terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Inteligência


Logo após o 25 de abril – antes dele mal se sabia disso – comecei a ouvir que a inteligência reside na esquerda. Fiquei muito admirada, porque nunca se me tinha posto tal questão, e muito menos em termos tão radicais, achando imprescindível o funcionamento harmonioso de ambas partes, sendo a sua troca, anotada pelo saudoso Max, motivo da nossa hilaridade paternalista, atidos que estávamos ao conceito da falta de princípios escolares como origem dessa deficiência específica dos taratas.
O 25 de Abril, contudo, abriu-nos a consciência para a confusão, que ultrapassou o “trinta e um” das paradas militares, porque começámos a notar magotes de pessoas adeptas da tal esquerda, que as irmanava com a inteligência, proporcionando-lhes benefícios sociais e materiais e a consideração geral deles dependente. Para se ter acesso em concursos, para se progredir nas carreiras, convinha mostrarmo-nos inteligentemente seguidores de princípios defensores dos desfavorecidos, que dantes pertenciam aos cavaleiros andantes e que passaram a ser pertença da tal esquerda inteligente.
Por isso, quando ouvimos o discurso do Dr. Paulo Portas, impregnado de velhos critérios de uma natural nobreza, exigente de ordem nas contas e nos comportamentos, achámo-lo não só corajoso, por se definir como de direita, arrostando os adamastores da inteligência depreciativa e eficaz, mas de grande potencial de entusiasmo e visão estruturadora, que não receia retomar do passado aquilo que de bom nele existiu.
Por isso, desejámos para ele o êxito que ele gostaria de ter no seu partido e no seu país. Bastava só que se cumprisse a troca do "trinta e um", à ordem do seu comandante: “Se p’r’à esquerda ouço dizer, viro sempre p’r’à direita”.
Mas nem assim mudaríamos, creio bem, que o defeito mora em todos nós –direita ou esquerda, indiferentemente - profundamente adeptos do “salve-se quem puder, começando por mim”.

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