terça-feira, 25 de agosto de 2020

Falta de consenso nos comentários

 

Como se previa. Concordo com Alberto Gonçalves sobre a tirania de uma ordem cuja eficácia não está totalmente comprovada. Para mais a imposição do confinamento, destruindo empregos e a economia, numa aparência de preocupação pela saúde pública, constitui um luxo de país rico que conta depressa refazer-se da bestialidade de uma dívida, o que, naturalmente é falso. No círculo vicioso da nossa dependência de dinheiros exteriores, nunca mais ergueremos a cabeça, nessa porta escancarada às perversões costumeiras, na gerência de dinheiros que não ganhámos, o que é vilipendioso.

Baile de máscaras /premium

A sombra de qualquer perigo para um corpo que se supõe imaculado deixa as cabecinhas à nora e a reclamar protecção divina. Na ausência de Deus, irrompe o poder político.

ALBERTO GONÇALVES, Colunista do Observador

OBSERVADOR, 22 ago 2020

Na sua página do Facebook, um médico português, devidamente identificado, afirma que se tiver um único ventilador para dois doentes com covid, o atribuirá ao cidadão que usou sempre máscara, incluindo ao ar livre. Não seria muito diferente se, entre dois pacientes com HIV, o senhor doutor fornecesse os antirretrovirais ao monge. Porém, esse nem é o ponto. O ponto é que os comentários na tal página do Facebook são quase todos favoráveis à decisão de uma criatura que, em vez de ganhar elogios, devia perder a licença para exercer. E uma comentadora exige: “Porrada nessa gente sem máscara. Levavam tantas que na próxima nem pensavam não usar.”

Nas últimas semanas tenho andado a cirandar pelo país, literalmente de Norte a Sul, com passagens breves por Espanha. O cenário é melancólico. Há gente com máscara nos sítios onde a regulamentação desconexa e grotesca obriga a usar máscara. Há gente com máscara nas ruas. Há gente com máscara a passear isoladíssima no cimo da uma colina só discernível com binóculos. Há, eu fique ceguinho, gente com máscara a conduzir sem passageiros no carro (já vi um condutor com máscara e viseira, provavelmente numa candidatura espontânea ao Campeonato Mundial da Foleirice). E depois há gente com máscara que, não satisfeita com a prova de bom comportamento, ainda faz questão de se desviar seis metros ao cruzar-se com os inconscientes de rosto à mostra. Comigo ninguém foi tão longe, mas contaram-me episódios em que malucos gritam ao transeunte desmascarado: “Chegue-se para lá!” Em suma, estamos perante uma humilhação colectiva sem grandes precedentes.

O problema nem é a humilhação: é a facilidade com que as pessoas a aceitam, o orgulho com que a ostentam, os exageros com que a alimentam e o empenho com que odeiam os renitentes. Não ocorre por um instante a estes devotos da submissão que as regras que postulam a utilização da máscara foram evoluindo, para a frente e para trás, de acordo com alucinações diversas – e com a capacidade de socialistas criarem empresas para importar o pechisbeque. E os devotos da submissão não se lembram de questionar decretos produzidos pelos exactos génios que, em sete meses de “pandemia”, deixaram os velhos nos “lares” entregues ao abandono e, desculpem a redundância, ao PS. E os devotos da submissão não duvidam da propaganda espalhada por “media” ligados à vida por subsídios governamentais. E os devotos da submissão não ligam às opiniões de especialistas que desaconselham a máscara e, em caso de hereges terminais, desvalorizam a covid. Os devotos da submissão não questionam coisa nenhuma, nem sequer as excepções abertas para que comunistas festejem o estalinismo, pasmados aplaudam comediantes, o dr. Costa assista à bola e o prof. Marcelo finja resgatar banhistas em apuros. Os devotos da submissão limitam-se a obedecer às mais absurdas directivas a propósito dos mais absurdos pretextos. O curioso é que os devotos da submissão julgam que os indivíduos sem açaime os ameaçam com um vírus gripal, e não reparam que eles é que nos condenam a todos ao vírus da tirania, que parecendo que não é ligeiramente pior.

