segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

“Deus queira que aquele povo o agarre”

A minha amiga estava hoje azeda até dizer chega. Falou-se do Bibi e logo ela:
-Eu espero que o Bibi apanhe mais uns anos, por aquilo que está a dizer. Porque é que não se lhe pergunta: -“Quem é que fazia isso? Diga um nome”. Aposto que não denunciava ninguém. Que miserável aquilo que este homem está a fazer, a falar em falsas declarações anteriores, a pretexto de ter sido drogado!
Mas a minha educação esmerada força-me a desculpabilizar o Bibi e tudo o que lhe fica subjacente:
- Pois olhe que deve haver grandes sumidades por trás de tanto descaramento e desbragamento “mentireiro”, e não haverá mal que lhe chegue a mais. Tal como já dizia o outro, dos nossos primórdios mediévicos: “Ca vej’eu ir melhor ao mentireiro / Qu’ao que diz verdade ao seu amigo”. Aliás, Bibi anda por aí, à solta…
A minha amiga continuou implacável:
- O advogado do Carlos Cruz veio logo todo ufano: quer reabrir o processo.
Falou-se também no ditador Hosni Mubaraque e a minha amiga foi feroz:
- Deus queira que aquele povo o agarre. E o mate. Aquele sacana daquele homem está há trinta anos no poder.
- Isso também o Jardim, e o povo venera-o. Ele tem o apoio de Israel, não vai cair assim.
Mas ela insistiu no seu ponto de vista virtuosamente exaltado, respeitador do que considera justo:
- Cada vez, admiro mais o Obama.
Achei que o estado de espírito da minha amiga estava mais moderado, e alegrei-me:
- Então porquê?
- Porque ele está lá para fazer coisas, não é só para mostrar o seu poder. Os anteriores sempre apoiaram cinicamente o governo egípcio. Obama afirma que as leis têm que ser mudadas. Que o povo tem que ser ouvido.
- Talvez. Mas isso também se passa na China, e é o que se vê de gente descontente. Mas de tal modo obediente, que quase raia a perfeição, no domínio humano. Basta ver as paradas e toda a arte circense. Para além das cabeças disciplinadas e inteligentes daquela gente jovem, que sabe respeitar valores. E eles, os chineses, aí estão, com os seus comércios, por enquanto, esperemos que sem veleidades de imporem a sua raça como forma de selecção natural, para a pureza racial, que isso tem consequências desastrosas. Só espero é que não venha por aí novo holocausto…
A minha amiga lançou os meus receios no rol das utopias:
- Não, os chineses não fazem ondas, só fazem contas. E bem.
Mostrei-me abespinhada:
- Mas é uma utopia bem pessimista, se é que se pode chamar assim.
- Seja! Não acredito nessa hipótese.
- Ninguém pensou, antes, em campos de extermínio nazis. E eles aconteceram. Temos que nos mentalizar para tudo, tal a velocidade a que se progride
- explico eu, muito prática.
Mas a minha amiga achou que estávamos para ali só a falar, a falar… como disse o Ricardo Pereira.
E recolhemo-nos ao silêncio. Das compras no supermercado.


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