sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

As imagens da nossa fragilidade

O nosso Presidente da República deu festa no seu Palácio. Aos filhos dos tropas que estão longe a defender os povos estrangeiros. Parece que estão a cumprir um dever, e a dar provas de muita coragem, disse o nosso P.R. Disse-o e repetiu-o, fez um discurso recheado de amor pelos filhos dos papás que defendem o bom nome da nossa pátria com o seu sacrifício, embora se diga que tal sacrifício seja actualmente da ordem do voluntariado bem abonado. Fez um discurso aos filhinhos e filhinhas dos papás, e antes de se acenderem as luzes da linda árvore de Natal contou-se do dez ao zero, o que nós cá em casa também acompanhámos e batemos palmas no final.
O senhor P. R., todavia, homem da velha guarda, jamais usou o termo filhotes. Isso está bem para a nova guarda, e assim fez a jovem jornalista ao entrevistar os meninos, falando para os telespectadores, cheia de facúndia, nos filhotes dos papás heróis lá fora. Os filhotes dos papás e das mamãs. Pouco tempo antes tínhamos visto, no tempo de antena, muitos pássaros e alguns filhotes mortos remetendo para a necessidade de salvaguardar as espécies ornitológicas com os filhotes incluídos, claro.
Achei a imagem da senhora jornalista muito bonita e recheada de ternura pelas espécies. Filhotes para aqui e ali, hoje em dia é de bom tom usar essa imagem de fragilidade, que nos aproxima da natureza inteira, nos seus comportamentos. O sexo variado e sem peias como entre os mais animais, os nudismos paralelos aos dos ditos, os filhotes dos humanos, tais como os dos mais animais... Vivemos numa época de solidariedade universal e de fragilidade e ternura humanas com cada vez maior amplitude. Será que os filhotes se sentirão felizes com a designação que, ao aproximá-los dos outros animais, lhes retira o carisma da ternura realmente humana?
Será que a instabilidade comportamental de tantos meninos hoje em dia não parte já desse tratamento de elegância social desumanizante?

Nenhum comentário: