A alguém que deu cor e diversão à vida: NIKYAS SKAPINAKIS. Por Salles da Fonseca, que foi seu aluno. Mas na Internet foi uma profusão de imagens de quadros e serigrafias e murais seus. De uma entrevista curiosa, transcrita na Internet, extraio também o final, que nos mostra um pouco a sua dimensão humana no conceito sobre a arte.
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
OBSERVADOR, 27.08.20
Português
de ascendência grega, nasceu em
Lisboa em 1931 e morreu ontem, 26 de Agosto de 2020, também em
Lisboa.
Seria
muita presunção minha vir aqui apresentá-lo – é suficientemente conhecido para
que careça de apresentações e fica seguramente na Galeria da Cultura Portuguesa
como o artista que procurava a essência das coisas pela pureza da pintura.
A epifania das coisas através da pintura à semelhança
de James Joyce e a epifania dos lugares através da escrita. A epifania joyceana e – proponho agora – a epifania
skapinakiana.
Professor
na década de 50 do século XX no liceu francês de Lisboa, tive-o como mestre de
pintura durante um ou dois semestres. Teríamos, os meus colegas e eu, cerca de
14-15 anos mas ficou nas nossas memórias e ontem mesmo recebi alguns contactos
a referirem a sua morte.
Alto, magro, dando-se naturalmente ao
respeito, ensinava sobretudo as técnicas da pintura. O dom artístico não se ensina - ou se tem ou não. E
da nossa classe mista não saiu nenhum Van Gogh nem nenhuma Josefa de Óbidos.
Mas todos ficámos a saber distinguir as boas pinturas das outras.
Morando
na zona da Estrela, cruzávamo-nos de vez em quando e até se deu o caso de nos
termos encontrado a tomar café ao balcão da «Cristal». E, cumprimentando-o,
disse-lhe que fora meu professor havia então já mais de 50 anos. Obviamente,
não me reconheceu mas fingiu e isso apenas confirmou que era muito civilizado.
Daqui sugiro à
Câmara de Lisboa que dê o seu nome a uma rua ou parque da cidade.
A
Wikipédia apresenta-o bastante bem.
27
de Agosto de 2020
Henrique
Salles da Fonseca
COMENTÁRIOS
Anónimo,
27.08.2020: Uma memória sentida e justa.
Adriano Lima
27.08.2020: Homenagem justa a um artista de mérito.
Nikias
Skapinakis
Origem: Wikipédia, a enciclopédia
livre.
Nikias Ribeiro Skapinakis GOSE (Lisboa, 1931-26 de agosto de 2020) foi um pintor português
de ascendência grega.
Faleceu
a 26 de Agosto de 2020[1].
Biografia[editar| editar código-fonte]
Frequentou o curso de arquitectura,
que abandonou para se dedicar à pintura, actividade que manteve regularmente
até ao presente.
Começou
por expor em 1948, nas Exposições Gerais de Artes
Plásticas e, desde
então, realizou inúmeras exposições individuais e participou
em diversas exposições colectivas, em Portugal e no estrangeiro.
Além
da pintura a óleo (a sua
actividade dominante), dedicou-se à litografia,
serigrafia
e ilustração de livros.
Entre outras obras, ilustrou Quando os Lobos Uivam, de Aquilino
Ribeiro (Bertrand, 1958 e Andamento Holandês, de Vitorino Nemésio (Imprensa
Nacional,1983). Executou litografias para o Congresso de Psicanálise de
Línguas Românicas (1968) e para o cinquentenário
do Banco Português do Atlântico (1969).
Executou serigrafias para a Galeria Kompass (1973).
É autor
de um dos painéis do café A Brasileira do Chiado (1971) e participou na
execução do painel comemorativo do dia 10 de Junho
de 1974.
Em
1963, obteve a Bolsa Malhoa
da Sociedade Nacional de Belas-Artes e em 1976
foi-lhe concedido um subsídio para investigação pela Fundação Calouste Gulbenkian.
Em
1976 foi-lhe atribuído o grau de Comendador
da Ordem do Rio Grande do Sul, da República do Brasil.
Em
1981 foi-lhe atribuído o grau de Comendador
da Ordem da Fénix, da Republica da Grécia.
Em
1985, o Centro de Arte Moderna
da Fundação Calouste Gulbenkian, mostrou uma exposição antológica da sua pintura,
completada com uma retrospectiva da sua obra gráfica e guaches na Sociedade Nacional de Belas-Artes,
no mesmo ano.
Em
1990 foi-lhe atribuído o prémio Aica/Sec, instituído pela Associação Internacional
de Críticos de Arte e a Secretaria de Estado da Cultura.
