domingo, 13 de março de 2011

Pela calada

Nem sequer dá para discutir. Só comentámos, numa revolta que vem das entranhas. É certo que, perante esses sismos e tsunamis que tudo levam na enxurrada, mal nos sentimos com coragem para referir o nosso casozito, de um país tão pobrezito e miserável que aguenta na sua governação estes seres pequeninos que dizem e se desdizem, que ocultam e mentem, e tudo fazem pela calada, que curvam a cerviz ao estrangeiro que o manda – vê-se que o manda - mas não têm a coragem de o confessar, no seu país, de se afirmar como pau mandado, querendo aparentar antes, garbosamente, o de paizinho que sabe o que faz, que tudo faz bem, para o filho pequenino que o não questiona e que somos nós que só nos choramos com o tautau do papá.
Apesar de se dizer que os papás agora já não têm poder, que os filhinhos é que sabem como é. Este nosso papá age, em todo o caso, como os filhos de agora que tudo sabem e não admitem o saber dos pais. Filho imaturo, é ele o pai ditador.
Faz o que quer, sem se confessar a ninguém, gritando que está tudo a andar, mesmo quando tritura o país inteiro com novas mexidas nos vencimentos, nas tributações, desleal com os parceiros que despreza, prepotente e sem educação, menino birrento no seu país, menino bem comportado lá fora, prometendo resolver, indiferente ao coro das angústias em progressão no país que ele diz governar bem, do que vai mal não sendo ele o responsável, na crise à escala mundial.
A minha amiga só diz, muito desconexamente, vê-se que está engasgada:
“ - É capaz de já estar maluco. Parece um país de doidos. Sabem tudo e não sabem nada. Hoje há uma manifestação que ele despreza. Mas pode-se pedir mais sacrifícios?”
Voltemos ao tsunami. A minha amiga falou num largo alguidar onde as hortaliças se entrechocam, assim lhe pareceram aqueles carros a baloiçar na onda pavorosa, virando-se, deslizando, amachucando-se, sem travão, sem Deus.
Assim somos nós. Hortaliças entrechocando-se, despenhando-se, boiando. Na enxurrada. Sem Deus.

2 comentários:

Ninó =D disse...

Concordo com tudo o que disse, cada palavra, cada sílaba, cada letra. Não podía estar mais de acordo, eu e muito mais gente que provavelmente não teve tamanha coragem que expôr aquilo que sente em relação à forma a que o nosso pequeno e pobre país chegou.
Um beijo e um pedido de desculpas pelo facto de me ter intrometido, Inês Esteves - Aluna da professora Paula Lacerda

Anônimo disse...

Inês, muito obrigada pela gentileza do teu comentário, embora o que eu desejasse mesmo é que pudesses discordar. Um beijinho. Berta Brás