terça-feira, 16 de agosto de 2011

Invisibilidade

A seguinte fábula de Esopo
É expressiva dos distanciamentos
Existentes
Entre os habitantes
Dos vários continentes,
Os grandes e os pequenos.
Mas também Pascal
E Voltaire, apreciaram
Fenómeno tal,
Inteligentes que foram,
Que assim descobriram
As anomalias
E as relatividades
Das humanas disparidades.
E até Swift o apontou
Com o seu famoso Gulliver
Que os de Liliput ataram
Julgando que o venciam.
Mas a invisibilidade
Dos pequenos seres
Para os seres superiores
É o que sentidamente
Esopo atesta
Na fábula da sua gesta:

«O mosquito e o touro»
“Tinha-se um mosquito longo tempo
Postado entre os cornos dum touro
Onde viveu bem acomodado,
Preguiçosamente instalado.
Antes de partir,
Delicadamente
- Ou sequer humildemente -
Ao touro perguntou
Se ele desejava
Ou lhe convinha
Que partisse.
Eis a resposta do touro,
Em taurina postura:
“Na tua vinda não reparei,
A tua ida tão pouco
Notarei,
Ínfima criatura.”
A fábula aplica-se
Ao homem sem poder,
Cuja ausência ou presença
Nem é útil, nem sequer
Inútil pode parecer.»

Poderá assim ser
Efectivamente.
Mas o desdém da gente superior
Às vezes, provoca reacções crescentes
Entre a gente inferior.
Fala-se hoje em dia
Em racismo,
Ou em segregacionismo,
Discriminação
Apartheid, xenofobia,
E mais o que
Também ao diabo lembraria.
Tem a ver com a importância
Dos que têm a cor da pele
Como sinónima do somatório
De todas as cores,
Contra os que a têm como sinónima
Da ausência de todas elas.
O tudo e o nada
Também na cor da pele apercebidos,
Base dessas querelas
Que pelo mundo vão estalando
E a que vamos assistindo
Aturdidos e ofendidos.
Existe por todo o lado,
Na Noruega como na Inglaterra, como na França, como na Germânia …
Entre nós cá
Também se diz que o há
Pois não somos imunes
Ao esplendor da cor,
E muito menos
Ao brilho vil do metal,
Igualmente responsável
Pela diferença racial,
Ou apenas social.
E até mesmo se diz
Que a diferença social
Cá entre nós
É pouco razoável
E muito condenável.
Como na Índia.
Mesmo que não se ponha
Com a costumeira ronha,
O problema da cor,
E só o do económico valor.
Só que um dia,
- Vivemos em democracia -
O pequeno ser poderá,
Como acontece já,
Mostrar a sua revolta
A sua indignação,
Pela humilhação.
Mas há quem nisso não creia,
Como acção muito feia.
Ou como excesso de areia
Para as camionetas
Das nossas metas.



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