Em
1993, apresentou no Palácio Galveias
(Biblioteca Municipal
de Lisboa da Câmara Municipal de Lisboa), uma antologia
de desenhos realizados entre 1985 e 1993.
Em
1996, o Museu
do Chiado organizou a exposição intitulada "Para o Estudo
da Melancolia em Portugal, Retrospectiva
de Retratos, 1955-1974".
Em
2000, o Museu de Arte Contemporânea
da Fundação de Serralves, apresentou a exposição antológica
"Prospectiva 1966-2000".
Em
2005 foi-lhe atribuído o Grande
Prémio Amadeo de Souza-Cardoso, instituído pela Câmara Municipal de Amarante, e realizou um painel em cerâmica
para o Metropolitano de Lisboa.
Em
2006, a Fundação
Árpád Szenes-Vieira da Silva apresentou a série de pinturas "Quartos
Imaginários", baseada nos quartos de dormir e
ateliês de diversos pintores e poetas e foi-lhe atribuído o Prémio de
Arte do Casino da Póvoa. A 9
de Junho de 2006 foi feito Grande-Oficial
da Ordem Militar de Sant'Iago da
Espada.
Em
2007, foi realizado para a televisão, "Nikias
Skapinakis: O Teatro dos Outros", um
documentário realizado por Jorge
Silva Melo sobre o conjunto da sua obra.
Em
2009, realizou no Centro Cultural de Cascais
a exposição "Desenho a preto e branco e a cores", abrangendo a sua obra gráfica entre
1958 e 2009. Realizou também a pintura
"Paisagem-Bandeira Portuguesa" alusiva à Bandeira Nacional e
integrada nas Comemorações do Centenário da República.
Em
2012, o Museu Colecção Berardo apresentou a exposição antológica "Presente
e Passado, 2012-1950"
Em
2013, foi-lhe atribuído pela Sociedade
Portuguesa de Autores o Prémio de Artes Visuais.
Em
2014, apresentou na Casa Fernando Pessoa a
série de guaches “Lago de Cobre” e a série de desenhos “Estudos de
Intenção Transcendente”. Ilustrou a Revista “Colóquio Letras” dedicada a Almada
Negreiros.
Em
2017, apresentou na Fundação Arpad
Szenes-Vieira da Silva a série desenvolvida
a partir de 2014, “Paisagens Ocultas-Apologia da Pintura Pura”.
Em
2018, a Fundação Carmona e Costa apresentou uma antologia de gouaches entre
1950 e aquele ano.
Em
2019, o seu nome foi incluído no
painel do Metropolitano de Lisboa, que refere os presos políticos durante o salazarismo.
Tem publicado textos de
intervenção crítica em diversos jornais e revistas.
Viveu
e trabalhou em Lisboa.
É irmão do Coronel Andreas Ribeiro Skapinakis(n. 1913), Oficial da Ordem Militar de Avis a 20 de Outubro de 1951, Comendador da mesma Ordem a 13 de Fevereiro de 1961 e Comendador da Ordem da Fénix, da Monarquia Helénica, em 1955.
Final
De uma Entrevista
(Internet)
Publicado originalmente no Público em
2009
- Disse que não é um
repentista, e impôs a condição de a entrevista ser escrita. Porquê esta
reserva, esta distância, este silêncio? O que seria diferente se fosse sem
rede, ou seja, sem tempo para pensar e digerir as perguntas?
- Fui algumas vezes entrevistado para a rádio e a
televisão - naturalmente sem rede. Uma entrevista para ser lida, que pretende
resumir 60 anos da minha preciosa existência, obriga-me, porém, a consultar
diversos elementos e a ponderar a economia das respostas. Realmente, embora
converse e discuta com facilidade, não sou repentista. Seria um péssimo
advogado de barra e um político inábil, porque a resposta correcta pode não me
ocorrer - o que acontece a muita gente boa.
Por exemplo, fiz recentemente uma intervenção na
Universidade Nova, no âmbito da História de Arte Contemporânea, e a seguir
alguém perguntou se a arte devia escandalizar. Já não recordo o que respondi,
mas, rememorando a pergunta, julgo que estava viciada na origem. Isto é, o
verbo "dever" não se adequa à obra de arte. Manet não pensou
certamente em escandalizar Napoleão III quando pintou Olímpia nua. A lição a
tirar é que no processo artístico as intenções não contam, conta a inspiração
que não é uma invenção romântica. Na arte não há deveres. E não me lembrei de o
afirmar!
-Produziu muito ao
longo dos anos. O que é que acha que ficará? Aponte-me três quadros de que
goste especialmente.
- Não posso garantir que fique o que quer que seja. As
escolhas são apanágio dos críticos e do público. O tempo encarrega-se da
rectificação. Se for caso disso.
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