domingo, 20 de julho de 2008

Sociedade dual

Segundo a proposta de uma advogada, que nos chegou via Internet, sobre o modelo de avaliação dos professores aplicável a todas as demais profissões, teremos a sociedade portuguesa bipartida, numa estruturação de equilíbrio com grandes vantagens para a marcha das coisas em geral, e dos negócios em particular. De um lado os titulares, do outro os apenas: professores titulares, professores tout court. Médicos titulares, médicos apenas. E ainsi de suite, propõe a advogada que imaginemos uma sociedade de trabalhadores assim organizada, como ela fez para os trabalhadores médicos.
Não explica como os titulares obtiveram esse estatuto, como já a titularidade dos professores não fora bem explicada, pois que estes não foram sujeitos a exames ou a avaliações que os fizessem ascender a ele, mas apenas à participação em cargos extra-leccionação, durante os sete últimos anos. A leccionação apenas, mesmo que eficiente, os méritos de classificações curriculares que propiciaram o posicionamento docente nos concursos anuais, tudo isso foi à viola. O professor será apenas e tão só isso, porque os titulares já foram seleccionados a dedo, segundo as novas prerrogativas. Diz-se que tal norma pesou no saldo positivo da dívida europeia e vai continuar a pesar, fazendo sangrar tão-só aqueles professores apenas e sem esperança.
Imaginando, por este modelo, todas as outras profissões, segundo proposta da advogada citada, aqui se verifica uma sociedade equilibrada, onde não ocorrerão desmandos de rebeldias. Uns serão sempre titulares, outros serão para sempre os apenas.
Mas não devemos estranhar. Sempre a sociedade se revelou na dualidade dos maniqueísmos: Os bons e os maus, os ricos e os pobres, os nobres e os plebeus, os oprimidos e os opressores, os açambarcadores e os sem jeito... Porque haveríamos agora de querer ser diferentes? Haja, pois, os titulares para avaliar e os que serão para sempre os avaliados.
As mãos postas devotamente dos ministros zelosos na distribuição dos cargos, com muita papelada para os portefólios das novas competências estruturadoras, devem merecer o nosso respeito, sem rebeldias inúteis ou mesmo perigosas. Somos um povo ordeiro e temos os governantes precisos para isso.

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