quinta-feira, 31 de março de 2011

Os que pagam

A minha amiga anda muito azeda, o que sinceramente me arrepia, dado o meu natural de paz, fortalecido pelos conselhos colhidos nas conversas com as testemunhas de Jeová que frequentemente me interrompem os percursos das compras ou do café matinais para me confortarem com as promessas num justo além. Mas também porque não gosto de me assustar com as histórias macabras que a minha amiga me conta e a que sou alheia pelos motivos expostos do meu natural e de alergia ao susto.


É por isso que, na baralhação a que andamos sujeitas, sem saber quem é que fala verdade dos que se revelam conhecedores dos nossos desmazelos ou imperícias causadores do profundo deficit e das probabilidades de entrada ou não aqui de quem nos ajude com novos empréstimos para liquidar os nossos anteriores deficits e assim podermos continuar a fortalecer consoladamente os deficits seguintes, prefiro muitas vezes alhear-me do que por cá se passa, murmurando, brandamente, o aliciante “se cá nevasse fazia-se cá ski”, que tantas perspectivas nos abre para o deslize dos deficits, que há quem ache irreparáveis, contrariando o nosso PM demissionário que obstinadamente acha que não precisa da neve.


E a minha amiga observa vivamente, na sequência da sua atenção ao exterior: - Eles vão cortar nos ordenados, nas pensões, vão acrescentar nos impostos, nos juros… Mas eles andam com os seus carrões, com o chofer, com o assessor de imagem… Eles não desistem de nada. É cada carrão! Uma engrenagem! Os milionários aumentaram os milhões. Mas os dinheiros deles não devem cá estar. Há direito? É como o programa “Prós e Contras”, sobre o estado das economias do país, que dão conselhos e não os aplicam, prolongando um programa por altas horas, que quem trabalha não pode ver… E isto há anos, e o contribuinte pagando…


E a seguir conta as histórias que escutou na SIC, de gente que foi ao programa da tarde ou telefonou a contar como foi maltratada pelos bandos. Não por ódio, atacantes e atacados não se conhecem para apurarem ódios. Apenas por diversão, por insensibilidade, por hábito de ver programas de vandalismos, que os ensinam primorosamente a vandalizar como objectivo de vida, gente que pratica o mal escudada no seu bando e na inércia da polícia e da justiça - com perícia e impunidade.


Foi a história do sujeito que foi à SIC: foi seguido por alguém até ao carro, que lhe pediu lume, que o homem negou por não fumar; e o bando surgiu do nada, e, sem usar armas torceu-lhe a rótula até lha quebrar, com mãos de ferro, de seguida abandonando-o e sumindo-se no nada, como surgira. Sem ninguém que testemunhasse, embora houvesse gente a passar… Pesadelo que continuou no hospital, com a operação, dois meses de baixa, o dinheiro gasto, a participação às entidades judiciais, e como não se conseguiram provas competentes do crime, o sujeito teve que pagar as custas do processo.


Arrebatadamente, a minha amiga conclui:


- Aqui ficámos a saber que as vítimas é que pagam as custas.

Um comentário:

Anônimo disse...

Como é natural e humano, aliás!
(acto ilocutório expressivo-assertivo, segundo a TLEBS, ou, mais modernamente, o Dicionário Terminológico).
Paula