sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Justa Homenagem

                                                                                                         

A alguém que deu cor e diversão à vida: NIKYAS SKAPINAKIS. Por Salles da Fonseca, que foi seu aluno. Mas na Internet foi uma profusão de imagens de quadros e serigrafias e murais seus. De uma entrevista curiosa, transcrita na Internet, extraio também o final, que nos mostra um pouco a sua dimensão humana no conceito sobre a arte.

NIKYAS SKAPINAKIS

HENRIQUE SALLES DA FONSECA

OBSERVADOR, 27.08.20

Português de ascendência grega, nasceu em Lisboa em 1931 e morreu ontem, 26 de Agosto de 2020, também em Lisboa.

Seria muita presunção minha vir aqui apresentá-lo – é suficientemente conhecido para que careça de apresentações e fica seguramente na Galeria da Cultura Portuguesa como o artista que procurava a essência das coisas pela pureza da pintura. A epifania das coisas através da pintura à semelhança de James Joyce e a epifania dos lugares através da escrita. A epifania joyceana e – proponho agora – a epifania skapinakiana.

Professor na década de 50 do século XX no liceu francês de Lisboa, tive-o como mestre de pintura durante um ou dois semestres. Teríamos, os meus colegas e eu, cerca de 14-15 anos mas ficou nas nossas memórias e ontem mesmo recebi alguns contactos a referirem a sua morte.

Alto, magro, dando-se naturalmente ao respeito, ensinava sobretudo as técnicas da pintura. O dom artístico não se ensina - ou se tem ou não. E da nossa classe mista não saiu nenhum Van Gogh nem nenhuma Josefa de Óbidos. Mas todos ficámos a saber distinguir as boas pinturas das outras.

Morando na zona da Estrela, cruzávamo-nos de vez em quando e até se deu o caso de nos termos encontrado a tomar café ao balcão da «Cristal». E, cumprimentando-o, disse-lhe que fora meu professor havia então já mais de 50 anos. Obviamente, não me reconheceu mas fingiu e isso apenas confirmou que era muito civilizado.

Daqui sugiro à Câmara de Lisboa que dê o seu nome a uma rua ou parque da cidade.

A Wikipédia apresenta-o bastante bem.

27 de Agosto de 2020

Henrique Salles da Fonseca

 

COMENTÁRIOS

Anónimo, 27.08.2020: Uma memória sentida e justa.

Adriano Lima 27.08.2020: Homenagem justa a um artista de mérito.

 

Nikias Skapinakis

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Nikias Ribeiro Skapinakis GOSE (Lisboa, 1931-26 de agosto de 2020) foi um pintor português de ascendência grega.

Faleceu a 26 de Agosto de 2020[1].

Biografia[editar| editar código-fonte]

Frequentou o curso de arquitectura, que abandonou para se dedicar à pintura, actividade que manteve regularmente até ao presente.

Começou por expor em 1948, nas Exposições Gerais de Artes Plásticas e, desde então, realizou inúmeras exposições individuais e participou em diversas exposições colectivas, em Portugal e no estrangeiro.

Além da pintura a óleo (a sua actividade dominante), dedicou-se à litografia, serigrafia e ilustração de livros. Entre outras obras, ilustrou Quando os Lobos Uivam, de Aquilino Ribeiro (Bertrand, 1958 e Andamento Holandês, de Vitorino Nemésio (Imprensa Nacional,1983). Executou litografias para o Congresso de Psicanálise de Línguas Românicas (1968) e para o cinquentenário do Banco Português do Atlântico (1969). Executou serigrafias para a Galeria Kompass (1973).

É autor de um dos painéis do café A Brasileira do Chiado (1971) e participou na execução do painel comemorativo do dia 10 de Junho de 1974.

Em 1963, obteve a Bolsa Malhoa da Sociedade Nacional de Belas-Artes e em 1976 foi-lhe concedido um subsídio para investigação pela Fundação Calouste Gulbenkian.

Em 1976 foi-lhe atribuído o grau de Comendador da Ordem do Rio Grande do Sul, da República do Brasil.

Em 1981 foi-lhe atribuído o grau de Comendador da Ordem da Fénix, da Republica da Grécia.

Em 1985, o Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, mostrou uma exposição antológica da sua pintura, completada com uma retrospectiva da sua obra gráfica e guaches na Sociedade Nacional de Belas-Artes, no mesmo ano.

Em 1990 foi-lhe atribuído o prémio Aica/Sec, instituído pela Associação Internacional de Críticos de Arte e a Secretaria de Estado da Cultura.

