quinta-feira, 18 de agosto de 2011

“Fiat Lux”

A propósito de um sacrossanto Acordo Ortográfico que pessoas da nossa praça e doutras praças acordaram entre si, apresenta Vasco Graça Moura mais um artigo no DN de ontem, 17/8 – DN Forum – que tomou um título caricato – “Acordo, epistememas e cairologia”, no qual, com uma ironia tão inútil como merecida, condena um artigo de Fernando dos Santos Neves saído no “Público” em 9 de Agosto, intitulado “Onze teses contra os inimigos do Acordo Ortográfico”. Ilustra-se Fernando Neves de uma orgia de títulos mais ou menos académicos e actuações “tão famosamente retumbantes quanto esmagadoras” na designação de V.G.M., entre as quais o lançamento “do epistemema (sim, leitores, o epistemema) “Ruptura Epistemológica Primordial” (REP) como “a passagem de uma concepção monoparadigmática e reducionista a uma concepção pluriparadigmática e aberta do próprio conceito de ciência.”
Não resistimos a continuar transcrevendo pedaços desta prosa – paradigmática "tout court" - de V.G.M., sobre os pedaços sintagmáticos assustadoramente e promissoramente asnáticos, de F.S.N.:
“Acresce que o número de “onze teses” configura já um autêntico estribilho curricular, uma vez que ele também é autor de mais “Onze Teses sobre o Ensino Superior em Portugal e no Espaço Lusófono”.
“Com tanta artilharia pluriparadigmática, os “inimigos do Acordo Ortográfico” não ganharam para o susto e ainda se arrepiaram mais ao lerem que, na nona tese, o autor propõe para a CPLP “o nome mais cairológico e menos restritivo de Comunidade Lusófona” implicando assim que a referência à língua portuguesa na sigla é afinal redutora.” ….
E V. G. M. conclui, depois de atenta análise deste, ao que parece, atentado ao bom senso, no grotesco de imbecilidades de um preciosismo ignaro, sintomático da parolice apática de quem o aprova:
Mas faça-se justiça. Há pelo menos duas das onze gloriosas que podemos reputar de verdadeiramente epistemémicas e inovadoras. Trata-se da terceira e da décima primeira: o autor, depois de reconhecer que “do ponto de vista técnico-linguístico” o Acordo Ortográfico “padece de muitos defeitos e carece de muitos aperfeiçoamentos”, sustenta que “a sua principal virtude é existir” (3ª) e ainda que “o que importa, agora, é, efectivamente, começar a praticá-lo” (11ª).”
“Da conjugação destas duas teses decorre, do enfático ponto de vista do criador do epistemema “Ruptura Epistemológica Primordial”, que um chorrilho de asneiras deve ser o factor de aproximação da maneira de escrever a língua portuguesa nos vários espaços em que é falada.”




Aqui está a razão do meu título que remonta aos primórdios edénicos: “Fiat Lux”, a partir de um pensamento fernandino amplo de santificado e nevado conceito, no seu jogo antitético que não se importa de pôr em risco a coerência dos enunciados: a existência do Acordo como sua principal virtude, já que se apresenta pleno de lacunas, a necessidade do seu arranque, maugrado estas, dê por onde der.
Faça-se luz a um novo modelo de língua padronizado por novos modelos de fabricadores dela, de uma argumentação apoiada em floresta de títulos de autopromoção, em floresta de asneiras provindas da nova educação, onde por um fenómeno de epêntese sinuosamente erótica, os epistemas passaram a epistememas por deturpação malandra de apetecíveis epistemamas dos novos estudos linguísticos e a cairologia resultou de tal outra provável confusão hieroglífica proveniente das muitas viagens da nossa internacionalidade actual, detidas nos calores arenosos das confusas Pirâmides.
O mal, nisto, é que nem Nuno Crato, Ministro da Educação, nem os demais governantes – suprimido o Presidente Cavaco que o ratificara, detido noutros desertos - parecem importar-se com tal sinistro Acordo, derrubando-o a uma nova luz de maior consciência, linguística e pátria.


“Fiat Lux”, “Fiat Lux”, Senhores! Em vós que mandais, e que prometestes. Em vós confiámos, não nos enganeis. A vossa língua não a abastardeis, o vosso País não desrespeiteis. Os caboucos da reconstrução começam por isso.

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