sexta-feira, 22 de abril de 2011

O “fulgor baço da terra”

A minha amiga trouxe as informações da sua rebeldia. Chamo-lhe rebeldia porque é preciso acatar e ela não acata. Vejamos o que ela disse, com os olhos brilhantes e os gestos esfusiantes, de uma malícia indignada:
- Não é que eu soube ontem que o Centro de Saúde fechou ao meio dia de quinta-feira e só abre na terça-feira?
- Ai é?! Então e se a Troika tem um acidente para estes lados da linha? Quem os vai tratar?
- Eu penso é que os FMI que cá estão a trabalhar devem rir tanto, tanto, à gargalhada, perante o espectáculo… Digo eu: Isto é um espectáculo! É o país que tem mais dias santos, um país santificado, é a nossa sorte!
- E ainda não chegou o Santo António,
disse eu a provocar, sabendo do seu culto antonino.
- Mas este merece. Para este país está muito bem.
Logo vi que este não fazia parte da sua excomunhão, de uma heresia só não condenável porque estamos em democracia. Ou porque os nossos reis, com outros temas mais do seu agrado, desprezam estes dizeres. Como desprezam os Pessoas derrotistas, que põem “Nevoeiro” onde eles só acham dinheiro, mesmo alheio…
- E já viu o Eanes a defender o Sócrates? E eu que o considerava! Bem, o Soares também, que pandilha!
- Mas que temos nós tido por cá a não ser pandilha? Há quem lhes chame maçonaria, daí a força.
- E o Passos Coelho, numa retórica de Boas Festas , a dama ao lado, como é tão chique nos chefes do Estado!
- Também disse que a saúde era imprescindível. E desejou-nos saúde. Temos todos direito à saúde, disse ele, ao lado da esposa, que também desejou boa Páscoa aos portugueses, já em jeitos de primeira dama, sem desejar mais nada, em tímido comedimento. Ainda dá mais para rir do que o país parando em santidade.
Mostrei à minha amiga o texto recebido por email que vinha precedido do seguinte comentário:


“Texto tristemente fantástico”.
- Uma excelente síntese, admirou ela.
Ei-lo:

Se és um jovem português
Atravessa a fronteira do teu País E parte destemido Na procura de um futuro com Futuro.
Porque no teu País
A Educação é como uma licenciatura Tirada sem mérito e sem trabalho Arquitectada por amigos docentes E abençoada numa manhã dominical
Porque no teu País
É mais importante a estatística dos números Que a competência científica dos alunos O que interessa é encher as universidades Nem que seja de burros
Porque no teu País
A corrupção faz parte do jogo Onde os jogadores e os árbitros São carne do mesmo osso E partilham o mesmo tempero
Porque no teu País
A justiça é ela própria uma injustiça Porque serve quem é rico e influente Com leis democraticamente pobres
Porque no teu País
As prisões não são para os ladrões ricos Porque os ricos não são ladrões Já que um desvio é diferente de um roubo
Porque no teu País
A Saúde é uma doença crónica Onde quem pouco tem É sempre colocado na coluna da despesa
Porque no teu País
Se paga a quem nada faz E se taxa a quem pouco aufere
Porque no teu País
A incompetência política É definida como coragem patriótica
Porque no teu País
Um submarino é mais importante que tu E o mar apenas serve para tomar banho E pescar sardinhas
Porque no teu País
Um autarca condenado à prisão pela justiça Pode continuar em funções em liberdade Passeando e assobiando de mãos nos bolsos
Porque no teu País
Os manuais escolares são pagos Enquanto a frota automóvel dos políticos É topo de gama
Porque no teu País
Há reformas de duzentos euros E acumulação de reformas de milhares deles
Porque no teu País
A universidade pública deixou cair a exigência E as licenciaturas na privada Tiram-se ao ritmo das chorudas mensalidades
Porque no teu País
Os governantes, na sua esmagadora maioria, Apenas possuem experiência partidária Que os conduz pelas veredas do "sim ao chefe"
Porque no teu País
O que é falso, dito como verdade, Sob Palavra de Honra! São votos ganhos numa eleição
Porque no teu País
As falências são uma normalidade O desemprego é galopante A criminalidade assusta O limiar da pobreza é gritante E a venda de Porsches ... aumenta
Porque no teu País
Há esquadras da polícia em tal estado Que os agentes se servem da casa de banho Dos cafés mais próximos
Porque no teu País
Se oferecem computadores nas escolas Apenas para compor as estatísticas Do saber "faz de conta" em banda larga
Porque no teu País
Se os teus pais não forem ricos Por mais que faças e labutes Pouco vales sem um cartão partidário
Porque no teu País
Os governantes não taxam os bancos Porque, quando saírem do governo, Serão eles que os empregam
Porque no teu País
És apenas mais um número, Onde o Primeiro-Ministro se chama Alice, Que vive no País das Maravilhas Mesmo ao lado do teu.
Foge!
E não olhes para trás!"
Sim, Pessoa tinha razão: “É a Hora!”
Mas num contexto diferente, o nevoeiro, por cá, a adensar-se em treva, como faz prever o assustador email transcrito. É a Hora, ai de nós!

De fugir?





2 comentários:

Anônimo disse...

Hello foi a 1ª vez que vi o teu espaço online e reflecti muito!Bom Projecto!
Cumps

Anônimo disse...

Ainda bem que deu para reflectir. Espero que continues a ler o meu espaço.
B. Brás