, na prisão de um
primeiro-ministro e na falência do país.
Como se tal não bastasse, há cada vez
mais sinais à nossa volta que indicam o regresso em força do velho PS
clientelar, pela mão do próprio António Costa. Antecipando os duríssimos tempos
que se aproximam, é como se o primeiro-ministro estivesse já a mover as suas
peças para alcançar o máximo controlo sobre a política, a economia, a justiça e
os media, com uma série de decisões e de nomeações extremamente preocupantes: a não recondução de Joana Marques Vidal; o investimento monstruoso na nova estratégia nacional para o hidrogénio coordenada
por João Galamba;
a nomeação de Vítor Escária para a
chefia do seu gabinete; a
omnipresença do amigo Diogo
Lacerda Machado, que nuns dias anda pela TAP, noutros é
administrador não executivo no grupo de Mário Ferreira, essa estranha figura que comprou 30% da Media
Capital a preço de saldo e apareceu miraculosamente a mandar na estação. Só
falta mesmo Arons de Carvalho ir
parar à RTP.
A
acumulação deste conjunto de pequenos e grandes factos desenha um padrão a que
o país tem de começar a prestar a atenção devida, para não descobrir apenas em
2023 que a dinâmica do Ministério Público se esfumou, que a EDP conseguiu
escandalosas rendas com o negócio do hidrogénio, que a “diplomacia económica”
do governo tem uma grande tendência para premiar os amigos do regime ou que a
informação da TVI anda a fazer favores ao PS – e, claro, que o Chega é a terceira força política mais votada, porque os
regimes podres e incapazes de se renovarem são pasto para todos os demagogos.
Este
é o primeiro de uma série de três artigos dedicados a Portugal e ao problema da
corrupção. Vou
procurar explicar de forma mais estruturada do que é costume porque é que esta deveria
ser a questão prioritária do país e porque é que é fundamental que comece a ser
levada a sério. Muita gente quer convencer-nos de que estar sempre a
falar de corrupção é uma forma de populismo. O maior truque do diabo é
convencer-nos de que não existe. Tentarei mostrar porquê.
Jornalista
TÓPICOS
POLÍTICA CORRUPÇÃO PS OPINIÃO ANTÓNIO COSTA JOSÉ SÓCRATES GOVERNO
COMENTÁRIO: mário
borges INFLUENTE: Eu pelo Costa não meto a mão no fogo.
Agora só digo uma coisa ao JMT. Eu pelo Medina nem um fato à prova de fogo
meto... E mais não digo.
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