Era Voltaire que defendia a civilização, o luxo e o conforto contra os que entendiam superiores os tempos mais primitivos, chegando a escrever ao Rousseau, a propósito do “Discurso” deste sobre “as desigualdades sociais”, que a sua leitura nos dava ganas de andar a quatro (patas), pois nunca se empregara tanto espírito em querer “nous rendre bêtes”.
Estou com Voltaire. Pelo pouco que sei do mundo, a civilização, se é certo que corrompe, traz-nos tanta coisa de inesperado e rico, que só nos podemos congratular por não vivermos entre os “bons selvagens” das teorias do Rousseau. Eu já vivi numa aldeia portuguesa, e ficou-me na memória assustada o crime dos Salgados contra os Rebelos, numa discussão sobre prioridades de regas das terras, cuja água estes açambarcavam. Estiveram à morte com as sacholadas daqueles na cabeça, e os Salgados ficaram longos anos presos. É certo que não se tratou dos tempos dos índios, pois já então havia cá hospitais, felizmente, e prisões, mas os conceitos de justiça ou de fraude e prepotência existem desde que o mundo é mundo, originando as guerras, com mais ou menos ilustração, até já entre o Caim e o Abel, dos mais recuados em matéria de primitividade católica. A Bíblia fornece inúmeros casos mais, mas toda a história dos povos, desde os mais civilizados até aos menos civilizados, passando pelos Salgados e os Rebelos, é uma sequência de crimes, em que os próprios mitos são mantidos através de horrendos sacrifícios humanos ou de animais.
Quanto à questão das quatro patas – pura boutade espirituosa de Voltaire que não perdia a oportunidade de ferir sensibilidades – eu não posso deixar de concordar com ele, nestes tempos de mochila, desde a infância, ou de sacos do Pingo Doce, na minha idade. Na verdade, para não gastar mais que dois cêntimos na compra de um saco, já que sistematicamente me esqueço de os levar de casa, sobrecarrego-o em demasia, correndo assim o risco de o rebentar, para mais agora, que, porque os pagamos, têm um fabrico mais frágil, para comprarmos mais, que a vida custa a todos, mesmo ao Pingo Doce. Mas a vontade de vergar o dorso, nas compras, só é contrariada às vezes, honra me seja, nos assomos de orgulho para aparentar a souplesse antiga.
Quanto à questão do luxo que Voltaire defende como vantagem da modernidade do seu século XVIII, eu não faço questão dele, prefiro as comodidades e os prazeres espirituais e materiais que me trazem os nossos séculos XX e XXI – o automóvel, o avião, o combóio, a rádio, o cinema, os livres de poche, a casa e os electrodomésticos, o sofá e a televisão, o leitor de DVD, o computador, a Internet. Oh! A Internet!
Um deslumbramento muito recente. Não tinha dado por ela, só há pouco comecei a “navegar”. E descobri coisas, nomes, significados, livros, autores, programas, músicas, compositores, a Maluda, o Cargaleiro, Marc Chagall, comportamentos. E o meu nome também. E muitos blogs. De políticos, de figuras públicas, de jovens com capacidades, de pessoas críticas ou apoiantes, de comentários agradáveis ou levianos, engraçados ou severos, um mundo múltiplo que nos faz sorrir, outras vezes nos desgosta e nos leva a utilizar o lema mirandino do blog de José Pacheco Pereira. “M’espanto às vezes, outras m’avergonho”, ou, em termos mais familiares, embora temporalmente mais antigos, a frase intemporal de Júlio César: “Tu quoque, Brute, fili mi?”.
Estou com Voltaire. Pelo pouco que sei do mundo, a civilização, se é certo que corrompe, traz-nos tanta coisa de inesperado e rico, que só nos podemos congratular por não vivermos entre os “bons selvagens” das teorias do Rousseau. Eu já vivi numa aldeia portuguesa, e ficou-me na memória assustada o crime dos Salgados contra os Rebelos, numa discussão sobre prioridades de regas das terras, cuja água estes açambarcavam. Estiveram à morte com as sacholadas daqueles na cabeça, e os Salgados ficaram longos anos presos. É certo que não se tratou dos tempos dos índios, pois já então havia cá hospitais, felizmente, e prisões, mas os conceitos de justiça ou de fraude e prepotência existem desde que o mundo é mundo, originando as guerras, com mais ou menos ilustração, até já entre o Caim e o Abel, dos mais recuados em matéria de primitividade católica. A Bíblia fornece inúmeros casos mais, mas toda a história dos povos, desde os mais civilizados até aos menos civilizados, passando pelos Salgados e os Rebelos, é uma sequência de crimes, em que os próprios mitos são mantidos através de horrendos sacrifícios humanos ou de animais.
Quanto à questão das quatro patas – pura boutade espirituosa de Voltaire que não perdia a oportunidade de ferir sensibilidades – eu não posso deixar de concordar com ele, nestes tempos de mochila, desde a infância, ou de sacos do Pingo Doce, na minha idade. Na verdade, para não gastar mais que dois cêntimos na compra de um saco, já que sistematicamente me esqueço de os levar de casa, sobrecarrego-o em demasia, correndo assim o risco de o rebentar, para mais agora, que, porque os pagamos, têm um fabrico mais frágil, para comprarmos mais, que a vida custa a todos, mesmo ao Pingo Doce. Mas a vontade de vergar o dorso, nas compras, só é contrariada às vezes, honra me seja, nos assomos de orgulho para aparentar a souplesse antiga.
Quanto à questão do luxo que Voltaire defende como vantagem da modernidade do seu século XVIII, eu não faço questão dele, prefiro as comodidades e os prazeres espirituais e materiais que me trazem os nossos séculos XX e XXI – o automóvel, o avião, o combóio, a rádio, o cinema, os livres de poche, a casa e os electrodomésticos, o sofá e a televisão, o leitor de DVD, o computador, a Internet. Oh! A Internet!
Um deslumbramento muito recente. Não tinha dado por ela, só há pouco comecei a “navegar”. E descobri coisas, nomes, significados, livros, autores, programas, músicas, compositores, a Maluda, o Cargaleiro, Marc Chagall, comportamentos. E o meu nome também. E muitos blogs. De políticos, de figuras públicas, de jovens com capacidades, de pessoas críticas ou apoiantes, de comentários agradáveis ou levianos, engraçados ou severos, um mundo múltiplo que nos faz sorrir, outras vezes nos desgosta e nos leva a utilizar o lema mirandino do blog de José Pacheco Pereira. “M’espanto às vezes, outras m’avergonho”, ou, em termos mais familiares, embora temporalmente mais antigos, a frase intemporal de Júlio César: “Tu quoque, Brute, fili mi?”.
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