sexta-feira, 1 de abril de 2011

Ainda a “Fedra”

Caro “Anónimo” da Escola Ibne Mucane

Se quiseres informar-te melhor sobre a tragédia clássica, podes pedir na tua escola a tragédia “Castro” de António Ferreira, escritor renascentista que dramatizou na sua tragédia a história de Inês de Castro, amada de D. Pedro, que Camões no Canto III de “Os Lusíadas” transformaria em episódio lírico, já na sequência das “Trovas à morte de Inês de Castro” de Garcia de Resende, (Cancioneiro Geral), que não sei se estudaste no teu programa, mas que se lêem bem.

No caso da “Castro” de A. Ferreira, verás que a protagonista D. Inês tem a sua confidente – a Ama – e D. Pedro o seu Secretário, personagens secundárias que servirão como réplicas mais ou menos moderadoras dos amos – papel reservado ao coro na tragédia grega – como figuras preocupadas, dentro dum clima de ansiedade e fatalismo.

Na tragédia “Fedra” de Racine, são confidentes Enone, ama e confidente de Fedra, Teramène, aio de Hipólito, Isménia, confidente de Aricia que estabelecem elos de ligação no evoluir da trama, permitindo a retrospectiva e tendo parte na acção. (Esse papel está reservado a Telmo Pais no “Frei Luís de Sousa”, permitindo a reconstituição do passado e a previsão do futuro, em precipitação dramática – (Cena II do I Acto, Cena I do II Acto) - num adensar do fatalismo, que equipara, por esse e outros aspectos, o drama de Garrett à tragédia clássica (V. “Édipo Rei” de Sófocles).

Com efeito, Enone, preocupada pelo estado de desespero incompreensível de Fedra vai-o definindo, junto de Hipólito, levando-o a tomar decisões – que estão indicadas no resumo; é ela que aconselha Fedra, após ter tido conhecimento do equívoco da morte de Teseu, a declarar o seu amor a Hipólito; é ela que acusa Hipólito junto de Teseu, através de outro equívoco, fatal para Hipólito, condenado à morte por um pai enfurecido e posteriormente esclarecido e arrependido, virando a sua cólera contra Fedra.

Fedra é a grande protagonista da tragédia, personagem de contrição, amando intensamente mas interiorizando o seu sentimento que ela sabe pecaminoso. O equívoco da morte do marido fá-la-á ceder às instâncias de Enone, declarando o seu amor a Hipólito, de forma descontrolada – liberta do pesadelo do pecado e simultaneamente na expressão de uma paixão intensa, para vergonha e horror de Hipólito, não só porque ama Aricia, mas por nobreza de alma, não aceitando uma traição ao pai.

O regresso de Teseu, desfazendo o boato, assusta Fedra, que se deixa convencer por Enone a falsear a verdade, permitindo-lhe que acusasse Hipólito de paixão por ela, Fedra, em grande traição à honra de seu pai, o enfurecido Teseu.

Arrependida, desejando redimir-se e salvar Hipólito da ira de Teseu, é por este informada da paixão de Hipólito por Aricia, e o ciúme a contém, em nova explosão de dor, raiva e vergonha, por se ter deixado convencer por Enone a declarar o seu amor a quem amava outra.

Finalmente, Fedra repõe nobremente a verdade junto do desolado pai, que em vão deseja salvar o filho.

Joguete da violência de uma paixão incontrolada, incapaz de resistir a tal amálgama de sentimentos de paixão, ciúme, vergonha por si própria, Fedra recorre ao suicídio, como fizera Jocasta no “Édipo-Rei”, o Rei Édipo preferindo prolongar o seu sofrimento, arrastando a sua dor pelo mundo, depois de se autoflagelar, furando os olhos.

Fedra é uma heroína de tragédia, mais próxima da modernidade, pela extraordinária densidade psicológica que traduz, no seu protagonismo. Hipólito é uma figura de grande nobreza, tal como Aricia, Teseu deixa-se dominar pela cólera contra o filho, de que inutilmente se arrependerá.

A grande protagonista é Fedra, nesta tragédia psicológica, onde os sentimentos manipularam os acontecimentos.

2 comentários:

João Pasadinhas disse...

Muito Obrigado peça sua colaboração, peço desculpa po nao me ter identificado mas passou-me completamente. Sou o João Pasadinhas do 11ºE. Mais uma vez lhe agradeço e aproveito também para lhe pedir desculpa pelo incómodo.

Anônimo disse...

João, não tens que pedir desculpa, eu às vezes também me esqueço de assinar. E não foi incómodo. Só gostava de saber se ficaste esclarecido. Um abraço. Berta Brás