sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Os ventos da (des)graça

Uma fábula de Esopo
Que vem a propósito
Dos nossos costumes
De eternos acusadores
Dos causadores
Dos nossos queixumes,
Como infractores
Das regras, das leis,
Sem problemas maiores,
Pois que a elas são
Por condição
Superiores:

«O mar e o náufrago»
«Sobre a costa largado,
Um náufrago fatigado
Depois de tanto se ter esforçado
A nado,
Tinha adormecido
Esmorecido.
Pouco depois voltou a si e, olhando o mar,
Censurou-o por os homens atrair
Com o seu ar amigo,
Quando, seguidamente,
Depois de os ter acolhido,
Contra eles se lançar
E os exterminar
Furiosamente.
Então o mar
Sem se alterar,
Tomou a forma duma mulher,

Que nem sequer era sereia,
E respondeu-lhe a sorrir:
“Homem, não me culpes tu a mim
Mas sim
Os ventos peneirentos.
Porque quanto a mim
Eu sou assim,
Como me viste e me vês.
São eles que me atacam
De surpresa,
Pela frente ou por detrás
Seguindo as orientações
Dos pontos cardeais e mais
De toda a rosa-dos-ventos.
E me agitam e enfurecem
Sem qualquer delicadeza
Por mim, mulher de grande beleza.”
Da mesma maneira nós
Não devemos logo responsabilizar
Os executores dum crime
Sabendo que eles não são senão
Simples subordinados
Dos chefes de quem eles são
Apenas paus mandados.»

Isto disse Esopo outrora,
E hoje é tão verdadeiro
Como foi no tempo dele
Porque como clássico que foi,
Primeiro,
Conheceu bem o homem
Useiro e vezeiro
Nos seus malabarismos,
Mas também
Nos seus dinamismos,
Vento revoltoso
Empurrando, atacando,
E redes organizando,
Os não amigos excluindo,
Destruindo,
Afastando, num segundo,
Desse seu mundo bem fundo
E até, por vezes, imundo.
Nós, os governantes acusamos
De serem ventos danosos.
Mas realmente eles não são mais que mar
Que é empurrado sem parar
Pelos ventos furiosos
Que sopram do centro e do norte
E do leste e do oeste
Piores do que a peste.
É preciso sabermos lutar,
Mas colaborar
Com o mar
Para os ventos apaziguarmos
Da rosa-dos-ventos.
Ventos e marés venceremos
Se quisermos.
Cada um de nós esforçando-se,
Confiantes,
Competentes,
Em vez de só criticarmos,
Sem jamais nos responsabilizarmos,
Impecáveis que somos. Sempre.

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