quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Um grande golpista

Ouviu-se hoje o Otelo Saraiva de Carvalho afirmar da forma desenxovalhada muito sua – de uma insensatez atropelada - que as manifestações dos militares não devem ser colectivas, por isso ele não vai à do próximo sábado, acha que o que pode verdadeiramente realçar a importância dos militares são os golpes de Estado para derrubar Governo, mesmo que, como já não estamos no tempo dos cravos vermelhos, mas sim pouco distantes do dia de finados, os militares tenham que levar outras flores na botoeira, ou mesmo nos canos das armas, crisântemos que sejam.
Só não percebi bem a exclusão da designação de colectivos para o caso dos golpes de Estado, que implicam sempre, acho eu, acompanhamento suficiente para não abortarem, embora os abortos até já sejam despenalizados nos dias de hoje, e isso se deve às aquisições libertárias da nossa revolução de 74, feita nas ruas com tropas e cravos e povo radiosamente exaltado. Julgo mesmo que o Otelo se esqueceu dessa característica de ajuntamento e por isso reclama outra revolução de tipo golpista, talvez para alcançar uma graduação mais concomitante com a sua acção primeira, que segundo se disse, partiu do seu cérebro.
O que é de supor é que ele se encontre meio frustrado por não o chamarem para o núcleo dos governantes, pois para todos os efeitos até foi chamado então “o cérebro do 25 de Abril” e ficou-se apenas pelo cargo de major, por muito cérebro que tivesse sido, sem poder comer à mesma mesa dos outros que ascenderam ao generalato, injustiças e ofensas que jamais se podem perdoar e por isso o major Otelo quer executar outro golpe, por muito que a hemorragia dele – do golpe – proveniente, já não seja tão visível como foi no primeiro, por o país se encontrar agora exangue, como provam os diversos cortes nas economias nacionais.
Mas vejo, com tudo isto, que afinal os povos são muito parecidos. Assim, os líbios, que tendo feito a revolução lá na Líbia, sem sequer poupar o Kadhafi, vão todos recolher às suas terras, por ordem dos novos dirigentes desagradecidos.
É por isso que o nosso Otelo, escamado com a ingratidão do seu povo, anda a idealizar outro golpe, para ver se lhe dão o relevo governativo que merece, pois nem se lhe daria furar cabeças – as dos inimigos da revolução e as dos seus próprios inimigos, por muito poucos que ele tenha, como provam as entrevistas que ainda lhe fazem os jornalistas televisivos, encantados com o seu ar desenxovalhado de idiota impune.

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