Em 1993, apresentou no Palácio Galveias (Biblioteca Municipal de Lisboa da Câmara Municipal de Lisboa), uma antologia de desenhos realizados entre 1985 e 1993.

Em 1996, o Museu do Chiado organizou a exposição intitulada "Para o Estudo da Melancolia em Portugal, Retrospectiva de Retratos, 1955-1974".

Em 2000, o Museu de Arte Contemporânea da Fundação de Serralves, apresentou a exposição antológica "Prospectiva 1966-2000".

Em 2005 foi-lhe atribuído o Grande Prémio Amadeo de Souza-Cardoso, instituído pela Câmara Municipal de Amarante, e realizou um painel em cerâmica para o Metropolitano de Lisboa.

Em 2006, a Fundação Árpád Szenes-Vieira da Silva apresentou a série de pinturas "Quartos Imaginários", baseada nos quartos de dormir e ateliês de diversos pintores e poetas e foi-lhe atribuído o Prémio de Arte do Casino da Póvoa. A 9 de Junho de 2006 foi feito Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada.

Em 2007, foi realizado para a televisão, "Nikias Skapinakis: O Teatro dos Outros", um documentário realizado por Jorge Silva Melo sobre o conjunto da sua obra.

Em 2009, realizou no Centro Cultural de Cascais a exposição "Desenho a preto e branco e a cores", abrangendo a sua obra gráfica entre 1958 e 2009. Realizou também a pintura "Paisagem-Bandeira Portuguesa" alusiva à Bandeira Nacional e integrada nas Comemorações do Centenário da República.

Em 2012, o Museu Colecção Berardo apresentou a exposição antológica "Presente e Passado, 2012-1950"

Em 2013, foi-lhe atribuído pela Sociedade Portuguesa de Autores o Prémio de Artes Visuais.

Em 2014, apresentou na Casa Fernando Pessoa a série de guaches “Lago de Cobre” e a série de desenhos “Estudos de Intenção Transcendente”. Ilustrou a Revista “Colóquio Letras” dedicada a Almada Negreiros.

Em 2017, apresentou na Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva a série desenvolvida a partir de 2014, “Paisagens Ocultas-Apologia da Pintura Pura”.

Em 2018, a Fundação Carmona e Costa apresentou uma antologia de gouaches entre 1950 e aquele ano.

Em 2019, o seu nome foi incluído no painel do Metropolitano de Lisboa, que refere os presos políticos durante o salazarismo.

Tem publicado textos de intervenção crítica em diversos jornais e revistas.

Viveu e trabalhou em Lisboa.

É irmão do Coronel Andreas Ribeiro Skapinakis(n. 1913), Oficial da Ordem Militar de Avis a 20 de Outubro de 1951, Comendador da mesma Ordem a 13 de Fevereiro de 1961 e Comendador da Ordem da Fénix, da Monarquia Helénica, em 1955.

Final De uma Entrevista

(Internet)

Publicado originalmente no Público em 2009

- Disse que não é um repentista, e impôs a condição de a entrevista ser escrita. Porquê esta reserva, esta distância, este silêncio? O que seria diferente se fosse sem rede, ou seja, sem tempo para pensar e digerir as perguntas?

- Fui algumas vezes entrevistado para a rádio e a televisão - naturalmente sem rede. Uma entrevista para ser lida, que pretende resumir 60 anos da minha preciosa existência, obriga-me, porém, a consultar diversos elementos e a ponderar a economia das respostas. Realmente, embora converse e discuta com facilidade, não sou repentista. Seria um péssimo advogado de barra e um político inábil, porque a resposta correcta pode não me ocorrer - o que acontece a muita gente boa.

Por exemplo, fiz recentemente uma intervenção na Universidade Nova, no âmbito da História de Arte Contemporânea, e a seguir alguém perguntou se a arte devia escandalizar. Já não recordo o que respondi, mas, rememorando a pergunta, julgo que estava viciada na origem. Isto é, o verbo "dever" não se adequa à obra de arte. Manet não pensou certamente em escandalizar Napoleão III quando pintou Olímpia nua. A lição a tirar é que no processo artístico as intenções não contam, conta a inspiração que não é uma invenção romântica. Na arte não há deveres. E não me lembrei de o afirmar!

-Produziu muito ao longo dos anos. O que é que acha que ficará? Aponte-me três quadros de que goste especialmente.

- Não posso garantir que fique o que quer que seja. As escolhas são apanágio dos críticos e do público. O tempo encarrega-se da rectificação. Se for caso disso.

 

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