sábado, 12 de julho de 2008

Os modelos da nossa filantropia

Quando soube que, graças a umas medidas sociais favorecedoras do bem-estar dos nossos mais pobrezinhos, se apelidava o Engenheiro José Sócrates de Robin Hood português, por tirar dos grandes em favor dos pequeninos, o meu patriotismo sentiu-se atingido, embora a poeticidade do nome saxão e da sua floresta de Sherwood seja, de facto, mais condizente com a poética figura do nosso Primeiro Ministro do que a do nosso Zé do Telhado, este com mais afinidades burlescas com aqueloutro Zé da imortalidade de Bordalo Pinheiro. Não, não nos faltam exemplos de idêntica postura moral, no seu sentido da justa distribuição dos bens, para precisarmos de recorrer a estranhos nas nossas metáforas. O Zé do Telhado é um dos mais bem concebidos, na pena do nosso Camilo, numa história de ir às lágrimas, de um assaltante que muito amou e chorou e foi amado e chorado, que facilmente matou e roubou, mas que sempre repartiu o fruto dos seus assaltos por quem o necessitava. Serve perfeitamente de modelo institucional nosso, até porque também foi galardoado, segundo se conta nas “Memórias do Cárcere”.
De resto, já os filósofos da Revolução Francesa defendiam, na sequência das doutrinas de Necker, tais propostas de extorsão dos mais abastados em favor dos mais desfavorecidos, por ser grande na altura a exploração do povo francês. Mas nós cá nem precisamos de recuar a esses tempos para encontrarmos modelos de comportamento altruísta, que a exploração entre nós continuou, por um conservadorismo saudosista. A começar no Padre Américo e a acabar nos peditórios e canções de peditórios, vivemos uns momentos de perfeita bondade, com gente dedicada aos outros que não tem mãos a medir pois os outros são por demais. Até do Dubai nos chega o exemplo de uma portuguesa hospedeira do ar e missionária na terra das Índias. São muitos os casos da solidariedade portuguesa para o Engenheiro Sócrates se poder inspirar, evidenciadores da nossa largueza de alma, sobretudo quando não estão mexendo no nosso bolso.
Mas, se é certo que o nosso Primeiro Ministro usou uma medida profunda pois que mergulha em sociedades de rendimentos acrescidos, para pagar pensões e os passes sociais das crianças e tudo o mais, tirando aos ricos para dar aos pobrezinhos, acho que quem vai pagar todas essas generosidades, não é a Galp nem as demais sociedades petrolíferas que já estão a ameaçar novos aumentos compensatórios das generosidades governamentais. Não, os assaltados não serão esses, seremos nós, os pagadores do costume, mesmo os protegidos dos passes, e favorecidas as tais sociedades prosaicas que não se podem deixar assaltar assim, permitindo que se lhes mexa nos inúmeros bolsos, tão lirica e levianamente, com franqueza!

4 comentários:

Ricardo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ricardo disse...
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Anônimo disse...

É o que dá fazerem-se censuras levianas, que nem sequer aceitarão a simples desculpa de que tal comentário carinhoso não chegou aos olhos inexperientes nestas lides recentes. Bastaria um telefonema a avisar, que os ouvidos ainda sabem captar.

AJS disse...

Apoiado! Num país de cegos quem tem olho é Rei... Esta é a lei neste País...Infelizmente