sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Pedaladas Bíblicas

Era Job quem se queixava – “Tivera ovelhas, bois, mulher, lavoura”, à Cesário Verde, ou, em jeito mais corriqueiro, fora rico, afortunado, ampla a família, lautos os banquetes. Mas empobreceu. Apesar dos queixumes, não deixou nunca de louvar ao Senhor. E o Senhor – Jeová de seu nome, na altura, - compensou-o, multiplicando-lhe os bens.
Há dias, pelos fins do ano, o nosso P.R. também se queixou. E até foi severo. Tratava-se de umas cláusulas num estatuto insular, desprestigiantes, segundo o seu conceito firme, para os futuros presidentes continentais, que não para si, note-se. A voz era dolorosa, quase tonitruante, quase ameaçadora. Receámos as consequências. Fizeram-se apostas: “Vai demitir-se!”. “Qual quê! Demite, sim, o Parlamento” – que o Parlamento bem o merecia, até mesmo o CDS-PP, na questão da solidariedade. “Vai, mas é, demitir o Presidente dos Açores, para não ser ganancioso, para mais com o aval do da Madeira, que lhe vai gostosamente no encalço, em ambição “garganera”, libertária de tutelas!”. “Aposto que não vai tomar medidas!”. “Aposto que sim, que o discurso deixa prever sanções fortes!”
Enganaram-se os apostadores. Menos o céptico na questão das medidas.
O P.R. já tinha outorgado o estatuto da disputa. Antes do discurso televisivo das tristes queixas, com que mimoseou os destinatários – patriotas ou assim assim. Como Job, mesmo na humilhação e na desgraça, continuaria a louvar a Jeová. E Jeová, sorridente, por isso o protegerá.
Há também o exemplo bíblico de Pilatos, que lavou as mãos impotentes. O nosso P. R. bem avisou do crime, mas a fé em Jeová venceu. E então ele lavou as mãos dos pecados alheios, dando aval ao estatuto insular, mesmo com desprestígio continental. Continuará rico e imaculado, por decisão definitiva. Apesar da dor.
Grande é o poder do Senhor, ínvios são os caminhos para o poder. Na Terra, mais rigorosamente. Outrora como agora.

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