segunda-feira, 25 de abril de 2011

Edelweiss

Por alturas do Natal, a TV Memória costuma presentear-nos com “Música no Coração”, desta vez foi também no domingo de Páscoa.
Creio que merecemos o programa em duplicado, precisados como estamos de um mundo de beleza, de amor autêntico, pese embora de enredo ficcional, mas respeitando valores, velhos valores que se nos colaram à alma, e que a filmografia actual tantas vezes repudia, explorando preferentemente os temas realistas da violência das relações humanas, ou dos barbarismos que a técnica permite, transformando a sociedade filmográfica em figuras monstruosas de carnalidade ou crueldade inimagináveis, de fundas repercussões sobre o comportamento social e sobretudo sobre a formação do mundo adolescente, cada vez mais transbordante de indisciplina moral, na permissividade consentida, sem regras.
Entre esses valores transmitidos pelo filme, sobressai o patriotismo, na não subordinação aos ditames de um nazismo invasor da Áustria, tão bem representado na simbólica canção “Edelweiss” que Christopher Plummer, ou outra voz pela sua, entoa na estratégia final de despedida – não para a aparente sujeição às ordens de Hitler, mas para a liberdade, a voz embargada de comoção, retomada pela bela voz de Julie Andrews, e levando o público oprimido, comovidamente, a aderir em peso, tal como já acontecera com “La Marseillaise” cantada por Victor Laszlo no filme “Casablanca”.
Cenas de grande emoção, que hoje em dia já não podemos ouvir sem lágrimas, revivendo cenas de tragédias passadas, que por nós passaram já também, embora na alegria de uma aparente libertação da maioria dos seus adeptos.
Não temos uma flor simbólica de um país como a Áustria, “bloom and grow forever”, a quem possamos pedir “bless my homeland forever”. Temos apenas o alecrim que nasce nos campos sem ser semeado ou o rosmaninho exclusivamente como flor do Zé Povinho e só durante a Semana Santa.
Os invasores no nosso país são os seus naturais, a nenhuns outros podemos pedir contas. Aqueles conseguiram o que pretendiam, manietar um país que, aliás, sempre viveu amordaçado no rebaixamento da sua sujeição às grandezas de quem propositadamente o sujeitou para melhor ser servido.
Sem visão nem estrutura mental nem moral para nos libertarmos, aceitamos a mordaça ou a má orientação dos que orientam, os que criticam ou condenam seguindo bem a trupe, o que lhes dá o estatuto intelectual confortável de progressistas e de opositores ao fascismo.
Que a flor do nosso espalhafato será unicamente essa, forever: “Abril sempre”, ou “Sempre Abril”, que, por razões opostas até já se chamou de “Abrilada”, pois, na confusão dos princípios reside o nosso apego pátrio.
Primaveril, forever.

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