domingo, 18 de setembro de 2011

Perenidade

Há dias, foi uma nossa amiga, das que falam em voz alta e profusa, com a autoridade de um poder económico lisonjeiro, que, regressada do seu passeio à Madeira, falou no buraco:
- Não sei se há buraco, mas que aquilo está um espanto de beleza e eficiência, não tenho dúvidas!
E contou das coisas boas que a Madeira tem, os túneis para as travessias, o bom gosto nos gastos…
Ontem de manhã foi a minha amiga que, a propósito do buraco de que se fala, mesmo a imprensa estrangeira, não se sabe se com repercussões sobre as relações do Governo com a troika, lembrou a personagem Jardim, o discurso de Jardim, sempre achincalhante para “os de Lisboa” – “Era melhor ir p’r’ós de Lisboa p’r’a ser gasto à tripa forra! …” afirmara ele. E concluiu:
- Mas isto é uma anedota daquelas que sendo trágica, dá vontade de rir… “Agora venham os de Lisboa dizer que têm gente capaz de governar como aqui se fez, criando condições e escolas…” – disse ele, entre outras coisas.
Eu então lembrei que ele não embarcara na reforma educativa como cá, protegendo os professores dos enxovalhos socráticos.
Também a Ana Paula, outra nossa amiga matinal, se referiu ao buraco do Jardim, ou ao Jardim no buraco, reconhecendo que o dinheiro fora gasto nas obras sociais:
- Ninguém lhe tira o valor. Mas a forma como se refere aos do Continente é muito acintosa.
A minha amiga insistia na questão do buraco:
- Agora pergunta-se: Será que os governantes não deram por nada?
Eu achei que sim, que podiam ter dado, mas que lhes convinha fingir que não davam, na safra em que viviam de esconder os seus próprios buracos.
Mas a Ana Paula deu precisões:
- Nem sei o que haverá mais. Este dos mil milhões foi ao nível da CGD. Se houver uma auditoria aos outros bancos podem-se descobrir mais buracos. Ainda não apareceu tudo.
- Vamos sabendo aos poucos
- concluiu a minha amiga – para a gente ir aguentando.
- Uma espécie de soro na veia -apoiei eu, que tenho muita fé no soro para a recuperação dos organismos.

E a Ana Paula, que é filha de médico, falou então nos abusos de cá, ao nível dos hospitais:
- 20% de desperdício. Ele eram Tacs em vez de raios X, ressonâncias magnéticas caríssimas… Agora estamos nos extremos: se não forem os familiares a ajudar, a darem a comida…
Falou-se na gordura do Estado que este Governo pretende limpar, com os cortes ao despesismo e referimos Mário Soares, que também os apoia, mas que vai falando em aumento de impostos e redução nos salários como fizeram em Espanha, julgamos que para que se não toque na sua Fundação.
A minha amiga há muito que pergunta sobre a utilidade da Fundação Soares e pensa que agora é que ela vai ao ar.
Mas está enganada. Pois Soares continua na berra, a dizer dos seus ditames. Vazios. Cairemos todos antes da Fundação. A Fundação não cairá, bom esteio do que somos. Como um estigma. Tal como a Abóbada da Casa do Capítulo do Mosteiro da Batalha que Mestre Afonso Domingos ergueu, sobre a ruína da de Mestre Ouguet.

Mas esta não foi estigma, foi glória. Mudaram os contextos.

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