quarta-feira, 23 de julho de 2008

Vasco Graça Moura, um Orestes português

Presto homenagem ao Dr. Vasco Graça Moura.
Relendo “Les Mouches” do Sartre, ele parece-me representar bem a personagem Orestes, nos seus traços de superhomem nitzshiano, querendo à força incutir coragem ao povo argivo para lutar contra “as moscas” – do medo e do remorso, no caso grego, da indiferença, interesse e cobardia, no caso português. Medo e remorso, pelo assassínio de Agamémnon por Clitemnestra e Egisto, indiferença, interesse e cobardia, pelo assassínio da escrita portuguesa, que o Presidente da República Portuguesa, ainda que com “plena consciência de que o Acordo Ortográfico é um deprimente chorrilho de asneiras”, e “de que a sua adopção introduzirá um cancro incurável na ortografia da língua portuguesa”, segundo se lê no texto “NÃO!” do D.N. de 23/7, de V.G.M., se apressou, todavia a ratificar, talvez por não ter podido furtar-se às pressões que traiçoeiramente anteciparam datas, sem mais revisões nem análises.
É um texto a reter, juntamente com outros que publicou antes, grito de consciência que infelizmente não encontra o eco necessário na apatia inqualificável do povo agarrado às forças do poder, Orestes assumindo, só, a sua luta contra Júpiter e as suas Erínias, resistindo, resistindo... Mas a Resistência vingou lá fora. Outros tempos, outras gentes.

Um comentário:

Marta disse...

Gosto muito da forma como escreve!.. Perdeu o interesse em mim? Diga que não.
Um grande beijinho

Marta