Resistir? É escusado. Por mim, não cedo à máscara salvo por alguns minutos mensais, a fim de pagar o combustível ou operação similar. Nos restaurantes, ainda não me obrigaram a semelhante embaraço para percorrer o caminho da porta à mesa (se obrigassem, comeria noutro lado). Contas feitas, não uso máscara ou aquela gosma para desinfectar as mãos, não vejo canais de “notícias” e, logo, sinto-me teoricamente distante da histeria em curso. A não ser, claro, quando transito na via pública, repleta de mascarados que me recordam a inutilidade de ter vergonha na cara, ao invés de um farrapo pendurado nas orelhas. Em matéria de servidão, o voluntarismo da maioria arrasta a população em peso.

Para cúmulo, nem a tradicional propensão nacional para curvar a espinha explica a resignação demonstrada. Em Espanha, sob uma mescla de socialistas corruptos e socialistas doidos, descobri que é proibido não usar máscara em espaços públicos, fechados ou abertos. Também é verdade que, ao contrário de Portugal, célebre pela mansidão a que aqui se chama civismo, em Espanha já aconteceram protestos contra o enxovalho. E na Alemanha. E na Bélgica. E na Inglaterra. E na América. Infelizmente, trata-se de raridades, ou anomalias. Em geral, nos países onde os governos fomentam o enxovalho (os nórdicos, curiosamente ou não, dispensaram-no), os cidadãos têm acatado as ordens sem estrebuchar.

É engraçado, sobretudo para apreciadores de tragédias, que em 2020 se consinta de cara alegre a prepotência que em 1920, ou 1930, ou 1940 exigiria pancadaria firme para ser implantada. Suponho que a diferença passa pela saúde. O aumento dos níveis de conforto, assistência e infantilização levou a que, nas últimas décadas, o ocidental médio decidisse achar-se imortal. A sombra de qualquer perigo para um corpo que se supõe imaculado deixa as cabecinhas à nora e a reclamar protecção divina. Na ausência de Deus, irrompe o poder político, que vê no pavor dos simples uma oportunidade para redobrar o domínio sobre eles.

Para o poder político, passadas as fases do desnorte e da incompetência, a covid foi uma oportunidade e uma bênção, apenas variáveis de acordo com os escrúpulos de cada um. Governos minimamente escrupulosos procuraram evitar o pânico e privilegiar a economia e, afinal, a sobrevivência. Governos pouco escrupulosos aproveitaram para testar o grau de tolerância ao despotismo e à arbitrariedade. Governos nada escrupulosos fizeram o que o governo português tem feito. Sobre os escombros de uma nação falida e as vítimas de doenças graves, o dr. Costa já promete vacinas inexistentes – e gratuitas (não riam) – às massas aturdidas pelo medo de uma doença que mata, se mata, duas ou três alminhas por dia.

É muito difícil recuperar a liberdade que se perdeu pela força. É quase impossível recuperar a liberdade de que se abdicou livremente. A máscara, tradicional símbolo de assaltantes, é agora emblema de assaltados, uns e outros cúmplices deste gigantesco roubo.

CORONAVÍRUS 

SAÚDE PÚBLICA 

SAÚDE

COMENTÁRIOS (292)

VICTORIA ARRENEGA: Desta vez não concordo a 100% com o Alberto Gonçalves que diz respeito aos argumentos que têm a ver com a propagação do vírus. Concordo totalmente quando fala das oportunidades de controlo popular através do medo.

Pedro Miguel Guerreiro > Carminho Sottomayor: O respeito é também perceber que a opinião dos outros é tão válida como a sua. Tenho a certeza de que muitos dos que se opõem ao uso da máscara o fazem, devido à desproporcionalidade da medida. Caso realmente se justificasse seria dos primeiros a fazê-lo. Eu chego até ao ponto de achar criminoso a utilização em alguns casos, nomeadamente obrigar uma criança a inspirar durante 5, 6, 7 horas os gases que por serem nocivos à homeostasia do organismo, são exalados para a atmosfera.

Carminho Sottomayor > Pedro Miguel Guerreiro: O Sr pode ter a opinião que quiser, desde que cumpra com as regras básicas de convivência social e respeito pela saúde dos outros. O Sr se quiser pode achar desproporcionado o uso de cinto de segurança e de capacete. E!? Cumpre, não cumpre?

Pedro Miguel Guerreiro > Carminho Sottomayor: Eu e outros estaremos no outro lado a combater as suas ideias totalitárias, quer a senhora goste ou não. Outra certeza, iremos vencer. Comparar a utilização do cinto e capacete? São utensílios para protecção individual e ainda bem que são obrigatórios.

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